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Quem é este “Coronavid”? . Por Jeremias Macário

“ANDANÇAS” TAMBÉM É MÚSICA

Não são só causos, contos e histórias, numa mistura de ficção com realidade, o novo livro “Andanças”, do jornalista e escritor Jeremias Macário, também tem poemas, muitos dos quais começam a ser musicados por artistas locais e de outras paragens do Brasil, como de Fortaleza, no Ceará.

Do título “Na Espera da Graça”, que fala do homem nordestino que sempre vive a esperar por tempos melhores, o cantor, músico e compositor Walter Lajes extraiu de sua viola uma bela canção, numa parceria que fez com o autor, com apresentação em vários festivais.

O músico e compositor Papalo Monteiro se interessou por “Nas Ciladas da Lua Cheia”, uma letra forte que descreve os políticos na figura de bichos que, de quatro em quatro anos, aproveitam as eleições com promessas vãs para se elegerem.

Tem “O Balanço do Mar”, um xote que lembra passagens de nossas vidas, e “Lágrimas de Mariana”, um belo poema triste sobre a tragédia do rompimento da barragem da Samarco, lá em Mariana (MG), musicados e cantados pelo amigo parceiro Dorinho Chaves.

Lá de Fortaleza, Ceará, os companheiros Edilson Barros e Heriberto Silva realizaram uma parceria musical aproveitando a letra “A DOR DA FINITUDE”, que versa sobre um tema que pouca gente gosta de abordar, que é a morte, e filosofa que tudo passa, tudo muda e tudo se transforma. Outros poemas estão sendo trabalhados para entrarem no rol das letras musicadas, inclusive do novo livro “ANDANÇAS”.

Essa é uma parceria com o amigo poeta e músico, baiano de Alagoinhas, Antônio Dean, que há muitos anos reside em Campina Grande da Paraíba com sua família, fazendo sucessos e cantando com sua profunda voz, a cultura nordestina para todo o Brasil.

Conheça o Espaço Cultural “A Estrada”

Com 3.483 itens entre livros (1.099), vinis nacionais e internacionais (481), CDs (284), filmes em DVDs (209), peças artesanais (188) e 106 quadros fotográficos, dentre outros objetos, o “Espaço Cultural a Estrada” que está inserido no blog do mesmo nome tem história e um longo caminho que praticamente começou na década de 1970 quando iniciava minha carreira jornalística como repórter em Salvador.

espaco cultural a estrada (5)

Nos últimos anos o Espaço Cultural vem reunindo amigos artistas e outras personalidades do universo cultural de Vitória da Conquista em encontros colaborativos de saraus de cantorias, recitais poéticos e debates em diversas áreas do conhecimento. Nasceu eclético por iniciativa de um pequeno grupo que resolveu homenagear o vinil e saborear o vinho. Assim pintou o primeiro encontro do “Vinho Vinil” com o cantor e compositor Mano di Sousa, os fotógrafos José Carlos D`Almeida e José Silva entre outros convidados.

CLIQUE AQUI para saber mais sobre o espaço cultural de Jeremias Macário.

“A MÁSCARA DA ÁFRICA” X

Em sua última viagem pela África, entre 2008/09, V.S. Naipaul, prêmio Nobel de Literatura, nascido em Trinidad, descreve a África do Sul como um outro continente não tropical, de uma outra civilização. Em seu livro-reportagem “A Máscara da África”, partindo de Uganda, ele passou pela Nigéria, Gabão, Congo, Gana e Costa do Marfim.

No capítulo “Monumentos Particulares, Terras Arrasadas Particulares”, Naipaul descreve que, “dois dias depois, no centro de Joanesburgo, vi o que tinha acontecido com uma área pós-apartheid da cidade. Os brancos apreensivos com o que o fim do apartheid (durou 36 anos) poderia causar, tinham ido embora, simples assim, e os africanos se mudaram para o lugar, mas não pessoas da região, e sim gente desimpedida dos países ao redor, Moçambique, Somália, Congo e Zimbábue”.

Naipaul cita o escritor Rian Malan, nascido em 1954, de que os brancos construíram uma base lunar para sua civilização; quando ela desmoronou, não havia nada ali para negros ou brancos. “Quarenta anos antes, em Ruanda, às margens do lago Kivu, eu tinha visto uma colônia de férias belga bem mais simples arrebatada pela floresta e pela gente da floresta”.

Os notáveis edifícios e rodovias foram reduzidos a favelas, difíceis de serem reconstruídas. “Havia descobertas adicionais a se fazer dentro daquela nova favela. Um velho e robusto armazém tinha sido ocupado por novas mercadorias, o que parecia uma paródia do que teria existido aqui. Era um mercado de artigos de curandeirice.

“Havia artigos que os curandeiros exigiam que seus clientes comprassem, para serem usados pelo curandeiro como ele bem entendesse, normalmente para fazer remédios que o infeliz enfeitiçado tinha de beber. Os mais inofensivos eram os maços de ervas utilizados para fumigar um cômodo ou uma casa tornar desagradável à vida de um espírito do mal”.

“E logo chegávamos ao reino dos horrores: Partes de corpos de animais expostas numa espécie de plataforma. O ambulante estava sentado num tamborete baixo ao lado de seus artigos, que eram armazenados no próprio mercado. Entre os produtos existiam cabeças de cavalos e cervos rachados ao meio por golpes afiados de facão”.

