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:: ‘Na Rota da Poesia’

POEMA NO GOGÓ

Autoria do jornalista Jeremias Macário, em homenagem a todos poetas natos, principalmente os repentistas e trovadores que já nascem com o poema no gogó

Como doce água do poço,

Tem cabra, seu moço,

Que tem o poema no gogó,

Derruba qualquer doutor;

Sabe como dar um nó;

Vira o verso pelo avesso,

Sobre vida, amor e dor,

E nem na morte se torna pó.

 

Tem cabra

Que tem o poema no gogó;

Seu verbo é raio de sol,

Nessa terra árida batida,

Nunca escola frequentou,

Ainda sola uma caipira viola,

Fazendo rima e poesia,

Na entrada e na saída,

Seja política ou Sofia,

Venha do jeito que vier,

Todo tema ele vence,

Como Patativa do Assaré,

Na secura de Triste Partida,

Ou no Luar do Catulo Cearense.

 

Tem cabra

Que tem o poema no gogó,

Vem de lá do seu altar,

Das brenhas do cafundó,

Com seu surrado emborná,

Cheio de sentimento profundo;

Fala do nosso mundo;

Expulsa o diabo imundo;

Conta causos dessa gente,

No cordel, no coco e repente,

Como um ser onipotente.

NÃO QUERO…

Autor: Jeremias Macário

Não quero vagar sem sentido,

Nem ver um amor se separar,

Nem perder de vista,

O horizonte azul do mar,

Nem fazer calar,

A voz do ativista,

Com sua ideologia,

Religião ou filosofia,

Cristã, judia ou mulçumana,

Tanto que seja humana.

 

Queria fazer o tempo parar,

Para nos livrar desse conflito,

Entre início e finitude,

De vida e morte,

Morte e vida,

Sem porta de saída.

 

Não quero mais ver refugiados,

De tantas etnias escorraçadas,

A chorar nas fronteiras farpadas,

Tratadas como chacais,

Numa marcha de desiguais.

 

Queria ver a arte do sorrir,

Ter o livro como lição,

Sem armas na mão,

Nem o açoite da chibata,

Que a alma mata.

 

Não quero ver,

Tanto indiferença e agonia,

Trilhar nessa distopia,

De caminhos de espinhos.

 

Nessa existência de aprendiz,

Tem o alegre e o infeliz,

Onde uns realizam seus planos,

Outros ficam nos desenganos.

 

 

PARABÓLICA ESTRELADA

De Jeremias Macário, uma homenagem ao aniversário de Vitória da Conquista

O bandeirante impiedoso e destemido:

Os bravos índios da sua terra expulsou,

Com artimanha venenosa numa bebida, ´

O conquistador com sua ira banqueteou,

E de crueldade ainda para Deus rezou.

 

A vitória, dizem foi de Nossa Senhora,

Mãe se tornou da Conquista das Flores;

Abençoou e a ornamentou de estrelas,

Onde havia sofridas lágrimas de dores,

E nos deixou uma Parabólica Estrelada.

 

O homem dos anéis que só a ele adora,

Matou a Serra e aterrou o Poço Escuro;

Acabou com as minações e seus painéis;

Não pensou nos filhos e netos do futuro;

E a mãe do alto acolhe o filho que chora.

 

Parábolica Estrelada deve ser só de glória,

Da Conquista como pediu Nossa Senhora;

Se todos os fiéis estendessem o seu manto,

Para a todos proteger do mal aqui e agora,

E preservar tudo que marcou nossa história.

 

No inverno implacável, rói o osso o frio,

E se embriaga de vinho o menestrel Elomar;

Na boêmia cantoria aparece o Glauber,

Com as mágicas cenas do sertão e do mar,

Entre poções de poesia de um caudaloso rio.

 

BR Avenida parte ao meio o leste e o oeste,

Do potente mercado dos eletros ao fino café,

Misturado ao aroma poético de Jesus Camilo,

Com todas as religiões que professam sua fé,

E na elegante mulher com seu estilo se veste.

