:: ‘Na Rota da Poesia’
A TARDE FRIA
Poema de Fernanda Quadros, extraído do livro “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano”, coletânea organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.
Tardes arrastadas de ausência
Horas que teimam em não passar
Apertando a saudade
No peito frio.
Respiro
Olho a janela
O movimento do tempo.
Correndo a desbotar as cores
A espera da noite
Escura,
Trazendo você.
CICATRIZES!
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Cada um tem suas cicatrizes,
Com o tempo que passa
Sorrateiro e matreiro,
Deixando suas marcas,
Umas estreitas e outras largas,
Até de passados ancestrais,
Visíveis de riscos faciais,
Por dentro espirituais,
Assim carregamos
Todos nossos sinais,
Feias e belas,
Vermelhas e amarelas.
Cicatrizes!
São como raízes
Germinadas da terra,
Que em vida crescem,
Com vários sabores:
Dão espinhos e flores
E mesmo depois da morte
As ruins apodrecem
E as boas permanecem.
Cicatrizes!
São como nossas varizes,
Muitas do corpo se tiram,
Mas, as da alma ficam;
Têm as guardadas do amor,
Aquelas adormecidas da dor:
Sombras dos medos,
E as dos eternos segredos.
Cicatrizes!
São como digitais,
Onde não existem iguais.
SARAU ENCANTADO
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Vou cortando estrada,
Nesse Sarau Encantado,
Pelo vento do saber,
Onde nasceu o Vinho Vinil
Nesta terra do frio.
Nesse Sarau Encantado,
De Vitória da Conquista,
Tem noites etílicas de debate,
Onde só se respira arte,
Causos e histórias,
Violeiros e cantorias,
E declamação de poesias.
São quinze anos de estrada,
Nesse Sarau Encantado,
De conquistas e vitórias,
Na troca de conhecimento,
Que até se esquece o tempo,
Quando se vara a madrugada,
De estradeiros na mesma toada.
Aqui vai minha louvação,
Para essa longa jornada,
Canto, canto minha canção,
Na paz, amor e harmonia
Na labuta pela cultura,
E pela nossa democracia.
Em nosso Sarau encantado,
Vou seguindo minha estrada,
De mãos e braços dados,
Com meus versos improvisados.
UM PÔR DO SOL DE FEVEREIRO DA TERRA FRIA
Autoria de Fernanda Quadros
Poema extraído da coletânea “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano” – editora Versejar, organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.
As tardes da terra fria
Se vão vestidas
De vermelho quente.
As noites chegam no quadrado
Redonda e branda
Pintam tudo de laranja cinza.
A escuridão derramada,
Afaga a saudade
Na imensidão estrelada.
Lá, a Terra Quente,
Distante
Aqui, a Terra Fria,
Desconcertante.
EU GOSTARIA
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Alô, poetas cancioneiros!
De viagens passageiras,
Desse sarau, estradeiros!
Está é uma canção que faço
No compasso do coração,
Em noites etílicas e bíblicas,
Que ficam em nossos anais
Nesses debates intelectuais.
Eu gostaria,
Que não houvessem
Mais barreiras nas fronteiras,
Que todos fossem livres,
Para expressar seu pensamento,
Num mundo de paz e harmonia,
Sem escravos nessas caravelas,
Nem ódio nas paralelas,
Adorar o pôr-do-sol,
O alvorecer do dia,
Com amor e alegria.
Eu gostaria
Que banissem a guerra,
Nesta tão castigada terra,
Sem mais os preconceitos,
Que cada um respeitasse os conceitos,
Com apertos de mãos,
Como diferentes irmãos.
Eu gostaria,
Que abrissem todas telas,
Das coloridas aquarelas,
Apagassem todas as mazelas,
Que não queimassem nossas florestas,
Tudo fosse só festas,
Aparassem todas arestas,
Mas esse sonho é uma quimera,
Não passa de uma utopia,
De filosofia e poesia,
Numa noite florida de primavera.
EM MINHAS CEIAS
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Por que os poetas,
Não mais protestam
Contra a injustiça social,
O depravado capital,
Só querem falar de amor,
De sofrência e flor,
Acham que agruras,
São palavras feias,
Como em minhas ceias.
