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:: ‘Na Rota da Poesia’

JOGO TUDO NA GAMELA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Minhas contas de luz e água,

Faturas dos cartões de crédito:

Tudo é só débito,

Toda vez como freguês.

 

O selvagem capital,

Me trata como faquir,

Que toma banho na gamela,

Ainda me cobra,

Conta paga,

Para ir na camela conferir,

E fico a olhar tudo que quitei,

Todo sangue que já dei.

 

Logo vai chegando,

O outro mês:

Nem sei mais o que gastei:

Jogo tudo na gamela,

Depois nos arquivos,

Como mortos inativos.

 

Jogo tudo na gamela,

No banho que lá tomei,

Quando criança esperança,

No campo ou na favela,

E quando morro,

Nessa vida de aventura,

Num caixão apertado sem largura,

Só tenho direito a uma vela.

 

Jogo tudo na gamela,

Essa remela,

Do trabalhador,

Tratado como escravo insano,

Como nos tempos,

Do tráfico africano.

O SILÊNCIO E OS RUÍDOS

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Na magia do meu campo,

Na alquimia da natureza,

Das águas correntes a roncar,

Entre pedras e cachoeiras,

Em meu sertão profundo,

Escuto o canto dos pássaros,

Sem os ruídos dos corações,

Invejosos dos bárbaros,

Das traiçoeiras competições.

 

Sou o silêncio sem os ruídos,

O mergulhar em meu eu interior,

O zunido da abelha na flor,

Para nela polinizar,

Sem os ruídos dos instintos,

Egoístas da sedução,

Labirintos da exposição,

De si mesmo para divagar,

Nos toques do celular.

 

O silêncio vale ouro.

Digo ser reflexão,

Da alma o tesouro,

Absinto da razão.

 

Fortaleça seu silêncio,

Para dar voz ao silêncio,

Contra os ruídos capitais,

Das injustiças sociais,

E não ao silêncio sepulcral,

Que causa tanto mal.

NO GOLFO DO BENIM

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Brigam nações estrangeiras!

Ingleses, espanhóis e franceses,

Holandeses e portugueses,

Até capitães baianos brasileiros,

De canhões, bacamartes e estopim,

Em navios e canhoneiras,

Pelo tráfico negreiros,

No Golfo do Benim.

 

Brigam reis do Oyó e Daomé,

Com seus deuses orixás de fé,

Contra os reinos de Ardra,

Badagre, Porto Novo e Onim,

Em pântanos, savanas e mares;

Destroem aldeias e lares,

Para as vendas insanas,

De carnes negreiras humanas,

Nesse oceano de sangue,

Por cativos prisioneiros,

No Golfo do Benin.

 

Brigam navegantes traficantes,

Pelo domínio de Uidá,

Para escravos comercializar,

Por tabacos, ouro e aguardentes,

Moedas zimbo e cauri,

Até degolam cabeças,

Nessas feitorias fortalezas,

Horrores que nunca vi;

Matam gentes nas prisões,

Para lotar fedorentos porões,

De africanos, príncipes,

Rainhas de cetim,

Jejes, tapas e haussás,

Minas, nagôs-iorubás,

Filhos do Golfo do Benin.

NÃO MISTURE NOSSO FORRÓ

Autoria do jornalista Jeremias Macário

Não misture

Nosso forró, não,

Nem profane

Nossas festas juninas,

Com suas músicas assassinas.

 

Nosso forró,

Nasceu do fifó,

Na poeira do arrasta-pé,

Ao som do triângulo,

Da zabumba e da sanfona,

No melaço da cana,

Com cultura, tradição e fé.

 

Nosso forró é nordestino

Dos santos Antônio, João e Pedro

Brinca idoso, jovem e menino.

 

Seu prefeito predador safadão,

Não misture nosso forró, não

Com sua propina de mocotó.

 

Não misture nosso forró, não

De penetras estrangeiros,

Com chapéu de couro,

Indumentária de cangaceiros,

Que roubam nosso ouro,

E nem sabem lá cantar,

Xote, xaxado e baião.

 

Salvem Jachson do Pandeiro,

Marinês, Sivuca e Gonzagão,

Sem essa plástica indecência,

De misturar sertanejo e pagodão,

Axé, arrocha e sofrência.

 

Não misture nosso forró, não,

Pra nóis dançar é forrozeiro,

Na letra agreste do Nordeste,

Com licor, quentão e mungunzá,

Como nos tempos do candeeiro.

MIL DESCULPAS

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Desculpa, desculpa, desculpa,

Peço mil desculpas,

Nem todas são sinceras,

Meras palavras de boca oca,

Por vezes tão maquinal;

Desculpas pelo meu verso,

Se atravessou o seu,

Entre a linha do bem e do mal.

 

Desculpa, desculpa, desculpa,

Por não ter lhe telefonado,

Não retornado seu recado,

É que ando muito ocupado;

Desculpa ter acabado nosso amor,

Pela mensagem do celular,

Sem sentir de perto seu olhar,

Sua expressão de raiva e dor.

