“ANDANÇAS” TAMBÉM É MÚSICA
Não são só causos, contos e histórias, numa mistura de ficção com realidade, o novo livro “Andanças”, do jornalista e escritor Jeremias Macário, também tem poemas, muitos dos quais começam a ser musicados por artistas locais e de outras paragens do Brasil, como de Fortaleza, no Ceará.
Do título “Na Espera da Graça”, que fala do homem nordestino que sempre vive a esperar por tempos melhores, o cantor, músico e compositor Walter Lajes extraiu de sua viola uma bela canção, numa parceria que fez com o autor, com apresentação em vários festivais.
O músico e compositor Papalo Monteiro se interessou por “Nas Ciladas da Lua Cheia”, uma letra forte que descreve os políticos na figura de bichos que, de quatro em quatro anos, aproveitam as eleições com promessas vãs para se elegerem.
Tem “O Balanço do Mar”, um xote que lembra passagens de nossas vidas, e “Lágrimas de Mariana”, um belo poema triste sobre a tragédia do rompimento da barragem da Samarco, lá em Mariana (MG), musicados e cantados pelo amigo parceiro Dorinho Chaves.
Lá de Fortaleza, Ceará, os companheiros Edilson Barros e Heriberto Silva realizaram uma parceria musical aproveitando a letra “A DOR DA FINITUDE”, que versa sobre um tema que pouca gente gosta de abordar, que é a morte, e filosofa que tudo passa, tudo muda e tudo se transforma. Outros poemas estão sendo trabalhados para entrarem no rol das letras musicadas, inclusive do novo livro “ANDANÇAS”.
Essa é uma parceria com o amigo poeta e músico, baiano de Alagoinhas, Antônio Dean, que há muitos anos reside em Campina Grande da Paraíba com sua família, fazendo sucessos e cantando com sua profunda voz, a cultura nordestina para todo o Brasil.
Conheça o Espaço Cultural “A Estrada”
Com 3.483 itens entre livros (1.099), vinis nacionais e internacionais (481), CDs (284), filmes em DVDs (209), peças artesanais (188) e 106 quadros fotográficos, dentre outros objetos, o “Espaço Cultural a Estrada” que está inserido no blog do mesmo nome tem história e um longo caminho que praticamente começou na década de 1970 quando iniciava minha carreira jornalística como repórter em Salvador.
Nos últimos anos o Espaço Cultural vem reunindo amigos artistas e outras personalidades do universo cultural de Vitória da Conquista em encontros colaborativos de saraus de cantorias, recitais poéticos e debates em diversas áreas do conhecimento. Nasceu eclético por iniciativa de um pequeno grupo que resolveu homenagear o vinil e saborear o vinho. Assim pintou o primeiro encontro do “Vinho Vinil” com o cantor e compositor Mano di Sousa, os fotógrafos José Carlos D`Almeida e José Silva entre outros convidados.
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AUGUSTUS ENTRA TRIUNFAL EM ROMA
Depois de quinze anos de guerra civil, Otávio César Augusto entra triunfal em Roma como primeiro imperador no verão de 29 a. C., conforme descreve Barry Strauss em seu livro “A Morte de César”.
Decimus não causou problemas por muito tempo. Brutus e Cassius haviam sido oponentes mais fortes, mas foram liquidados três anos após os Idos de 15 de Março com o assassinato de Júlio César. Sextus Pompeu sobreviveu por mais sete anos. Marco Antônio constituiu para Otávio o maior desafio e se suicidou com sua amante Cleópatra.
Otávio comemorou um triplo triunfo. No primeiro dia celebrou as vitórias nos Balcãs. No segundo a conquista no Egito e, no último, o Estado grego era agora uma província romana. Na época, o Egito era um dos países mais ricos do mundo, uma conquista de Roma.
Como dois Césares não seria uma boa coisa, o no imperador ordenara executar Cesário, o filho de César que tivera com Cleópatra. Com a vitória em Actium, Otávio pode adquirir terras na Itália e ao redor de todo império para estabelecer novas colônias de assentamento de seus veteranos de guerra, sem confisco de propriedades.
Nas celebrações, o novo imperador dedicou ao Templo de Júlio Deificado uma série de realizações de jogos e banquetes públicos. Era esperado para o templo ser inaugurado em Julho (antigo Quintilis), aniversário de Júlio César, mas o objetivo era consagrar Otávio.
Em 8 a.C., o mês sextilis foi renomeado como agosto em memória dos três triunfos, e em reconhecimento ao título que Otávio assumira de Augustus, o reverenciado.
No novo regime, nas decorações do templo constava uma estátua de César envolto em um manto de sacerdote supremo. Entre as peças, uma obra-prima da pintura grega, representando Vênus, a deusa poderosa de César e sua suposta ancestral. Cleópatra, sua amante, e Antônio, seu braço direito, agora eram seus inimigos públicos.
As comemorações voltavam-se para o passado e para o futuro, como na dedicação do Templo da Mãe Vênus por César, em 46 a.C., incluindo os jogos de Troia. Haviam jogos de gladiadores e alusões ao Egito.
Os Idos de Março passaram a ser chamados como Dia do Parricídio onde nenhuma corte de justiça poderia reunir-se, nem qualquer lei ser aprovada. A Casa do Senado de Pompeu não foi mais usado para reuniões do Senado. O local foi transformado em banheiros públicos.
