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A BRUXA ESTÁ SOLTA NO AR
Em toda a minha vida, que eu me lembre, nunca vi tantos acidentes no ar e em terra de helicópteros e aviões de pequeno e grande porte. A impressão é que a bruxa está solta no ar, ou seria mais algum fenômeno das mudanças climáticas do aquecimento global? Ainda ontem o avião do presidente teve que arremessar.
Se já tinha, agora tenho mais “medo de avião”, segurando sua mão, como escreveu o poeta cancioneiro nordestino Belchior. Não sou especialista no assunto, mas algo está acontecendo de anormal.
Entendo que a melhor explicação vem da redução de custos das empresas de aviação no que pese à manutenção de suas aeronaves e diminuição no contingente de seus pilotos, forçando o excesso de trabalho daqueles que estão na atividade. Bate o estresse por carga demasiada de serviço.
Outra questão para tantos acidentes – dizem que o avião é o meio de transporte mais seguro do mundo – é o confuso controle do espaço aéreo, também excesso de trabalho dos técnicos e, no caso específico do Brasil, a má gestão da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) que relaxa no quesito da inspeção mais rígida sobre as empresas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, recentemente um helicóptero do exército se chocou com um avião comercial. Em outros países também vem ocorrendo acidentes graves com centenas de mortes. Entrar num avião hoje já é motivo de pânico. Eu mesmo, confesso que se for obrigado a fazer uma viagem, vou entrar com as pernas bambas, calafrios na barriga e arritmias no coração.
Então, o problema não está somente no Brasil, um país onde a estrutura e infraestrutura dos portos, aeroportos e transportes terrestres deixam muito a desejar porque aqui temos a cultura do se fazer vistas grossas para os erros, sem contar aquele tal jeitinho brasileiro do suborno.
Não nego que sempre tive medo de avião por causa das alturas, mas já rodei quase todo Brasil pelo ar e atravessei o Atlântico por duas vezes. Na primeira foi em 1982 para Alemanha. Meu maior sufoco – parecia que o coração ia pular fora – foi de Munique para Berlim nos tempos da Guerra Fria.
Como a aeronave era obrigada a voar baixo para não ser abatida pelas forças dos Estados Unidos, França e Inglaterra, o troço balançava e se jogava de um lado para o outro mais que montanha russa. O silêncio era total e bateu o medo de morrer em todos passageiros. A maioria pegava na mão do outro. Olhava para os Alpes e pensava que iria ficar enterrado ali naquela geleira.
Quando menino, meus primeiros meios de transporte eram os pés (longas caminhas da roça para Piritiba), jumento, a carroça, o trem e o carro-de-boi. Eram os mais seguros de todos, se bem que nos tempos atuais ser pedestre é um risco nas grandes cidades. O trem, vez por outra, descarrilhava.
Inventaram os carros e depois o avião, o mais “assombroso” por causa das alturas em temperaturas congelantes e da alta velocidade. O japonês criou o trem bala deslizando ou levitando em trilhos modernos e elétricos, controlado por painéis sofisticados de última geração, talvez o mais seguro.
A população cresceu (são mais de sete bilhões de almas) e junto com ela a demanda. Era lógico que os acidentes iam aumentar, inclusive os terrestres que ainda mais matam pela imprudência e falha humana.
Temos mais aviões cruzando os céus e agora estão construindo uns tipos de drones voadores chamados de taxis aéreos ou aplicativos de Uber. Aliado aos fatores já mencionados acima, pode ser também um motivo para tantos acidentes fatais. A tecnologia avançada hoje mata muito mais do que antes quando ela não existia. Até celulares explodem em nossas mãos.
A HISTÓRIA COMO ELA É
Meu alô para o grande cronista Nelson Rodrigues, com “A Vida Como Ela É! ” Vou contar um pouco da nossa história do Brasil como ela é, parodiando o escritor, que até pode ser adotada nas escolas públicas e privadas.
Tudo começou com Pedro Alves Cabral que, na verdade, tinha o nome de Pedro Álvares Gouveia se tivesse pego uma parte do sobrenome da sua mãe. Nasceu em Belmonte (Portugal) por volta de 1467/68 e morreu em Santarém, em 1520.
Era um grande navegador, mas estava lá desempregado. Passava maior parte do seu tempo pescando e jogando conversa fora pelos botequins da vida. Contam até que era um tremendo cachacista inveterado.
Em seu esplendor vivia o rei D. Manuel I em seu palácio desfrutando do bom e do melhor, mas estava acossado pelos espanhóis que já haviam conquistado as Américas e suas terras só cresciam. Na época o rei venturoso perseguia, implacavelmente, os judeus e os muçulmanos.
