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:: ‘Na Rota da Poesia’

NA ESTRADA DA VIDA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Pela estrada da vida,

Aperto o cinto em cada saída,

Às vezes as vistas ficam turvas,

Temo o labirinto das curvas,

Reduzo a marcha,

Alivio o acelerador,

Olho quem vem na frente,

No retrovisor tem gente,

Assim avanço em meu destino,

Tentando cicatrizar minha dor,

Lembrando do meu amor,

Que partiu e me deixou.

 

Na estrada da vida,

Adoro as retas,

Sigo pelas setas,

Atento às encruzilhadas,

Sinto a sensação do vento,

Nas poeiras do tempo,

Aprecio a paisagem,

Cada qual em sua viagem,

E lá vai o homem com sua enxada,

Acolá o vaqueiro em seu gibão,

Toca uma rês desgarrada,

Cortando o agreste do sertão,

Como fazia meu velho pai,

Que cumpriu sua travessia,

Como o existir previa.

 

Na estrada da vida,

Uns apressados exageram,

No asfalto da velocidade,

Tudo depende da idade,

Outros preferem o compasso,

Deixar na terra seu traço,

E com fé carregar sua cruz,

Ora ao farol do escuro,

Ou iluminado pela luz,

Viajando no passado,

No presente apegado,

Mirando suas metas no futuro.

 

AS TRAPAÇAS DOS PATRIARCAS

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

De Ur veio Abraão,

Lá da terra dos Caldeus,

Com Sara e seu clã,

Com suas sandálias, desertos rasgou,

Orou ao seu Deus,

Até chegar a Canaã,

Com a escrava Agar se deitou,

E dela nasceu Ismael,

Renegados de casa pelo pai,

Pra ele restou o fel,

Dos ismaelitas fez-se a nação árabe,

Mas Jeová deu-lhe a graça,

E assim nasceu a trapaça,

Tudo por herança,

Pra encher a pança,

Do primeiro monarca patriarca

Das religiões monoteístas,

Para esconjurar os politeístas,

Que delas precisaram um dia,

Pra matar a fome,

Que a seca os consumia.

 

Foi no Egito do faraó,

No escaldante sol,

Que a bela e ambiciosa Sara,

Se passou como irmã,

Do esposo Abraão,

Ela foi servir seu harém,

Ambos deram a mão,

E o patriarca fez outra trapaça,

Dessa vez pela caça,

Se deu bem com um bom rebanho,

Ainda saiu no ganho,

Do seu Deus a maldição,

Mas nunca acabou a desunião,

Tudo por herança,

Para encher a pança.

 

Depois de muito tempo,

Abraão ganhou o filho Isaac,

Fora do antigo almanaque,

Que no lajedo amarrado,

Quase foi sacrificado,

Como prova de fé do seu genitor,

E o menino depois de homem,

Com Rebeca, a formosa gananciosa,

Namorou e se casou,

Gerou os gêmeos Esaú e Jacó,

Este último mais uma vez,

Com seu plano da mãe,

O irmão trapaceou,

Se passando como primogênito,

Com um prato de cabrito,

Ganhou a benção no grito,

Tudo por herança,

Pra encher a pança.

 

Esaú amargurado chorou,

Jacó para não ser morto fugiu,

Caiu nas mãos do tio Labão,

Mais esperto do que o sobrinho,

Deu uma de moço bonzinho,

Tudo por herança,

Pra encher a pança.

 

Foi lá na Mesopotâmia,

Que tudo se sucedeu,

Quando Jacó se apaixonou,

Ficou perdido de amor,

Pela linda ardilosa Raquel,

Como sopa no mel,

Por ela sete anos trabalhou,

Tudo por herança,

Pra encher a pança.

 

No dia do casamento,

Teve aquela festança de arromba,

Todo mundo caiu na dança,

O noivo tomou aquele porre,

Que de besta se embriagou,

Dormiu com a feia Lia baranga,

Com a mais velha se refestelou,

E mais sete anos foi servir a Labão,

Pela ditosa flor,

Tudo por herança,

Para encher a pança.

 

Na enrolada negociação,

Ganhou mais duas criadas,

Com quatro mulheres ficou,

Mais seis anos como administrador,

Em vinte fortuna acumulou,

E na fuga pra se livrar do vilão,

Raquel roubou os deuses ídolos do pai,

Se mandaram para Canaã,

Noutra lasca de trapaça,

Tudo por herança,

Para encher a pança.