Em minhas ceias,
Consome-se a fome,
Tem pirão d´ água,
Feijão aguado,
Paçoca de Ouricuri
Carne seca e mocotó,
Com farofa de morotó.
Minhas ceias,
São feitas de teias,
Do sangue da guerra,
Do fogo que sai,
Das entranhas dessa terra,
Sem cheiro de alecrim,
Nem lírio e jasmim.
Nas ceias desses poetas,
Só ouço o canto do Bem-te-Vi,
Toda vida é doce e bela.
Como se fosse uma aquarela.
Minhas ceias são diferentes,
Falo dessas gentes,
Das luas cheias e minguantes,
Dos pobres retirantes,
Que vivem nas correntes
Como se fossem dementes.
Minhas ceias
Têm lágrimas
De penitenciárias e cadeias.
Minhas ceias
Nascem do sertão forte,
Da luta e da morte;
Brotam das minhas veias,
Minhas ceias,
Não existem sereias,
Saindo do mar
Tem poluição do ar.
PO*ÉTICA*MENTE
Autoria do professor e poeta Paulo Andrade, da coletânea “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano”, da editora Versejar, organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.
Poetizar com os pés no chão,
Fazer da mente uma escavadeira para buscar as palavras que ainda não são…
Tocar nas pedras no seu estado natural e modificar a percepção que medra na visão.
Forrar a cama e deixar o sono deitado para a noite.
Deixar o verbo verbalizar por entre a carne morna…
Andar com passos firmes na beira da praia, enquanto as ondas levam os pés para
Caminhar nos corais.
Tentar lembrar uma palavra e ao perguntar a alguém,
Ambos lembram, mas ela fica a flanar nas cordas vocais.
MELHOR
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Melhor não pensar muito
No sentido do existir,
Que somos mortais errantes
Porque você pode pirar,
Siga as ondas do mar,
Deixa o tempo fluir,
Melhor jogar prá lá,
Essa de quem sou,
Ou para onde vou,
Se existe céu e inferno,
O antigo e o moderno,
Se a fé é mistério,
Sem lógica e critério,
Acredite na ciência,
Melhor ter paciência,
Seguir sua mente,
Melhor ser realista,
Do que ser idealista,
Olhe pra frente
Que atrás vem gente,
Melhor não viver na ilusão,
Mas cada um faz sua opção,
A vida não é assim tão bela,
Como natureza em aquarela,
Por que um nasce perfeito,
Outros com seu defeito?
Nunca diga que seu filho,
Vítima da Zica, deficiente,
Foi teu Deus quem te deu,
Assim você xinga Ele
De injusto vingador,
Foi o presidente, o governador
Essa cruel humanidade,
Destruidora do meio ambiente,
De ganância e insanidade,
Que nos traz todo horror.
Seja paz, seja amor.
MEU CHORO
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Travei minhas batalhas,
No amor e na guerra;
Cravei minhas patas nesta terra;
Usei parabelos e espadas;
Enfrentei gente nas navalhas,
Em meu terreiro,
Risquei meu facão;
Encarei o cangaço,
No fuzil e no punhal de aço;
Fui Conselheiro e Lampião.
Sou flor e espinho,
Que brotam deste chão,
Das artérias do meu coração.
Do meu moído choro,
Não saem lágrimas,
Moram em minhas entranhas,
Torradas como castanhas.
Meu choro vem lá do fundo,
Ora lamento e sentimento,
Que inunda todo meu mundo.
Meu choro sangra noite e dia.
Que nem o canto da cotovia,
Pode minha dor aliviar,
E ela já faz parte de mim,
Como início, meio e fim.
Choro pelos meus pecados,
Na procura do existencial,
Contra a injustiça social,
Como ferido animal,
Sapecado em seu meio ambiental,
E oro a Zeus e ao Senhor Deus,
Que nos afaste do mal,
Deste açoite global.
Eu choro, choro, choro,
Com fé e esperança,
No ritmo dessa dança,
Sensata e insana,
Para que a mente humana
Não seja tão desumana.
.
ADAGAS AFIADAS
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Oh, deuses gregos-romanos!
Cada um com sua saga ancestral,
Seu feroz instinto animal:
Alianças e tramas atadas,
Com suas adagas afiadas,
Montaram cruel assassinato,
Num trágico secreto ato.