De acordo com Naipaul, o cheiro era abominável. Além das partes dos corpos dispostos horizontalmente na banca do ambulante, havia pedaços de estômago pendurados em cordões, como peças de pano, de modo que o especialista pudesse escolher ou examinar o que quisesse.

Os ambulantes vendiam porquinhos-da-índia, sacrificados de maneira ritual, com uma faca no coração, um modo muito doloroso. Seu sangue fresco era tomado sob indicação do curandeiro como parte do sacrifício.

“O povo da África do Sul havia travado uma grande batalha. Eu esperava que uma grande batalha tivesse dado origem a um povo maior, um povo cujas práticas mágicas pudessem apontar um caminho para a frente ou para algo mais profundo – observou Naipaul.

Segundo o escritor, “não havia aqui nada de beleza que eu encontrara na Nigéria entre os iorubas, com seu culto, como me pareceu do mundo natural; nada aqui parecia com a ideia gabonesa de energia, vinculada à ideia e ao assombro das florestas portentosas”. Ele fala ainda sobre a rua dos adivinhos, com espaços exíguos e balcões brancos para os clientes ocuparem.

Naipaul escreve também sobre o Museu do Apartheid e apresenta sua guia Fátima, muito discriminada por ser coloured, ou seja, uma pessoa mestiça. Pelo lado materno tinha um bisavô inglês e seu avô paterno era negro, mas a família falava africâner e odiava a pele negra. Sua bisavó era xhosa. As meninas xhosas na escola tinham uma identidade, mas ela não.

O GALO CANTOU ERRADO

O feirante-tropeiro saia da sua roça todas as madrugadas de sexta para sábado em seus jumentos para vender sua farinha, mantimentos (feijão e milho) e beijus na feira da cidade. Tinha que chegar cedo para pegar os primeiros fregueses e não perder para seus concorrentes.

Como não tinha relógio e rádio em seu rancho, sempre se guiava pelo canto do velho galo para percorrer uma distância de cerca de 20 a 25 quilômetros e chegar no horário. Sempre dava certo no apressar dos passos e chegava à cidade ao clarear do dia, na barra dos primeiros raios solares.

Era um bravo trabalhador, de sol a sol, de chuva a chuva que ficou calejado com a seca e com a fome, mas era um zangão que não tolerava pilherias com sua pessoa e logo partia para uma briga.  Tipo do sujeito cismado. Era parecido com seu Lunga casca grossa, mas, no fundo, tinha um bom coração e ajudava muita gente necessitada.

Sempre confiou no despertar do galo da sua mulher, mas teve um dia em que o danado cantou errado. Foi sua sentença de morte. Deve ter tido algum pesadelo ou alguma raposa se aproximou do galinheiro. Quem sabe uma galinha não tenha lhe acordado com algum desejo.

Nessa noite de total breu, sem o luar, o guerreiro acordou apressado com o primeiro canto do galo e, todo avexado, mandou seu menino moleque pegar os animais no pasto. O tempo urge!  Não queria perder suas vendas e deixar de fazer uma boa feira.

Estava mesmo apressado e não parava de reclamar da vida dura que levava, como todo sertanejo nordestino, para ganhar o sustento da casa. A mulher com seu temperamento calmo e paciente, resmungou lá de dentro: “Êta homem doido! Esse galo cantou errado”!  Havia algo esquisito mesmo porque não se ouviu nenhum galo cantar naquelas bandas!

Colocou os arreios nos jumentos e as cargas de farinha, um saco em cada lado da cangalha, cada um pesando cerca de 50 quilos. Era uma viagem cansativa de uma estrada esburacada, com pedregulhos e ladeiras. Todo cuidado era pouco nas subidas e descidas. Quando chovia, às vezes tinha jegue que atolava nas poças de águas. Não é nada fácil a vida de um roceiro para manter sua sobrevivência.

Era um sofrimento e, por isso, tinha que sair cedo, mas nesse dia o galo cantou errado. O trabalhador rural percebeu isso logo que passou na porta do vizinho e ainda estava dormindo. Estranhou porque ele tinha relógio e também saia na hora certa.

– Esse miserável do galo cantou errado – desconfiou o roceiro que começou a cafangar e a xingar o dono do terreiro que lhe orientava em suas jornadas para a feira. Não parava de esbravejar e ameaçar que na volta ia botar aquele galo na panela para ele nunca mais cantar errado.

Ele e seu menino, o tropeiro mirim obediente ao pai e sempre calado para não levar uns tabefes, entraram na cidade ainda no escuro da noite, sem nenhum sinal do amanhecer do dia. Todo mundo ainda dormia em suas casas, nem um latido de cachorro.

Aquilo lhe deixou mais irado ainda e continuava a jogar praga no galo que cantou errado. Fomos os primeiros a entrar na feira. Arriamos as cargas nos couros e o velho sentou nos sacos com uma raiva danada.

Como sempre levávamos uma esteira e outros apetrechos na tropa, o menino aproveitou para tirar um cochilo. Demorou para o alvorecer do dia e aparecer os primeiros fregueses da sua farinha, de qualidade que era de primeira e tinha um diferencial da dos outros feirantes.

Era um produto feito no capricho, com aquele esmero, sequinho e com aquela tapioca por dentro. O comprador passava os dois dedos, como de costume, e saia aquele pó branco. Era a melhor farinha das redondezas.