 

Desculpa, desculpa, desculpa,

Por ter matado o tempo,

Negado sua existência;

Seguir contrário ao vento;

Confundir anormal com normal,

Religião, fé e ciência,

Ser repetitivo superficial,

Como um agressivo ativo,

Com desculpas de passivo.

DO PARAÍSO AO FIM

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Da explosão, o Supremo fez o paraíso,

O irracional ateou fogo;

O profeta alertou sobre o final juízo;

Ganância e arrogo;

Foguetes rasgam os céus desse espaço,

Do universo sideral;

O homem estúpido dele fez lixo e bagaço,

Selvageria do vil capital;

As florestas em labaredas ardem chamas,

Fumaças, cinzas, poluição;

Enchentes arrastam casas, morros e lamas,

Ciclones, ventos e furacão;

Lero-leros de reduzir gazes na atmosfera;

O incentivo é consumir;

Natureza não perdoa, nem o tempo espera,

Sem essa de choro e mimimi;

Não mais reversão do aquecimento global;

Primeiro vão os pobres,

Na tragédia do derretimento do gelo glacial,

E chega a vez dos nobres;

Aumentam os níveis dos rios e dos mares;

Somem ilhas e cidades;

A enxada tini no agreste salgado dos secos ares,

Prenuncio do fim das eras idades.

CARRUAGEM DOS 60

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Lá vai atravessando a ponte,

Pelos confins do horizonte,

A carruagem dos sessenta,

Chamada de renascença,

Resistente como aço,

Na defesa da sua crença,

Que nos deu régua e compasso.

 

Carruagem dos sessenta,

De geração de geniais,

Nascida nos quarenta e cinquenta,

Nunca mais virão iguais.

 

Carruagem dos sessenta,

Das eternas canções,

Composições milenares,

De poemas revolucionários,

Ideias que ultrapassaram mares,

Nos combates libertários,

Com suas visões existenciais,

Surrealismos subversivos,

Das desigualdades sociais,

Contra os regimes opressivos.

 

Lá vai a carruagem dos sessenta,

Muitos apeando na estrada,

Outros no oitenta e noventa,

Nos ensinando o portal de entrada.

 

ONDE ESTÁ O AMOR?

Autoria de Jeremias Macário

Um dia me perguntaram,

Onde está o amor?

E eu respondi assim:

Está na arte do artista,

No bruto que também ama,

Cada um com sua chama.

Está em Nietzsche,

Do desejo, desejado,

No Cristo,

De amar o próximo

Como a ti mesmo,

No amor à primeira vista,

Narcisista interessado,

E desinteressado.

Tem o platônico aristotélico,

O amor ágape transformador,

O saudoso distante bélico,

O do Vinicius,

Eterno enquanto dura,

O do Jobim,

Do filme “Amor sem Fim”

O do “Jardim de Allah”

O das juras do altar,

Na alegria e na dor,

Que só a morte nos separa,

Até no ventre do Saara.

 

Está na mãe que lhe gera,

No tempo de espera.

No velho solitário da esquina,

No doce olhar menina.

 

Está nas aves que cortam o céu,

Na abelha que faz o mel,

Na natureza do universo,

No verso do poeta,

Ou na pena do escritor,

Que sempre falam de amor.

 

CADA UM SABE DE SI

Autoria de Jeremias Macário

Quando a pedra,

No sapato aperta,

Cada um sabe de si,

Como dizia o Vizir.

 

A vida é assim:

Cada um sabe de si,

Onde castiga sua dor,

Pode ser por amor,

No sofrer calado sozinho,

Pra não incomodar o vizinho.

 

Em meu canto,

Curto meu pranto,

No canto do Zé, Chico e Vandré,

Uns com bom pé de meia,

Outros de barriga vazia;

Pinga água fraca na pia,

Até no rico da lua cheia.

 

Nessa terra de gigante,

De tanto ouro e diamante,

Cada um sabe de si,

Uns gastando solas,

Outros nas enrolas.

 

Quando o vento sopra forte,

Seja do sul ou do norte,

Cada um sabe de si,

Um sorriso,

Pode não ser de alegria,

Cada choro com sua travessia.

 

 

 

 

INGRATA

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Quando te conheci

Pedra reluzente ametista,

Arco-íris do horizonte,

Me encantou teu olhar cigana:

Foi amor à primeira vista,

Religiosa e profana,

Solene nos beijamos;

Bebi da tua fonte,

Como amantes viajantes.

 

Te cobri de ouro e prata,

Entreguei minha alma a ti;

Tudo fiz para te ver,

No jornal, na rádio e na TV,

Como deusa rainha,

Mas com o tempo,

Não passastes de ingrata,

Individualista,

Com teu ego narcisista,

Moça nordestina,

Com ar de sulina.

 

Doei minhas veias,

Para pulsar teu coração;

Ajudei a tecer tuas teias,

E esquecestes, afinal,

De ao menos,

Afagar minha mão,

Impávida Ingrata,

Depois de farta,

Me tratas como anormal.

 





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