 

O tempo gira e tudo embola,

Como no meio campo da bola,

Jacó criou doze tribos de Israel,

E o mais querido José,

O Judá do povo judeu,

Foi vendido pelos irmãos,

Para os descendentes de Ismael,

Aquele bastardo de Abraão,

Todos sempre foram meios-irmãos,

Árabes islâmicos e hebreus,

Que têm um único deus,

Assim como os cristãos.

 

A história nunca está acabada,

A gente pega ela pela rabada,

José, o belo bonitão,

Foi escravo do Putifar,

Guarda chefe do faraó do Egito,

Rejeitou a mulher do patrão,

Que lhe entregou como assediador,

Se lascou na masmorra prisão,

Depois ganhou as graças do rei,

Dos sonhos fez sua lei,

Armou suas trapaças,

Aumentou a herança,

E ainda encheu a pança,

Do seu pai e irmãos.

 

 

 

 

 

O VERBO E AS PALAVRAS

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

No princípio era o verbo,

Que se tornou carne,

Depois um fogo que arde,

E milhões de anos no gelo,

Apareceram as larvas,

Nasceram as palavras,

Do vate veio a arte,

No vento soprando o tempo,

Cada qual com sua parte.

 

O verbo e as palavras,

Benditas e malditas,

Faladas e escritas,

Como facas afiadas,

Com suas forças viscerais,

Que conduzem as boiadas,

Pelas estradas dos mortais.

 

O verbo e as palavras,

Com seus laços e travas,

Estão nas ondas do mar,

Do lavrador ao doutor,

Na paz e no amor,

No ódio intolerante,

Dessa gente inconsequente,

Podem ferir e magoar,

Fazer rir e chorar.

 

O verbo e as palavras,

De réplicas e tréplicas,

Críticas e elogios,

Sinceras e mentirosas,

Sempre com roupas novas,

Desde os fios dos bigodes,

Nas rodas de pagodes,

Aos documentos como provas,

Entra a inteligência artificial,

No uso do bem e do mal.

 

O verbo e as palavras,

Estão nos rasgos do orador,

Na garganta do camelô,

Nos deuses dos imortais,

Na lógica dos intelectuais,

Na expressão de liberdade,

Na luta pela verdade,

Na voz do opressor,

Na prece ao Senhor,

Na tristeza e na alegria,

Na canção da poesia.

 

PIRÂMIDES E MÚMIAS

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

“Toda gente teme o tempo,

Mas o tempo teme as pirâmides”

Provérbio árabe,

De realidade única imutável,

Como dizia o filósofo Parmênides:

“O ser é e o não ser, não é”,

Ontologia racionável.

 

Quépes, a grande,

Revestida de mármore,

Numa paisagem sem árvore;

Quéfren, com corpo de leão,

Asas de águia,

Que encanta nossa visão;

Miquerinos aos seus pés,

Das rainhas dos faraós;

Nelas viviam as múmias,

No complexo dos Gizés,

Conservando a imortalidade,

Por toda eternidade,

Até dos felinos,

Animais de estimação,

Assim cantavam os poetas,

Nos bailes e nas festas,

De seus violinos, a canção.

 

Trinta dinastias,

Trinta séculos de lutas e amor,

Entre o Saara e o Mar Vermelho,

Com suas barragens,

Canais e vias:

Plantaram as pirâmides,

Nas areias da morte,

Chamadas de vermelhas,

Onde não nascia uma flor,

Nem pousavam as abelhas.

 

Menés

Que não era daqui,

Nossos idiotas Manés,

Foi o unificador,

Do Alto e Baixo Egito,

Dirigiu seus monarcas,

Como um bom pastor;

Acabou com o conflito,

Com a guerra e o horror.

 

Pirâmides são túmulos,

Das múmias em acúmulos;

Das ventas extraiam os miolos,

Infusão de drogas;

Cortavam o abdome,

Da mulher e do homem,

Vinho da palmeira,

Perfume de erva caseira,

Câmara sepulcral,

Alma Ka imortal.

 

Teve até uma pirâmide negra.

Amenemhat

Mudou Mênfis para Tebas,

Com ritual e Ação de Graça,

Disse que “um homem

Não tem amigos

No dia da desgraça”.

 

Duas raças semíticas,

Destruíram os egípcios:

Os descendentes de Abraão,

Os bárbaros hicsos,

Com os cavalos, deuses míticos,

Acabaram com a união.

 

Após milênios veio Napoleão,

Com seus sábios arqueólogos,

Como o gênio Champollion,

Decifrador dos diálogos,

Da preta Pedra da Roseta,

Que ficou com os ingleses,

Depois de vencerem os franceses.