Foi aí, então, que ele resolveu se reunir com seus oficiais e mandar chamar o Cabral que era um cabra corajoso. Apontou para o mapa e prometeu constituir uma armada. Quero que você desembarque neste ponto – marcou com seu dedo.
Vou alardear por aí que você está indo para a Índia para driblar os espanhóis. Soube que um tal de Vicente Yanez Pinzon esteve por lá, mas não tomou posse daquele lote cheio de riquezas – falou com tom de raiva. Não houve vazamento na operação secreta.
Cabral olhou e exigiu homens valentes, de preferência malfeitores, degredados, gente ruim mesmo. O rei alertou que ele ia ter problemas na longa viagem, com brigas e até assassinatos. Sem problemas, mando quebrar todos insubordinados na porrada e no cacete – respondeu o navegador. D. Manuel, que reinou de 1495 até 1521, no lugar de D. João III, ainda deu de quebra uns judeus para ele.
Assim ele fez e partiu do Rio Tejo, em oito de março de 1500, chegando ao Pindorama – Terras das Palmeiras pelos índios, em 22 de abril e avistou um monte do qual deu o nome de Pascal por ser período da páscoa. Sem essa de ter se perdido pelas correntes e ter sido empurrado pela calmaria do mar. Não foi por acaso.
De início, sem a noção do seu tamanho continental, sua comitiva deu o nome de Ilha de Vera Cruz, em homenagem às lascas da cruz onde Cristo foi crucificado. Outra lorota.
No entanto, antes de Brasil, aqui foi chamado de Terra Nova e Terra dos Papagaios. Até hoje somos papagaios na habilidade de imitar as culturas e costumes de outros países. Primeiro foi a França e depois os Estados Unidos.
Com Cabral vieram 13 embarcações (número do azar) ou caravelas. Com ele tinha um escrivão por nome de Pero Vaz Caminha que contou um bando de mentiras para agradar o rei. Enterraram dois degredados na praia e Caminha escreveu que a terra era tão fértil que aqui plantando, tudo dá.
Para enganar os nativos, o comandante, já prevenido, deu um monte de presentinhos fajutos e sapecou o ferro nas índias transmitindo suas doenças venéreas e um bocado de outros vírus. Por aqui ficou 13 dias, levando cargas de pau brasil. Daqui ele seguiu sua jornada até a Índia.
Essa foi a primeira etapa da invasão exploratória quando esta terra começou a ser infestada de transgressores, trambiqueiros, trapaceiros e corruptos. A intenção era só roubar tudo que tinha aqui para dar uma boa vida de farras e bacanais às cortes portuguesas, até que um dia o reino entrou em falência.
Bem, vieram outras expedições ao longo de mais de 300 anos e as terras foram divididas em sesmarias e capitanias hereditárias para os amigos do rei fazerem o que bem queriam.
Logo no início trouxeram para aqui cerca de seis milhões de escravos africanos, dos quais, milhares foram mortos e massacrados cruelmente. Até hoje o Brasil carrega essa mancha vergonhosa em sua história.
A Igreja Católica, através dos jesuítas, também criou olho grande e mandou seus missionários para catequizar mais fieis para sua instituição, com o argumento, e em nome de Deus, de que os índios eram pagãos e iam todos para o inferno quando morressem.
Para tomar oficialmente posse da terra, o D. João III, se não me engano, enviou seu primeiro governador chamado de Tomé de Souza, por volta de 1549. Mais uma vez, os navios vieram lotados de ladrões e assim nasceu a corrupção, inaugurado pelo primeiro procurador geral.
O tempo passou. Aconteceram insurreições, rebeliões, revoltas, movimentos populares, muitos pela independência e outros não. A maioria tinha o cunho de revolta mesmo pela exploração das nossas riquezas e pela opressão, principalmente praticada contra os mais pobres.
Com a corrupção nasceu a desigualdade social que persiste até hoje. No final do caminho até o grito de independência, em 1822, passou por aqui um gorducho barrigudo que ocupava a maior parte do seu tempo comendo coxas e asas de frango.
Se lambuzava todo. Sua mãe Maria era uma louca e sua mulher Leopoldina uma depravada. Seu filho D. Pedro, um tarado por mulheres. Comia tudo que vinha pela frente e se misturava aos ciganos nas festas.
Seu nome era D. João VI, que chegou ao Rio de Janeiro em 1808, com mais de 10 mil picaretas que tomaram as casas dos brasileiros. Ele veio de Portugal a ponta pés, fugido de Napoleão. Por pouco não foi pego com as calças na mão.
Foi aí, meu amigo, que a putaria aumentou mais ainda. As repartições públicas eram cheias de ladrões que passavam a mão grande nos cidadãos. Era ladroagem para tudo que era lado. O D. João nem está aí!
