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Quem é este “Coronavid”? . Por Jeremias Macário

“ANDANÇAS” TAMBÉM É MÚSICA

Não são só causos, contos e histórias, numa mistura de ficção com realidade, o novo livro “Andanças”, do jornalista e escritor Jeremias Macário, também tem poemas, muitos dos quais começam a ser musicados por artistas locais e de outras paragens do Brasil, como de Fortaleza, no Ceará.

Do título “Na Espera da Graça”, que fala do homem nordestino que sempre vive a esperar por tempos melhores, o cantor, músico e compositor Walter Lajes extraiu de sua viola uma bela canção, numa parceria que fez com o autor, com apresentação em vários festivais.

O músico e compositor Papalo Monteiro se interessou por “Nas Ciladas da Lua Cheia”, uma letra forte que descreve os políticos na figura de bichos que, de quatro em quatro anos, aproveitam as eleições com promessas vãs para se elegerem.

Tem “O Balanço do Mar”, um xote que lembra passagens de nossas vidas, e “Lágrimas de Mariana”, um belo poema triste sobre a tragédia do rompimento da barragem da Samarco, lá em Mariana (MG), musicados e cantados pelo amigo parceiro Dorinho Chaves.

Lá de Fortaleza, Ceará, os companheiros Edilson Barros e Heriberto Silva realizaram uma parceria musical aproveitando a letra “A DOR DA FINITUDE”, que versa sobre um tema que pouca gente gosta de abordar, que é a morte, e filosofa que tudo passa, tudo muda e tudo se transforma. Outros poemas estão sendo trabalhados para entrarem no rol das letras musicadas, inclusive do novo livro “ANDANÇAS”.

Essa é uma parceria com o amigo poeta e músico, baiano de Alagoinhas, Antônio Dean, que há muitos anos reside em Campina Grande da Paraíba com sua família, fazendo sucessos e cantando com sua profunda voz, a cultura nordestina para todo o Brasil.

Conheça o Espaço Cultural “A Estrada”

Com 3.483 itens entre livros (1.099), vinis nacionais e internacionais (481), CDs (284), filmes em DVDs (209), peças artesanais (188) e 106 quadros fotográficos, dentre outros objetos, o “Espaço Cultural a Estrada” que está inserido no blog do mesmo nome tem história e um longo caminho que praticamente começou na década de 1970 quando iniciava minha carreira jornalística como repórter em Salvador.

espaco cultural a estrada (5)

Nos últimos anos o Espaço Cultural vem reunindo amigos artistas e outras personalidades do universo cultural de Vitória da Conquista em encontros colaborativos de saraus de cantorias, recitais poéticos e debates em diversas áreas do conhecimento. Nasceu eclético por iniciativa de um pequeno grupo que resolveu homenagear o vinil e saborear o vinho. Assim pintou o primeiro encontro do “Vinho Vinil” com o cantor e compositor Mano di Sousa, os fotógrafos José Carlos D`Almeida e José Silva entre outros convidados.

CLIQUE AQUI para saber mais sobre o espaço cultural de Jeremias Macário.

UM BRASILEIRÃO FORA DE SÉRIE

Carlos González – jornalista

Eu arriscaria a afirmar que, desde 1959, quando foi disputado o primeiro Campeonato Brasileiro com o nome de Taça Brasil, conquistado pelo Bahia, nenhuma das edições posteriores foi mais arrebatadora do que a deste ano. Independente do interesse despertado no público até a última rodada, o torneio promovido pela CBF foi marcado por fatos surpreendentes, que somente podem ser explicados pelo Sobrenatural do Almeida, personagem criado pelo jornalista tricolor Nélson Rodrigues.

O torcedor brasileiro tem conhecimento de sobra da derrocada do Botafogo depois de virar o turno com 47 pontos, um recorde no Brasileirão. Toda a “gordura” – 14 pontos na frente do segundo colocado – derreteu nos 19 jogos restantes, e o time alvinegro, que está há 28 anos na fila, caiu para a 5ª posição, que lhe dá o direito de disputar em 2024 uma pré-Libertadores  contra dois adversários.

Se duas das figuras mais populares da história do Bahia (o chefe de torcida “Lourinho” e o massagista “Alemão”) estivessem vivos eu diria que eles colocaram um galo (o símbolo do Atlético Mineiro) de bozó em alguma encruzilhada. O “trabalho” teria dado o resultado esperado, mantendo o Bahia na 1ª divisão do futebol brasileiro. Sua torcida estava desiludida; os seguidores de Exu (orixá que tem as cores vermelha e preta) já comemoravam; santistas e vascaínos  gratificavam via pix nas últimas rodadas os adversários do clube baiano. Senhor do Bonfim e Oxalá receberam os agradecimentos dos tricolores.