O culto a César era algo novo. Os romanos haviam glorificado grandes líderes, mas somente Rômulo, o legendário fundador de Roma, contava com um templo em sua homenagem.
O nome de César passou a designar uma categoria. Depois de Augustus, cada governador de Roma seria chamado César imperador. As palavras kaiser, em alemão, e tsar (czar) russo significavam imperador.
Assinala Strauss, autor da obra, que o sangue de César santificara o Império Romano. Onde César se elevara aos céus, Otávio viera à terra. Ele era imperator, o conquistador filho do Deificado. Em 27 a.C., Augustus aceitou o título do Senado.
Otávio César Augustus governou o Império Romano por mais 41 anos até 14 d.C. A era Augusta, foi considerada como um dos pontos altos da literatura latina, um período clássico, durante o qual os poetas Virgílio, Horácio e Ovídio e o historiador Lívio se encontravam em plena atividade.
Augustus, que vivia na Colina Palatino e, como todo soberano, olhava Roma lá do alto, criou uma dinastia. Quando ele morreu, seu filho adotivo Tiberius assumiu o posto e, depois da sua morte, em 37 d.C., outros membros da família serviram como imperadores. Em 69 d.C. outra dinastia substituiu a família.
O império prosseguiu por séculos, passando por guerras, revoluções, invasões, pestes e rebeliões. Um governador comandou a Itália até o ano de 476 da nossa era e, em Constantinopla (Istambul-Turquia), no Império Romano do Oriente, ou bizantino, os imperadores se sucederam até 1453.
César e sua compaixão pelos pobres permaneceram vivos, enquanto sua guerra à República pelo governo de um único homem e sua sanha assassina que escravizou e matou milhões foram esquecidos.
Depois de Pompeu e César, Roma necessitava de um executivo mais forte na administração imperial. Os mandatos governamentais passaram a ser limitados, para evitar a ascensão de um novo César; maior compartilhamento de poder com as províncias para evitar revoltas; e maior taxação das grandes riquezas para reforçar o exército.
Após as dinastias, o governo não mais pertenceria a uma única família. Uma República foi reformada com um governo constitucional, eleições livres, mandatos limitados, liberdade de expressão.
Senadores que se desgastaram com a pressão da dinastia, filósofos que sonhavam com a liberdade, todos apelavam a Brutus e Cassius como lendas. Até Augustus se permitia a um certo revisionamento. Ao deparar-se com uma estátua de Brutos, em Mediolanum (Milão), Augustus não ordenou sua destruição, mas, sim, sua preservação.
Com o passar do tempo, Roma tornou-se uma autocracia, mas não pelos trezentos anos seguintes, até o reinado de Deocleciano nos anos 285 a 309 d.C., tampouco sob o comando de Augustos. Diferente de Júlio César, ele jamais usou uma toga púrpura ou uma coroa de ouro. Ele mesmo dizia que havia restaurado a República.
CACHAÇA COM METANOL E REQUEIJÃO COM MAISENA
(Chico Ribeiro Neto)
(Crônica publicada no jornal A Tarde em 1/8/1990)
A tragédia da cachaça de Santo Amaro, que já resultou na morte de 13 pessoas, se serviu para mostrar a absoluta falta de controle na distribuição de bebidas e a extrema lentidão de nossas autoridades sanitárias e policiais, serviu também para aflorar episódios pitorescos em torno do caso.
Afinal, onde há cachaça existe uma graça, mesmo em meio a situações de morte. Não é por menos que os velórios do interior são quase sempre regados a uma purinha, e tome-lhe piada. O cômico está sempre perto do trágico.
Esperamos, contudo, que os responsáveis por essa desgraça que se abateu sobre Santo Amaro sejam punidos com o maior rigor e que, vacinados pela tragédia, possamos agora dispor de um real controle exercido pelas autoridades de saúde nas destilarias e alambiques de fundo de quintal, onde o que importa é ganhar dinheiro e o resto que morra.
Botar metanol na cachaça já é um reflexo do que se faz neste país, onde se mistura tudo com tudo: álcool com gasolina, leite com água, requeijão com maisena, PMDB com PFL, banha com manteiga, algodão com poliéster, prata com latão e abará com fubá de milho. Não importa a qualidade do produto nem a saúde do consumidor. O negócio é misturar para ganhar mais.
Cachaça se mistura com tudo, ou quase tudo. É folha, cobra, casca de laranja, capuco de milho, umbu, seriguela, coco, raiz, raspa de unha, jiló, o diabo, sim, com este também e às vezes de preferência.
– Vai querer com quê? – pergunta logo o dono do boteco.
Há misturas inesquecíveis, como a do falecido “Popular Cabelinho Rei do Limão”. Hoje, a “Gabriela” de Edinho da Ceasa do Rio Vermelho chega perto. Tem cravo e tem canela, antes de um bom prato de cozido.
Muito famosa antigamente, a cachaça de Santo Amaro vai demorar para se reabilitar. A simples menção do seu nome já faz tremer – mais do que o normal – o mais assíduo biriteiro. Nos bares que só vendem cerveja por causa da “Lei Seca”, os santo-amarenses já comentam: “É a cachaça Sofia. Você bebe de manhã e morre meio-dia”. (“Sofia” é o apelido do comerciante responsável pela criminosa distribuição da cachaça com metanol).