A malandragem corria solta e assim foi passando de pai para filho até hoje. São 525 anos e o Brasil continua um país de terceiro mundo. Tem muito mais história como ela é.
FARMÁCIAS E POSTOS DE COMBUSTÍVEIS
Uma coisa estranha vem acontecendo no comércio de Vitória da Conquista nos últimos dois anos para cá, ao ponto de muita gente comentar e fazer suas especulações, como os membros do grupo “Estradeiros da Cultura”. Como eu, cada um faz a sua interrogação sobre esse fenômeno anormal na economia local. Seria lavagem de dinheiro? É o que muitos perguntam e ficam sem uma resposta.
Estamos falando do surgimento, do grande boom de instalações de farmácias e postos de combustíveis na cidade. O mais esquisito é que muitos desses estabelecimentos estão praticamente colados um ao outro. No centro e nas grandes avenidas, em cada esquina se encontra uma unidade farmacêutica e de combustível.
Quanto ao investimento em farmácias nos últimos anos mais recentes, um amigo chegou a me dizer que a impressão é que Conquista é a cidade de mais doente da Bahia. Só para se ter um exemplo, na Avenida Juracy Magalhães, num determinado local, existem três farmácias vizinhas, cada uma de frente para outra, de marcas diferentes.
Está certo que é uma saída para Itambé e estão mais próximas do Hospital Regional, mas não deixa de ser um exagero. Só nesta avenida são cinco ou seis e mais duas farmácias na Filipinas que fica nas proximidades da Juracy Magalhães.
Não dá para entender de tantas farmácias juntas num mesmo local porque no centro existem dezenas delas e a grande maioria das pessoas de fora adquire seus medicamentos ali mesmo. O cliente não vai se deslocar para outros pontos mais distantes.
A grande construção de postos de combustíveis é outro ramo que tem chamado a atenção dos conquistenses e visitantes. Cada semana aparece um em cada esquina. É uma coisa de louco! Está mais para galinha de ovos de ouro.
A respeito desse seguimento da economia, todos estão carecas de saber que existe uma máfia no cartel de preços. As autoridades incompetentes municipal, estadual e federal não conseguem quebrar sua espinha dorsal. A própria Câmara de Vereadores abriu uma comissão investigativa e terminou dando em nada. Sempre quem paga o pato é o consumidor.
O custo da gasolina, por exemplo, em Conquista, é o maior da Bahia e não tem explicação porque os distribuidores pegam o produto em Jequié a uma distância de apenas 150 quilômetros. O rente é bem mais baixo.
Digo isso porque sempre estou indo a Juazeiro, distante 800 quilômetros, e lá o preço é igual ao daqui, sendo que o combustível vem de Mataripe, distante mais de 500 quilômetros. Portanto, existe um paradoxo matemático nessa cobrança tabelada pelos empresários locais.
Não adianta sair por aí fazendo uma pesquisa porque a diferença de um ou dois centavos de um posto para o outro não compensa. Por que a gasolina nas imediações da Lagoa das Flores, na saída para o Rio de Janeiro e até mesmo em Anagé é mais barata do que dentro de Conquista? O caminhoneiro não abastece na Bahia e muito menos na região de Conquista.
Está claro que existe um cartel, mas a Justiça faz vistas grossas. Em Juazeiro também ocorre o mesmo e afirmo isso porque um dono amigo meu de um posto, distante 60 quilômetros daquela cidade, me confessou que foi pressionado e até ameaçado a aumentar a sua tabela de combustíveis.
A respeito do surgimento de tantos postos em Conquista, tudo nos leva a crer que seja o setor econômico mais rentável. Para o empresário que investe nessa atividade, o combustível é o tipo de negócio mais seguro e lucrativo. No caso das farmácias, paira uma dúvida no que se refere à questão de alta rentabilidade.
DIA MUNICIPAL DA CULTURA
Poucos têm conhecimento, inclusive as instituições e a mídia em geral, que todo 14 de março do ano é o Dia Municipal da Cultura de Vitoria da Conquista, instituído pela lei número 1.367/2006, e assinada pelo então prefeito José Raimundo Fontes. Como está a nossa cultura, nada a comemorar.
A Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista, com base na lei, concede medalha de Mérito Glauber Rocha a homenageados indicados pelo Conselho Municipal de Cultura, em sessão solene marcada pela Mesa Diretora. Na ocasião, a data é comemorada pelos parlamentares, artistas e pela plenária. Nem isso está acontecendo na data.
Nas homenagens ao Dia Municipal da Cultura, é bom que se faça uma reflexão sobre o que é cultura, principalmente nesses tempos tão difíceis no âmbito municipal onde a nossa cultura não tem o lugar de destaque que merece pelo poder executivo. Estamos destruindo o que ainda resta. Outra indagação a ser feita é sobre como vai nossa cultura em Vitória da Conquista e o que se pode fazer para melhorar?
