:: ‘Na Rota da Poesia’
O ESCRITOR E A MORTE TOC, TOC
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Açoita o vento lá fora,
Assovia pelo bosque,
Quebrando o silêncio da noite.
A lua do alto namora,
O coiote uiva na savana,
Ela bate na porta, toc, toc
E o escritor em sua cabana,
Sabe que é a senhora morte,
Cata as palavras no ar,
Espalhadas na mente,
Pede mais um tempo,
Manda ela ir embora,
Enquanto escreve no divagar.
Prepara o solo,
Irriga a terra,
Na paz, no amor e na guerra,
Sábio e prudente,
Até brotar a semente.
Assim escapou o escritor,
Mas a morte volta no toc, toc
Até que numa madruga,
Os dois batem papo legal:
Fizeram um pacto,
Assinaram um ato,
Que ele continuaria a escrever,
Com seu direito a viver,
Sem mais o toc, toc.
O sol clareou o dia.
Os pássaros voaram em cantoria,
A peregrina segui sua via,
E o escritor arrumou suas obras,
Na prosa e na poesia,
Jogou tudo em seu embornal,
Se tornou imortal,
Sem mais o toc, toc.
AURORAS DO MENINO POSSÍVEL
Depois da ponte, a fazenda Natal;
A casa azul, adiante, no caminho.
Na Avenida Baér, os carroceiros
Acomodam arreios e alimárias.
De calças curtas ou calção de banho,
Ia com o primo manco de menino,
Sempre de tarde, quando o sol morria,
Tomar banho no Poço do Curtume.
Moço cordato e companheiro que era,
Ensinou-me a nadar no calmo rio.
Comecei pelo nado-cachorrinho;
Logo braçadas e depois mergulhos,
Só voltando de lá no lusco-fusco,
Quando o sino dobrava Ave-Marias.
Poema do meu digníssimo professor na Faculdade de Jornalismo da UFBA e colega de redação do jornal “A Tarde”, Florisvaldo Mattos, o Flori, para os mais íntimos, nasceu em Uruçuca-Bahia, poeta, jornalista, exerceu cargos em vários jornais, como editor-chefe do Diário de Notícias e no A Tarde. Foi chefe da Sucursal na Bahia do Jornal do Brasil, editor do Caderno Cultural do A Tarde, premiado em 1995 pela Associação Paulista de Críticos de Arte como melhor do Brasil no quesito de Divulgação Cultural. É membro da Academia de Letras da Bahia. Dentre outras obras poemas publicou Reverdor (1965), Fábula Civil (1975), Mares Anoitecidos (2000), Galope Amarelo e Outros Poemas (2001), Poesia Reunida e Inéditos (2011) e participou de antologias poéticas nacionais e internacionais.
POESIA E FELICIDADE
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
O poeta canta a felicidade,
Manda valorizar cada dia,
O existir do viver,
Debulhar do alto o sinal,
Mas como alcançar essa felicidade,
Num Brasil tão desigual?
Felicidade! Felicidade!
Perdão meu poeta/poesia,
Numa festa tudo é alegria,
Utopia e distopia:
Não dá para rimar,
Amor com sofrer e dor,
Nesse turbilhão de maldade.
Felicidade! Felicidade!
Não consigo captar sua poesia,
Sua mensagem nessa viagem,
Se minha alma está em agonia,
De ver tanta gente encarcerada,
Meu povo andar como manada,
Nesse capital do gastar consumir,
Onde o pobre nem mais rir,
Passando fome pelos cantos,
Que mal dorme e come
Nos afogados da periferia.
Felicidade! Felicidade!
Liberdade! Igualdade!
Cadê minha soberania?
Finjo estar encantado,
No acalanto da sua poesia.
NÃO FOI POR ACASO…
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, ampliado e revisado
Não foi por acaso…
Que meus olhos
Cruzaram com os seus,
O amor nos levou ao altar,
Depois você partiu
Sem me dar um adeus:
Meu coração ficou a sangrar,
Como o gladiador ferido,
Na arena do Coliseu.
Não foi por acaso…
O desabrochar da flor,
O pousar da abelha,
Para do néctar fazer o mel:
No mistério do universo da vida,
Quando se vai do inferno ao céu,
Entre a felicidade e a dor.
