“ANDANÇAS” TAMBÉM É MÚSICA
Não são só causos, contos e histórias, numa mistura de ficção com realidade, o novo livro “Andanças”, do jornalista e escritor Jeremias Macário, também tem poemas, muitos dos quais começam a ser musicados por artistas locais e de outras paragens do Brasil, como de Fortaleza, no Ceará.
Do título “Na Espera da Graça”, que fala do homem nordestino que sempre vive a esperar por tempos melhores, o cantor, músico e compositor Walter Lajes extraiu de sua viola uma bela canção, numa parceria que fez com o autor, com apresentação em vários festivais.
O músico e compositor Papalo Monteiro se interessou por “Nas Ciladas da Lua Cheia”, uma letra forte que descreve os políticos na figura de bichos que, de quatro em quatro anos, aproveitam as eleições com promessas vãs para se elegerem.
Tem “O Balanço do Mar”, um xote que lembra passagens de nossas vidas, e “Lágrimas de Mariana”, um belo poema triste sobre a tragédia do rompimento da barragem da Samarco, lá em Mariana (MG), musicados e cantados pelo amigo parceiro Dorinho Chaves.
Lá de Fortaleza, Ceará, os companheiros Edilson Barros e Heriberto Silva realizaram uma parceria musical aproveitando a letra “A DOR DA FINITUDE”, que versa sobre um tema que pouca gente gosta de abordar, que é a morte, e filosofa que tudo passa, tudo muda e tudo se transforma. Outros poemas estão sendo trabalhados para entrarem no rol das letras musicadas, inclusive do novo livro “ANDANÇAS”.
Essa é uma parceria com o amigo poeta e músico, baiano de Alagoinhas, Antônio Dean, que há muitos anos reside em Campina Grande da Paraíba com sua família, fazendo sucessos e cantando com sua profunda voz, a cultura nordestina para todo o Brasil.
Conheça o Espaço Cultural “A Estrada”
Com 3.483 itens entre livros (1.099), vinis nacionais e internacionais (481), CDs (284), filmes em DVDs (209), peças artesanais (188) e 106 quadros fotográficos, dentre outros objetos, o “Espaço Cultural a Estrada” que está inserido no blog do mesmo nome tem história e um longo caminho que praticamente começou na década de 1970 quando iniciava minha carreira jornalística como repórter em Salvador.
Nos últimos anos o Espaço Cultural vem reunindo amigos artistas e outras personalidades do universo cultural de Vitória da Conquista em encontros colaborativos de saraus de cantorias, recitais poéticos e debates em diversas áreas do conhecimento. Nasceu eclético por iniciativa de um pequeno grupo que resolveu homenagear o vinil e saborear o vinho. Assim pintou o primeiro encontro do “Vinho Vinil” com o cantor e compositor Mano di Sousa, os fotógrafos José Carlos D`Almeida e José Silva entre outros convidados.
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NA ESPERA DE UM NOVO PAPA
Depois de longos dias de tratamento pulmonar com questões respiratórias, o Papa Francisco se foi com seus 88 anos, depois de um pontificado de 12 anos onde ele defendeu abrir as portas para os excluídos, mas encontrou resistências de uma ala conservadora e acomodada da igreja. Agora é esperar o esquema político acirrado de uma votação de disputas pelo poder. Logo mais teremos “abemus papa” através da chaminé de fumaça branca. Depois da morte vem a expectativa dos católicos.
Quando foi eleito pelo conclave cardinalício (hoje são 252 votantes), lembro bem que sua primeira fala foi em tom de apelo aos padres e bispos para que saíssem de suas casernas, poltronas e escritórios e fossem ao encontro dos pobres, desvalidos, descriminados e mais necessitados.
Nascido Jorge Mario Bergolio, em 1935, escolheu o nome de Francisco como símbolo de desprendimento. Condenou a ostentação e o luxo dos próprios sacerdotes da Igreja Católica. Começou dando um puxão de orelha naqueles que não largam seu conforto e até sugeriu vender o ouro e bens valiosos da instituição milenar do cristianismo.
A verdade é que não encontrou respaldo dos conservadores que não abrem mão de suas zonas de conforto. Muitos preferiram continuar com seus anéis, crucifixos, báculos, estolas e mitras banhados a ouro, mais parecidos com aquelas figuras medievais da inquisição que detinham o poder do Estado e mandavam em reis e rainhas.