A religião é uma expressão,

Do querer viver,

Do se tornar eterno,

Mas sabe que vai morrer;

A tudo se dá sentido,

Mesmo que não haja sentido,

Aí o cara se torna surreal,

Na briga entre o bem e o mal.

 

O cristão com sua vida eterna,

Da Idade Média a Moderna,

Levanta sua catedral,

O hebreu com seu Juízo Final,

O muçulmano, sua mesquita

Diz ganhar o Sétimo Céu,

Cobre a esposa de véu;

O monge buda vira eremita,

A múmia se eterniza,

E a história fica real,

Na pirâmide do jornal.

LÁ VEM OS SUMÉRIOS

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Salve! Salve!

Lá vem os sumérios,

Há dez mil anos,

Brutos rebeldes, insanos,

Caçadores e coletores,

Voando como falcons,

Das montanhas do Cáucaso,

Outros do Balcãs;

Invadiram o paraíso

De Eva e Adão,

Do pecado veio a infâmia,

No vale da Mesopotâmia;

Criaram o Crescente Fértil,

Onde espreguiça,

O Tigre e o Eufrates;

Inventaram a agricultura,

Depois a roda e a irrigação,

Canais em toda região,

A escrita cuneiforme,

Da argila do barro,

A divisória uniforme;

Desvendaram os mistérios,

E de lá saiu Abraão,

Para fundar outra nação.

 

Salve! Salve!

Lá vem os sumérios,

Da Revolução Neolítica,

Que desenharam as palavras,

Fizeram a primeira escola,

Palácios, templos e santuários,

Ritos litúrgicos e política,

Com seus sacerdotes de estola,

E o rei Sargão,

Tirado do cesto das águas,

Enfrentou a maldição;

Fez seu primeiro império,

E assim nasceu a civilização.

 

Salve! Salve!

Lá vem os sumérios,

Das lendas, mitos e impérios,

Com seus reis sanguinários,

Como narram os fatos,

Dos deuses imaginários:

Tomaram a Síria e a Judéia,

Um deles expulso pelos ratos,

E a espada de Nabucodonosor,

Escravizou os judeus,

Na gloriosa Babilônia,

Dos suspensos jardins,

E Ciro, o persa pastor,

Vindo das glebas sem fins,

Tentou selar a paz e o amor.

 

 

Salve! Salve!

Lá vem os sumérios,

Senhores guerreiros da tirania,

Onde hoje é a islâmica terra:

Irã, Iraque e Turquia,

De poeira árida desértica,

Sangue, quizilas e guerra,

Até os cedros do Líbano,

Antigos navegadores fenícios,

Descobridores do além-mares,

Dobraram o Cabo da Esperança;

Juntaram línguas e sílabas,

Com traços, pontos e vírgulas,

Formaram seus lares,

As crianças sem vícios,

No labor de cada dia,

E assim me despeço,

Com meu verso poesia.

CORAÇÃO DE PEDRA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Noite clara de lua cheia,

No cio da terra,

A aranha tece sua teia,

Ouve-se o ronco das águas,

Corredeiras de lágrimas,

Lá fora rondam as feras,

E eu aqui em minha caverna,

De milhões de eras,

Com meu coração de pedra.

 

Meu coração,

Tem a idade da pedra,

Do neandertal,

Do pescar, caçar e colher,

Sentido do existir pra viver,

Do sexo animal,

Feliz como sempre quis,

Sem sentimento de culpa,

Nem angústia existencial,

Do seu deus que me julga,

Para a fogueira mortal.

 

Meu coração é de pedra,

Como do homem sapiens,

Que se debate atormentado,

Na cadeia do tempo,

Levado pelo destino do vento,

Por essa tecnologia, atado,

Que nos roubou a ideologia,

E nos fez idiotas,

Céticos patriotas,

De uma rasa sabedoria,

Ainda numa mistura

Turva e escura,

Do ancestral neandertal.

DESPEDIDA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, há 60 anos.

Voam aves da inocência,

De galhos em galhos,

Cantam a liberdade,

No frescor da abundância.

 

Os tempos passam,

A escassez aparece,

Surrupia a alegria,

Alastra o sofrimento,

Piedade Senhor!

Ao menos, escute minha prece!

 

Se a natureza,

Sente-se compungida,

Pela seca esturdiada e virulenta,

O mar encanta a jangada lenta,

Por que ulular o véu da vida?

 

Passam anos e os dias chegando,

Abrem as cortinas da cena.

Deparo num futuro;

Vou meditando,

No claro ou no escuro.

 

Passageiros!

Folheai o opíparo livro,

E vedes capítulos ataviados,

Com nossos nomes d´alma

Em fé livre,

Nesta história decadente,

De dias atormentados.