Nesta data, temos apenas uma certeza de que o setor está abandonado e somente um grupo de abnegados tem se mantido na linha de frente para ressuscitar a nossa cultura que praticamente foi sepultada. O que se tem feito ainda deixa muito a desejar, especialmente em relação a Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia com quase 400 mil habitantes, que já foi celeiro de grandes artistas e pensadores. Existem grandes talentos, mas as nossas expressões artísticas não têm recebido o apoio merecido dos poderes públicos.
Os recursos têm sido escassos, e os governantes, infelizmente, colocam cultura apenas como um jarro de decoração em suas mesas. Talvez entendam que não rende voto e alocam poucas verbas para o setor. Os artistas em geral vivem a mendigar para realizar seus projetos.
Temos muita luta pela frente para que Conquista volte à sua efervescência cultural dos anos 50, 60 e 70. Gostaria de lembra aqui que o Conselho Municipal de Cultura anterior (2021/23) empreendeu uma grande luta no sentido de criar o Plano Municipal de Cultura e instituir a Fundação Cultural. Esse Plano iria ditar as diretrizes políticas para resgatar a nossa cultura. Mais uma vez, o projeto foi emperrado pelo poder executivo que não deu o suporte necessário para sua concretização.
Neste dia não temos muito a comemorar, só a lamentar, tendo em vista que há anos três equipamentos culturais – o Teatro Carlos Jheovah, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha – continuam fechados e sem data para serem reabertos. Com isso, os artistas conquistenses, abrangendo todas as linguagens, estão sem espaço para realizar seus ensaios e apresentações de seus trabalhos, prejudicando, sobretudo, o teatro, a literatura, a dança e a música.
DIA DA POESIA
O dia 14 de março é comemorativo ao nascimento do cineasta Glauber Rocha e lembra também o nascimento de poeta Castro Alves, há 177 anos. Por isso, o 14 de março é também o Dia da Poesia, uma linguagem que é fonte de vida, mas desprezada, especialmente pelos nossos jovens em geral.
Como todos sabem, Castro Alves dedicou suas poesias às questões sociais e foi um grande defensor da libertação dos escravos. Um abolicionista que abriu portas para outros intelectuais lutarem pelo fim da escravidão no Brasil.
OS TRÊS MAIORES CANCROS DO BRASIL
As elites financistas (banqueiros), os empresários do agronegócio e o Congresso Nacional são os três maiores cancros e sanguessugas do Brasil. Estas categorias juntas são as maiores culpadas pelo profundo índice de desigualdade humana e dominam todas as decisões do país, além de controlar nos bastidores os presidentes da República.
Estas classes egoístas agem como se fossem antigos coronéis e impedem que haja uma distribuição de renda entre os brasileiros porque elas só pensam em si mesmas, em cada vez mais se enriquecer e encher seus bolsos de dinheiro. Poucos ligam para o povo que é tratado como marionete ou joguete em suas mãos.
Infelizmente, estes cancros a que me refiro, simbolizam o atraso do Brasil desde os tempos coloniais. São eles, na verdade, os três maiores poderes que colocam e tiram governos quando bem entendem. Em nosso sistema presidencialista falso, o presidente apenas faz de conta que governa, e a população é usada como bucha de canhão.
Os financistas banqueiros batem o recorde na exploração monetária, com juros estratosféricos nos empréstimos pessoais, nos cartões de crédito, nos cheques especiais, para as pequenas empresas e outras tantas linhas. Tem um ditado que diz que banqueiro não tem coração, tem cofre.
Além desse lado maléfico, nos últimos anos essa turma massacrou os sindicatos e fechou diversas agências pelo país a fora, para reduzir custos, principalmente os bancos oficiais. Seus lucros trimestrais e anuais são exorbitantes para um país tão pobre e faminto.
Por falar em agências, por exemplo, aqui em Vitória da Conquista, uma cidade de cerca de 400 mil habitantes, só existem duas unidades do Banco do Brasil, uma no centro e outra na Avenida Olívia Flores. Os bancos em geral, tanto privados como públicos, demitiram milhares de empregados e sufocaram os clientes nas enormes filas como se fossem gado em currais, com uma péssima prestação de serviços.
Os banqueiros sempre navegaram em mar de calmaria e voaram em céu de brigadeiro. Eles tiram dos pobres para emprestar dinheiro subsidiado para os ricos, os quais desviam recursos para outras finalidades e depois não pagam suas dívidas ou são postergadas para 10 e 20 anos. Muitos deles, com seus advogados caros, são até anistiados.