Dizem que quando começou a vigorar a “Lei Seca” – os bares só podem vender cerveja, nada de bebida quente – um grupo de biriteiros mais contumazes resolveu fazer uma passeata na Praça da Matriz contra a proibição. No meio da discussão sobre a forma de fazer o protesto, uma questão importante: quem iria conseguir segurar, sem tremer, as faixas e cartazes?
As piadas começam a chover. Segundo o cartunista Douglas, as igrejas de Santo Amaro estão ficando vazias. Sabe por quê? Porque o sujeito vai tomar uma cachaça, dá pro santo e o santo “bufo”.
Até mesmo em Salvador qualquer cachaça sem rótulo, a chamada “lava jega” ou “poca olho”, está sendo logo rejeitada. Ninguém quer conversa. Se não tiver rótulo, a rejeição é imediata. Até as que têm rótulo já inspiram uma certa desconfiança. Conta-se que em Feira de Santana tem depósito de bebidas onde entra um caminhão de cachaça por uma porta e saem dois por outra. Não tem controle de qualidade que dê jeito.
A trágica cachaça de Santo Amaro já ganhou muitos apelidos. Nenhum, no entanto, tão apropriado quanto o que recebeu do jornalista, compositor e poeta Béu Machado: “Essa, sim, é a autêntica saideira. O sujeito toma uma e sai dessa pra outra”.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
JOÃO-DE-BARRO E A CIDADE
Pela sua beleza, arte, encanto e poesia, as casas ou ninhos feitos pela magnífica ave João-de-Barro são admirados por todos, mais ainda quando esses pássaros resolvem conviver em harmonia com o barulho das cidades. É como se a natureza estivesse se comunicando com o ser humano de que é possível valorizar a vida, mesmo diante de suas adversidades. Nossas lentes flagraram na Avenida Olívia Flores, nas proximidades do antigo Clube da ABB, quatro desses ninhos, sendo dois num poste de eletricidade e dois numa árvore ao lado. É uma prova de que os casais pretendem aumentar sua prole, não importando a agitação urbana e o vaivém das pessoas, pois a grande maioria nem percebe suas existências. Uma prova disso foi quando estava clicando. Isso chamou a atenção dos passantes, inclusive de duas mulheres quando uma chamou a atenção da outra: Olha ali no galho da árvore, duas casas de João-de-Barro! Não há dúvida de que ele é um artesão de primeira linha, que nenhum artista, por melhor que seja, faz melhor e com tanta perfeição e sabedoria. Ele faz a casa numa posição correta e protegida contra as correntes dos ventos e das chuvas. Sua arte nos leva a perguntar quanto tempo para concluir sua engenhosa construção e onde encontra a matéria-prima, no caso o barro, se estamos numa cidade e não no campo? Só mesmo o João-de-Barro sabe responder. Ficamos apenas nas conjecturas. Não é por menos que a natureza tem seus enigmas e mistérios que nem a vã filosofia e a ciência conseguem desvendar.
REVISOR DE JORNAL
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Em pleno sol de verão,
Na praça do poeta condoreiro,
Meu olhar se perdeu
Pela Baia de Todos os Santos,
No balanço dos encantos
Das ondas do mar do barqueiro.
Estava avexado sem emprego:
Era só desassossego,
E nem sabia,
Que naquele dia,
Ia virar revisor de jornal,
Com trabalho salarial.
Zanzei pela rua Chile;
Cruzei com a Mulher de Roxo;
Mais adiante com irmã Dulce;
Beijei sua mão;
Pedi sua benção,
Com o sinal da cruz abençoou:
Vá meu filho,
Com seu Deus Nosso Senhor.
Na velha calçada de pedra,
Ainda vi o trilho do bonde,
Rangendo como carro de boi,
Que com seu tempo se foi.
Vaguei pela praça da Câmara;
Admirei o Lacerda Elevador,
Na Catedral entrei e orei,
Do Terreiro retornei
Até o prédio do “A Tarde”;
Contei minha situação ao doutor,
E de lá sai com o título de revisor.
SE BEBER, NÃO PEGUE NO CELULAR
Bem, não me lembro qual foi a pessoa sensata, mas já ouvi de um amigo a recomendação de que se beber, não pegue no celular, talvez porque tenha se estrepado. O certo é que o alerta tem procedência e fundamento, como no caso de não dirigir bebendo. Confesso que eu mesmo já fiz muitas besteiras no volante e até no celular.
O bêbado ou a bêbada no celular faz bobagens, digita palavras erradas, assassina o português (isso já é normal mesmo sem beber), forma frases desconexas, troca as bolas e termina mandando mensagens erradas para alguém que não era o alvo. Imagina quando se trata de coisa íntima, de amante para amante e cai em outras mãos! Dá aquele quiproquó!
Conheci um amigo que encheu a cara num bar, arrumou uma gata de programa e de lá foi parar no motel. Quando estava no bem bom, a mulher liga e ele prontamente, sem se tocar, responde que estava no motel. Quando a ficha caiu, já era tarde demais!
Em casa ele tentou convencer que falou que estava no restaurante do hotel com os amigos. – Ah, mulher, estava cheio do “mé” e você entendeu errado. Na hora a língua embolou e falei motel, só que seu papo não colou, deu aquela confusão. Por isso, se beber, não pegue no celular que é bronca e pode até gerar um BO.