Não foi por acaso…
Que estourou a matança,
Do povo há séculos oprimido,
Encurralado em campos de concentração,
Que atacou com armas na mão.
Não foi por acaso…
Que você mudou de “posição”:
Finge apoiar os excluídos,
Para ganhar audiência e projeção,
Mas continua tendenciosa conservadora,
E essa gente entra em sua onda
De senhora venenosa Anaconda.
Não foi por acaso…
Que o planeta entrou em ebulição:
Gases e aquecimento global,
Secas, enchentes, ciclones temporais,
Fumaças, terremotos e incêndios,
Geleiras derretendo, coisas anormais,
Guerras e muita confusão,
Onde o ser se tornou canibal.
Não foi por acaso…
Que Lampião entrou no cangaço,
No agreste nordestino,
Com seu bando traçou seu destino,
Na bala fuzilou e foi fuzilado,
Sempre com seu punhal de aço.
Não foi por acaso…
Que o místico Conselheiro
Criou sua comunidade social,
E sua gente foi massacrada
Pela tropa cruel e brutal.
Não foi por acaso…
Que a Coluna Prestes
Cortou todo o Nordeste,
Perseguida pelo governo fascista;
Prendeu e matou coronéis
Por um ideal socialista.
Não foi por acaso…
Que fizeram a Revolução Francesa;
Derrubaram a Bastilha;
Quebraram os grilhões da opressão;
Victor Hugo escreveu Os Miseráveis;
Nobres foram decapitados;
Tombaram intelectuais notáveis;
E até o rei e a rainha
Foram na lamina guilhotinados.
Não foi por acaso…
Que Lenin e Stalin
Destronaram a família Czar,
No lugar nasceu outro tirano;
Fez império por terra e mar;
Esmagou milhões de humanos.
Não foi por acaso…
Que Fidel subiu a Serra Maestra,
Guerreou com Guevara
Entre mata e savana,
Numa estratégia rara,
Entrou triunfal em Havana.
Não foi por acaso…
Que os gregos invadiram Troia,
Por causa de uma Helena,
Que do rei era sua cobiçada joia;
Aquiles matou Heitor:
Carnificina, trama e terror.
Não foi por acaso…
Que conheci minha Lara,
Com meu verso tracei este caso,
Mas existe também o por acaso:
Estar no lugar e hora errada;
Ser morto numa emboscada,
Porque o bandido confundiu sua cara.
NÃO FOI POR ACASO…
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Não foi por acaso…
Que meus olhos
Cruzaram com os seus,
O amor nos levou ao altar,
Depois você partiu
Sem me dar um adeus:
Meu coração ficou a sangrar,
Como o gladiador ferido,
Na arena do Coliseu.
Não foi por acaso…
Que estourou a revolução
Do povo há séculos oprimido,
Que atacou com armas na mão.
Não foi por acaso…
Que Lampião entrou no cangaço,
No agreste nordestino,
Com seu bando traçou seu destino,
Na bala fuzilou e foi fuzilado,
Sempre com seu punhal de aço.
Não foi por acaso…
Que o místico Conselheiro
Criou sua comunidade social,
E sua gente foi massacrada
Pela tropa cruel e brutal.
Não foi por acaso…
Que a Coluna Prestes
Cortou todo o Nordeste,
Perseguida pelo governo fascista;
Prendeu e matou coronéis
Por um ideal socialista.
Não foi por acaso…
Que fizeram a Revolução Francesa;
Derrubaram a Bastilha;
Quebraram os grilhões da opressão;
Victor Hugo escreveu Os Miseráveis;
Nobres foram decapitados;
Tombaram intelectuais notáveis;
E até o rei e a rainha
Foram guilhotinados.
Não foi por acaso…
Que Lenin e Stalin
Destronaram a família Czar,
No lugar nasceu outro tirano;
Fez império por terra e mar;
Esmagou milhões de humanos.
Não foi por acaso…
Que Fidel subiu a Serra Maestra,
Guerreou com Guevara
Entre mata e savana,
Numa estratégia rara
Entrou triunfal em Havana.