Tudo foi vendido nas primeiras horas, mas o feirante ranzinza não esquecia do galo e disse que ia jogá-lo na panela quando voltasse para casa. Não tinha perdão.

O galo percebeu do sucedido e a dona lhe avisou que o patrão ia lhe tirar o couro. Todo cabreiro, o galo sabendo que poderia ir para a panela por ter cantado errado se meteu dentro do mato. Foi uma fuga estratégia e só retornou dois dias depois.

Quando o homem chegou soltando fogo perlas ventas, o galo, para não cair na faca, já tinha pulado fora e se picado para outros cantos. Se meteu nas capoeiras. Deixou a poeira passar e foi chegando de mansinho quando o seu senhor já estava mais calmo e esqueceu do ocorrido.

É aquela história: A pessoa pode fazer cem por cento certo, mas se errar no um por cento, ou até chegar aos noventa e nove vírgula nove por cento, não presta e é condenado. A vida no seu tempo real é sempre assim. O pobre do galo que o diga, pois por pouco não caiu na panela porque somente numa madrugada cantou errado.

 

 

 

“ENTENDEU”?

Continuo a insistir que os maiores focos dos mosquitos da dengue, em Vitória da Conquista, a cidade com maior índice da doença na Bahia, estão nas ruas de chão, nos esgotos a céu aberto, nos terrenos “abandonados” cheios de lixo e matagal, nas oficinas abandonadas que se transformaram em sucatas e outros pontos das periferias que ficam alagados quando chove. Parem de colocar a culpa somente nos moradores. Mande, senhora prefeita, fiscalizar e punir, conforme determina a lei, os donos de terrenos que não cercam e nem limpam suas propriedades; intime a Embasa a consertar e desentupir os esgotos; e os donos de oficinas a limpar suas áreas. Entendeu, senhora prefeita? A situação é grave com muita gente doente e hospitalizada, sem contar as mortes. Existe um motivo maior para Conquista ter esse alto índice epidêmico de dengue. Entendo que o poder executivo é o maior culpado. Entendeu, senhora prefeita? Fora do centro, é difícil não encontrar uma rua ou avenida que não tenha um matagal que serve de lixeira de sacos plásticos, garrafas, pneus e outros objetos que acumulam água e servem de criadouros das larvas dos mosquitos. Entendeu?

MOMENTOS

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Às vezes, tem momentos,

Que fico no meu eu solitário,

No voo do triste pensar,

Como canário preso numa gaiola,

Rochedo nesse escuro mar,

Como canção sem viola.

 

São momentos

de mistura,

Entre banzo e feliz,

Passageiro de fim de estrada,

Nessa cilada,

Do tudo que já fiz,

De bom e ruim,

Na vida que é assim:

Da lei feita pros fortes,

Para os fracos, garrotes,

Com início, meio e fim.

 

Às vezes, tem momentos,

Do refletir,

Dos amigos que se foram,

E eu ainda aqui,

Em meu espaço,

Sem régua e compasso,

Nesse labirinto de canais.

Onde essa selvagem caravana,

Não me empolga mais.

 

Tem momentos,

Que nem quero mais ficar,

Para respirar,

Esse poluído ar.

 

Momentos são momentos,

Que não ligo mais pro tempo,

Nem a força do vento;

Sou amor e dor,

Nessa sociedade falsidade,

Que ainda discute

Os tons da cor.

O 1o DE MAIO E OS SINDICATOS

Marcha dos evangélicos, corridas de atletismo, churrascos, curtição nas praias, shows musicais, homenagens ao piloto Ayrton Senna e outras atividades festivas no Dia do Trabalho.

Para quem não conhece o Brasil, até parece que aqui é um paraíso de plena harmonia entre o capital e o trabalho onde não existe exploração dos patrões e nem escravismo. Nunca vi em toda minha história um país tão alienado, enquanto em várias partes do mundo ocorreram manifestações de protesto!

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) soltou uma nota tímida falando de justiça social pela dignificação do trabalhador dentro da linha conservadora do cristianismo, bem diferente daqueles tempos da Teologia da Libertação onde condenava abertamente o capitalismo selvagem que só pensa no lucro.

Vejo aqui em grupos das redes sociais gente passando para dar um feliz 1º de Maio, Dia do Trabalho, mas nos tempos atuais do capitalismo cada vez mais predador, não temos muito a comemorar.  Tudo isso me faz lembrar dos velhos tempos em que o 1º de Maio era uma demonstração de força dos sindicatos e dos movimentos sociais no Brasil, sem falar pelo mundo a fora, com marchas e até embates com as forças policiais.

Ainda vemos alguma coisa pálida da parte dos grandes sindicatos, como dos metalúrgicos, petroleiros, bancários e petroquímicos. Até as centrais, como a CUT e CGT, as mais fortes, se renderam ao peleguismo, sem contar às mordomias de seus dirigentes quando ainda vigorava o imposto sindical e milhões de filiados que acreditavam nas lutas pelas melhorias dos trabalhadores.

Hoje, vemos os sindicatos, principalmente os pequenos, engolidos pelo capital, que impõe suas negociações frente ao enfraquecimento das entidades e ao desemprego que chegou a mais de doze milhões de desesperados. Dizem que hoje são oito milhões (não acredito muito nessas estatísticas) oficiais.

