:: ‘Na Rota da Poesia’
ESCUTE O SILÊNCIO
Por Regina Chaves dos Santos, do seu livro Suspiros Poéticos – a beleza da lira cor
Escute o silêncio- não mais silencioso!
O ar entra e sai pelas narinas,
O coração cadencioso,
O toque da brisa nos cabelos,
A pele em arrepios… – pulsão da vida!
Uma voz, um canto distante,
Olhos fechados
-Suspiro profundo!
-Silenciosamente:
Sinta, olhe, permita-se, admire,
– Acolhe!
Nada queira interpretar… escute o silêncio!
A sonoridade da mãe terra… não estás só,
Encha os pulmões de ar, – liberando-o vagarosamente!
…Visite o coração, volte para dentro de si… e no silêncio,
Signifique-o – sem o olhar de prévia censura!
Ainda que chegue o medo, deixe as lágrimas rolarem,
– ouça o coração, deseje o recomeço, se ame… e no
Silêncio – fique bem com a tua companhia!!!
MEU CANTO
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Meu canto não é de amor,
Não tem rosa e flor.
É mais de pranto e dor.
Ele pede passagem,
Para contar sua viagem,
Através do tempo,
Que o vento levou,
Na tempestade da saudade,
Da angústia existencial,
Do nascer e viver,
Até a finitude do morrer.
Meu canto é agreste,
Vem lá do meu Nordeste,
Retirante explorado,
No estalo da chibata,
Do chão seco estorricado,
Terra forte ferida,
Da poeira castigado,
Do poluído ar,
Roupa a quarar,
Filho da enxada,
Da foice e do machado.
Meu canto,
Em me resiste,
De que a felicidade
É alma passageira,
Da vida que nos passa,
Aquela rasteira,
E nos deixa a ilusão,
De que ela é toda bela,
Como pintura de aquarela,
Mas tem ácido de limão.
MENINO MOLEQUE
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Quando menino traquino,
Franzino nordestino,
De pai roceiro e carpinteiro,
Cresci na labuta da mandioca,
Que da terra saia
Como se fosse minhoca.
Depois fui para cidade pequena,
Da minha querida Piritiba,
Enfrentar outra cena:
Como menino moleque,
Paquerei uma morena,
Onde fiz o primário,
E de lá fui para o seminário,
Para ser padre vigário.
Estudei o latim e o grego,
Até o português e o francês;
Larguei a batina,
Porque não era minha sina,
E rumei pra capital,
Só com meu embornal.
Ainda aprendiz,
A rua era o meu lar,
Passei no vestibular
Para o curso de jornalismo,
Onde aprendi tanto ismo;
Duelei com a sorte
Como sertanejo forte;
Inventei ser escritor
Menino moleque,
Que nunca sonhou ser doutor,
Apenas um respeitado senhor,
Lá do interior.
REVISOR DE JORNAL
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Em pleno sol de verão,
Na praça do poeta condoreiro,
Meu olhar se perdeu
Pela Baia de Todos os Santos,
No balanço dos encantos
Das ondas do mar do barqueiro.
Estava avexado sem emprego:
Era só desassossego,
E nem sabia,
Que naquele dia,
Ia virar revisor de jornal,
Com trabalho salarial.
Zanzei pela rua Chile;
Cruzei com a Mulher de Roxo;
Mais adiante com irmã Dulce;
Beijei sua mão;
Pedi sua benção,
Com o sinal da cruz abençoou:
Vá meu filho,
Com seu Deus Nosso Senhor.
Na velha calçada de pedra,
Ainda vi o trilho do bonde,
Rangendo como carro de boi,
Que com seu tempo se foi.
Vaguei pela praça da Câmara;
Admirei o Lacerda Elevador,
Na Catedral entrei e orei,
Do Terreiro retornei
Até o prédio do “A Tarde”;
Contei minha situação ao doutor,
E de lá sai com o título de revisor.
DAR TEMPO AO TEMPO
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Oh, tempo, tempo, tempo!
Dar tempo ao tempo,
Ou tudo tem seu tempo:
É o mais popular dito,
De quem roga seu visto!
Oh, tempo, tempo, tempo!