Da Gália Italiana,
Gauleses da terra parisiana
Com seu exército treinado,
Homens bravos mercenários,
Júlio César contrariou o Senado,
Cruzou o Rio Rubicão,
Como um deus furacão,
Em Roma imperial,
Foi louvado e amado
Em sua carruagem triunfal.
Uma guerra civil romana,
Em quarenta e nove
Antes da era cristã,
Fez-se uma carnificina humana,
Brandiram as espadas tiranas,
Nas batalhas sanguinárias,
Que se tornaram lendárias.
No Egito como um tufão
Encurralou o general Catão
Que preferiu se sacrificar,
Ao invés de se entregar;
Renegou a clemência,
Para não ser um prisioneiro
Do seu senhor no cativeiro.
Com suas legiões seguiu avante,
Pois na frente tinha mais gente;
Negociou com a rainha Cleópatra,
Dela fez sua amante,
E do seu ovário
Gerou o bastardo Cesário.
Em Alexandria,
Admirou todo seu esplendor;
Rendeu vênias ao seu criador:
Alexandre, o Grande,
Vindo do rei Filipe da Macedônia,
Que o mundo desbravou,
Como maior conquistador.
Nas Colinas da Anatólia
Praticou sua oratória:
Vim, Vi e Venci,
No aqui e no agora,
Pontuou sua hora,
Consagrou mais uma vitória,
Como guerreiro da história.
Depois de tanto inverno infernal,
Num inferno sem igual,
Destronou o vingador Pompeu,
Que já era pelo povo odiado,
Depois fugiu e foi assassinado,
Para não mais voltar ao reinado.
Em Roma assentou os colonos,
O plebeu apoiou seus comandos;
Deu terras aos seus veteranos;
Ajustou o planeta em seu astral;
Reformulou o calendário anual;
Recebeu mil honrarias:
De rei, deus imperador
Coroado até como ditador;
Expandiu todo vasto império
Do Oriente ao Ocidente.
Ciúmes, invejas e ódio,
Intrigas ambiciosas palacianas,
Brutus virou conspirador,
Com Cassius e Decimus,
A conspiração se espalhou;
Transformaram tudo em terror,
Nas noites cálidas romanas.
Com suas adagas afiadas,
Escondidas em suas togas,
Como feras em manadas,
A César apunhalaram,
Em nome das ideias republicanas,
Senadores enganaram,
Com suas ganâncias espartanas.
Conspiradores traidores,
Nas armações planejadas,
Mais de vinte adagas afiadas,
De mortais ciladas,
Dilaceram suas carnes,
Até costelas quebraram,
E o sangue jorrou no plenário,
Num um aterrorizante cenário,
Na Casa de Pompeu do Senado
Seu maior inimigo,
Onde imaginava ser seu abrigo:
Tudo estava pelos adivinhos previsto,
Em quarenta e quatro antes de Cristo.
Depois os assassinos se refugiaram,
No forte da Colina Capitolina,
Com seus seguranças gladiadores,
E toda Roma chorou suas dores,
Até a sua deusa protetora divina.
No funeral de quatro dias,
Os céus se abriram,
Caíram tempestades e ventanias,
Que lhe fizeram imortal,
Como filho de Vênus e Júpiter,
Na Roma de Rômulo ancestral.
Sua pessoa foi deificada;
Deu nome a outros imperadores,
Que em Roma dinastia reinou,
Depois das adagas afiadas,
Que deixaram mentes revoltadas.
O tribuno Cícero das catilinárias,
Bradou com suas catilinárias,
Marco Antônio hábil negociou,
Um armistício de trégua,
Mas a vingança não tardou.
Outra guerra civil começou,
Da Gália Otávio César Augusto,
Que de Júlio herdeiro se tornou,
Um criou julho e o outro agosto,
O moço ergueu sua espada,
Carregando também sua adaga,
Formou até um triunvirato,
Todos caíram em seu prato,
Não sobrou um conspirador,
Teve até oficial desleal,
Que só queria fazer bacanal,
Que de tanto medo se suicidou.
Por quarenta e um anos,
Augusto César governou,
Jesus ainda era um adolescente,
Com sua filosofia envolvente,
Encantava toda mente,
Pregando paz e amor,
Quando o sucessor Tiberius
A Judéia massacrou
Pilatos lavou suas mãos,
Os sacerdotes insanos,
O filho Deus na cruz crucificou.