Até o Ministério do Trabalho baixou sua guarda no âmbito das fiscalizações frente a uma reforma trabalhista – feita pelos patrões e Michel Temer, o drácula – que escravizou a mão-de-obra, limitando os acordos, com o trabalho dos intermitentes, os free-lancer e deixando o empregado desprotegido frente ao empregador que faz sua oferta do “pegar ou largar”.

Hoje é cada um por si (os pequenos sindicatos não têm representação) quando nos anos 50 e 60 até os estudantes, aposentados e outras classes liberais se juntavam aos trabalhadores nas praças para apoiar suas reinvindicações e ampliar seus direitos. O trabalho análogo à escravidão está por toda parte, não somente nas carvoarias, nas colheitas dos campos, em certas áreas da construção civil e nos garimpos de mineração.

Veio a ditadura civil-militar-burguesa e amordaçou os movimentos. Com a redemocratização, o peleguismo voltou (Governos do PT) como nos tempos de Getúlio Vargas (segundo mandado) com festas, sorteios de presentes e shows de cantores sertanejos, de arrocha e sofrência nas praças e avenidas.

Hoje, o que vemos e temos são algumas greves pontuais de professores e outras pequenas categorias que logo se sucumbem por falta de adesão da própria sociedade individualista que só pensa no direito do ir e do vir. As manifestações não arrastam mais multidões como ainda ocorre na França, na Coréia do Sul, Estados Unidos, Inglaterra e até aqui entre nossos hermanos da Argentina, do Chile e outros vizinhos.

Portanto, num país onde o predomínio é a informalidade do empreendedor autônomo por necessidade, e não por vocação própria, não vejo muito a comemorar e desejar um feliz Dia do Trabalho, se quem domina é o capitalismo que dita as regras e trata o operário como escravo.

Sem essa de colaboradores. Isso é um papo furado, conversa para boi dormir. Não passa de uma questão de linguística para dizer que todos estão irmanados numa mesma causa e são iguais. Para comprovar isso estão aí as profundas desigualdades sociais e regionais, mais ainda acentuadas no Norte e Nordeste, a região que sempre foi escrava do sul e do sudeste.

UM PAPO MANEIRO ENTRE AS VACINAS

Num Brasil doente por culpa maior do poder público, um dos países do mundo que mais consome remédios, o brasileiro, principalmente as crianças e idosos, carrega dentro de seus organismos um batalhão de vacinas para combater uma gama de doenças, muitas das quais nem deveriam mais existir, como sarampo, catapora, varíola, cólera e outras.

Lá dentro da corrente sanguínea ou em outros órgãos, elas se cruzam para o papo de vacinas, cada uma exibindo suas propriedades e contando suas histórias. Já imaginou o que elas não proseiam umas para outras. Minha função evita a morte; eu sou paralisia; minha nacionalidade é chinesa, japonesa, inglesa, norte-americana e coisa assim. A maioria é vítima de fake news e boatos maledicentes dos extremistas negativistas, que o diga a campeã Covid-19 entre os anos 20 a 22.

A da vez agora é a mais nova contra a dengue que está pegando todo mundo e derrubando nas clínicas e hospitais. É transmitida por um mosquito vindo lá daquelas bandas da África, sei lá. Convencionaram dizer, inclusive a mídia, que suas larvas vêm das casas que deixam vasilhas e caixas de água abertas, mas o maior culpado mesmo é o poder público que deixa terrenos abandonados cheios de lixo e mato, esgotos a céu abertos e ruas sem saneamento básico.

Na criança a BCG-ID cruza com a Hepatite B (1) e se cumprimentam. – Quem é você? A primeira diz ter vindo para acabar com a tuberculose que já ceifou muita gente no passado. Era o “mal de siècle”, coisa dos românticos boêmios e dos miseráveis famintos.

-Ah, ao nascer o pirralho (a), eu sou a primeira dose contra a Hepatite B, mas vem outra aí daqui a um mês. Esses bichos dos bacilos, vírus e bactérias são brabos. – Tô indo para o trabalho com armaduras, espada, capacete e tudo. – Vá lá que meu caminho é outro. Nem vamos mais nos ver. – Nossa missão é lutar contra monstros!

– Lá vem ela a vacina tetravalente da primeira dose contra tétano, coqueluche difteria, meningite e outras infecções, cujas algumas dessas doenças haviam deixado de existir no Brasil – confidenciou uma para outra que seguiu sua viagem para exercer sua função. O povo ficou descrente e elas retornaram com força.

– Olha lá adiante a VOP primeira dose, vacina oral contra poliomielite da paralisia infantil, a conhecida pólio, que foi esquecida por muitos anos. Ela bateu bem de frente com a VORH, também primeira dose da diarreia por rotavírus humano. Logo atrás veio a tetravalente da segunda dose e a oral VOP da poliomielite da paralisia infantil.

– E aquela qual é? Perguntou uma para a outra. – Ah, é VORH da segunda dose da diarreia por rotavírus humano (4). Esquisita ela, não é? – Nem conhecia, toda metida a besta e numa correia danada para seguir as outras.

– Tem ainda a tetra e a VOP da terceira dose. Coisa de louco! Lá no fundo aparece a outra terceira dose da hepatite B. – O trânsito aqui está ficando engarrafado, falou uma engraçadinha para a febre amarela, com aparência chinesa de olhos espichados.