Mesmo quando não havia internet para ficar navegando, existia gente que quando bebia costumava apresentar vários comportamentos estranhos. Tem uns que se incorporam em pais de santos, orixás, caboclos e até saem do armário quanto ao seu gênero. Tem de todo tipo. Outros ficam ricos e se metem a comprar tudo. Agora, imagina gente assim com um celular na mão!
Certa vez, lá em Salvador, conheci um colega que era assim. Fomos a uma exposição agropecuária e ele insistiu em entrar num leilão de gado. A gente já estava naquele embalo, de tomar uma ali e outra acolá nas barracas de comidas e bebidas.
– Isso não vai dar certo – pensei comigo e falei para ele, mas não teve jeito, não parava de me chamar para esse leilão. Lá fomos nós quase que cambaleando e trocando as pernas. Só passava fazendeiro de chapéu e bengala na mão em direção ao espaço do leilão. Todos acompanhados daquelas amazonas morenas.
Nesse tipo de leilão, rola muito uísque e, quem faz um arremate, logo aparecem aquelas mulheres bonitas e não param de encher o seu copo. É para o cara ficar bebum mesmo, empolgado e cheio de vaidades!
Depois de encher a cara, o Martins Pereira começou a dar seus preços, e o leiloeiro só gritava mais e mais até chegar ao ponto de bater o martelo do maior lance. Vendido, vendido, vendido para o pecuarista seu Vivaldo, lá naquela mesa!
– Cara, para com essa merda, com essa putaria de ser rico! Não adiantou o aviso. Ele continuou entusiasmado até que arrematou um boi bonito chamado “Zulu”. Foi aquela loucura de descer uísque! O boi fica para aquele cidadão – gritou de lá o leiloeiro.
– Porra, bicho, como é que você compra um boi e nem tem pasto e fazenda para colocar o animal? Simplesmente respondeu, com a cara de pau e numa boa, que depois ia dar um jeito. O que ele queria conseguiu que foi tirar uma onda de ricaço fazendeiro.
Como conhecia um compadre amigo meu que tinha uma pequena fazenda, sugeri que ele botasse o boi naquele pasto e pagasse o aluguel ou dividisse meio a meio. Problema foi fretar um caminhão para levar o bovino até o local.
Tudo acertado e resolvido, só que dias depois veio-se descobrir que o boi bonitão e cheio de estampa era viado, bicha mesmo. Não queria saber de cruzar com as vacas do pasto. Tentou-se de tudo, mas nada. O boi era brocha. Nem precisa dizer que foi só decepção e prejuízo.
– Cara, você não aprende, deixa de dar uma de rico depois que bebe – esbravejei com ele, que já havia comprado um cavalo e uma barraca de cachaça depois de ter tomado aquelas biritas brabas. Discutiu com o dono e terminou comprando o estabelecimento. O Pereira não se emendava. Pense num moço desse nos tempos atuais com um celular enfiado na mão? Se beber, não pegue no celular.
VÁRIOS ESTADOS DOMINADOS POR BANDIDOS DENTRO DE OUTRO ESTADO
Como se não bastassem as diferenças regionais, principalmente entre Norte/Nordeste e o Sul do país, que já perduram há mais de cinco séculos, desde os tempos coloniais, temos no Brasil de hoje um Estado impotente onde existem outros estados dominados pela bandidagem.
Esses estados funcionam como territórios, zonas e bairros próprios, com suas leis e suas regras, onde seus moradores são obrigados a se submeter às ordens emanadas de seus chefões do tráfico, dos contraventores, dos milicianos e de outros grupos de quadrilhas organizadas, sob pena de serem mortos de forma bárbara e impiedosa.
Antigamente, esses estados praticamente estavam encrustados nas favelas do Rio de Janeiro e São Paulo. Nos últimos anos eles se espalharam e estão em quase todas capitais e grandes cidades. O mais irônico é que funcionam como se fossem países diferentes com suas fronteiras demarcadas na base dos fuzis e das metralhadoras.
Para visitar esses estados, o cidadão brasileiro precisa de permissão, um tipo de passaporte. Quando entra por engano é sumariamente fuzilado e fica por isso mesmo, não dá em nada. A Justiça não funciona e não manda nesses estados. Entre um Estado e outro, o pobre do contribuinte paga duas vezes impostos e taxas se quiser viver. Ambos são violentos e truculentos.
O mais lamentável nessa situação é que o Estado de Direito e oficializado só ultrapassa a linha desses outros estados com o uso de tanques de guerra, bombas, e armas pesadas. Antes de chegar em suas fronteiras, seus agentes fardados são recebidos à bala. Até para prestar algum serviço à comunidade é necessário que haja uma espécie de negociação e acordo.
Há anos que a estratégia do Estado Brasil usa métodos de violência, com mais homens e armas de grosso calibre, alegando que é a única forma de combater e acabar com esses estados do crime, só que os resultados são cada vez piores. Eles, que se dizem do lado do bem, não se convencem que estão errados.
O povo desses locais perigosos vive no fogo cruzado e já chegou ao ponto de confiar mais no outro lado, porque muitos governantes e políticos também fazem parte dessa bandidagem de traficantes, contraventores e milicianos. No lugar do social, oferecem mais violência.
Muitos dos membros dessas corporações militares terminam usando mais a força e cometendo crimes bárbaros, o que provoca mais revolta da população. Do outro lado, outros se deixaram contaminar pela corrupção e o suborno e são mais bandidos do que aqueles que já vivem no mundo da criminalidade.
