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:: ‘Na Rota da Poesia’

LIXO ANIMAL

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Lá fora bate a garoa,

E aqui meu pensamento voa,

Nessa terra que virou lixeira,

Entulhos nos rios e no mar,

Gases tóxicos no ar,

Do lixo animal, bicho porqueira,

Que ainda não aprendeu a amar.

 

A natureza não perdoa,

Devolve tudo na cheia,

Do lixo animal,

Que se enrola em sua teia,

Nem respeita o sinal que soa,

Dos tempos do aquecimento global.

 

Vem a seca inclemente,

A fumaça da floresta a sufocar;

Derretem as calotas polares;

Sobem os níveis dos mares,

Tanto choro e ranger de dentes

Dessa estúpida gente,

A brincar de foguetes,

Pelo espaço sideral,

E o planeta a se acabar,

Com a sujeira debaixo dos tapetes,

Pelo lixo animal,

Onde o bem perde para o mal.

SOMBRA ARTIFICIAL

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Sonhei que era uma sombra,

De um primitivo passado,

De antigos ancestrais,

De atraso e evolução;

Um ente invisível global,

Fora do corpo, com razão,

Sem o emotivo sentimental.

 

Era mesmo uma sombra,

De inteligência artificial,

Uma cópia do carbono,

Dentro de um longo sono,

Na forma de outro animal.

 

Sonhei ser a deusa Atenas,

Das penas dos sábios imortais,

Sombra parida do cristão-judaico,

Dos imperadores romanos generais,

Das trevas do pensador arcaico,

Cruzado do inquisidor carrasco,

Filha dos ideais dos iluminismos,

Saída do frasco das eras dos ismos,

Sombra anarquista-comunista,

Mistura entre direita-esquerdista.

 

Sonhei ser apenas uma sombra,

Que se foi no vulto da luz,

No escurecer do lenho da cruz,

Em noites de sonhos me assombra,

Essa máquina maluca artificial.

 

AMOR CONTIDO

Autoria de Jeremias Macário

Amor contido,

Que irradia energias,

Olhos em meus  olhos,

Luz que ilumina e seduz,

Em seus longos cabelos,

De finos fios de poesias.

 

Ainda lembro daquela fonte,

De água cristalina serena,

A refletir nossa imagem,

Dos beijos de amante,

No arco-íris do horizonte.

 

Amor contido

De eterno segredo,

Que não passa na TV,

Nem ninguém pode saber,

Só a alma criança sente,

Esse sublime presente.

 

Amor contido,

Deleite do sol poente,

Sabor de proibido,

Até o último respirar.

Minação da serra nascente,

Que vira correnteza de rio,

E se encontra com o mar.

 

Sempre existe o amor contido,

Que chega para sempre ficar;

Envenena nossa mente,

No físico visível latente,

Para não mais se separar.

 

É como semente do tempo,

Esse amor contido ardente,

Que vem do vento platônico,

Biônico na gente a grudar,

Para nunca mais largar.

 

 

NOS TEMPOS DO CANDEEIRO

Autoria do jornalista Jeremias Macário

Sou dos tempos do candeeiro,

Do pavio no óleo da mamona,

Pilada no velho pilão,

Pra clarear o forró do sanfoneiro,

A sanfona do Gonzagão,

E o xaxado dos cabras de Lampião.

 

Sou dos tempos do candeeiro,

Do oi de casa!

Oi de fora. É de bem?

É da paz, que a paz esteja nesta casa!

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Para sempre seja louvado!

Saudavam o rancho e o rancheiro,

Com abraços e café no bule,

Pra com fé prosear,

Em noites de luar.

 

Sou dos tempos do candeeiro,

Do ferro em brasa,

Da goma de engomar,

Pra missa da Vila Umbuzeiro,

Que o padre não se atrasa,

Quando o sino toca pra rezar.

 

Sou do candeeiro,

Do fole do ferreiro,

Da ferradura na tropa do tropeiro,

Do namoro distante respeitoso,

Do jovem que respeitava idoso.

ALMAS PERDIDAS

Autoria de Jeremias Macário

Dizem que fantasmas

São almas perdidas,

Que vagam no vaivém,

Coisas de carmas,

De abertas feridas.

Para espíritas, morte é vida,

Que retornam do além,

Para pagar suas dívidas,

Encarnam em alguém.

 

Tudo é mistério e confusão.

“Só sei que nada sei”

De céu, purgatório e inferno:

Só sinto o verão e o inverno;

O resto é assombração.

 

Almas perdidas!

Andantes vivas-mortas

Nesta terra de guerra,

Que não são ativas,

E circulam por linhas tortas;

Sem visível passagem

Nessa passageira viagem,

Onde ninguém nota,

Sua atribulada rota.

 

Almas perdidas!

Sem idas e saídas.

Almas perdidas!

Rogai por elas, oh Senhor!

Para que desatem seus nós

De seus antepassados e avós.

 

Almas perdidas!

Meu canto é um pranto,

Cada um com seu santo,

E cada dor em seu canto.