Um detalhe passou despercebido no jogo em que o Fortaleza venceu o Santos na Vila Belmiro, resultado que manteve o Bahia na divisão de elite nacional. Na minha opinião o clube cearense pagou uma dívida que tinha com Rogério Ceni. Entre 2018 e 2019, o ex-goleiro do São Paulo, iniciando na função de treinador, ganhou o Brasileirão da série B, a Copa do Nordeste e o Campeonato estadual, projetando o Fortaleza no cenário internacional – a Sul-Americana – e a liderança do futebol do Nordeste, mantida até hoje. O mais importante foi que Ceni ganhou o apreço dos desportistas cearenses.

Na realidade, não foi um campeonato onde os times esbanjaram técnica, uma virtude que o Brasil perdeu desde 1982. A exportação de jovens jogadores para a Europa tem sido cada vez maior e os clubes não têm como barrar esse comércio. A imprensa esportiva tece elogios ao palmeirense Endrick,  de 17 anos, negociado no ano passado com o Real Madri por 60 milhões de euros (R$ 316 milhões). Se uma empresa está com déficit em caixa é obrigada a se desfazer do seu patrimônio. O Flamengo gastou em contratações este ano R$ 746 milhões e não ganhou nada; o Corinthians recorre ao seu mais influente torcedor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para saldar um débito de R$ 600 milhões com a Caixa.

Sejamos mais uma vez realistas, os estádios “encolheram” (um público hoje de 50 mil pessoas é destaque no noticiário) e a “fábrica de craques” fechou. Não veremos mais um Bahia de Osni, Douglas e Bobô; um Fluminense de Carlos Alberto e Rivelino; um São Paulo de Raí; um Palmeiras de Ademir da Guia; um Flamengo de Zico e Adílio; um Cruzeiro de Tostão e Nelinho; um Vasco de Roberto Dinamite e Romário; um Corinthians de Sócrates.

O Fluminense viaja para a Arábia Saudita onde a partir do dia 18 vai disputar o Mundial de Clubes. Não leva as bênçãos dos seus coirmãos. Pelo contrário. Rubro-negros, vascaínos e botafoguenses acusam o Tricolor de traidor, por ter escalado um time alternativo nas últimas rodadas do Brasileirão, sob a justificativa, sem a menor contestação, de que não ia arriscar seus melhores jogadores em jogos que não alterariam sua posição na tabela. Depois de ganhar a Libertadores, o Fluminense vai em busca de seu maior troféu.

Esse atípico Brasileirão de 2023 projetou no cenário nacional um clube do interior do país. O Bragantino, da cidade paulista de Bragança Paulista, garantiu como sexto colocado uma vaga na pré-Libertadores. Fundado em 1928, o clube alvirrubro, apelidado de Massa Bruta, mudou de identidade em 2019 ao se associar à indústria de bebidas energéticas Red Bull. Uma dica para os clubes do interior baiano, em especial ao Conquista.

O Vitória conseguiu finalmente se livrar do estigma de vice que carregava há 124 anos. Campeão da 2ª divisão do Brasileirão este ano, o rubro-negro está em dúvida se coloca uma estrela na camisa Outra indagação está relacionada à troca de identidade, mediante a quantia de R$300 milhões, oferecida pela Fatal Model, uma agência de aluguel de acompanhantes. Na consulta feita aos torcedores cerca de 90% se mostraram contrários.

CBF fragilizada

Um dia depois de ter participado de seu último ato oficial (entrega da taça de campeão brasileiro ao Palmeiras), Ednaldo Rodrigues é afastado da presidência da CBF, por decisão de três desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, sob justificativa de irregularidades no ritual da última eleição. Um interventor foi nomeado para o cargo, com orientação de promover nova eleição dentro de 30 dias.

O processo, sob sigilo, teria sido movido por Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero, duas das principais peças na engrenagem corrompida da CBF, juntamente com o falecido João Havelange, José Maria Marin e Rogério Caboclo (acusado de assédio sexual). Marin chegou a ser preso na Suíça e condenado nos Estados Unidos. Por décadas, receberam o apoio das federações estaduais, cujos presidentes se tornaram vitalícios.

Se ficar comprovada a ilegalidade no processo que levou Ednaldo Rodrigues à presidência do futebol brasileiro, a CBF será suspensa pela Conmebol e pela FIFA. Em consequência, os times brasileiros estarão fora da Libertadores e da Sul-Americana de 2024. A FIFA garantiu a participação do Fluminense no Mundial de Clubes este mês.