Quando se fala em reformar e repensar a polícia militar, por exemplo, a única existente no mundo como essa denominação, os coronéis e comandantes revidam com argumentos vazios de que não se pode acabar com uma instituição secular, mas a questão não é o seu extermínio, mas realizar mudanças em suas estruturas. O sistema em si está podre.
QUANDO FUI REVISOR NA ÉPOCA DO CHUMBO
Com meu diploma de jornalista na mão tinha que começar a me virar porque não mais poderia morar na Residência Universitária. Era uma manhã ensolarada, ainda verão de início de 1973. Lá se vão 52 anos. Cortei o Corredor da Vitória, passando pelo Campo Grande e atravessei a Avenida Sete de Setembro já movimentada de gente naquele corre-corre da vida.
Meu destino era o velho prédio do jornal “A Tarde”, na praça do poeta condoreiro. Antes, para tomar coragem, fiz uma ronda pela Rua Chile onde cruzei com a Mulher de Roxo e mais adiante com irmã Dulce a quem pedi a sua benção. Da Praça da Câmara Municipal e do Elevador Lacerda retornei e, enfim, adentrei no jornal.
Ainda sem jeito, vindo do interior, contei minha história e minha disposição para trabalhar. A primeira pessoa com quem falei foi com dona Aia, a chefe da revisão, uma coroa negra mestiça, enxuta e simpática. Para minha sorte tinha uma vaga e não titubeei em aceitar. Não havia outra escolha. Atuar na revisão não dava visibilidade. Éramos personagens de bastidores dentro do processo jornalístico.
Ela me levou ao gabinete do redator-chefe, dr. Jorge Calmon, que me recebeu com toda aquela sua elegância de um aristocrata inglês e mandou que fizesse uma carta pedindo emprego. Foi minha primeira prova de fogo. Ele leu o texto e me aprovou para eu começar em meu novo ofício como profissional no outro dia. Pronto, estava salvo! Ali começava minha trajetória.
Naquela sala apertada, bem em frente à Baia de Todos os Santos, começava na lida ao pôr-do-sol e saia ao alvorecer da manhã. Fazíamos revisão em dupla das matérias jornalísticas depois de terem passadas pela linotipia que ficava bem ao lado da nossa. Recebíamos chumbo quente no peito durante toda noite.
Foi minha primeira experiência como jornalista profissional que me deu régua e compasso. Conheci figuras interessantes, inteligentes e bem preparadas. A gente só não gostava de revisar balanço contábil de empresas (não podia errar nos números) e pegar material do linotipista Melo porque ele melava todo papel.
Dona Aia era a nossa defensora e protetora, tipo secretária particular de dr. Jorge (havia uns cochichos), e sabia de carreirinha, decorado da sua cabeça, todas as fórmulas químicas, desde o H2O ao dióxido de enxofre SO2, óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O5) ao dióxido de carbono (CO2), dentre outras composições de metais. Ficava impressionado como ela sabia aquilo tudo.
Era época de chumbo da ditadura civil-militar-burguesa do general Garrastazu Médici. A gente trabalhava em dupla no processo de revisão onde um lia o texto e o outro ia fazendo as correções das matérias jornalísticas dos repórteres. Com o avanço da tecnologia da internet, essa função deixou de existir nos jornais.
Entre o intervalo de uma revisão e outra confabulávamos informações de presos políticos vítimas das torturas e criticávamos duramente o regime. O delegado Fleury e o coronel Brilhante Ultra, do DOI-CODI, eram os maiores carrascos. Ainda bem que não havia escutas e, se existia, não sabíamos.
Seu Ariston, se não me engano vindo lá de Itabuna, era um senhor de feições duras desgastadas pelo sofrimento do tempo, bom de português, que tirava nossas dúvidas. Ele foi um dos presos torturado pela ditadura e nos contava histórias da sua ação de combate e o que passou na cadeia até ser solto. Seu Ariston ainda era muito visado e vigiado pelos agentes torturadores. Depois sumiu.
Por obrigação, tínhamos que assinar e guardar as provas para, em caso de erro, os revisores responsáveis serem repreendidos, punidos ou até mesmo demitidos. Quando isso acontecia, um protegia o outro, e arranjávamos uma maneira de dar sumiço na prova, sobretudo quando se tratava de balancete, coisa chata de se revisar.
Lembro também do nosso amigo e companheiro Antenor, homossexual que logo depois morreu de Aids. Naquela época o tratamento erra escasso. Era um jovem com grande bagagem de conhecimento e cheio de vida. Na revisão predominava o sexo masculino, mas logo depois, aos poucos, foi aparecendo mulheres, como Cora com quem gostava de atentar e chamá-la de Cora Coralina. Não sei do porquê, mas ela não gostava.
Ainda no velho prédio da Praça Castro Alves, o local da revisão era um tanto insalubre, porque ficava ao lado da linotipia de chumbo. Tínhamos que tomar muito leite. Era uma recomendação, não sei de quem. O pessoal inalava muito chumbo vindo daquelas máquinas barulhentas. Era o tempo do chamado jornal a quente.
Quando dava meia-noite, a gente ia para uma lanchonete na Carlos Gomes forrar o estômago. A conta era paga pela empresa. Foi um tempo de boas recordações e aprendizagens durante quase um ano até ser convidado para trabalhar como repórter na Editoria de Economia.