Quando alguma instituição dessa entra em falência, como já ocorreram vários casos, aparece o governo federal para socorrê-la, sob o argumento de que pode quebrar todo mercado financeiro. A quem pertence o dinheiro do Tesouro Nacional? É claro que é do contribuinte, especialmente do trabalhador que mais paga imposto neste país, com suor e lágrimas.
Outro cancro que não quer ver o pobre melhorar de vida é o grande agronegócio do campo, sobretudo o de grãos e o da pecuária bovina. Além de muitos desmatarem nossas florestas, estes empresários só produzem visando o mercado externo, para ganhar em dólar. A colheita de grãos vai ser a maior da história, com mais de 300 milhões de toneladas, mas os preços de suas commodities e seus derivados estão nas alturas. Não é um paradoxo?
É uma tremenda mentira, uma fake news, quando eles abrem a boca e afirmam que são responsáveis por colocar a comida na mesa dos brasileiros. Quem nos alimenta, na realidade, é a agricultura familiar que recebe pouca ajuda financeira e assistência técnica do governo federal.
Os fatos não mentem. Basta citarmos o encarecimento da carne e do café para o consumidor. Os cafeicultores e pecuaristas ditam seus preços de acordo com a cotação do mercado externo. Com o mesmo preço, comparado com o exterior, eles mandam o produto de qualidade para outros países e vendem o ordinário para nós.
Aqui mesmo em Vitória da Conquista temos um caso absurdo e aberrante. A Cooperativa Mista Agropecuária-Coopmac, composta de produtores que sempre choram de barriga cheia, só realiza a exposição se entrar grana dos governos municipal, estadual e federal. Para fazer a média, abre os portões ao público, e esta mídia burguesa ainda propala que a entrada é grátis. Outra deslavada mentira. São milhões que esse pessoal ganha em leilões e negócios.
Foi só o governo decretar isenção de impostos para determinados alimentos que eles entraram em cena para protestar, com a cobertura da grande imprensa, que é outro cancro. Disseram que o governo tem que robustecer mais o setor para eles produzirem mais, ou seja, querem mais verbas subsidiadas.
O Congresso Nacional, um dos mais caros do mundo, apenas atrás dos Estados Unidos, com sua grande maioria de conservadores e gente que trata a coisa pública como privada, rouba, corrompe e desvia recursos, é composto em suas bancadas justamente pelo agronegócio, banqueiros e evangélicos. Não existe uma bancada do povo. Alardeiam cinicamente que nos representa. É outra grande mentira do faz de conta. Deputados e senadores legislam de costas para a população. Tem emendas parlamentares ocultas para seus amigos ocultos.
Não passamos de plebeus escravizados metidos a bestas, achando que o poder está sob o nosso domínio. Nem estou aqui falando de assembleias estaduais e câmaras municipais. São eles que provocam as intrigas mais sórdidas para que uns odeiem os outros e sejam intolerantes entre si.
O pior de tudo é que entramos nessa como inocentes úteis, peças dessa engrenagem, para o fortalecimento, cada vez maior, de seus grupos. Não passamos de sacos de pancadas num corredor polonês. Sabemos muito bem que é este arcaico e carcomido Congresso Nacional quem governa o Brasil, ditando suas regras e suas normas.
Podia falar aqui do poder judiciário, mas estou me situando nesses três maiores cancros que impedem o Brasil de fazer parte do rol dos desenvolvidos. Adianta alguma coisa sermos a oitava ou sétima economia do mundo e carregarmos nas costas a pecha de uma das nações mais desigual do planeta?
Um país não se mede apenas pelo seu PIB (Produto Interno Bruto), mas pela sua aproximação igualitária. Haja espaço para escrevermos e descrevermos sobre estes três cancros ou furúnculos dos quais padecem nossos doentes pacientes. Daria um livro, desde sua formação histórica até os dias atuais.
A ANISTIA E OS ANISTIADOS
Esses do fundo musical emotivo sentimentalista, “oh, meu amado”, das mãos acorrentadas, usando a imagem do Cristo Redentor, com bandeiras verde-amarelo antipatriotas esfumaçadas, pedindo anistia para aqueles que tentaram um golpe de Estado em oito de janeiro de 2023, são os mesmos que apoiam a anistia geral e irrestrita de 1979, imposta pelos generais do regime da ditadura de 1964, que beneficiou os torturadores que mataram e desapareceram com corpos de presos políticos.
Nesta plateia atual temos gerações diferentes, inclusive jovens manipulados por falta de educação e cultura. Essas pessoas acreditam em seus chefes que negam que houve tortura e uma ditadura no Brasil naquela época. São os mesmo que foram para as ruas com cartazes e faixas defendendo uma intervenção militar no país, ou seja, uma nova ditadura para amordaçar a liberdade de expressão.