 

Daqui se ouve o som de todo universo,

Captado pela parabólica toda estrelada,

De energia que irradia por qualquer lado;

No beijo abençoado da noite enluarada,

Que inspira nos brutos o romântico verso.

Terra das Boiadas, da “Viola Quebrada”

Deus e o Diabo e o Cristo do seu Cravo,

Do matuto sertanejo que faz sua morada;

Planalto mestiço do melado do escravo,

Dos tropeiros da Ressaca da toada dobrada.

 

Conquista das intrigas e lutas dos coronéis,

De seus casarões e sobrados de finos lençóis,

Nasceu do gado e do comércio se desenvolveu,

Pede perdão pelo extermínio dos Mangoiós,

E ora para nos livrar de todas tragédias cruéis!

MENTE E CORAÇÃO

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Tem dia errante,

Que teu coração está enguiado,

Triste lascivo,

E você pergunta o motivo,

Nem ele te responde,

Onde fica a ponte.

 

Você continua aperreado,

Doído no peito aperto,

Numa tirana agonia;

Na alma aquele nó,

Só vontade de estar só.

 

Dizem ser depressão,

Em outros tempos era fossa,

Coisa da nossa mente,

Ora alegre e melancólica,

Que está em toda gente,

De vida mortal,

Angústia existencial.

 

O silêncio lhe devora;

Seu olhar chora,

O tempo lento demora,

Sem sorriso lá fora,

Nem o afago lhe consola,

Nessa nevasca que lasca,

Como navalha ventania,

Na espera do outro dia,

Que seja de novo astral,

Nesse universo sideral.

 

O coração nos prega essa peça,

Ou é essa mente travessa,

Que às vezes entram na contramão.

 

SE VOCÊ…

Autoria de Jeremias Macário

Se você não tem o paraíso,

Ao menos tenha juízo,

Melhor sair do inferno,

Do que ser escravo eterno.

 

Se você virou fera,

Nessa era capitalista,

Melhor se livrar dessa lista.

 

Se você não tem o mel,

Melhor o cheiro da abelha,

Que viver na ilusão do céu.

 

Melhor morrer com bravura,

Que divagar nessa loucura,

Com o berro preso de ferro.

 

Se você não é salafrário,

Melhor ser um digno operário,

Na marcha lutar e protestar.

 

Se você não é filósofo pensador,

Melhor regar sua flor.

 

Se você não é amado,

Melhor amar a si mesmo,

Sem ser manada e gado.

 

Se você é discriminado,

Nunca negue seus conceitos,

Defenda seus direitos.

 

A palavra de Deus,

É você quem faz, meu rapaz.

 

Melhor não ser religioso,

Que ser fanático criminoso;

Nunca aceite lavagem cerebral,

Siga sua mente livre racional.

 

O DIA DO POETA

Confesso que iria passar batido sobre o Dia do Poeta, 20 de outubro. Também todo dia é dia de alguma coisa e, nessa correria da vida, cheia de problemas, pouco paramos para refletir e pensar.  No entanto, à tarde recebi uma ilustração em meu ZAP onde destacava 20 de outubro, Dia do Poeta, com os dizeres “obrigado a você poeta, que nos empresta teus sentimentos em forma de versos, despertando assim, em cada um de nós o que sequer imaginávamos ser capazes de sentir.

Se não me engano, tive um professor que nos ensinava que o poeta é aquele que vê o que os outros não enxergam, como se somente o poeta possui raios laser nos olhos para detectar o invisível e desvendar certos mistérios desse universo.

Ouvia também de que somente o poeta sabe descrever sobre a flor. Até me arriscaria falar que é o ser humano que consegue tirar leite de pedra. Não fosse o ar, não fosse a terra, não fosse o fogo, não fosse a água e o mar, o sol e o anoitecer, o tempo, a chuva, o vento e a tempestade que já são poesia, como o poeta sobreviveria?