Do nosso observatório, vínhamos notando a má vontade da imprensa carioca e paulista com o baiano aqui de Vitória da Conquista, que um dia chegou a declarar ter sido vítima de preconceito, por ser nordestino e negro. Na noite em que a Seleção da Argentina voltou para o vestiário do Maracanã, ameaçando não jogar contra o Brasil pelas Eliminatórias, o hoje colunista Galvão Bueno bradou: “Peça pra sair Ednaldo”. Responsabilizou o dirigente pelas três derrotas consecutivas do time nacional.

A Associação Nacional de Árbitros de Futebol do Brasil (ANAF) divulgou ontem nota parabenizando a Justiça por ter afastado “o pior presidente que a CBF já teve em sua história recente”. Assinada pelo presidente Salmo Valentim, a nota ressalta que chegou a hora da arbitragem andar sozinha e conclama clubes e federações a cortarem “o cordão umbilical que os unem à CBF”.

 

“ESCRAVOS CRISTÃOS, SENHORES MUÇULMANOS”

“Escravidão Branca no Mediterrâneo, na Costa da Berbéria e na Itália, de 1500 a 1800”.

“Qualquer um que diga hoje que a escravidão branca chegou a proporções tão significativas quanto às da escravidão negra será invariavelmente tachado de supremacista branco e revisionista histórico”.

O comentário é da editora Vide Editorial, responsável pela publicação de “Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos”, uma obra de autoria do historiador e professor emérito da Ohio State University, PhD em história do Mediterrâneo e da Itália, Robert C. Davis.

Na introdução do seu livro, Robert procura esclarecer que a escravidão branca ou dos cristãos, paralela à escravidão africana, foi uma forma de vingança dos muçulmanos em resposta às perseguições que os islâmicos sofreram durante as Cruzadas (séculos XI e XII) e a expulsão dos mouros pela Espanha (final do século XV).

Essa escravidão se deu na região da Berbéria (Túnis, Argel e Trípoli), praticada por corsários e piratas do mar que saqueavam impiedosamente embarcações da Inglaterra, Alemanha, Espanha, Irlanda, França, Portugal e da Itália. Muitas vezes eles adentravam o continente e os prisioneiros se tornavam escravos nas galés, nas lavouras, na mineração e até em fábricas.

Segundo o autor, “ao expulsar os mouros do sul da Espanha, Ferdinando e Isabel conceberam um inimigo implacável para seu reino ressurgente, e que veio a se estabelecer bem perto deles, em Marrocos, Argélia e, por fim, ao longo de todo o Magreb”.

O historiador também afirma que “na Berbéria, aqueles que caçavam e comercializavam escravos certamente esperavam obter lucro, mas, ao traficar cristãos, também havia sempre um elemento de vingança, quase de jihad, pelas injustiças de 1492, pelos séculos de violência nas Cruzadas que as precederam e pelas contínuas batalhas entre cristãos e muçulmanos que continuaram a assolar o mundo mediterrâneo até os tempos modernos”.

O próprio autor da obra reconhece que os números sobre a escravidão branca ou de cristãos, que ocorreu com maior intensidade entre os séculos XVI e XVII, são desencontrados por falta de notificações mais precisas. As estatísticas são mais baseadas nos relatos dos cônsules dos diversos país vítimas e de pessoas que sofreram esse tipo de servidão.

Robert destaca que até mesmo os ingleses, apesar de distantes da Berbéria, e eles próprios já figurando entre os captores de escravos mais agressivos nos anos 1630, foram escravizados por corsários muçulmanos operando a partir de Túnis, Argel e Marrocos.

De acordo com ele, os piratas de Argel e Salé podem ter escravizados cerca de mil britânicos por ano, praticamente o mesmo número de africanos cativos. Diz que, por volta de 1640, mais de três mil foram escravizados só em Argel e cerca de 1500 em Túnis.

“Foi dito que os argelinos tomaram, ao menos, 353 navios britânicos entre 1672 e 1682 – o que representaria que eles ainda agrilhoavam entre 290 e 430 novos escravos britânicos todos os anos”.

O historiador assinala ainda que os corsários berberes foram uma ameaça muito mais expressiva àquelas localidades mais próximas de seus litorais, como os povos flamengos, franceses, espanhóis, portugueses e italianos. Tudo isso ocorria, segundo ele, ao mesmo tempo em que acontecia o comércio de escravos africanos.

O escritor descreve, através de outro pesquisador no assunto, que o Mediterrâneo era “um mar abarrotado de piratas selvagens” e que “o papel perverso desempenhado pelos piratas muçulmanos em geral, e pelos corsários da Berbéria em particular, foi muito exagerado”.

