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:: ‘De Olho nas Lentes’

HOMENAGEM AOS PRESOS POLÍTICOS

No próximo ano, em 1º de abril (Dia da Mentira), o golpe civil-militar de 1964 dos generais que implantaram mais uma ditadura no Brasil estará completando 60 anos, data esta que deve ser lembrada, repudiada e contestada por todos cidadãos brasileiros. Devemos sim, prestar homenagens aos presos políticos que na luta heroica contra um regime de opressão foram torturados, mortos e desaparecidos. Em Itapetinga, na Praça da Concha Acústica, ao lado da Biblioteca Municipal, foi erguido um monumento em homenagem a esses personagens que tombaram em favor da democracia. Em Vitória da Conquista, na Praça Tancredo Neves, também existe um monumento semelhante do grande escultor Romeu Ferreira com os nomes dos baianos que foram vítimas desse terror. Infelizmente, essas esculturas passam despercebidas do nosso público porque poucos conhecem essa história, principalmente nossos jovens. É preciso que no próximo ano ocorram debates, seminários, discussões diversas nas instituições e em todos os cantos do país para se dizer com viva voz que ditadura nunca mais. No governo passado, os extremistas imbecis foram para as ruas e avenidas pedir uma intervenção militar e tivemos o 8 de janeiro, em Brasília, quando uma turba ensandecida invadiu os três poderes com a intenção de instalar em nosso país um regime de opressão.  Conquista, por exemplo, foi uma das cidades baianas que mais sofreu a mão pesada dos militares no dia 6 de maio de 1964, quando o eleito pelo povo, Pedral Sampaio, teve seu mandato cassado. Tudo isso e mais está retratado no livro “Uma Conquista Cassada”, do jornalista e escritor Jeremias Macário.

DIA DAS LIVRARIAS

Com tantas feiras literárias acontecendo pela Bahia, inclusive agora a de Itapetinga, nesta semana, dia 30 de novembro homenageia as livrarias. Pelo menos esses eventos incentivam a leitura, principalmente nos mais jovens, apesar de muitos estabelecimentos de grande porte e tradição no Brasil terem fechado suas portas nos últimos anos. “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, quase ninguém sente esta sede” – lamentou o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade.  Nos anos 50, 60 e até os 70, estudantes, professores e intelectuais devoravam livros e discutiam autores até em mesas de bares e restaurantes. Havia até torcidas como no futebol. A ditadura civil-militar mutilou o conhecimento e o saber com a censura. O ensino foi se deteriorando mesmo com a redemocratização do país e os governantes deixaram de priorizar a educação. Veio a internet e a situação piorou ainda mais com as redes sociais onde assassinam o português com fofocas, besteiras e fake news. O livro foi sendo deixado de lado e as livrarias se escasseando. Temos um país gigante de poucos leitores. É lamentável. Não se tem muito a comemorar neste Dia das Livrarias, 30 de novembro.

LIVROS, ÁRVORES E SOMBRAS

Dizem que para você ser realizado na vida tem que ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. Não é propriamente uma máxima e nem é só isso que devemos fazer nessa curta travessia da ponte para o outro lado, mas vale pela força das palavras que nos deixam mais fortes para as lutas diárias. Lembrei desse pensamento ao flagrar com minhas lentes a exposição de vários livros debaixo de uma árvore no Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima durante a I Fliconquista – Feira Literária de Vitória da Conquista. É como se fosse uma prosa debaixo de uma sombra. Não deixa de ser poético e significativo. Os dois representam a vida. Livro e árvore são fontes de alimento para o espírito e, infelizmente, são tão maltratados e vilipendiados nos tempos modernos e desumanos onde se idolatra o capital, ao invés de se valorizar e cuidar bem do meio ambiente e do livro. Lemos pouco para expandir nossos conhecimentos e saber, e derrubamos e incendiamos nossas árvores que nos dão oxigênio para respirarmos. No campo (não se faz muito isso nas cidades) como é bom prosear debaixo de uma árvore frondosa numa sombra fresca em sol escaldante. O livro também é uma sombra fresca onde você bate um bom papo com o autor e viaja dentro da sua imaginação, seja qual for o gênero. Livro e árvore são símbolos da vida que devem ser preservados e admirados com todo carinho e zelo. Ambos são puras poesias e brotam flores perfumadas e dão frutos existenciais. São eternos e imortais. Eles merecem louvor porque emitem amor e paz quando estamos triste, deprimidos, desanimados, sem fé e esperança diante de tantas intempéries do mundo atual.