Será que essa turma é uma reencarnação do passado de trevas? Lá atrás foram a Igreja Católica, a classe média burguesa e os generais que criaram um golpe contra um governo constitucionalmente eleito pelo voto popular, com o argumento de que os comunistas iriam tomar o poder nos tempos de uma “Guerra Fria” entre Estados Unidos e a Rússia.
Atualmente temos um outro cenário um pouco diferente encabeçado por extremistas fascistas, mas também com o envolvimento de alguns generais que mancharam suas fardas, muitas delas de pijama. A derrapada na casca de banana aconteceu porque eles não encontraram respaldo total das forças armadas.
Numa coisa existe uma certa semelhança: Esse bando de hoje, como o da década de 1960, continua chamando o outro lado de comunistas subversivos de esquerda. O atual se apega no princípio de que a eleição foi fraudada. Todos cometeram um atentado e um assassinato contra a democracia.
O grito de anistia de hoje vai para aqueles que tramaram um golpe e não deu resultado. Os anistiados de ontem foram para os torturadores. Esses beneficiários deixaram muitas feridas abertas no país. Como não houve cicatrização, abriu-se espaços para que um grupo agressivo criasse uma baderna e desordem visando a intervenção dos militares para um novo golpe contra a democracia.
Lamentavelmente, tivemos 10 anos de governos de esquerda que quase nada fizeram para punir os torturadores, como ocorreu em governos dos nossos países vizinhos da América do Sul, a exemplo do Uruguai, Argentina e Chile.
Essa bravata de anistia, com imagens apelativas para comover os brasileiros, é justamente porque a anistia de 1979 deixou feridas abertas. Centenas de familiares ainda choram a perda de seus entes queridos, muitos dos quais tiveram seus corpos esquartejados, prensados em usinas de açúcar e outros jogados em rios e no mar.
O que o Estado tem que fazer para reparar essas dores é não anistiar os presos que invadiram os três poderes em oito de janeiro de 2023, com intuito claro de dar um golpe no governo eleito pelo povo. A outra atitude é revogar a anistia de 1979 e prender os vivos que cometeram bárbaras torturas durante a ditadura civil-militar de 1964.
Não é possível que o país repita a mesma história do passado. Caso isso aconteça, a democracia, ainda frágil e relativa que temos, sempre será ameaçada porque a impunidade vai abrir caminhos para novos golpistas.
O Supremo Tribunal Federal tem uma grande parcela de culpa nesse processo porque carimbou a anistia do passado. Não deixa de ser verdade quando se diz que o brasileiro não tem memória porque sempre está se passando uma borracha em nossa história de sangue, ou negando ela, por ignorância do nosso povo e pelas ideias extremistas, odiosas e intolerantes.
“VOZES QUE ECOAM NA JOIA DO SERTÃO BAIANO”
Organização Chirles Oliveira e Ybeane Moreira – Editora Versejar
Trata-se de uma antologia de textos poéticos escritos por várias mãos conquistenses ou filhos adotivos que estão aí na trincheira da resistência da nossa cultura, tão vilipendiada nos últimos anos por esta administração pública que vem menosprezando nossa arte e nossos artistas. É maios um trabalho da iniciativa de pessoas abnegadas, sem nenhum apoio do poder executivo. Portanto, merece toda nossa consideração. Repudiamos, por exemplo, o fechamento há anos dos nossos equipamentos culturais, como Teatro Carlos Jheovah, Cine Madrigal e Casa Glauber Rocha.
Dentre tantos poetas participantes desta antologia, destacamos aqui um dos poemas de Linauro Neto, intitulado “Conquistas”:
Conquista dividida
Entre
Minas e Bahia
Caatinga e mata
Café e catadores
Biscoitos e fome
Friozinho e hipotermia
Lado e outro da Rio-Bahia
Dentro e fora do anel viário
Um bairro rico e muitos pobres
Condomínios fechados e guetos
Bandeiras e Povos Tradicionais
AS CADERNETAS DE MERCADINHOS
Nem a revolução tecnológica, a internet, o celular, os cartões de crédito, o pix e até a inteligência artificial conseguiram apagar certos hábitos antigos das pessoas, como, por exemplo, as cadernetas dos mercadinhos, armazéns e pequenos negócios familiares.
Dia desses estava observando a caixa de um mercadinho do meu bairro anotando numa caderneta as compras feitas por uma senhora onde ela também tem a sua e assina a outra que fica no estabelecimento para ser conferida no início de cada mês, ou na data combinada por ambas as partes.