Em seu livro, Robert ressalta que relatórios diplomáticos, jornais da época e o simples boca a boca contavam histórias sobre cristãos sendo capturados às centenas e milhares em alto mar ou durante surtidas litorâneas. Diziam que eles eram acorrentados e submetidos a uma morte em vida de tanto trabalhar em Marrocos, Argel, Túnis e Trípoli.

Fontes contemporâneas, conforme dito por ele, entre novembro de 1593 e agosto de 1594 os tunisianos trouxeram cerca de 28 espólios com 1.722 prisioneiros. Entre 1628 e 1634, os argelinos capturaram, só dos franceses, 80 navios mercantes, levando 986 cativos. Dos ingleses tomaram 131 navios e embarcações entre 1628 e 164, totalizando 2.555 cativos. Os viajantes de Trípoli tomaram 75 navios cristãos com 1.085 prisioneiros entre 1677 e 1685.

RETALHOS ESCRITOS (MEUS E DOS OUTROS)

(Chico Ribeiro Neto)

O relógio de parede da casa de vovô Chico em Ipiaú, Bahia. O tempo mora ali e quem toma conta é o passarinho.

O RELÓGIO DE “TRISTEZA”

O melhor goleiro da turma da Rua Gabriel Soares, em Salvador, era “Tristeza”. Voava nos paralelepípedos durante os “babas”, se ralava todo mas a bola não entrava. O apelido vem do fato dele nunca sorrir.

“Tristeza” tinha um relógio de pulso que só vivia quebrando. Levava ao relojoeiro e uma semana depois o bicho parava novamente de funcionar. Um dia, depois de umas quatro idas ao relojoeiro e do bicho parar mais uma vez, “Tristeza” botou o relógio em cima do meio-fio, pegou um paralelepípedo, ergueu-o no alto, gritou “agora você não vai mais aborrecer ninguém” e jogou-o com toda força sobre o relógio quebrão.

DESPONGAR DO BONDE

Ainda peguei o bonde em Salvador. Tinha o bonde aberto e o bonde fechado. No aberto era mais fácil viajar sem pagar, porque a gente fugia do cobrador andando pelos estribos.

Eu, com uns 11 anos, e meu irmão Cleomar, com uns 13, íamos para o Cine Pax, na Baixa dos Sapateiros, que passava dois filmes de cobói. A gente pegava um bonde, saltava na Praça da Sé e descia uma ladeira vizinha à Igreja de São Francisco, que ia dar no Pax.

Era um bonde aberto. Cleomar propôs que a gente despongasse (saltar do bonde ainda em movimento)  antes do bonde fazer a curva na Praça da Sé. Eu não sabia despongar. Tem que  ter uma arte pra isso: tem que pular do bonde com o corpo inclinado para trás porque senão você cai pra frente. Pulei reto, que nem uma vara em pé, todo duro. Não deu outra: saí “catando ficha” e fui me estabacar numa velhinha, derrubando-a. Ela gritou “socorro” e só ouvi o grito de Cleomar “corre, Chico” e me piquei ainda ouvindo os xingamentos da velhinha que me freou.

DO ATO DE ESCREVER

“Remexa na memória, na infância, nos sonhos, nas tesões, nos fracassos, nas esperanças mais descabidas…no fundo do poço sem fundo do inconsciente: é lá que está o seu texto”. (Do escritor Caio Fernando Abreu).

BALCÃO DE UMA VENDA

O escritor José J. Veiga, em seu excelente livro “A Hora dos Ruminantes”, descreve na página 19 o balcão de uma venda na pequena cidade de Manarairema: “O chão precisava de vassoura, o balcão precisava de uma limpeza com pano molhado para tirar aquelas argolas do fundo de copo de cachaça, os derramados de açúcar, a gordura salgada dos pesos de carne seca, os farelos de rapadura e farinha”.

O TRATOR DO NATAL

Nunca esqueço do trator que ganhei do meu pai Waldemar quando tinha uns quatro anos, em Ipiaú. O trator soltava fagulhas enquanto andava e fiz sucesso no passeio da Rua 2 de Julho. Todo menino queria pegar no brinquedo encantador.

