:: ‘Na Rota da Poesia’
DESEJO DE DESEJAR
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Oh, desejo de desejar!
Desvendar o infinito,
Curar a dor do finito,
Amar sem odiar,
Subir ao pico das montanhas,
Que vêm do mar,
Ardentes desejos,
De conhecer as entranhas,
Do pensar sem sofrer.
Sou ventania do obscuro,
Caminho do escuro,
Porque me roubaram,
O livre respirar de desejar.
Vontade de fustigar a razão:
De quem criou quem,
De onde viemos,
O que somos,
Para onde vamos?
Coisas da fé e da religião.
No desejo de desejar,
De me livrar dos maus sonhos,
Fiz minha melodia,
Nas lágrimas da sabedoria.
Exala o perfume
Do seu beijo, o ciúme,
E nem sei se é amor,
Ou desejo de desejar.
Desejo de desejar,
Aniquilar o tempo,
Parar o corrente vento,
A pedra remover,
Oh, solitária aflição!
Morrer sem confusão.
CANÇÃO DA NOITE
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Sou navegante solitário,
Interior de mim mesmo,
Da terra que me gerou,
Para viver nesse aquário,
Entre o ódio e o amor,
E nem todo mundo
É feliz aqui,
Do ir e do vir,
Nesse açoite
Da canção da noite.
A canção da noite,
Me transporta,
Para o vale silvestre,
Ao encontro do mestre.
Sou canção da noite,
Das criaturas noturnas,
Fantasma do conhecer,
Que me traz dor e sofrer.
Na canção da noite,
Sou fluxo e refluxo,
Morte que se arrasta,
Como ladra macabra,
Que se torna soberana,
Como sua espada tirana.
A canção da noite,
É sepulcro dos companheiros,
Que se foram cedo,
Levando nosso enredo.
É insondável
O que os olhos não penetram,
E me afogo,
No insaciável,
Da fonte que jorra,
Desejos amantes cantantes.
Na canção da noite,
Das estrelas cintilantes,
Vagalumes celestiais,
De luzes vagantes,
Que me indagam o porquê
Da existência do ser.
Ao cruzar as montanhas,
A canção da noite,
Me leva em suas entranhas
Para morar em seu luar,
Bem longe desse lugar.
ESCOLHO O TEU CHEIRO
Do livro “Suspiros Poéticos” – a beleza da lira cor – da poetisa Regina Chaves dos Santos, lançado na Bienal do Livro de Salvador, e participante do nosso “Sarau A Estrada”. Regina ofertou sua obra ao nosso “Espaço Cultural A Estrada” que agradece dele fazer parte como um dos mais raros perfumes da terra.
Regina Chaves
Uma noite para uma vida inteira…
E eu te prometo amor, amar-te – eternamente!
Sentindo que este amor que nos chegou ontem, embriaga faceira o meu coração, m- tomando conta de todo o meu ser!
Mergulho na imensidão desse querer, totalmente diferente e, – completamente apaixonado!
Simples assim,
– Dos mais raros perfumes escolho o teu cheiro
O teu cheiro de flo-da-pele provocando em mim, arrepios, – na magia do teu sorriso!
Eu te prometo amor, amar-te desde ontem – a vida inteira!
Sabes por que?
– Porque dos mais preciosos perfumes, eu escolho, o teu cheiro!!!
APOLOGIA AO SONETO
De autoria do poeta José Walter Pires, extraído do seu livro CREPUSCULARES
Apologia ao poeta Medeiros Braga
Como é belo, poeta, o seu soneto,
Transfigurado numa apologia,
Pois envolto na afável poesia
Fará jus às hosanas no coreto.
Quem sabe sinfonia em branco em preto
Nas notas recheadas de harmonia
Da batuta de plena maestria,
Como busco glosar neste dueto.
Desde Petrarca, o pai da criação
Transcende com a sua plenitude,
Trazendo na estrutura perfeição.
Por certo, resistiu, heroicamente,
Aos riscos enfrentados de amiúde,
Reinando virtuoso, plenamente.
MEU BEM-TE-VI AMIGO
Do poeta e cordelista José Walter Pires, do seu livro “Crepusculares” – Sonetos
Sinto que, aos poucos, flui uma amizade
Com o meu bem-te-vi, que, confiante,
Desce de uma mangueira, e, saltitante,
Pousa no meu quintal com liberdade.
Esvoaça com sua agilidade,
De um lado ao outro, olhando o circunstante,
No seu trilar festivo e cativante,
Sem demonstrar qualquer temeridade.
Que volte sempre e pouse sem receio,
Pois não irei fazer-lhe nenhum mal
Com essa relação que tanto anseio.
Assim, nessa constância, robustece,
O apego que, de forma natural,
Nasce desse avoar que me embevece.
TUAS PALAVRAS
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Na poesia das tuas palavras,
O garimpeiro bamburra,
Atrás do ouro nas lavras,
Ainda leva surra,
Dos coronéis e do nobre,
E o pobre atrevido
Vive sem sentido.
Os sábios se eternizam,
Na esteira da sabedoria,
E tuas poéticas palavras
Viram escrita-partitura,
Canção e cantoria,
Que nunca morrem,
Nem no tronco da tortura.