Numa época onde o dinheiro em espécie está desaparecendo e quase não existe mais o cheque, esta é uma das tradições, talvez milenar, que nunca se acaba. É uma forma de fiado e confiança no cliente onde dono e consumidor são beneficiados na transação comercial.
Quando aquela mulher estava conferindo as compras na caderneta, veio-me a recordação dos tempos de menino quando meu pai mandava eu e minha irmã comprar sal, açúcar, café, feijão, arroz e outros ingredientes numa vendinha próxima da nossa casa.
Ele nos entregava as mercadorias e anotava tudo no lápis naquela velha e surrada caderneta. A honestidade falava mais alto. Não havia risco do bodegueiro ou quitandeiro fazer alguma alteração no sentido de ganhar mais dinheiro.
No final do mês, ou num dia acertado, meu velho passava lá e quitava sua dívida. Muitas vezes não pagava tudo e deixava um restante para depois. Isso, no entanto, não incidia em juros ou virava uma bola de neve como ocorre com o cartão de crédito parcelado.
Havia um laço de confiabilidade que não podia ser quebrado. Ninguém passava a rasteira no outro. Estou citando o caso da caderneta, mas existem outros costumes que ainda resistem, mesmo com o avanço da tecnologia. São coisas que nunca se acabam.
O mesmo acontece quando se trata de cultura popular, como o forró, os ternos de reis, o maracatu, o bumba meu boi. Nos pequenos interiores, principalmente na roça e em comunidades pequenas ainda persiste aquele “oi de casa”, ou a batida de palmas, quando um vizinho e até um desconhecido precisa falar com os donos da casa.
Quanto ao caso das cadernetas, fiquei a pensar que aquela senhora do mercadinho deve ter conta em banco, ou talvez um cartão de crédito (Pix tenho minhas dúvidas), mas utiliza também dessa modalidade e consegue conciliar suas finanças.
Por sua vez, o pequeno empresário sai ganhando porque é mais um cliente que se soma a outros que compram com dinheiro, cartão e pix. Não indaguei, mas percebi que ele não embute nenhuma taxa no produto pelo prazo que ele deu para receber o pagamento através da caderneta.
Como em muitas outras profissões, como as de relojoeiro, sapateiro, ferreiro, alfaiate, amolador de facas e tesouras, as cadernetas de mercadinhos ainda existem. Também sobrevivem o câmbio (trocas) nas feiras de rolos, a permuta de serviços e mercadorias que são negociadas entre os sertanejos do campo.
QUANDO A PALAVRA TINHA SEU VALOR
-Você tem a minha palavra que eu te pagarei a compra no final do mês em tal dia, ou prometo cumprir com nosso trato.
Só a velha geração como eu se lembra desses bons tempos quando a palavra tinha seu valor amarrado no fio do bigode. Alguns mais exagerados selavam até na mistura do sangue. Não estou falando da palavra literária, mas da palavra oral, aquela em que também se baseia o escritor para narrar sua história, fazer sua tese, dissertação e resgatar a memória.
Hoje, meu amigo, é tudo “preto no branco”, ou seja, na tinta escrita no papel e assinada em forma de documento registrado em cartório, com toda burocracia, carimbo e testemunhas. Haja protocolo! Acordo trabalhistas, por exemplo, nem pensar fazer de boca!
Nos tempos atuais, mesmo com documentação e tudo ainda paira a desconfiança porque as pessoas deixaram de ser honestas, para serem trambiqueiras, trapaceiras e malandras. Passar a rasteira no outro é ser mais sabido, astuto e até considerado como sinônimo de inteligência.
O verbo confiar está em pleno desuso, coisa do passado, que só se encontra no dicionário. Quando era menino recordo muito bem do meu velho pai fazendo negócios com seus vizinhos, tudo na base da palavra.
– E aí cumpadi, vamo dividir o roçado meio a meio? Vamos consertar nossas cercas e dividir as despesas? Vou pagar a dívida com 20 sacos de farinha daqui a seis meses.
As conversas eram assim, sem papel e escritura, com aperto de mão. A palavra dada só deixaria de ser cumprida em caso de morte e, mesmo assim, a mulher ou um filho honrava o compromisso para a alma do defunto seguir em paz.
Antigamente, até os coronéis brabos, brutos e cruéis daquela época valorizavam a palavra, e ai de quem desse uma de traidor! Era morte na certa.
Atualmente não basta você dizer que é honesto. Qualquer negociação tem que ser por escrito. Uma aposta tem que ser registrada porque um não acredita no outro.
Por falar em palavra, uma categoria que mais banalizou a honestidade e a seriedade foi a de político. Prometem mil coisas numa campanha eleitoral, mas quando chega ao poder não realiza nem a metade. Na maioria das vezes faz tudo ao contrário. Ainda assim o eleitorado cai em sua lábia.