Natal dorme na lembrança e sempre acorda quando dezembro começa. O pisca-pisca da fachada do Shopping Barra só me lembra o trator, e dá vontade de chorar.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br

 

HOMENAGEM AOS PRESOS POLÍTICOS

No próximo ano, em 1º de abril (Dia da Mentira), o golpe civil-militar de 1964 dos generais que implantaram mais uma ditadura no Brasil estará completando 60 anos, data esta que deve ser lembrada, repudiada e contestada por todos cidadãos brasileiros. Devemos sim, prestar homenagens aos presos políticos que na luta heroica contra um regime de opressão foram torturados, mortos e desaparecidos. Em Itapetinga, na Praça da Concha Acústica, ao lado da Biblioteca Municipal, foi erguido um monumento em homenagem a esses personagens que tombaram em favor da democracia. Em Vitória da Conquista, na Praça Tancredo Neves, também existe um monumento semelhante do grande escultor Romeu Ferreira com os nomes dos baianos que foram vítimas desse terror. Infelizmente, essas esculturas passam despercebidas do nosso público porque poucos conhecem essa história, principalmente nossos jovens. É preciso que no próximo ano ocorram debates, seminários, discussões diversas nas instituições e em todos os cantos do país para se dizer com viva voz que ditadura nunca mais. No governo passado, os extremistas imbecis foram para as ruas e avenidas pedir uma intervenção militar e tivemos o 8 de janeiro, em Brasília, quando uma turba ensandecida invadiu os três poderes com a intenção de instalar em nosso país um regime de opressão.  Conquista, por exemplo, foi uma das cidades baianas que mais sofreu a mão pesada dos militares no dia 6 de maio de 1964, quando o eleito pelo povo, Pedral Sampaio, teve seu mandato cassado. Tudo isso e mais está retratado no livro “Uma Conquista Cassada”, do jornalista e escritor Jeremias Macário.

POETA, E POETA

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Todos trazem na alma alva,

Uma pinta de poeta,

Porque o despertar do escuro,

Para a luz do futuro,

Já é um ato poético,

Mas só em poucos,

Corre no sangue,

Essa arte da alquimia,

De entrar em portas fechadas,

Farejar pegadas apagadas,

Navegar na onda homérica,

Ser Europa, Ásia e América.

 

O poeta carrega no peito,

Uma dor enigmática,

Coisa além do existencial,

Talvez um ser com defeito,

Que nasceu fora do normal,

Onde nem a química e a filosofia,

Desvendam seu embornal.

No deserto pode ser mar,

E no mar um deserto;

Da pedra faz o ouro;

Torna ferro em tesouro;

Garimpeiro que mira a veia,

Cascalheiro e mestre da bateia.

 

Poeta é como craque de futebol,

Que sabe dar aquela caneta,

Um capeta no elástico,

Desafiador da gravidade,

Flecha torta incerta,

Na linha da curva certa,

Da bola que na rede cola.

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL PARA QUEM?

Tema de redação do vestibular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb, em entrevista a um canal de televisão da cidade, o professor Adão Albuquerque deu uma aula ou uma lição para a própria mídia e até mesmo para nutricionistas que, em reportagens, recomendam que as pessoas mantenham uma alimentação saudável, quando esquecem das profundas desigualdades sociais existentes no Brasil. Até parece que aqui é uma Suíça Baiana, ou Brasileira! Só se for em Vitória da Conquista!

Em meu blog www.aestrada.com.br, que eu o chamo de minha tribuna ou ágora, sempre tenho feito comentários dessa natureza quando assisto matérias sobre o assunto, mostrando o colorido das feiras onde o profissional fala das frutas, cereais, hortaliças e das verduras que mais devem ser consumidas, com base em seu teor de proteínas, vitaminas, ferro, zinco, potássio, fósforo e outras propriedades químicas que contém numa alimentação saudável. O pobre coitado deve imaginar que estão querendo gozar com a cara dele.

Como o professor Adão, fico cá comigo a pensar quantos nesse Brasil do Mapa da Fome, de 30 milhões vivendo na pobreza entre a extrema e a aguda, dependentes de doações e do Bolsa Família, podem ter uma alimentação saudável, quando comem o que aparecer, e muitos que nem fazem um almoço ou uma janta? O tema da redação é para uma camada da elite de brasileiros que têm um bom poder aquisitivo de compra.  Até a classe média baixa não tem condições de acompanha essa orientação.

Como falar em alimentação saudável para um povo faminto, que vive em casebres e favelas, num amontoado de esgotos a céu aberto, que até há pouco tempo estava nas filas do osso e ainda milhares de moradores de rua que catam restos de comida no lixo? É até uma insensatez e um paradoxo que, infelizmente, a nossa mídia deixa de questionar. Trata-se de uma linguagem capitalista que afronta a nossa pobreza.

Ter uma alimentação saudável nos faz lembrar dos países nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Reino Unido), da Europa Ocidental e dos Estados Unidos. Do outro lado oposto carente, nos remete também ao continente africano, a América do Sul e algumas nações asiáticas que sofrem de grave deficiência alimentar, enquanto os ricos estão mais preocupados em fabricar armas para guerrear, navegar em iates luxuosos e em foguetes para conhecer o espaço sideral.