O AGRICULTOR E O PESCADOR

Autoria de Jeremias Macário

Um na labuta do campo,

Outro no rio e no mar,

No rigor do calor e do frio,

Nos cortes das fases lunares,

Pra plantar, colher e pescar.

 

Cada qual com suas marés

De altas e baixas.

Aguaceiro molha a terra,

Agricultor vai semear,

E renova no santo sua fé.

Tempestade agita o mar,

Pescador não vai pescar;

Roga a Iansã e Iemanjá,

Para o vento se acalmar.

 

O agricultor mira as nuvens,

O céu, a cigarra e o ar;

Sente quando a chuva vai chegar.

Pescador também pressente,

No escudo do horizonte quente,

Quando o tempo vai fechar.

 

Joga a rede pescador!

Como ensinou a Pedro, seu Senhor!

Ás vezes vem cheia de peixes,

Outras só sai lixo de lá,

Do homem que só faz sujar.

A seca mata de fome o animal,

Plantação mirrada a murchar,

Com esse aquecimento global.

 

Um com sua enxada a olhar o sol,

O outro com seu barco a navegar,

Os dois pedem a Deus uma graça,

Pra na praça da feira sua safra levar

O surubim, o vermelho e a sardinha,

O milho, feijão, arroz e a farinha.

NA DOR DA SOLIDÃO

Autoria de Jeremias Macário

Arranco na primeira;

Jogo na segunda;

Entro na terceira;

Acelero o pé

Entre a quarta e a quinta,

Na dor da solidão,

Borrado de tinta.

 

O ponteiro marca agora

Cento e cinquenta por hora,

Ouço uma balada canção,

Que me leva ao passado,

De parar o tempo,

Na dor da solidão.

 

Abro as janelas;

Desligo o ar,

Para sentir o vento assobiar,

E reduzo nas curvas,

Sem pisar no freio,

Para não capotar.

 

Avanço nas retas,

Dos cento e setenta,

Na linha do horizonte,

Que nunca some,

E desligo o presente

Que a mente consome.

 

Nada de avivar o futuro,

Trava de escuro muro,

Como aquelas nuvens

Da tempestade que vem,

Com chuva varrendo o além.

 

Volto à marcha lenta,

E no peito me atormenta,

Essa dor da solidão,

Da saudade do amor

Que um dia me deixou,

 

Falo só com o universo

No meu íntimo do verso,

Da vida finita,

De massa bruta,

De confusão e luta.

 

Ninguém me escuta,

Nem a dita filosofia,

Que não me cura

Dessa dor tão dura:

Coisa do sentimento,

Que não se fecha,

Nem com cimento.

 

É uma dor varada,

De lança sangrada,

Como fio da espada,

Essa dor da solidão,

Que não tem oração.

 

LUA ADVERSA

Cecília Meireles

Tenho fases, como a lua,

Fases de andar escondida,

Fases de vir para a rua…

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!

Tenho fases de ser tua,

Tenho outras de ser sozinha

 

Fases que vão e vêm,

No secreto calendário

Que um astrólogo arbitrário

Inventou para meu uso

 

E roda a melancolia,

Seu interminável fuso!

Não me encontro com

Ninguém

(tenho fases como a lua…)

No dia de alguém ser meu

Não é dia de eu ser sua…

E, quando chega esse dia,

O outro desapareceu…

PORTA FECHADA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Como aranha a tecer sua teia,

Uma porta fechada,

É outra que se abre.

Assim é a vida, camarada,

Como onda levada,

Que espuma na areia.

 

Às vezes, bate em sua memória:

Sonhos do passado,

De caça e de caçado,

De porta fechada,

E de outra que lhe serviu,

Para conduzir sua história,

No calor ou no frio.

 

Não lamente e chore,

Se teve uma porta fechada.

O vento que assovia lá fora,

Traz depois a calmaria,

E sua porta se abre,

Para uma outra Maria.

 

A vida corta como sabre,

De uma porta fechada,

E de outra que se abre.

Se o futebol lhe deixou,

Médico, filósofo, cronista,

De poeta, professor ou artista,

O destino lhe reservou.

 

Não se apoquente, seu moço!

Você veio do ventre da terra:

É foice, facão e machado,

Montanha e serra,

Arrasto do arado,

Paz, amor e alvoroço.

DOMADOR DE BURRO

Versos de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Êta Nordeste bom de se ver!

De escritor, artista, senhora e senhor,

Rezadeira, penitente e você,

Vendedor de quebra-queixo,

Amolador e tocador de realejo,

Nessa terra de tanto casmurro:

Tem até o domador de burro,

Não mais na tora da espora,

Mas com nova terapia, sem pia.

 

O domador de hoje rodeia,

Sem na mão a taca e a peia,

Conversa com o burro,

Faz ele sentir seu cheiro;

Coloca seu chapéu por inteiro,

Num ritual de interação,

Segue o passo a passo do manual,

Até ele lhe chamar de doutor.

 

É tanto jeito e mania,

Que o burro dá sua montaria,

Confia que em seu lombo suba,

Sem coice, pulo e derruba,

Mais manso que essa gente bruta,

Fanática e inconsequente,

Que não tem domador nenhum,

Para o desumano anormal comum.

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