Memória da nossa história,
Oh, quanto falam de ti!
Como canto do Bem-Te-Vi.
Dizem que a tudo curas,
Até nossas mágoas e loucuras.
Quando bate o sofrimento,
Ou aquela ferina decepção,
Lá vem aquele consolo:
De dar tempo ao tempo,
Pra acalmar a aflição.
O arrependido dos erros,
Das besteiras que fez,
Implora que o tempo volte,
Pra coisas fazer diferente;
Outros dele têm saudade,
Para que sua felicidade
Se repita novamente.
Oh, tempo, tempo, tempo!
Estás nos autores literários,
Nos escritos dos diários,
Nas canções das poesias,
Rebentos de maresias.
Oh, tempo, tempo, tempo!
És criança, jovem e idoso,
Supremo divino silencioso.
O amor pede mais tempo,
Para cicatrizar sua dor,
Como o devedor ao credor,
E chega o tempo,
Para acertar as contas,
Porque ele não pode parar,
É como o vento,
Viajante da nave do ar.
Tu vais e renovas o ano,
Na ilusão do ser humano.
Oh, tempo, tempo, tempo!
Tu és nosso eterno senhor,
Seja pobre, ou doutor:
Tem o tempo de plantar e colher,
O de nascer e o de morrer.
LINHAS DAS MÃOS
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
As linhas das mãos,
Como diz o poeta:
São correntes digitais,
Ou cordéis em varais,
Fileiras de poesias,
Xilogravuras de fantasias.
As linhas das mãos,
Como a íris da visão,
São linhas diferentes,
Riscos das nossas mentes,
Com início, meio e fim,
Enigmáticas assim.
Tem as linhas,
Do sertanejo nordestino,
Queimadas pelo sol,
Calosas e grossas,
Cada qual com seu destino,
As do doutor são finas,
E as delicadas femininas.
Olho as linhas das minhas mãos,
Veja as suas como estão,
São cicatrizes do tempo,
Nos traços e espaços,
Lembranças de amor e dor,
De um passado que não passou,
Que nem o vento levou.
As linhas das minhas mãos,
Colheram o que plantaram;
Tiveram amigos e inimigos,
Amaram e odiaram,
E lágrimas enxugaram.
Depois de tantas andanças,
Feitas de fé e esperanças,
Por este mundão do meu Deus,
Entre nobres e plebeus,
Olho as linhas das minhas mãos,
E não entendo o que elas são.
Lembro que uma cigana,
Vinda lá da Toscana,
Leu as linhas das minhas mãos,
Previu coisas do meu destino,
Desde quando mirrado menino,
Que teria longa existência,
Mas não conseguiu ver,
Se a minha finitude
Seria repentina ou de sofrer.
.
FLOR DE PRIMAVERA
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, em homenagem à sua neta Cecília.
Flor de primavera,
Perfume abrindo o sol de verão,
Nascestes na virtual era,
Oh, menina soberana,
Cecília é teu nome visão,
Da terra Brasil primaveril,
De origem romana,
Latina Americana.
Flor de primavera,
Teu meigo sereno olhar,
Vai além do horizonte do mar,
Coisa mais linda de se ver,
Como florada de Ipê!
Seja bem-vinda, Cecília,
Aos braços mágicos da vida,
Essa misteriosa passageira,
Peregrina deusa romeira,
De encontros e desencontros,
Amores e dissabores,
Mas dizem que ela é bela,
Como as tintas da aquarela,
Encanto flor de primavera.
VOU ME EMBORA PRA SODOMA
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Meu poeta Manuel Bandeira,
Deixa eu entrar
Em sua roda de capoeira!
Mas não vou para sua Passárgada,
Estou indo pra Sodoma,
Porque lá tem festa o ano inteiro,
Baticum pra gingo estrangeiro,
Uma fartura de mulheres,
De energias gostosas,
Pra comer, não preciso de talheres,
Vou na mão, no papo e nas prosas,
Por isso, meu caro Bandeira,
Vou me embora pra Sodoma,
Como na antiga Roma.
Tudo lá é devassidão,
Rufam os tambores na multidão,
Tem músicas lixo de montão;
Descem todos das ladeiras,
Como águas de cachoeiras,
E nem importo ser queimado,
Pelo fogo ardente do seu Deus,
Se todos já somos plebeus.