Além da questão social, no Brasil existe outra grande incoerência: Somos um país rico em alimentos, principalmente em grãos e carnes, mas destinados à exportação. O agronegócio empresarial dos desmatamentos não pensa em botar comida na mesa do brasileiro. Com suas máquinas potentes nos campos a perder de vista, cheios de agrotóxicos, seu esquema é lucrar em dólares.

A agricultura familiar, ainda pouco assistida, especialmente por causa da burocracia dos bancos privados e oficiais, ainda é o setor da produção agrícola que coloca o alimento em nossas mesas e bem mais saudável, inclusive orgânicos. Mesmo assim, só poucos são beneficiários e têm condições financeiras de acesso. Então, é difícil falar em alimentação saudável num país tão pobre e medíocre.

Outro problema similar à discussão em referência à redação do vestibular é quando a mídia aborda a questão da saúde no Brasil ao entrevistar médicos que falam da importância da prevenção em fazer exames rotineiros, no sentido de combater com antecedência doenças crônicas. Com o sistema precário do SUS que temos, somente poucos podem fazer regularmente esses procedimentos.

O acesso às novas tecnologias e às inovações na medicina é para uma minoria de abonados pertencentes às castas brasileiras que todos sabem quais são elas. Quantos pobres lutam na justiça para conseguir uma vaga de internação para fazer uma operação de média e alta complexidade? A Constituição do direito à saúde para todos só funciona na teoria.

Acho engraçado e até hilário, para não dizer uma piada, quando um jornalista ou um profissional da saúde manda que as pessoas procurem seu médico e não adquiram remédios nas farmácias sem receitas, como se cada um tivesse esse privilégio de ter um “doutor” para si. No SUS você marca um exame de tomografia ou mamografia, por exemplo, e passa mais de um ano na fila de espera.

Vamos mostrar a realidade como ela é, parodiando o nosso dramaturgo Nelson Rodrigues (A vida como ela é), do complexo de vira lata, e não ficarmos enganando, fazendo um jornalismo burguês num país de tantas desigualdades sociais, de violações dos direitos humanos, de tantas injustiças, falsidades, mentiras políticas e mediocridades. Alimentação saudável para quem? Só se for para os mesmos de sempre.

 

APEGO AO PODER

Carlos González – jornalista

Três anos à frente do município de Vitória da Conquista não foram suficientes para que a prefeita Sheila Lemos aprendesse os malabarismos da política. Poderia ter chamado para assessorá-la nessa complicada matéria um dos “catedráticos” – e não são poucos – do seu ex-partido, o MDB, ou do atual, o União Brasil. Preferiu seguir o caminho sinuoso do seu antecessor e padrinho político Herzem Gusmão.

O administrador público não deve considerar seu adversário como inimigo, atitude de quem se apega ao poder. No seu primeiro ano de governo, o ex-petista Herzem não quis conversa com os governadores Jaques Wagner e Rui Costa, ambos do PT. Seu lema era “ódio ao Partido dos Trabalhadores”. Preferiu recepcionar em Conquista os irmãos Vieira Lima, o ex-deputado Roberto Jefferson e o ex-presidente Jair Bolsonaro, todos condenados mais tarde pela Justiça, sendo que dois deles foram “hóspedes” da penitenciária da Papuda.

Num intervalo de três semanas, em outubro de 2020, milhares de eleitores em Conquista trocaram de camisas – no futebol seria como um torcedor do Flamengo passasse a se emocionar com o Fluminense. Herzem, ex-petista de carteirinha, que havia perdido no 1º turno para Zé Raimundo (PT), “virou o jogo”. O resultado foi contestado na Justiça pelos perdedores.

Aquelas pessoas que têm acesso aos corredores e salas da prefeitura afirmam que a repulsa de Sheila pelo PT e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva é maior do que a do seu antecessor. Há poucos dias a população conquistense teve uma prova: sua prefeita não foi ao encontro do governador Jerônimo Rodrigues, da ministra da Saúde, Nísia Trindade, e da secretária estadual de Saúde, Roberta Santana. Nem há menção da visita no boletim diário do município.

A saúde, assim como a educação, não deve estar vinculada – o que não aconteceu no governo de Jair Bolsonaro – dessa nojenta política partidária. A ministra não se deslocou de Brasília para pedir votos para o candidato petista, o deputado Waldenor Pereira, nas eleições de outubro. Veio trazer benefícios (20 leitos de UTI, 12 ambulâncias para o SAMU e recursos estimados em R$ 22 milhões) para uma população que clama por melhor assistência médica e hospitalar. Ninguém pode negar que Conquista vive uma crise social. Mas, ao que parece, ampliar o número de salas de aula e de postos médicos não dá votos.