O CANGAÇO E A SECA

A nossa literatura, os jornais impressos e as revistas estão repletos de narrativas sobre o cangaço e a seca. De certa forma, esses temas estão entrelaçados ou têm relações intimas com o nosso sofrido Nordeste, principalmente na época dos coronéis mandantes da terra e do povo pobre a partir dos governos da República até 1930 com o golpe de Getúlio Vargas. A impressão que temos é que a seca e a exploração dos poderosos, incluindo aí os políticos, pariram o cangaço, tão bem descritos por escritores nordestinos, como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, com o livro “O Quinze”, José Lins do Rego e, mais recentemente, por Ariano Suassuna em o “Auto da Compadecida”. Esses assuntos estão também nas poesias e letras de João Cabral de Mello Neto, Manuel Bandeira até em nossos grandes compositores e músicos Zé Ramalho, Elba Ramalho, Geraldo Vandré e tantos outros, sem falar nos cordelistas, com destaque para Patativa do Assaré, com “Triste Partida”. Quando se fala de cangaço logo lembramos de Lampião e seu bando. O cangaço, no entanto, já é por assim dizer uma coisa superada, mas a seca continua a nos castigar e ser instrumento do voto. Ainda existe os coronéis da política com métodos mais sofisticados que aproveitam da pobreza nos tempos de eleições.

 

A DOR DA FINITUDE

ESQUECERAM DE CITAR O CEMITÉRIO DA BATALHA

Como costumo fazer todos os anos no Dia de Finados, ontem visitei o Cemitério da Paz, da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, que fica na saída para Anagé, ao lado do Museu de Kard, e fiquei a imaginar que até depois da morte existe a divisão de classe. Uns em luxuosos caixões e túmulos de granito e mármore e outros que só têm uma cruz fincada sobre a terra nua. A dor da finitude do ser humano é a mesma para com seu ente querido que partiu para outra dimensão, mas as pessoas entre os cemitérios dos ricos e as dos pobres são diferentes, desde seus comportamentos, seus rostos, trajes e apresentações em geral, talvez até em termos de sentimentos. Uns chegam andando ou em pequenos carros usados, muitos até de amigos. Os outros com seus possantes e roupas bem mais caras e chiques. Entre os cemitérios, tem-se a visão de uma triste desigualdade social no Brasil, só que ninguém escapa da morte. Escutei choros entalados e doídos em covas simples, inclusive de uma senhora enquanto rezava e acendia as velas para seu falecido. No que pese a homenagem aos mortos, cada povo e nação tem a sua cultura própria de prestar sua reverência, até com festas e alegria como acontece no caso dos mexicanos. Cada qual com seu ritual de passagem entre vida e morte. Cada um com sua prece e manifestação para lembrar o amigo ou parente que se foi, modo de expressar a dor da finitude. Conforme consta, existem em Conquista cinco cemitérios, sendo três mantidos pelo poder público (pobres) e dois particulares (ricos), mas a mídia esqueceu de citar o cemitério da Batalha, lá do outro lado da Serra do Periperi, onde estão sepultados nossos ancestrais, como D. Loura. Segundo narra a história, foi lá onde ocorreu a batalha entre os primeiros colonizadores portugueses e os índios que habitavam esta terra.