– Conhece aquela madama velha SRC da tríplice dose, para sarampo, rubéola e caxumba que aquele povo da antiga era cometido dessa doença e tratava com rezadeiras, chás e simpatias? Pois é, oi ela novamente! – Tem a VOP reforço e a DTP tríplice primeira (difteria, tétano e coqueluche bacteriana).

– Esses cientistas não perdem tempo e os laboratórios ganham os tubos, principalmente dos países do terceiro mundo. A outra logo a repreendeu que o termo não era politicamente correto. – São agora chamados de países emergentes, gente! –Olha o preconceito!

– Para os idosos também existem vacinas de cacetada, a começar pela influenza, para combater a gripe. ´- É, essa passou por aqui espirrando para todo lado que chegou a me atingir – reclamou uma delas, toda constrangida.  Dizem que ela atua contra pneumonia. Essa tal de influenza só aparece aqui de ano em ano, mais parece político em tempos de eleição.

A mais metida e sabida explicou que todas têm contraindicações, especialmente para gestantes e certas doenças crônicas. – Já viu que aqui cada uma tem a sua idade apropriada? – Olha o respeito! Sem discriminação de faixa etária e cor porque pode dar cadeia para nós.

– Tem gente antiga e polêmica na área, avisou uma mais esperta. É a sumida Covid-19! – Essa deu o que falar: Foi achincalhada e os negativista caíram de pau nela, sobretudo daquela coitada que saiu lá da China.

– É, deu até CPI da corrupção, e a peste da doença matou mais de 700 mil pessoas, só no Brasil, nos tempos do capitão-presidente que disse que ela causava HIV e quem a tomasse ia virar jacaré. Foi a vedete dos anos 2020 até final de 2022. Paralisou o mundo e isolou multidões em suas casas.

– Foi o tempo dos mascarados quando as pessoas procuravam manter-se distantes umas das outras.  – É, o papo tá bom aqui dentro desse escuro de tantas veias e órgãos, mas vamos trabalhar gente, e cada uma por si para deixar essa gente sem essas doenças exóticas tropicais, depois de tanta destruição do meio ambiente.

OS 60 ANOS DO CERCO DE CONQUISTA PELAS TROPAS MILITARES DO EXÉRCITO

TEMA DISCUTIDO NO SARAU A ESTRADA

O seis de maio de 1964 foi o episódio mais marcante na história de Vitória da Conquista quando as tropas de 100 soldados do capitão Antônio Bendochi Alves Filho, com três jipes, quatro caçambas e um ônibus particular, cercaram a cidade de pouco mais de 50 mil habitantes (Praça Barão do Rio Branco e adjacências) e cassaram, na base dos fuzis e metralhadoras, o mandado constitucional do prefeito José Pedral Sampaio, eleito pelo povo em 1962 e empossado em sete de abril do ano seguinte.

Era o início da ditadura civil-militar-burguesa de 1º de abril de 1964 e, infelizmente, poucos conquistenses têm conhecimento desse fato opressor e arbitrário que merece ser lembrado e discutido como o dia em que Conquista foi cassada e amordaça pelos coturnos militares, quando cerca de 100 pessoas foram presas como subversivas e comunistas, muitas das quais levadas para Salvador. Foi o dia do terror e do desespero, com muita gente fugindo e queimando livros e documentos.

Conquista, juntamente com Feira de Santana (Chico Pinto) e Alagoinhas (Murilo Cavalcante), era a cidade mais visada na Bahia por expressar suas ideias socialistas de mudanças, sob a liderança de Pedral que quebrou uma hegemonia política oligarca de quase cem anos dos coronéis e intendentes. Conquista foi uma trincheira de resistência ao regime ditatorial e pagou um alto preço por isso.

Esse tema foi colocado em pauta pelo “Sarau A Estrada”, premiado com o troféu Glauber Rocha pelos seus 14 anos de existência, no último sábado (dia 27/04), no Espaço Cultural do mesmo nome, quando debatemos o pedralismo, sua disputa eleitoral em 1958 contra Gerson Sales, sua derrota e, finalmente, sua vitória em 1962 para o candidato Jesus Gomes dos Santos, derrubando as elites. Foram cenas memoráveis de resistência.

Foi um divisor de águas na história de Conquista que deve ser lembrado pela mídia, pelos estudantes, artistas, intelectuais e pelas instituições democráticas em geral, segundo o palestrante do evento, jornalista e escritor Jeremias Macário. Os trabalhos foram abertos pelo professor Itamar Aguiar que destacou a importância dessa data de seis de maio de 1964, quando, numa frienta noite, a Câmara Municipal foi cercada pelas tropas e os vereadores foram obrigados a votar pelo impedimento do prefeito, preso no 9º Batalhão da Polícia Militar, de continuar a exercer o seu legítimo mandado.

Macário, que escreveu o livro “Uma Conquista Cassada”, explicou todo processo do pedralismo desde meados dos anos 50, um jovem, saído de dentro da oligarquia (neto do coronel Gugé), formado em engenharia civil pela Universidade Federal da Bahia, que retornou a Conquista com suas ideias socialistas em defesa dos mais pobres, apoiando as reformas de base (nacionalização dos bancos, remessa de lucros para o exterior e a reforma agrária) do governo João Goulart, o Jango.