Se amanhã um cliente entrar no estabelecimento comercial da sra. Sheila Lemos usando uma camisa com a estampa de Lula e a estrela do PT tenho certeza de que será atendido atenciosamente, como ensinam os manuais da boa educação entre pessoas civilizadas.

O desequilibrado Javier Milet, presidente eleito da Argentina, enviou sua futura ministra das Relações Exteriores a Brasília com um convite a Lula para sua posse. Meses antes, o portenho chamou seu colega brasileiro de corrupto, revelando claramente que daria início a uma briga de vizinhos.  A título de curiosidade, revelo aqui uma particularidade do Milet: trocou a camisa do Boca Juniors, “que andava numa fase ruim”, pela do River Plate. Os dois clubes são arquirrivais. Palmeirense declarado, Bolsonaro posou a bordo de um jet-sky com a camisa do Corinthians. Sintomas de desequilíbrio emocional.

Inaugurar obras dos antecessores ou tomar para si resoluções alheias é comum entre os políticos. Bolsonaro foi o presidente que mais deu curso a essa condenável prática. Em 23 de julho de 2019, o ex-capitão esteve em Conquista participando da inauguração do Aeroporto Glauber Rocha. Numa placa feita às pressas constam os nomes de Bolsonaro e Herzem. Ambos não colocaram nem um tijolo no novo terminal aeroviário.

Sheila já deu a largada em busca dos votos do conquistense: aumento da verba publicitária e um maior endividamento do município (empréstimos no valor total de R$ 165 milhões feitos em três anos). Nessa corrida vale “pegar uma ponga” naquilo que o governo federal tem no momento em benefício da nossa população.

Um folder inserido no Diário Oficial do Município convidava os fazedores de cultura daqui a fazer suas inscrições para ter acesso aos recursos provenientes da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar 195, de 8 de julho de 2022). Os menos esclarecidos podem imaginar que se trata de uma iniciativa da Prefeitura de Vitória da Conquista, cuja marca está bem visível no convite. Não há menção ao Ministério da Cultura (atenção ministra Margareth Menezes), o verdadeiro responsável pela ajuda àqueles que não puderam dar continuidade aos seus projetos devido à pandemia.

Nos próximos meses será amplamente divulgada uma deliberação do governo federal de natureza bastante popular. O Ministério das Cidades anuncia a construção de 1.800 unidades do programa “Minha Casa, Minha Vida”. A inscrição dos interessados estará a cargo da prefeitura conquistense. Quais os critérios que serão usados na indicação dos beneficiados? Esperamos que não se leve em conta o voto de quem sonha com a casa própria.

 

FEIRA LITERÁRIA DE ITAPETINGA CUMPRIU SUA MISSÃO DE INCENTIVAR A LEITURA

Com a realização de debates literários, palestras, simpósios, oficinas, exposição e lançamentos de livros de escritores locais e da região, inclusive de Vitória da Conquista, a I FLITA – Feira Literária de Itapetinga foi mais um encontro, entre tantos outros na Bahia, que contribuiu para o incentivo da leitura e a divulgação de obras de nossos autores, principalmente de novos talentos.

De 30 de novembro a 2 de dezembro, o evento contou com a iniciativa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb, Fundação Pedro Calmon, parceria da Prefeitura Municipal através da Secretaria de Educação, dentre outras instituições ligadas ao setor, como da Academia de Letras de Itapetinga.

Com um formato diferenciado, as atividades da I FLITA aconteceram em diversos pontos da cidade, como na Uesb, Vila Operária, Academia de Letras e na Concha Acústica onde os escritores apresentaram suas obras. Essa diversificação de lugares terminou esvaziando o público interessado em conhecer os trabalhos dos autores devido a questões de deslocamento.

Essa crítica foi feita pelos próprios escritores presentes numa reunião informal com os curadores Luciano, Sibely Nery e a própria Roberta Caetano que atenderam muito bem a categoria e prometeram fazer algumas correções no próximo evento. Uma delas será a de organizar a feira num só ponto da cidade, para facilitar uma maior participação dos interessados no sentido de atingir um melhor aproveitamento das palestras e dos lançamentos de livros.

Os escritores, editores, poetas, contadores de histórias, cordelistas, livreiros e demais profissionais da arte literária de um modo geral foram bem acolhidos pela Comissão Organizadora da FLITA, especialmente por Roberta Caetano (Beta) e suas colegas de trabalho que estiveram o tempo todo, com total dedicação e presteza, atendendo as demandas dos participantes.

Nossos poetas e escritores José da Boa Morte, que se deslocou lá da capital, Roger Luis e outros que se fizeram presentes, se sentiram satisfeitos com o atendimento dos curadores e assistentes do evento, apenas observaram que, por questões de logística, a Feira deveria ter sido concentrada num único lugar e não em pontos diferentes da cidade.