VIVA O NOSSO CORDEL!

Pouco  prestigiado pelos acadêmicos das universidades que ainda criticam a sua forma de escrita poética, argumentando ser fora do padrão literário (tem cabimento!), o nosso querido cordel, vindo lá dos tempos medievais da Península Ibérica, se enraizou no Pouco Nordeste e tornou-se símbolo dos nossos nordestinos sertanejos, como se fosse nosso cartão postal.  É uma pena que um Patativa do Assaré (Triste Partida), por exemplo, seja pouco estudado por esses acadêmicos que escrevem suas teses para eles mesmos, a maioria no intuito de obter títulos válidos no balcão das promoções salariais. No entanto, não quero falar nisso. Meu intuito é homenagear aqui os nossos grandes cordelistas nordestinos que fazem história contando suas estórias e causos de grandes personagens da vida, sobre a seca, Lampião, Antônio Conselheiro, os cangaceiros, a nossa terra árida, costumes, hábitos, o forró e até sobre famosos escritores. Com uma pegada nordestina (Casa de José de Alencar, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, dentre outros), a II Feira Literária e Gastronômica de Belo Campo, também lembrou do nosso tão popular cordel, embora o evento tivesse dado pouco espaço para os escritores locais e da região, como de Vitória da Conquista. A crítica geral foi de que de literária só tinha o nome. Na verdade, o foco maior foi para o setor da educação, com apresentações de atividades escolares para a criançada e os jovens. Esperamos que a próxima feira abra mais estandes para os nossos escritores, inclusive com mesas temáticas sobre literatura, inclusive o estudo do cordel. Ainda bem que lembraram do nosso cordel através de uma tenda reservada exclusivamente para os autores desse gênero que tanto admiro e valorizo.

“VIDAS SECAS” E “SEU GRAÇA”

Na abertura da II Feira Literária e Gastronômica de Belo Campo- a II FLIBELÔ, aberta oficialmente ontem (dia 19/10) com lançamentos de livros, mesas temáticas, apresentação de trabalhos escolares e conferência sobre a cultura nordestina, lá estava um estande sobre a vida e a obra de Graciliano Ramos, “Seu Graça,”  o alagoano que se notabilizou com sua linguagem dura, concreta e objetiva, como no livro “Vidas Secas”. É um escritor que muito admiro por retratar de forma simples a força do poder sobre o homem comum, além de ter sido um defensor do livre pensar e dos direitos humanos quando esteve preso na Ditadura Vargas, como em Memórias do Cárcere. Graciliano Ramos é um autor diferenciado pelo seu estilo realista de escrever. Seus personagens vivem e levam o leitor ao mundo da realidade. Eles não parecem ser imaginários, e o livro Vidas Secas é um deles, como São Bernardo e outros da sua lavra. Além de Graciliano Ramos, a Feira de Belo Campo, que segue até o próximo domingo (22/10), tem uma pegada sertaneja e conta também com a presença de muitos escritores de Vitória da Conquista que estão apresentando suas obras, contemplando diversos gêneros literários, como romances, poesia, história, ensaios, contos e livros infantis.

    

O CRISTO DA SERRA

Mais uma vez, volto a falar aqui sobre o monumento do Cristo de Mário Cravo, em Vitória da Conquista, ou simplesmente, o Cristo da Serra do Periperi, que nunca recebeu a devida atenção dos poderes públicos desde quando Ele foi erguido nos anos 80. Discutimos esta questão no Conselho Municipal de Cultura, do qual estive à frente até o início deste mês (final de mandato), onde uma conselheira chamou a atenção de que a estrutura interna da estátua se encontrava deteriorada, com risco de desaparecer. Em julho do ano passado, numa audiência do Conselho com a prefeita, tocamos nessa questão e a chefe do executivo garantiu não ser verdade o comentário. Logo depois ela anunciou uma “revitalização” do local, em conjunto com a Cúria da Igreja Católica. Estive lá e captei algumas fotos onde funcionários limpavam a área, sem contar a instalação de um mirante. Não constatei nada além disso em termos de uma obra maior, como área de estacionamento e outros equipamentos de proteção e urbanização. É sempre assim: Alguns prefeitos, quando pressionados, fazem uns serviços “meia boca” e chamam isso de revitalização e urbanização. Ali é um cartão postal e, como tal, era para todos os dias receber centenas de visitantes, o que não ocorre. Em minha opinião, aquela área carece de um grande projeto, inclusive um teleférico ligando o Cristo ao centro da cidade, dentre outras obras onde moradores e turistas de fora possam desfrutar com segurança daquela bela paisagem até num certo período da noite, como ponto turístico de atração.