 

Quantos aqui se ingressaram,

Daqui se foram saudosos,

Dessa gleba se formaram,

Estandarte de braços amorosos!

 

Adeus farol, adeus timoneiro,

Que nos desviaram das pedras!

Adeus luzeiro;

Sigo em livre mar.

O vento que soprou em doidivanas,

Não conseguiu…

Mesmo forte me arrastar.

 

Senhor Deus!

Ouvi-me, Senhor Deus!

Se na terra,

Como sementes não crescemos,

Se foi egoísmo,

Nos castigue,

Dai-nos forças,

Para distantes vencermos.

 

Amigos!

Para aonde vão?

Bate o adeus;

Tartamudeia minha voz.

Já é hora da partida:

Um dia nos veremos,

No além do além.

Enxuguem suas lágrimas,

Nesse grito de despedida.

NAQUELE DIA…

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Naquele dia…

Rasgou-me no peito a poesia,

Que não nasceu

De flores e amores;

Brotou das minhas dores,

Da existência do não existir,

Como se fosse um poente

Pálido sem cor,

De um escravo a sangrar,

Na chibata do seu senhor.

 

Naquele dia…

Esmo nas ruas,

Só a fome faminta

Me consumia

Entre vitrines e restaurantes,

Cambaleando

De barriga vazia,

Segui a passeata,

Como gado ferrado,

Dos cartazes que diziam:

Abaixo a dura ditadura!

Liberdade, liberdade!

Contra a tropa covarde.

 

Naquele dia…

Queria ser um Neandertal,

Pescar, caçar e colher,

Sem sentido e ideologia,

Só apenas o viver,

Sem amor romântico,

Sem culpa cristã,

Sem noção do tempo,

Para Eva dar a maçã,

Sem pensar no outro dia.

 

Naquele dia…

Meu coração estava ferido,

E eu só pedia,

Um pedaço de pão.

MENTE, DESCARADAMENTE

MENTE, DESCARADAMENTE!

Do livro “NA ESPERA DA GRAÇA”, de textos poéticos, de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário. Poema revisado, com algumas mudanças, inclusive o título (MENTE BRASILEIRA).

Mente moura, ibérica, negra e índia,

Essa cor do melaço,

A mente brasileira, mente,

Mente, descaradamente!

 

Mente feio o eleitor,

Na urna ao votar,

Depois o eleito tira seu proveito,

Promete pão e escola,

Dá circo e esmola,

E mente, descaradamente!

 

Mente sem hora e horário,

Reino virado ao contrário,

De sangue mestiço Pau Brasil!

Mente, descaradamente!

 

Gente falsa,

Compra sapato em Nova York!

Só quer falar:

I love !very good, nok, nok;

Rouba meu cofre,

E se diz inocente.

 

O demente, mente,

Descaradamente,

Que a ditadura não existiu;

Mente na TV,

Que não pratica preconceito;

Faz de conta que lê,

E só vê redes sociais;

Avança sinais,

Se diz humano solidário;

Apoia fascistas,

E o corrupto salafrário.

 

Mente vil sorrateira,

Tão incoerentemente,

Mente, descaradamente!

 

A puta finge amor na cama,

E que gozou;

A Igreja prega:

Que a inquisição já passou;

O malandro se gaba,

De esperto inteligente,

Povo que mente,

Descaradamente!

 

Todo mundo quer:

Levar vantagem em tudo,

E mente, descaradamente!

 

Mente, descaradamente!

Cabra da peste,

Coisa rara no Nordeste,

Como Ariano Suassuna,

Com sua viagem armorial

Sobre cultura e vida desigual.

 

 

O VELHO E O TEMPO

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Sinto aquele aperto

De tristeza em meu peito,

Como rio seco em seu leito!

Angústia de arrebentar,

Quando você tomba ferido,

E ninguém aparece,

Para sua mão levantar.

 

É uma pontada doída,

Um alarido sofrido,

Sem vontade de amar,

Nem o velho e o tempo,

Que não dá pra sentir

O balanço do vento,

E as ondas do mar.

 

O velho e o tempo,

De derrotas e melancolias,

Vitórias e alegrias,

Amores que magoei:

Dizem que ele tem sabedoria,

O velho, ou o tempo?

 

O velho roga ao tempo,

Com lágrimas clementes,

Que apague as más recordações,

De tanta coisa que você estragou,

Mas o tempo vil carrasco,

Cruel inquisidor,

Impiedoso responde:

Está colhendo o que plantou.

 

O velho e o tempo:

Um procura curar sua dor,

O outro só lhe mostra

A flor que você machucou.





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