Foi mais uma Feira Literária realizada na Bahia (Vitória da Conquista também fez a sua em novembro) que significa uma injeção de ânimo em nossa cultura, contemplando todas as linguagens artísticas, inclusive a rapaziada e as mulheres do Hip-Hop que deram seu recado na Concha Acústica.

 

A INDENIZAÇÃO DOS PROPRIETÁRIOS

Legítimo, ilegítimo e imoral foram as indenizações concedidas pela Inglaterra e a França aos colonos que escravizaram os negros africanos por toda vida, para não dizer irônico e incoerente. Os cativos que deveriam ser ressarcidos.

Esse debate foi colocado pelo escritor e historiador, Marcel Dorigny, em seu livro Abolições da Escravatura no Brasil e no Mundo”, no capítulo “A Questão das Indenizações”.

Uns colocavam como argumento que a escravidão foi institucionalizada pelo Estado e, portanto, o cativo era uma propriedade legítima. Outros contestavam com base na Declaração dos Direitos Humanos, de 1789, onde todos eram iguais por direito, sem contar a Lei de Deus.

“A propriedade de um homem sobre o outro era sempre uma violência ilegítima”. O deputado francês Condorcet levantou esta questão desde 1781 com base no iluminismo do final do século XVIII.

Ele afirmava que a destruição da escravidão não prejudicaria nem o comércio nem a riqueza de cada nação, já que não resultaria disso nenhuma diminuição na cultura.

Segundo o autor da obra, mesmo sendo legal, a legislação da escravidão é ilegítima, pois se opõe radicalmente às leis da natureza. Em 1835, Cyrille Bissette, invertia o raciocínio dos senhores: Como o escravo nunca é uma propriedade legítima, a abolição não pode ser considerada como atentado à propriedade”…

Seria imoral aquele que possuía ilegitimamente um homem – argumenta Marcel. No entanto, em 1791, o deputado Louis-Marthe lembra que os armadores e os colonos investiram na escravidão sob a proteção da lei e que, por conseguinte, o Estado não pode expoliá-los: Assim, a propriedade sobre os escravos é um direito inviolável e sagrado”…

Os defensores dos senhores pressionavam pelo reembolso, tanto que no artigo 5 do decreto de 27 de abril de 1848, que abole a escravidão nas colônias francesas, a Assembleia Nacional decidirá o valor do pagamento que deverá ser concedido aos colonos.

Nas colônias francesas, a média de reembolso foi de 40%, em Porto Rico, de 100%, nas colônias britânicas e holandesas, de 50%, e de 20% nas colônias dinamarquesas. Lembramos, porém, que a primeira abolição francesa pelo decreto da Convenção Nacional, de 4 de fevereiro de 1794, não previa nenhuma indenização.

O caso de São Domingos (Haiti) foi atípico porque a abolição foi abolida em 1793-1804 por uma insurreição e nunca foi reestabelecida. Diferente das outras colônias de escravos.

Acontece que a França exigiu 90 milhões de francos para reconhecer a independência do Haiti 25 anos depois. Esse dinheiro foi pago pelos novos proprietários dos lotes distribuídos através de um tributo do café imposto pelo novo governo. Foi a exportação do café produzido por eles que indenizou os ex-colonos.

No Brasil (a abolição se deu em 13 de maio de 1888, a última do mundo), os senhores do café tentaram emplacar a indenização com ameaças de processos na justiça, mas o ministro Ruy Barbosa mandou queimar uma série de documento, de acordo com historiadores, para evitar esse reembolso injusto.

 

DIA DAS LIVRARIAS

Com tantas feiras literárias acontecendo pela Bahia, inclusive agora a de Itapetinga, nesta semana, dia 30 de novembro homenageia as livrarias. Pelo menos esses eventos incentivam a leitura, principalmente nos mais jovens, apesar de muitos estabelecimentos de grande porte e tradição no Brasil terem fechado suas portas nos últimos anos. “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, quase ninguém sente esta sede” – lamentou o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade.  Nos anos 50, 60 e até os 70, estudantes, professores e intelectuais devoravam livros e discutiam autores até em mesas de bares e restaurantes. Havia até torcidas como no futebol. A ditadura civil-militar mutilou o conhecimento e o saber com a censura. O ensino foi se deteriorando mesmo com a redemocratização do país e os governantes deixaram de priorizar a educação. Veio a internet e a situação piorou ainda mais com as redes sociais onde assassinam o português com fofocas, besteiras e fake news. O livro foi sendo deixado de lado e as livrarias se escasseando. Temos um país gigante de poucos leitores. É lamentável. Não se tem muito a comemorar neste Dia das Livrarias, 30 de novembro.





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