Em homenagem ao Dia do Poeta veio-me logo à cabeça postar uns versos meus em meu blog opinativo e crítico, mas o consciente, ou o subconsciente, mandou que escrevesse algo sobre esse ser diferente e indiferente que já foi tão admirado, que já fez revoluções e até guerreou contra tiranos e tiranetes.

Pode-se dizer que o poeta encanta e é o encantado da poesia que já nasce com o corpo fechado contra balas e flechadas. É o único que bate na porta da morte na boca da noite para uma boa prosa até o dia amanhecer e se tornam até amigos.

Poderia citar aqui um monte de nomes, mas cada um tem o seu apreciador, seu predileto ou prediletos. A todos faço vênias e presto minhas singelas homenagens. Ele é cantador, é cancioneiro e trovador. Falam até que esse mundo, incluindo o Brasil, deveria ser governado por um poeta. Será que daria certo? Pelos menos, suas leis e decretos seriam feitos em versos rimados extraídos da matéria espírito.

MEU NORDESTE CATINGUEIRO

De Jeremias Macário. Uma homenagem ao Dia do Nordeste 8 de outubro.

Não vou falar de escritores,

Poetas, cancioneiros e sanfoneiros,

Mas de Maria, João e José,

Das rezadeiras e parteiras,

Do homem forte e contrito,

Que a seca vence com fé.

Da cantoria do adjutório,

Da batida da palha do feijão,

Das belezas do litoral e do sertão,

Do couro aboiador vaqueiro,

Do meu Nordeste,

De espinho catingueiro.

 

Falo dessa terra árida,

De alma pensativa cálida,

Do sol o ano todo a brilhar,

Da chuva a explodir em cores,

Dessas raras aves e flores,

Do luar no meu terreiro,

Do meu Nordeste,

De espinho catingueiro.

 

Falo da foice e da enxada,

Do “Velho Chico” a irrigar,

De tanta gente em procissão,

Para ao Supremo pedir e orar,

Que conserve sua bravura,

E das ervas tenha cura.

 

Daqui nasceu o Brasil,

Feito rebeliões dos malês,

Alfaiates, balaiadas e sabinadas;

Cruzou tropeiros e mascates,

E o samba veio da Bahia,

Em nome de todos orixás,

Com cheiro de amor no ar.

 

Falo do frevo pernambucano,

Do retirante valente estradeiro

Do meu Nordeste agreste,

De espinho catingueiro.

UNS TÊM, OUTROS NÃO…

Mais recente poema de autoria de Jeremias Macário

Uns nascem,

Outros morrem.

Muita gente a guerrear,

Outros preferem amar;

Uns a brigar por ideologia;

Outros na labuta do dia a dia.

Tem a luta de classe,

Do capital contra o trabalho,

A crise e a boa fase,

Encruzilhada e atalho.

Uns se casam,

Outros se separam.

Tem a despedida na partida,

Os que ficam,

No adeus da saudade.

Existem os livres,

E os que não têm liberdade;

Os oprimidos e opressores,

Os rotos e esfarrapados,

Nobres, pobres e doutores,

Nesse mundo de todos,

Dos odiados e amados.

Uns colhem espinhos,

Outros rosas e flores.

Tem as mesclas e os linhos,

E cada um com suas dores.

Para uns, o céu,

Outros, o inferno.

Tem a abelha no mel,

A praga no plantio,

O simples passageiro,

O Supremo eterno,

E a terra com seu cio.

Uns pensam ser duque e barão,

Outros só querem viola e canção.

Tem a tirania,

A prosa e a democracia,

O alvorecer e o poente,

O pensar em cada mente.

Uns sobem e outros descem,

Nessa louca multidão,

Onde o monge faz sua oração.

Uns protestam,

Outros ficam calados;

Uns no forró e samba,

Outros vão de valsa e fados;

Uns gozam e amam,

Outros fingem que sim,

No início, meio e fim.

Tem o choro em pranto;

Muitos sem nada,

E poucos com tanto.

Muita fonte e fartura,

Tanque seco, gado berrando;

Saúde e doente sem cura.

Uns com alma de menino,

Outros com instinto assassino.