CONSPIRADORES SÃO ELIMINADOS E OTÁVIO SE TORNA REI IMPERADOR
Quase todos conspiradores, principalmente os maiores líderes e aqueles que apunhalaram Júlio César com suas afiadas adagas tiveram mortes trágicas e alguns cometeram suicídio durante uma guerra civil de quinze anos que se seguiu após os idos de março de 44 a.C.
Otávio, o sobrinho herdeiro de César, que passou a usar seu nome e depois Augustus, foi mais esperto e venceu todas as batalhas, com entrada triunfal em Roma como rei imperador até 14 d.C. Estava estabelecida uma dinastia. Com um templo erguido em sua memória, Júlio César passou a ser cultuado como um deus santo e seu nome se perpetuou como imperador.
Brutos, Cassius e Decimus caíram em desgraça. Este último foi aprisionado com disfarce de gaulês e executado, segundo antigos historiadores, a mando de Marco Antônio que se uniu a Otávio e depois lutou contra ele. Foi amante de Cleópatra e ambos se suicidaram depois das derrotas no Egito.
Barry Strauss, autor da obra “A Morte de César” narra precisamente com detalhes todos os fatos de um império, que mesmo dividido, conseguiu sobreviver até 1453. Nessa luta pelo poder imperial, até Cícero, o grande tribuno orador da Quinta Filípica, que disse que o dinheiro é o alicerce da guerra, foi morto por Antônio em vingança por ter sido criticado pelo seu inimigo.
Em 42 a.C., Brutus e Cassius abriram centros de resistência. Cassius fez guerra na Ilha de Rhodes. Depois de duas derrotas, os habitantes abriram os portões da cidade para os romanos. Brutus atuou na Anatólia (Turquia), nas cidades de Lícia e Xanto que foram rendidas.
Em junho de 42 a.C. os dois se encontraram em Sadis, no oeste da Anatólia. No encontro, resolveram suas diferenças e decidiram rumar para a Macedônia. Do outro lado, Antônio e Otávio, que faziam parte dos triúnviros, deixaram Lepidus para trás cuidando da Itália. Eles cruzaram o Mar Adriático com dezenove legiões (cada uma com cerca de cinco mil soldados).
Vários orientais enviaram tropas auxiliares para Brutos e Cassius, tanto Deiotarus como o rei da Pártia (Îrã). Por um ano ou mais, os comandantes se dedicaram a levantar dinheiro, pela diplomacia ou pela força. Seus oficiais cunharam moedas.
A mais importante e famosa foi a denarius de prata de Brutos, com a inscrição de Imperator e a figura de duas adagas, justamente ele que sempre defendeu a República e a liberdade do povo. César nunca se fez retratar em moedas.
O grande confronto teve lugar nos arredores de Philippi (cidade em homenagem ao rei Felipe, pai de Alexandre, o Grande, da Macedônia). Numa noite, Brutos teve uma visão de um gênio ruim. Esta visão alertava Brutos: “Você me verá em Philippi”. No dia seguinte, Cassius teria avistado o fantasma de César, vestido com uma capa de comandante militar vermelho-púrpura.
Antes dos combates, Brutos escreveu a Aticus: “Ou eles libertariam o povo romano, ou morreriam e seriam libertados da escravidão”. Em Cassius, um comandante bom e em Brutus, um competente. Em contraste, Antônio, um general inteligente e versátil, e Otávio tinham poucos suprimentos.
No entanto, construíram fortificações para isolar o inimigo de seu acesso ao mar. Brutos e Cassius iniciaram operações de contrafortificações. Antônio atacou com toda sua fúria. Os homens de Cassius fugiram em debandada, mas os de Brutos conseguiram tomar o acampamento de Otávio que não estava ali, pois se ausentara a tempo devido a uma visão divina. Ele usou um anel de César como amuleto de boa sorte.
Na fuga e prestes a ser capturado, Cassius preferiu o suicídio, fazendo com que um escravo o decapitasse, mas historiadores dizem que não foi bem assim. O homem o matou sem que tivesse recebido ordens. Era o dia do aniversário de Cassius. Ele foi um político de convicções, membro dos Melhores Homens e contra um governo exercido por um único homem. Ele era favorável que Antônio também tivesse sido morto nos idos de março (14) de 44 a.C. Não concordou também com o funeral público para Julius César.
Brutos fez com que Cassius fosse enterrado em segredo para não deprimir seu exército. Com Brutus no comando (não era um general), as chances de vitória se reduziram. Não existia mais Decimus. O traidor Deiotarus, folha seca, passou para o lado de Antônio.
Brutos resolveu atacar e foi rompido pelas linhas do inimigo. Antônio foi o arquiteto da vitória, em Philippi. Brutos conseguiu fugir, viajando pelas colinas em companhia de alguns amigos. Como filósofo, recitou versos gregos sob as estrelas. Ele decidiu morrer feliz e deixar para trás sua reputação virtuosa, como descreveu Plutarco.
O poeta Horácio fez as pazes com o novo regime depois do seu combate em Philippi. Criticou Brutos e indagou do porquê ele não continuou a lutar ao invés de ter tirado a própria vida, mas tempos depois ele foi glorificado como Homem de Virtude, filho da grande Servília. Era final de 42 a.C. O corpo de Brutus foi cremado e Antônio mandou levar suas cinzas para a Vila Servília.