Não foi por acaso…
Que os gregos invadiram Troia,
Por causa de uma Helena,
Que do rei era sua cobiçada joia;
Ulisses matou Heitor:
Carnificina, trama e terror.
Não foi por acaso…
Que conheci minha Lara,
Com meu verso tracei este caso,
Mas existe também o por acaso:
Estar no lugar e hora errada;
Ser morto numa parada,
Porque o bandido confundiu sua cara.
SEGREDO
Poema de autoria de Paulo Henrique Cardoso Medrado, formado em filosofia pela Universidade Católica de Salvador, professor concursado do estado da Bahia, com experiência no ensino superior (FTC, Fainor, dentre outros), tendo os primeiros livros em 2019 – O Banquete de Palavras I e II, A Caverna de Jomapawi e várias antologias no decorrer de anos. Atualmente é membro da Academia Barreirense de Letras.
Sei agora o poder do instante
Transformador que chega dá medo
Quando ele aparece na mesma hora.
Instante único que já passou, agora
Mais não demora nada e já se foi
Não deixa rastro e nem pegada afora.
Quase não se vê, mas sabe que apareceu
Que levou algo de modo ligeiro
Mas que o presente continua, amanhã, em segredo.
NÃO ACEITO
Autoria do jornalista, escritor e poeta Jeremias Macário
Não aceito
Esses seres malditos,
Com seus poderes malignos,
Do ocidental moralista,
De história opressiva terrorista,
Seletivos canalhas das muralhas,
Das terras arrasadas de guerras,
Que fazem da pobreza,
Produto de consumo,
Do insumo sangue humano,
Entre gritos, gemidos e fome,
De gente que vaga sem nome,
Pelos escombros desses monstros.
Não aceito
Que cortem meu cérebro,
Em seu laboratório,
Para enxertar seu chip,
Do sistema totalitário.
Prefiro meu bip,
Do pensar contraditório,
Longe do seu sofisma,
Da sua hipnose de massa,
Do quem eu sou
Para aonde vou
Conversa mansa de raça,
Do seu pensador,
Que confunde prazer com amor.
Não aceito
Sofia sem poesia,
Por que uns cantam louvores,
Outros choram suas dores,
Nesse vale de lágrimas,
Num mundo tão desigual,
Dividido entre o bem e o mal,
E ainda procuramos saída,
No sentido da vida.
RISCO
De Ana Luz, da sua obra QUADRAS
A maçã sempre esteve lá,
a esperar pela flecha.
É que só agora me dou
direito de atirar .
POETAS E EXCLUSÃO
Poeminha de autoria do escritor e jornalista Jeremias Macário
Quando do sono despertam os poetas,
Os pássaros no raiar fazem suas sonoras,
E as visões misteriosas abrem suas frestas.
Dos barracos morros na porta bate a fome,
Na virada da noite dos tiroteios de balas,
Onde prospera a exclusão do Estado que some.
Nos mocambos a educação sem redes e sinais.
Corta a navalha a alma dos despossuídos,
E adormecem os poetas na língua dos intelectuais.
SEM TEMPO NO TEMPO
Poeminha inédito de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Ando sem tempo,
Para te amar, ler e sorrir,
Para te abraçar,
Nem para um alô,
Para meu amor,
No tempo que segue seu compasso.
Só que nossa gente,
Vive em disparada,
Negando a existência do tempo,
No acelerado passo:
Diz não ter tempo;
Tropeça no poste da frente,
No tempo do celular;
Ultrapassa o sinal,
No laço do capital.
Ando sem tempo,
Dentro do tempo,
Que gira como a roda,
Que o próprio tempo inventou,
No sonho da meia noite,
Que o homem sonhou,
E você dorme e acorda,
Com a agenda na mão,
Como código de Humurabi,
Nem sabe
Da Lei do Talião,
E esquece do tempo,
Que te envelhece.
Ah, desculpa, irmão!
Ando sem tempo,
Na corrida da vida,
Nem vi sua mensagem,
E na hora, do aqui e agora,
Se depara de cara,
Sem levar bagagem,
Na partida da última estação,
Do seu tempo, oh Senhor!
Que o vento levou.