MEMORIAL CÂMARA

O Estado ainda continua ligado à religião e dizem que é laico

Os poucos pontos culturais existentes em Vitória da Conquista (museus, bibliotecas, arquivos), infelizmente, são raramente visitados. Falta de tempo, desinteresse total pela cultura, pelas nossas origens e as redes sociais da internet formam um conjunto de fatores para esta negativa explicação. Os jovens e estudantes de hoje não fazem mais pesquisas como antigamente. Do alto do comodismo e da preguiça, as pessoas preferem ficar sentadas nos sofás perguntando ao Google e recebem respostas limitadas, evasivas e, muitas vezes, truncadas e duvidosas. Um ponto desses a que me refiro que quase ninguém vai lá é o Memorial da Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista, segundo informou a própria atendente. O local fica aberto todas semanas, de segunda a sexta-feira, mas dificilmente aparece um conquistense, ou grupo escolar, para conhecer o acervo e realizar uma pesquisa. Um povo sem história é um povo sem memória e, consequentemente, nem está aí para seus direitos e deveres. É um povo ignorante e submisso aos poderes. É o declínio da nossa civilização em geral, e isso ocorre não somente em Conquista. É uma pena porque esse triste retrato representa uma decadência do interesse pelo conhecimento e pelo saber. O Memorial da Câmara tem um conjunto de material, inclusive digitalizado e visual sobre a história do Arraial da Conquista, sua formação, jornais que circularam na cidade em épocas passadas, os principais fatos que marcaram a vida do município, os intendentes, vereadores e outros valiosos itens com conteúdos preciosos, não somente para estudantes, mas também para professores, intelectuais e pesquisadores.

  

PRIMAVERA OU VERÃO?

Com o aquecimento global que muitos ainda não se atentaram para o problema, ou como no popular, a ficha ainda não caiu, e ficam colocando a culpa no El Nino, o malvado menino, as estações estão misturadas no planeta com tragédias e catástrofes. Nem sabemos mais o que é primavera e verão.  O calor fora do comum é o termômetro. Primavera ou verão? O cenário está aí, só não ver quem não quer e passa o tempo no consumismo e na ganância do ganhar dinheiro, jogando milhões ou bilhões de toneladas de lixo no velho planeta cansado de guerra. Os desmatamentos e as queimadas são provas de que a humanidade está caminhando para sua autodestruição. Ainda temos algumas reservas de florestas e, nas cidades, árvores nos jardins para nos refrescar e respirar um pouco de ar “puro”, como no jardim da Praça Tancredo Neves, em Vitória da Conquista, que a nossa máquina flagrou. No entanto, muitos passam despercebidos na correia da vida. Outros até entram e curtem este pequeno pedaço da natureza na selva de pedra, mas não param para refletir no que está acontecendo e continuam a destruir nosso meio-ambiente em seus atos politicamente incorretos. A verdade é que as estações não são mais as mesmas, a não ser nas datas em que nelas estão pontuadas pela ciência e os serviços de meteorologia.  As mudanças climáticas estão ditando o ritmo dessas misturas malucas. Primavera ou verão? As flores podem nos responder a pergunta.





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