Sobre sua cabeça, segundo fontes, Otávio mandou que fosse decepada, tal como fez com Decimus. Certa vez, Antônio declarou que Brutos fora o único a conspirar contra César, que era motivador pelo esplendor e a nobreza do ato. Quanto aos outros, somente o ódio e a inveja os motivavam.
A vitória ainda não estava consolidada. Da Sícilia, a frota de Sextus Pompeu controlava o mar. Ele fora derrotado em uma batalha, em 36 a.C. Fugiu para Anatólia onde foi capturado e executado. Lepidus sofreu um declínio implacável. Em 40 a.C. trocou a Hispania Próxima e a Gália Narbonesa pela província da África Romana. Depois, Otávio mostrou-se forte para afastar Lepidus. Em 36 a.C. foi forçado a um exílio numa cidade costeira ao sul de Roma.
Antônio e Otávio dividiram o império entre si, mas não tardou a se enfrentarem. Antônio ficou com o Oriente, onde foi amante de Cleópatra, e Otávio com o Ocidente com a tarefa de confiscar terras para dar aos seus veteranos de guerra. A poesia falava da miséria dos despossuídos.
Fúlvia, a esposa de Antônia, e Lucius, seu irmão, incitaram oposição à apropriação de terras. Isso só podia gerar guerra no centro da Itália, extinta pelas forças de Otávio. Um grande número de senadores e cavaleiros foi massacrado e exposto no altar Deificado Júlio nos Idos de Março. Eram sacrifícios humanos ao espírito de César. Depois da morte da sua mulher Fúlvia, em 40 a.C., Antônio casou-se com Otávia, irmã de César, mas tinha seu caso amoroso com Cleópatra.
Se Otávio tinha o nome de César, Antônio tinha a amante de César. O mundo romano não suportaria dois Césares, então foi guerra entre Otávio de um lado e Antônio e Cleópatra do outro. Senhor dos mares, Otávio teve sua frota vencedora na Batalha de Actium, a oeste da Grécia, em 31 a.C. Antônio e Cleópatra cometeram suicídio. Otávio se tornou soberano do império.
Dos conspiradores ainda haviam dois sobreviventes, Decimus Turullius que se juntou a Sextus Pompeu e depois a Antônio. Otávio mandou executá-lo na ilha grega de Cos. O próximo a ser morto foi o grande poeta de poemas curtos e cultos, Cassius de Parma, em 30 a.C. Este também teria se juntou a Sextus e a Antônio.
DINHEIRO DA CULTURA VOLTOU PARA BRASÍLIA
Carlos Albán González – jornalista
“Time que está ganhando não se mexe”, frase incansavelmente repetida pelos fãs do futebol no Brasil. Esta espécie de conselho aos treinadores, poderia muito bem ser aplicado na administração pública, o que só acontece quando, a cada eleição, os “mesmos” se mantêm nos cargos. É o caso, por exemplo, de Vitória da Conquista, onde Sheila Lemos (União Brasil) vai liderar sua equipe por mais quatro anos.
Numa tensa e vitoriosa batalha final, disputada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Sheila se valeu de sua força máxima, integrada por 13 advogados (13, e não 12, como se referiu a nobre gestora, ao mencionar o tempo de permanência de sua mãe, Irma Lemos, à frente do município). Quem não sabe: o número que acompanhou a carreira vitoriosa do saudoso Zagallo (tricampeão mundial Jorge Lobo Zagallo), e que identifica o Partido dos Trabalhadores (PT), é impronunciável pelos bolsonaristas.
Sob o manto do bolsonarismo e levada pela onda ultraconservadora que varreu a esquerda no último pleito, a família Lemos deu início em 1º de janeiro a um terceiro mandato em Conquista. Entre junho e dezembro de 2024, Sheila exonerou os secretários Lucas Dias (Mobilidade Urbana) e Vinicius Rodrigues (Saúde), investigados, respectivamente, pelas operações Overclean e Drapout, criadas pela Polícia Federal (PF). Eles teriam se utilizado de suas funções para cometer graves irregularidades, inclusive desvio de recursos que a Saúde deveria empregar em ações contra a Covid-19.
No final do ano passado, pressionada pela oposição, a Mesa da Câmara Municipal instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar a destinação de recursos públicos na Secretaria de Saúde. Como já se previa, dada a interação entre executivo e legislativo, nada de irregular foi encontrado, contrariando parecer técnico da PF.
Estávamos falando da formação do secretariado municipal, e o que mais chama atenção é que a gestora voltou a insistir no erro de reunir, numa só pasta, a cultura, o esporte, o lazer e o turismo. Em sã consciência, é impossível uma só pessoa, no momento o Eugênio Avelino (Xangai), cuidar de quatro importantes e heterogêneos segmentos da administração pública. No primeiro mandato da Sheila o conquistense ficou privado da cultura, do esporte, do lazer e do turismo.
Para não ficar completamente imobilizada, a cultura em Conquista tem se valido do espírito abnegado de pessoas e de entidades privadas, além do governo estadual, que patrocina a Orquestra Neojibá. Uma dessas entidades, o Sarau Cultural A Estrada, em funcionamento há 15 anos numa residência do bairro Felícia, tem conseguido preservar o passado e o presente, sem nenhum apoio oficial, das manifestações culturais desta terra.