Só não quero virar estátua de sal,
Pois ainda tem o esfrega do carnaval.
Isso aqui é uma zorra,
Com cultura de massa alienada,
Nessa loucura da muvuca,
Nem é preciso ser bom da cuca!
Meu amigo Bandeira,
Você está dando uma de bobeira,
Pior é ficar em estado de coma,
Vou me embora pra Sodoma,
Quem quiser que vá pra porra,
E de lá sigo pra Gomorra,
No embalo, eu vou, eu vou
Ver o nosso Cristo Redentor,
E cair no samba, sim senhor!
MUNDÃO DO PROGRESSO
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Êta mundão do progresso!
Que deixou meu verso,
Quebrado na beira da estrada,
Só se ouve o ronco do motor,
Valei-nos, oh Deus, Nosso Senhor!
Não passam mais as boiadas,
Nem os tropeiros estradeiros,
Com suas missangas e bruacas,
Abrindo cancelas e estacas,
Subindo e descendo ladeiras,
Nos mata-burros das poeiras.
Êta mundão do progresso!
Está tudo virado pelo avesso,
Entra tecnologia, sai a razão,
Mas ainda sobrou uma nesga,
De crença, amor e religião,
Nesse meu vasto sertão,
E eu aqui só de bobeira,
Vendo gente dando rasteira.
Êta mundão do progresso!
Não se vê mais rezadeira,
Coisa difícil é mulher rendeira,
Estão acabando com nossa tradição,
Mataram até nosso São João,
Está indo nossa cultura do ler,
Trocada pelo celular na mão,
Só se tem tempo para o vil ter,
E esqueceram do nosso ser.
QUANDO SE ENVELHECE
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Quando se chega à velhice,
Pulsa mais lento o coração,
A gente sente da janela aberta,
Na paisagem da viagem,
Que está próxima nossa estação,
E aí, o tempo começa a marcar,
Em seu relógio, o tic-tac,
Dá até vontade de chorar.
Cada dia é mais uma graça
Alcançada que nos enlaça,
No laço da fé e da esperança;
Uns dizem que viramos criança,
Outros que é só ranzinzice,
Coisa mesmo da velhice.
Tem os professores,
Poetas e escritores,
Artistas e cantores em ação,
Que ainda solam uma canção;
Gente simples de fresca cuca,
Com felicidade, amor e liberdade,
Que alargam seus horizontes,
Construindo outras pontes.
Tem a turma do dominó nas esquinas,
Na baba das moças meninas!
Os fofoqueiros e arengueiros,
Impulsivos, ativos e inativos,
Que se isolam aos desencantos,
Aos braços das mágoas e prantos,
E vivem de salivar suas lamúrias,
De suas antigas tertúlias,
Enxugando as lágrimas do passado,
No galope do cavalo alado.
Quando se chega à velhice,
O fantasma cavaleiro da foice,
Sempre fica em nosso encalço,
Com seu afiado aço,
Encurtando nosso espaço.
Existem os duros reacionários,
Os sábios liberais revolucionários,
Mas poucos seguem seus ideários,
E o velho, em seu canto amargurado,
Engole seu soluço engasgado.
Quando se chega à velhice,
Os sentimentos afloram,
Todo plano tem que ser no ano,
Na base do aqui e do agora,
Antes que se vá embora.
Quando se chega à velhice,
Toca o sino em nossa porta,
Das lembranças de outrora,
Algumas coisas jogam fora,
E a pessoa se consola,
Com sua fiel companheira,
Outra nossa passageira,
Desse trem da vida,
De tanta confusão, labuta e lida.
Quando se chega à velhice,
Os netos se tornam seus filhos,
Que se distanciam de você,
E só miram o bem querer,
Na ganância do seu ter.
Quando se chega à velhice,
Falam logo de asilo,
Que é para seu benefício,
Um bom lugar ao seu estilo,
Mas, na verdade, é seu castigo,
De viver na solidão do abrigo,
Onde chora pai, avó e avô,
Que rogam ao Nosso Senhor,
Para logo acabar com essa dor.