Em Vitória da Conquista, por exemplo, os bispos e arcebispos que aqui dirigiram a arquidiocese só aparecem nas cerimônias religiosas, como Semana Santa, época do Natal, festa da padroeira e outras solenidades festivas das paroquias. Não existem aparições entre os pobres como recomendava o papa.
Fora de seus cerimoniais católicos, eles praticamente não são vistos em eventos sociais, culturais e políticos onde as comunidades e as categorias mais esquecidas do poder público precisam deles como âncoras. Nunca vi um deles num evento cultural defendendo a causa da classe, numa mobilização de professores, num ato político ou numa sessão especial na Câmara de Vereadores.
Esses bispos e arcebispos acham que o lugar deles é só na igreja fazendo suas homilias e pregações apenas para os fiéis, ministrando suas liturgias. Eles entendem que não pertencem ao mundo “profano” lá fora. Têm que cuidar só das coisas de Deus, como se as outras não fossem também Dele.
Quando Cristo andava pela Palestina, ele fazia o contrário e pregava aos seus apóstolos para irem justamente ao encontro das ovelhas desgarradas, dos menosprezados. Ele visitava as casas mais humildes e até comparecia em festas de casamento.
Posso até estar errado, mas a impressão que passa é que a função deles se resume simplesmente e rezar as missas solenes e administrar os bens da igreja que não são poucos. Até hoje quando se vende uma casa em Conquista, paga-se um tal de laudêmio que é imoral e absurdo.
Esse papa que se foi não comungava com isso e até abriu os braços para os gays, LGBTs, para os negros que foram escravizados, para os trabalhadores explorados pelo capitalismo selvagem, para os refugiados, para os povos indígenas e condenava essa hipocrisia dos seus padres, bispos e cardeais. Foi corajoso quando foi firme em punir aqueles que praticaram a pedofilia.
Não estou aqui para dar lição de moral, mas bem que eles poderiam refletir essas questões. Falam de sacrifício para seus fiéis, mas optam pela vida boa, sombra e água fresca. Não estou dizendo que são todos, mas poucos seguem o ensino do seu mestre. Fiquei oito anos no seminário e presenciei muitas coisas erradas, de se pregar uma coisa e fazer outra.
Esse papa quis e teve a intenção de reformar e transformar a igreja, adequando-a aos tempos modernos, mas encontrou barreiras dos conversadores enrustidos e muitos até o chamavam de comunista esquerdista por mandar que tirassem a bunda do sofá e fossem a campo trabalhar. Ele sempre desejou missionários em seu reino e não parasitários.
Suas cartas e encíclicas (quatro), como a Laudato Si (Louvado Sejas) e a Fratelli Tutti (Todos Irmãos) estão aí para serem lidas e cumpridas. Diziam que somos nós o ser humano parte orgânica desta “Casa Comum”. Em sua visão, todos os homens são iguais e abominava as desigualdades sociais.
Não são missivas moralistas, mas de grande força e coragem contra os poderosos mandatários, contra os destruidores do meio ambiente que só pensam em lucrar, contra os gananciosos, contra os tiranos das guerras e contra seu próprio rebanho de pastores que não ouviram seu chamado.
Ele desejou uma igreja moderna e libertária de suas amarras. Condenou os massacres de Israel contra os palestinos e foi até xingado pelo presidente do seu país de origem. Ele foi uma continuação do Papa João XXIII, especialmente no tocante à aproximação da igreja com os fiéis.
Outro grande feito dele foi arrumar as finanças do Banco do Vaticano que estava praticamente falido pela corrupção dos cardeais. Denunciou os corruptos dentro da hierarquia católica. Ele assumiu o comando de uma igreja esclerosada que excomungava os homossexuais.
Depois de morto, chovem falsos elogios daqueles materialistas que repugnavam suas propostas de mudanças, o que dá nojo de se ouvir, mas o que importa é que seu pontificado deixa um grande legado em prol do bem comum. Agora é esperar que seu sucessor seja um iluminado e não dê um passo atrás ou venha apagar essa chama de esperança. Tudo depende de uma votação onde, quer queira ou não, existe num jogo político e conchavos.