Por suas mudanças revolucionárias estava na lista das forças armadas que contaram com a delação de traidores da direita (não premiada), como Irís da Silveira, Ismênio da Silveira, Pedro Lopes Ferraz, do jornal “O Sertanejo” (Sertanojo), o pastor Valdomiro Oliveira, o vereador Altamirando Novais e tantos outros da elite burguesa que quiseram se vingar e não aceitavam a derrota de 1962. Foi um ato de vingança dos desesperados que foram à desforra.

Os primeiros atos de Pedral em seu único ano de governo foi resolver os principais problemas de Conquista relacionados com a falta de água, energia (racionamento por bairros) e saneamento básico, sem falar na questão da educação. Por isso foi a Brasília na busca desses pleitos. Trouxe a Conquista o presidente Jango, durante a VIII Exposição Agropecuária, de 26 a 30 de maio, quando nesse período o governador Lomanto Junior instalou seu governo por quatro dias na cidade, com todo seu secretariado.

Pedral, com seus 35 anos, o prefeito mais jovem que Conquista já teve, tentou ainda melhorar a educação. Para tanto, esteve em Pernambuco, uma referência no setor, conversando com o governador Miguel Arraes e seus assessores, para aqui implantar os mesmos métodos de ensino que lá estavam dando certo. Durante seu breve período na prefeitura e bem antes de se eleger, Pedral, do PSD, contava com o apoio dos estudantes, professores, sindicatos (bancários, comerciários e dos trabalhadores da construção civil) e até de parte da direita integralista. Ainda estudante esteve no Rio Grande do Sul conversando com o deputado Leonel Brizola.

Todos estavam na lista do comandante Bendochi no IPM (Inquérito Policial Militar) e foram presos o produtor cultural Vicente Quadros, o menino de menor Cláudio Fonseca, irmão de Pedra, Anfilófio, Paulo Demócrito, João Idelfonso, Hugo de Castro Lima (médico legista), Raul Ferral (prefeito em 1977), Camilo de Jesus Lima (poeta e escritor), Osvaldo Ribeiro (presidente do grêmio da Escola Normal que fugiu para Minas Gerais), vereador Péricles Gusmão Régis, Franklin Ferraz, Hemetério Pereira. Antenor Rodrigues Lima, o “Badu”, Flávio Viana de Jesus, (marceneiro), Alcides Araújo (comerciário), Aníbal Lopes Viana (jornalista do jornal “A Conquista”), Jackson Fonseca (rádio técnico), Lúcio Flávio Viana (bancário), Érico Gonçalves Aguiar (agricultor), Galdino Lourenço (motorista), Reginaldo Carvalho Santos (diretor do jornal “O Combate” de linha esquerdista), Altino Pereira (sindicato da construção civil), Raimundo Pinto (comerciante), o professor Everardo Públio de Casto, que ficou 11 meses preso em Salvador, tido como o mais “perigoso” comunista e tantos outros considerados subversivos.

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Toda essa arbitrariedade de inquéritos e torturas psicológicas de ameaças de levar os presos para a ilha de Fernando de Noronha, culminou com a morte, no dia 12 de maio, do vereador Péricles Gusmão, líder do prefeito na Câmara, pessoa íntegra e que não aceitava humilhação. Nas dependências do Batalhão, o comando anunciou que o preso se suicidou com a gilete de barbear, mas até hoje fica a dúvida de ter sido matado pelos militares. Na véspera, por não suportar o inquérito, chegou a entrar em luta corporal com Bendochi.

Com cortes na carótida e nos pulsos e por outros indícios, até hoje o advogado Rui Medeiros – defensor da família para ser indenizada pelo Estado – não acredita que Péricles tenha cometido suicídio.  De qualquer forma, foi a primeira morte da ditadura na Bahia e talvez no Brasil. Pelos acontecimentos e pelas cenas de resistência ao regime, inclusive perpetrado por um grupo de mulheres, lideradas por Olívia Flores, para reverter a cassação do prefeito Pedral, é que o seis de maio não deve ser esquecido, mas lembrado e debatido por toda sociedade conquistense.

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Além da sua estúpida prisão, Pedral teve seus direitos políticos cassados por 10 anos pelo AI-1 e estendido por mais 10 anos pelo AI-2. Mesmo assim, ele continuou fazendo política e militando nos bastidores até que voltou a ser eleito prefeito em 1982, sendo cogitado a se candidatar a governador. Conquista permaneceu exercendo sua resistência e ainda teve como prefeito Gilberto Quadros, golpeado pela ditadura, Jadiel Matos, em 1973, apoiando por Pedral, Raul Ferral, em 1977, Murilo Mármore, em 1988 e, novamente, Pedral, em 1992.

Esses assuntos e outros foram debatidos pelo “Sarau A Estrada”, na última noite de sábado, seguidos de cantorias de violas por Manno Di Souza, Marta Moreno, Jurandir, seu Armando e sua esposa, causos de Jhesus, de Jessier Quirino, e muitas declamações de poemas (Jeremias, Liu e demais participantes). Uma galinhada caipira, preparada pela anfitriã Vandilza Gonçalves, vinho e umas geladas cervejas esquentaram a noite, num papo fraternal e descontraído de sempre,  Foi mais um Sarau de troca de ideias, conhecimento e saber que varou a madrugada.