Pergunto: qual a reação do leitor ao saber que a prefeitura, por negligência, perdeu 330 mil reais dos 2,72 milhões de reais, provenientes da Lei Paulo Gustavo do governo federal. O dinheiro foi devolvido aos cofres da União por falta de uso no prazo determinado pelo Ministério da Cultura.
A minha incredulidade deve ter sido a mesma do jornalista e escritor Jeremias Macário, um dos pais do Sarau A Estrada. Os recursos deveriam ser empregados na recuperação do Cine Madrigal, uma antiga reivindicação da população pobre conquistense, que não tem condições financeiras para pagar uma entrada nas salas de projeção dos Multiplex, implantados nos shoppings. Essa é a importância que o poder municipal dá à Cultura, priorizando os shows de música de péssima qualidade.
A prefeitura local não está relacionada entre os patrocinadores do Esporte Clube Primeiro Passo Vitória da Conquista, o que habitualmente ocorre em centenas de municípios do país, como, por exemplo, Porto Seguro. Fundado em janeiro de 2005, o “Bode” vem colecionando derrotas. Há cinco anos está na segunda divisão do futebol baiano, com direito apenas a jogar três meses por ano.
O torcedor local desde 2015 não assiste no Estádio Lomanto Júnior uma das equipes, com exceção de Bahia e Vitória, da série “A” do Brasileirão. A última foi o Palmeiras, aumentando o número de torcedores rubro-negros, de olho na estrada, na esperança de poder dar as boas-vindas ao Flamengo. Urubu, por aqui, só os que infernizam os moradores do bairro Felícia.
Em resumo: esse é o cenário do esporte na cidade. Eu poderia acrescentar as peladas da Várzea, onde jogava Ednaldo Rodrigues, atual presidente da CBF, o ciclismo e as corridas de rua.
Fazer de Conquista uma cidade turística é sonho. Cristo, lá do alto da Serra do Piriperi, espera há décadas que as autoridades municipais transformem o local num atrativo balneário, não num “cacete armado”, como as instalações na margem da represa de Anagé.
Depois de uma ausência de quatro anos, a Exposição Agropecuária de Vitória da Conquista voltou no ano passado a abrir os portões do Parque Teopompo de Andrade. Os organizadores tiveram o apoio da prefeita Sheila Lemos, que estava em busca de votos para sua reeleição.
O empresário Clinton Teixeira, ligado aos setores de turismo e entretenimento, esteve há poucos dias percorrendo, num domingo, alguns pontos da cidade, onde observou um clima de velório, com movimento apenas nos barzinhos. Imediatamente, por achar o lugar propício, em virtude da falta de equipamentos para o lazer de adultos e crianças, veio-lhe a ideia de construir um complexo para a prática de atividades prazerosas. A inauguração da primeira etapa, que prevê a implantação de uma piscina de ondas, com capacidade para receber 10 mil pessoas, está prevista para o primeiro semestre de 2026. Acredita Teixeira que o Vickpark vai dinamizar o turismo na região. Os adeptos do surfe já podem adquirir suas pranchas.
45 PERSONAGENS EM BUSCA DE UM AUTOR
(Chico Ribeiro Neto)
Às vezes crio um personagem e guardo. Quando vou busca-lo, ele já sumiu.
Difícil criar personagem. Eles criam vida própria, nos abandonam e saem por aí fazendo um bocado de besteira. Poucos retornam ao autor.
Conviver com eles é difícil. Se picam na hora em que você mais precisa deles, e o pior: você esquece o nome deles.
Personagem é igual a gente. Chega e some de repente. Tem hora que tem que segurá-lo pela orelha e dizer: “Você vai ficar é aí mesmo!”
Personagem pode surgir de uma frase no muro, pode ser uma vizinha ou um velho que passou na esquina. Personagem é tudo que rima.
Queria conviver com meus personagens, mas eles entram nas páginas e somem.
Tem personagem que chega perto, pisca o olho e desaparece. Outros ficam escondidos nas gavetas durante anos e há aqueles que fazem o maior espalhafato pra aparecer na história. Chegam até “plantar bananeira” (“olha eu aqui!”), mas não agradam ao autor.
Bicho difícil é personagem. Às vezes ele tem um pedaço de uma pessoa e um pedaço de outra.
Difícil é matar um personagem. Você afunda ele no lago escuro à meia-noite e ele reaparece na próxima história. Personagem não morre, sobrevive nas páginas. Ele é amigo do Zé, dá quatro cambalhotas e cai em pé.
Personagem lhe persegue no sonho, na igreja e no bar. Quando você menos espera, recebe o tapinha nas costas: “E aí, velho, que dia vou entrar no seu livro?”
Lembro a famosa peça “Seis Personagens à Procura de um Autor”, do dramaturgo italiano Luigi Pirandello, de 1921, onde um ensaio é invadido por seis personagens, rejeitados por seu criador, que tentam convencer o diretor da companhia a encenar suas vidas.
Não confie muito em personagem. Ele pode lhe dar uma porretada na cabeça e assumir a história sozinho, ao modo dele.
Tem ator de teatro que incorpora tanto o personagem que leva meses para se livrar dele.
Olga Maimone era uma atriz do Teatro Vila Velha que na década de 60 morava no próprio teatro e durante o dia lia cartas para os interessados em conhecer o futuro. Figura carismática, ela foi assim definida por João Augusto, diretor do Vila Velha: “Olga não é gente, Olga é personagem”.
Viva o personagem, essa alma em figura de gente!
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)