MAIS RIDÍCULO E BESTIAL
O ser humano está cada vez mais ridículo e bestial sendo consumido de forma inconsciente pela máquina do consumismo triturador. Mais parece um bando de “Maria Vai Com as Outras”, sem significado e sem sentido. Faz as coisas de forma maquinal e entra na onda das filas como uma manada em disparada, não importando se lá na frente existe um abismo existencial. Nem está aí para o que está fazendo e para onde vai. Quem eu sou e para onde vou – eis o problema.
Antigamente – e não é nenhuma questão de saudosismo – a Semana Santa, para católicos e não católicos, era um período de jejuns, recolhimento, penitência e de pouca comida na mesa, no máximo um peixe, ovos, arroz, feijão, verdura ou salada, isto para quem tinha um razoável poder aquisitivo. Acho que sou uma pessoa antissocial que abomina essas histerias festivas.
Nos tempos atuais, induzidos pela propaganda da mídia, a ideia é se empanturrar. As pessoas correm desesperadamente para as compras em supermercados e feiras. Gastam o que não podem em fartas comidas, muitas das quais exóticas. É uma verdadeira comilança na Sexta Feira Santa, contrariando os preceitos da Igreja.
É uma loucura ver tanta gente em filas para comprar um bacalhau e os tais ovos de páscoa, sem entender suas verdadeiras origens e significados. Simplesmente entram no embalo da chamada “carneirada” da força engenhosa da publicidade. Tem gente que entra numa fila por acaso, e todos querem fazer tudo igual.
O termo páscoa vem do hebraico “passach”, uma celebração judaica que comemora a libertação do povo hebreu por Moisés da escravidão do Egito, passando pelo Mar Vermelho. Portanto, significa passagem. No ritual, os hebreus imolam um cordeiro que serve de alimento com pão ázimo.
Os cristãos se basearam nessa “passach” para celebrar a ressurreição de Cristo. A liturgia é definida com base no equinócio da primavera e nas fases da lua. O cristianismo se valeu do judaísmo para também festejar sua própria páscoa.
Quanto aos ovos, a origem é multifacetada, com raízes em crenças pagãs e práticas cristãs. Os ovos sempre foram símbolo de fertilidade e renascimento, presentes nas festas antigas da primavera. No Brasil, a ideia de pintar os ovos e escondê-los para as crianças encontrarem foi trazida pelos imigrantes alemães. Com o tempo, os ovos passaram a ser presentes populares.
A troca de ovos era uma prática utilizada nas festividades da primavera em homenagem à deusa pagã Ostara (renascimento da natureza). Os coloridos tornaram-se parte das comemorações. Com o cristianismo, o ovo passou a ser ressurreição de Jesus. Trata-se de uma incorporação ritualística à sua liturgia.
Os ovos feitos de chocolate surgiram no século XVIII quando confeiteiros franceses começaram a esvaziar ovos de galinha e recheá-los com as pastas fabricadas dos frutos do cacau.
A invenção comercial do chocolate se expandiu e os ovos se tornaram símbolos da páscoa cristã moderna. Com o tempo, os ovos passaram a ser presentes populares, com embalagens chamativas coloridas para atrair os consumidores.
Como se vê, a origem dos famosos ovos de chocolate tem um cunho mais comercial que cristão. Os comerciantes capitalistas se apropriaram dos símbolos religiosos para ganhar mais dinheiro e se deram bem, tanto que a correria pelos ovos de chocolate é desvairada e coletiva. Todo mundo procura fazer a mesma coisa e nem quer saber os motivos. Muitos nem gostam de chocolate.
Essa onda coletiva está na natureza humana desde as primeiras civilizações, mas aumentou ainda mais nos tempos modernos, principalmente a partir da força da propaganda, da internet e das redes sociais com a mão mágica da mídia. Será que esses ingredientes indigestos são capazes de levar gente a um suicídio coletivo? Feliz páscoa para todos e bom chocolate!
NO BONDE DA VIDA
(Chico Ribeiro Neto)
Tô em Salvador, final da década de 50. Pego nas Mercês o bonde da Companhia Circular Carris da Bahia para a Praça da Sé.
No Terminal da Sé, depois de despongar do bonde, compro um amendoim torrado na hora que vem naquele funil de papel que sempre esconde no fundo 2 ou 3 caroços.