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“A MÁSCARA DA ÁFRICA” IX

OS CURANDEIROS E MESTRES DAS FLORESTAS

O autor de “a Máscara da África”, V. S. Naipaul, em sua viagem pelo Gabão, entre 2008/09, quis saber sobre os pigmeus, o pequeno povo, mestres das florestas e descobridores da planta iboga, um alucinógeno usado nos rituais de iniciação. Eles não são muito respeitados pelas outras tribos.

Para entender mais sobre eles, Naipaul conversou com sua guia Claudine, uma apaixonada pelos pigmeus, que vivia na floresta bem perto deles. Disse que achava ser um horror eles serem considerados sub-humanos e incapacitados e ficarem confinados em reservas.

“Não temos nenhum respeito por eles, mas recorremos a eles em segredo para nos curarmos”. Disse: “Quanto mais perto ficamos dos pigmeus, mais entendemos que o mundo tem uma alma e uma vida. Tem energia. Os pigmeus são como nossas lembranças do passado. Eles detêm o conhecimento do mundo”.

De acordo com o escritor, os eventos da segunda metade do século XIX escancararam o continente. No entanto, os pigmeus continuaram apegados à floresta, preservando seu conhecimento onde residia sua civilização. Outras tribos perderam muito disso.

No entendimento de Claudine, no mundo místico você pode fazer um feitiço com a sobra de comida de alguém para ferir essa pessoa. E essa pessoa terá de ir correndo ao pigmeu para ter ajuda. Explicou que aqui existem dois tipos de curandeiro, um que lida apenas com a malária e a gripe e outro que trabalha com problemas maiores, como os feitiços. Para esse tipo, “tem que ser o curandeiro mestre”.

Claudine fala também da existência de duas tribos no sul do Gabão. Uma que lida com as cerimônias da iniciação e os pigmeus que cuidam das plantas, inclusive da iboga. “Por isso se podia dizer que as duas culturas, a dos bantos e a dos pigmeus, tinham se juntado”.

Quanto ao dom da adivinhação, a importância está na comunicação com o ancestral, depois de feita a iniciação. A pessoa só podia aprender sobre sua posição na sociedade através do ancestral. Para isso eram necessários o crânio e os ossos do ancestral, não podendo ser de um sacrifício ritual qualquer – ressalta.

“O crânio e os ossos para esse ritual precisavam vir de um ancião, que, perto de morrer, dava à pessoa permissão de guardar seus ossos como uma relíquia”.

Sobre a ingestão da iboga, Claudine afirma para Naipaul que “a planta é muito amarga. A boca e o corpo ficam dormentes, e toda sensação é realçada. No verdadeiro bwiti (ritual), o ancestral chega às três da manhã e fala uma língua antiga que ninguém entende. Somente os iniciados do terceiro nível conseguem entendê-lo”.

Outra coisa é que para ser um curandeiro é preciso ter um ancestral em algum ponto do passado que tenha sido curandeiro. Naipaul perguntou se os pigmeus são felizes. “São felizes e são gentis, mas são uma raça muito prevenida. Não confiam com facilidade. Ainda caçam à noite e agora têm armas no lugar de armadilhas”.

“Os pigmeus acreditam na natureza. Acreditam que procedem da terra e é por isso que não querem poluí-la com os mortos. Eles não enterram os mortos. Quando um mestre morre, eles o envolve numa esteira e coloca o morto sob uma grande árvore. Deixam ali para apodrecer e ninguém vai àquele lugar. Não vão caçar nem coletar alimento ali. Quando a decomposição está completa, colocam os ossos numa tumba e põem a área em quarentena”.

No cristianismo eles consideram difícil ver Jesus como todo poderoso. Para eles, o poder deve ser distribuído entre os chefes. A média de vida deles é de cinquenta anos porque a civilização introduziu neles várias doenças, como o HIV.

O DIA EM QUE O CANDOMBLÉ NÃO ENTROU NO BAHIANO

(Chico Ribeiro Neto)

“Antônio Maria foi, de longe, o maior cronista da noite. Talvez por ser o único a compreendê-la em toda a sua dimensão, a se enfronhar para valer naquele novo estilo de vida, tão intenso e diferente. Afinal, todos os infortúnios se acumulam e se liquidam nos balcões de bar e nas pistas das boates. A noite pede o ombro amigo, o conselho”.

Esse é um trecho da apresentação do livro “Vento Vadio – As crônicas de Antônio Maria” (lançado em 2021 pela editora Todavia), feita por Guilherme Tauil, responsável pela pesquisa e organização da coletânea. O livro traz 186 crônicas do pernambucano Antônio Maria em 491 páginas.

Antônio Maria foi também um grande compositor: “Manhã de Carnaval” (com Luis Bonfá), “Se eu morresse amanhã de manhã” e “Menino Grande”. Um dos seus maiores sucessos foi “Ninguém me ama”, que, segundo Guilherme Tauil, “virou o hino da fossa, solicitado em todas as boates, executado em todas as rádios.”

Antônio Maria veio para Salvador, no início de 1945, como diretor da Rádio Sociedade da Bahia, dos Diários Associados, “emissora maior e prestigiosa”, segundo Tauil.