Tuas palavras
São fluxo e refluxo,
Sons divinais;
Não têm travas;
Brotam dos deuses astrais.
Tuas palavras
São como vinhedos,
De finos vinhos,
Que embriagam a alma,
Alinhavadas como ninhos
Dos passarinhos,
Ventos do ar a respirar,
Cachoeiras e ondas do mar,
Que batem nos rochedos,
Moldam as pedras,
Em polidas estalactites,
Amansam as feras,
E duram séculos de eras.
NA UTI DA VIDA
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
De cócoras,
Nas indígenas ocas,
Ou pelas mãos da parteira,
Numa cama de hospital,
Seja igual ou desigual,
Sua mãe berra,
Para abrir a porteira,
Se agarra nas raízes
Da sua mãe terra.
Você nasce e cresce,
Civilizado ou nativo,
Da barriga que lhe abriga,
Água e ar,
De nove meses,
Na UTI da vida,
Do Tratamento Intensivo,
E cada um sabe de si,
Vivendo sua UTI.
Na labuta da sobrevivência,
Na fé e na ciência,
Ora seu coração acelera,
Jorra sangue e se acalma,
Às vezes vira fera,
Na quimera da alma,
Transborda amor e dor,
Fel e mel,
Inferno e céu,
Na UTI da vida,
Do sentido do existir,
Mar revolto e calmaria,
Seja João, José ou Maria,
Nos arreios das andanças,
No veneno do cascavel,
No corcel da esperança,
Nas labaredas de fogo,
Como sensato e louco,
E tudo é assim:
Vim, vi e venci,
Na UTI da vida:
Porta de entrada e partida.
O NORDESTE E O SUL
Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Duas regiões distintas,
Com seus riscados culturais,
Uma roga pela chuva,
A outra que venha sol,
Oh, quanta tormenta e ternura!
Choro e lamúria!
Nos traçados, temporais!
Dizei-me, oh Senhor Deus!
Sobre esta pintura,
Donde vem tanta fúria?
No Nordeste queima o paiol,
O dilúvio bate no Sul,
E o poeta carrasquento,
No lamento do gaúcho,
Fica solitário e nu.
A seca racha o solo,
Mata a plantação e o rebanho,
Empurra o pau-de-arara para o Sul,
A mãe consola a criança no colo,
E o retirante segue escravo do ganho.
Leva anos e mais anos,
O nordestino ancestral,
Hoje é moço-menino,
E agora vê a enchente do Sul,
Tempestade, lama e vendaval,
Os rios do Pampa viram mar,
Matando nossos hermanos de lá.
Dizei-me, Senhor Deus!
Do Olimpo, o Zeus!
Para aonde vai essa caravana?
Contra nossa natureza,
Castigada pela mente insana,
Oh quanta loucura e avareza!
Tragédia, morte e terror!
Do Norte ao Sul,
Oxalá, meu pai xangô!
Não sei o que será dessa terra,
De tanta riqueza e pobreza,
Não faço parte dessa guerra,
Desse capital predador,
Que só criou sofrimento e dor,
Como o capeta belzebu,
Rachando o Nordeste e o Sul.
EU SEI…
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Eu sei…
Que não adianta
Procurar um sentido
Para a vida,
Se somos apenas aprendizes,
Grãos de areia,
Presos na teia,
Desse universo infinito,
Onde devemos cuidar
Bem das nossas raízes,
Para enfrentar tanta lida,
Nesse embate controverso;
Ser silêncio na hora certa,
Com a mente alerta.
Eu sei…
Que o tempo não espera;
Estamos em outra era
Da deusa tecnologia,
Que supera a filosofia,
O conhecer e o saber.
Eu sei que o mundo mudou:
Uns dizem para melhor,
Outros para pior,
Dominado pela alienação,
Na pista da contramão.
Eu sei…
Que o amor não é o mesmo,
Que não conta só sonhar,
Tem que realizar,
Nessa terra desembestada,
De ódio e guerra infestada,
Onde cada um tem sua vez,
Nessa loucura da insensatez.
MOMENTOS
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Às vezes, tem momentos,
Que fico no meu eu solitário,
No voo do triste pensar,
Como canário preso numa gaiola,
Rochedo nesse escuro mar,
Como canção sem viola.
São momentos
de mistura,
Entre banzo e feliz,
Passageiro de fim de estrada,
Nessa cilada,
Do tudo que já fiz,
De bom e ruim,
Na vida que é assim:
Da lei feita pros fortes,
Para os fracos, garrotes,
Com início, meio e fim.
Às vezes, tem momentos,
Do refletir,
Dos amigos que se foram,
E eu ainda aqui,
Em meu espaço,
Sem régua e compasso,
Nesse labirinto de canais.
Onde essa selvagem caravana,
Não me empolga mais.
Tem momentos,
Que nem quero mais ficar,
Para respirar,
Esse poluído ar.
Momentos são momentos,
Que não ligo mais pro tempo,
Nem a força do vento;
Sou amor e dor,
Nessa sociedade falsidade,
Que ainda discute
Os tons da cor.