Ao ver esses exemplos falsos lá de cima, o brasileiro em geral (nem todos) da parte debaixo aprendeu também a ser desonesto e a enganar. Promete votar num candidato e voto em outro. Muitas vezes, infelizmente, recebe dinheiro de um e voto no outro que deu mais.
É isso aí, quando a palavra tinha seu valor, havia mais senso humano, respeito e confiança. Essa questão de se honrar a palavra tem muito a ver com o caráter da pessoa que muito depende da formação familiar e não da escolaridade. As pessoas mais simples e pobres são mais confiáveis do que os endinheirados avarentos e gananciosos.
O METAL VIL MOVE MONTANHAS
– Os idealistas e filósofos costumam dizer que a palavra move ou remove montanhas. Este milenar pensar, além de ser metafórico e figurativo, é abstrato, relativo e subjetivo. O que move montanhas neste mundo capitalista é o dinheiro, meu caro amigo. Quando brindamos, pedimos saúde, pensando no vil metal.
– Pelo visto, você hoje está amargo, aperreado e revoltado com a vida, mas as palavras têm forças de realizar sonhos e fazer mudanças, inclusive nas cabeças das pessoas. Grandes líderes da humanidade fizeram revoluções e movimentos bons e ruins através das palavras.
Essa dialética, ou embate entre o material e o espiritual, existe desde a origem do homem sapiens quando começou a se organizar, saindo da caça, da pesca e da colheita para a agricultura e a propriedade privada. A partir daí tudo passou a girar em torno do dinheiro. O ser humano começou, então, a conhecer a infelicidade.
– A palavra pode até ter o poder de convencimento e concretizar sonhos, mas depende do dinheiro – retrucou o amigo, afirmando que quando a pessoa se vê sem dinheiro, ela entra em desespero e depressão; fica irritado com tudo; não consegue raciocinar direito; e até adoece física e mentalmente. Palavra pode até mover montanhas, mas o dinheiro está em tudo – desabafou.
– Em parte, meu camarada, você tem razão e até compreendo a sua situação e sua agonia, mas seu estado de espírito está mais para confundir. Com este sentimento atrasado, as coisas só tendem a piorar. É quando o urubu debaixo caga no de cima.
– Que nada, vamos ser realistas! Observe uma pessoa endividada e sem dinheiro que olha para todos os lados e não enxerga uma saída. Ela fica macambúzia, banza e mal-humorada, tornando-se até estúpida e bruta. Imagine um pai de família com três ou quatro filhos chorando num canto com fome e ele não tem uma grana no bolso, nem para comprar um pão?
Realmente é um papo complicado e até arrasta energias negativas. Como diz o poeta cancioneiro Raul Seixas, “o ponto de vista é o ponto da questão”. Às vezes julgamos determinadas atitudes de pessoas do nosso convívio de amizades sem procurar saber o que elas estão passando. Muitas vezes, o errado para um, pode ser o certo para o outro.
A velha experiência nos ensina que nem sempre devemos falar tudo o que pensamos, como essa coisa de que só o dinheiro move literalmente montanhas. Do outro lado, existem profissões onde o indivíduo só ganha dinheiro com palavras e muita “lábia”.
A grande maioria não concorda com isso e ainda lhe condena. As naturezas humanas são diferentes. Tem gente que vive alegre e sorrindo, mesmo sem dinheiro. Outros ficam acabrunhados.
Quando um empresário tem recursos, por exemplo, ele derruba uma montanha de minérios e ainda faz um estrago no meio ambiente, vencendo mil palavras contrárias.
Se não me engano, o poeta Fernando Pessoa disparou que a morte é uma confusão. Eu, particularmente, colocaria também a vida nesse rol. Para se nascer é aquela confusão, principalmente para quem não tem dinheiro. A mesma coisa acontece quando se morre.
Trocamos ideias sobre este assunto tão complexo, sem um convencer o outro, mas, num certo momento, achamos por bem falarmos de futebol e amenidades porque religião e política são outros entreveros controversos que, às vezes, terminam em inimizades.
Quando alguém lamenta a falta de dinheiro, o outro do lado rebate prontamente que é o problema de todo mundo, talvez até seja uma indireta com receio de que o queixoso possa se atrever a lhe pedir um empréstimo.
Sabe do caso do moço que foi pedir uma grana ao “amigo” e este contou tanta miséria e desgraça em sua vida que o primeiro chorou e ainda lhe deu o pouco que restava? Ficou sem nada.
Aliás, para o banqueiro, só o dinheiro move montanhas. Para um monge ou um religioso de um convento, são as palavras que movem e removem montanhas através da fé e da esperança. Fé é mistério e dinheiro é como ciência exata.