Tem o pau-de-arara retirante,

E o patrão escravista arrogante.

Uns semeiam primaveras,

Outros taras e feras.

Tem a pura ternura,

O sangue frio da secura,

Os estradeiros da poeira,

E os que nem abrem porteira.

Tudo é mistério e filosofia,

Encanto e poesia.

CULTURA! CULTURA!

Alguém aí ouviu eu falar cultura?

Dizem ser essa economia criativa;

O homem arrastando enxada,

Papo da comadre e do compadre,

Cantoria no mutirão do adjutório,

A pegada da parteira,

A folha benta da rezadeira,

Os versos do Assaré Patativa,

A batida do martelo na noite calada,

O som do violino e do violoncelo,

Boiada e foice cortando roçado.

 

Cultura! Cultura!

Um banquinho, voz e violão,

Pena imaginativa da literatura,

A vida no campo ou na cidade,

Vênia do súdito à sua majestade,

Luta pela liberdade de expressão.

 

Cultura! Cultura!

Está em tudo que se faz,

Na lida atrás daquele monte,

Onde o índio faz sua dança;

É água da primeira fonte,

Mergulhar no desconhecido,

Transgredir o “proibido proibir”,

Dar sentido à sua andança.

 

Cultura! Cultura!

Maracatu, Congo, Ternos de Reis,

Canção, violar, forrozar e sambar;

Embolada de nó, sarau e repente;

Cordel nas feiras do varal;

Inventar uma nota de três;

Ser sal e aceitar o diferente;

Viajar pelos mistérios do Além Mar.

 

Cultura! Cultura!

É o Baobá do africano,

A gameleira do baiano,

O atabaque no terreiro do orixá,

A tradição do cigano,

A arte do escrever e pintar,

E zelar da terra e do mar.

 

Cultura! Cultura!

Luz, lente, cinema e imagem;

Está na batida da palha do feijão;

Ternura, bravura e razão.

 

Cultura! Cultura!

Está no canto da poesia,

Nos editais da burocracia,

Nos relatórios e falatórios,

Na fome do conhecer,

No maldito corte da censura,

No saber traçar sua travessia,

Sou eu, o outro e você.

 

CONVERSA COM DEUS

De autoria do jornalista Jeremias Macário

Alô, Senhor Deus!

De todas religiões e Zeus,

A terra aqui está à toa:

Suas criaturas fazem loucuras,

E matam pelo cajado e a coroa,

 

Nessa maldita pressa,

Peço só um dedo de prosa,

Um minuto de sua palestra,

Da sua porta pela fresta,

Sobre essa gente cavernosa.

 

Na seca um pede chuva,

O outro quer seu sinal;

Tem o que só quer gol,

E até o infeliz matador,

Que se benze para o mal.

 

Tudo nesse louco planeta,

Dizem ter a sua caneta,

Até que age certo,

Por linhas tortas,

Mas, meu camarada, para mim,

Sua terra está chegando ao fim,

Pelos brutos do deserto.

 

Se existe esse livre arbítrio,

De ser até um assassino,

Que cada um dita seu destino,

Por que sempre se diz:

Que foi Você que assim quis?

Não é contradição de raiz?

 

Nem sei mais o que pensar,

Quando vejo o pássaro a voar,

No alto da minha cabana cigana,

Ou quando os olhos miram o mar,

Nesse universo de mistério,

Não passo apenas de um verso.

 

Se apareceu pra Moisés e Abraão,

Por que não mais pra ninguém,

Nem com reza e oração?

 

Se puder, por favor me responda:

Por que poucos com tanto;

Muitos na miséria sem nada,

Em seus casebres vivem em pranto?

 

Por que esses caras humanos,

Dizem ser sua semelhança,

Fazem um monte de lambança,

São cruéis, perversos e insanos?

 

Uns acreditam ser Você um cristão,

Outros que é judeu e muçulmano,

Até budista, hindu indiano,

Que está no terreiro dos orixás,

No ateu que ama seu irmão,

Em que estrela Você está?





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