“De início, morou numa pensão no largo Dois de Julho, próximo à sede da rádio, na rua Carlos Gomes – por onde muitas vezes foi visto andando de roupão. Reformulou toda a programação e elaborou concursos de música popular para cantores e compositores. Nomes como os dos sambistas Riachão e Batatinha, este batizado pelo próprio Maria, despontaram ali”, diz Tauil. Em 1947, ainda por aqui, passou a publicar no Diário de Notícias uma coluna sobre futebol, “O comentário de Antônio Maria”. Em abril de 1948, Antônio Maria é transferido para o Rio, para arrumar a direção artística de duas emissoras: a rádio Tupi e a Tamoio.

Guilherme Tauil selecionou cinco crônicas de Antônio Maria sobre a Bahia. Numa delas, “Um botão de rosa para Maria de São Pedro” (O Globo, 04/06/1958), ele fala de duas cozinheiras baianas, duas Marias. A primeira, “simplesmente Maria, que parava ali na varanda do Tabaris, ao lado do antigo Cine Guarani, com vista debruçada para a Barroqinha. Nosso ponto de encontro, quando deixávamos o estúdio da Rádio Sociedade e a redação do Diário de Notícias. Era 1945 e nossa alma estava repleta de sonhos – sonhos que, ao menos eu, não sonharia hoje, tão velho que estou, ao peso do desencanto. Sonhávamos o povo livre, a verdade e as virtudes dos líderes. Quando morreria o último tirano fascista?”

“Era o tabuleiro de Maria – Maria simplesmente. Gorda, de ancas sedentárias e seios maternais. Dava um tamborete, depois um prato a cada um. Deitava uma concha de camarão, outra de arroz e um ovo cozido no molho oleoso de coco e dendê. Não me lembro de comida tão gostosa em toda a minha gorda existência”.

A outra é Maria de São Pedro, no Mercado Modelo, que Antônio Maria homenageou assim, após a morte dela: “Maria fez, com o seu dendê, o que faz Caymmi em sua canção, Pancetti em sua tinta, Jorge Amado em seu romance, Marta Rocha em seus olhos azuis”.

Na crônica “Bahia, candomblés e pais de santo” (Manchete, 18/04/1953), Antônio Maria fala da sra. Berle, embaixatriz dos Estados Unidos no Brasil, que chegou a Salvador e desejava conhecer um terreiro de Candomblé. Como chovia muito nesse dia e o acesso aos principais terreiros estava difícil, ela “recolhera-se ao hotel e pedira, se possível fosse, que organizassem uma macumba completa nos salões do Bahiano de Tênis ou da Associação Atlética”.

“Esse capricho da sra. Berle feriu os brios de todos os pais de santo da Bahia, que se negaram a deixar seus terreiros e transformar sua religião em show para americano achar graça”, diz Antônio Maria e prossegue: “Também a sociedade, as famílias ‘de bem’ da Graça e da Barra, protestaram contra a possiblidade de trazer mandinga, cantoria e suor

de negro para os salões, onde os seus longos vestidos alisavam o assoalho, ao som de valsas e de blues. A visitante foi embora sem ver candomblé”.

Antônio Maria é, sem dúvida, um dos melhores cronistas do Brasil. Luis Fernando Verissimo disse sobre Maria: “Ele fazia a crônica lírica e literária dos outros, mas fazia humor superior. Como, por exemplo, aquele bilhete que deixou para o amigo em seu apartamento: “Se você me encontrar dormindo, deixe. Morto, acorde-me”. Ninguém acordou Antônio Maria na madrugada de 15 de outubro de 1964, quando, aos 43 anos, teve um infarto fulminante após trocar um cheque no restaurante Le Rond Point, em Copacabana.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

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JARDIM BOTÂNICO MEDICINAL

Do mesmo porte de Vitória da Conquista, a cidade de Anápolis, em Goiás, nos causa inveja em termos de arborização, como o Jardim Botânico Medicinal, um extenso parque ao lado e outros locais de lazer para todas as idades. Sem comparar com o nosso Poço Escuro, escondido lá num canto do Bairro Guarani onde ainda se joga lixo na mata e pouco frequentado por falta de segurança, o Jardim Botânico Medicinal é limpo, cheio de trilhas, conta com uma boa estrutura de atendimento e é bastante visitado por moradores e turistas em qualquer hora do dia e nos finais de semana. Aqui, o acesso ao Poço Escuro é horrível e inseguro, tanto que poucos   conquistenses conhecem o local. Quando chega um turista amigo de outra cidade e estado, você fica até com receio de levar a pessoa para uma visitação. Visitei vários pontos de entretenimento e lazer, em Anápolis, e não tem como não lembrar de Conquista que ainda deixa muito a desejar nos itens de melhorias no quesito urbanização e infraestrutura para receber gente de fora. Pelo seu porte como terceira maior cidade da Bahia, o Cristo da Serra do Periperi, a Lagoa das Bateias (mesmo com as obras de limpeza) e o Poço Escuro carecem de mais serviços de melhoramentos que atraiam os turistas com segurança e sejam pontos de destaque e atração da cidade. Na verdade, em Conquista de hoje, só temos como cartão postal o Museu de Kard, que é particular, e deixa o turista encantado com tantas obras importantes do nosso amigo Alan Kardec. Conquista pode se orgulhar desse museu, que é o maior a céu aberto do Norte e Nordeste e não tem nenhum apoio do poder público.





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