Caminho com meu Vulcabrás novinho e vou para o Cine Excelsior “pegar uma tela”. Sabe quem sentou do meu lado depois do filme começado? A Mulher de Roxo, figura tradicional da Rua Chile. Estava vestida de noiva, segurava um buquê e ria muito durante todo o filme.
Saio do Excelsior (que soube vai ser reformado pela Prefeitura de Salvador), pego a Rua Carlos Gomes e como um pastel chinês no Good Day. Queijo ou carne? Só tinha duas opções.
Atravesso a rua e quase sou atropelado por uma camionete Studebaker. Xingo o motorista e ele me xinga. Quem mandou ficar olhando pra morena de calça fio Helanca que acabou de passar?
No Relógio de São Pedro compro na mão de um velho um monóculo que mostrava alguma cena picante de um filme impróprio até 18 anos. Mais adiante, vizinho à Igreja de São Pedro, um cara vendia revistas pornô, com desenhos de Zéfiro, que ficavam escondidas dentro de inocentes revistas “Manchete”. A senha era essa: “Tem catecismo?”
Passo na farmácia e compro um Colubiazol, um sal de frutas Eno, um Enteroviofórmio, uma Cibalena e um sabonete Eucalol, aquele que vem a estampa.
Na porta da Lobrás (Lojas Brasileiras) tem uma máquina de fazer sorvete. Tem sorvete de todas as cores, mas acho tudo de um gosto só.
Vixe! Ainda não fiz o dever de casa! Dona Cleonice vai pegar no meu pé assim que eu chegar. O Vulcabrás apressa o passo.
Faço o dever correndo, pois preciso ir encontrar com a turma na esquina das ruas Tuiuti e Gabriel Soares. As meninas passam pra lá e pra cá e adoro os cabelos e o andar de Tânia.
Antes de dormir, depois de rezar uma Salve Rainha, um Pai Nosso e uma Ave Maria, subo no muro pra ver uma balzaquiana, de califon e anágua, se preparando para o Soirée Dançante do Clube Fantoches da Euterpe.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
O SUCATÃO DA POLUIÇÃO
O nome é “Sucata da Esperança”, localizado no Sobradinho, próximo do Miro Cairo, mas não tem nada de esperança, só desgosto, estresse e tristeza. A empresa bem que poderia ser denominada de “Sucatão da Poluição” sonora das máquinas e criadora de fuligens que incomodam diariamente os moradores daquela comunidade. O movimento das máquinas é infernal e tira o sossego das pessoas, mas o pior de tudo é a fuligem que solta no ar e deixa as casas infestadas de sujeiras, sem contar as doenças respiratórias que a poluição provoca. A comunidade que fica em seu entorno já se reuniu e fez uma abaixo-assinado à prefeitura municipal solicitando a sua relocalização para outro ponto mais adequado, mas até agora não deu em nada. São montes e montes de sucatas e ferros velhos que servem de moradia para todo tipo de insetos, ratos e outros animais peçonhentos. O local também é uma fonte de criação de mosquitos da dengue. É um absurdo que até o momento o poder executivo, a Câmara de Vereadores, o Ministério Público e órgãos sanitários da cidade não tenham tomado nenhuma providência para retirar de uma vez aquele sucatão que tanto vem prejudicando e perturbando os moradores há muitos anos, mesmo com um pedido de socorro por escrito. Os moradores daquele bairro não aguentam mais e precisam ser ouvidos em suas justas reivindicações. As pessoas não suportam mais tanta sujeira. Resido em Vitória da Conquista há mais de 30 anos e confesso que não sabia que existia um sucatão daquela dimensão naquele local tão impróprio para o ser humano conviver diariamente em meio a tanta poluição. Aquilo ali é um atentado à saúde pública e já passou da hora de ser totalmente interditado.
UM PÔR DO SOL DE FEVEREIRO DA TERRA FRIA
Autoria de Fernanda Quadros
Poema extraído da coletânea “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano” – editora Versejar, organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.
As tardes da terra fria
Se vão vestidas
De vermelho quente.
As noites chegam no quadrado
Redonda e branda
Pintam tudo de laranja cinza.
A escuridão derramada,
Afaga a saudade
Na imensidão estrelada.
Lá, a Terra Quente,
Distante
Aqui, a Terra Fria,
Desconcertante.
MEDIDA PROTETIVA, DINHEIRO E FELICIDADE
A impressão que temos é que o ser humano gosta de ser enganado, principalmente o brasileiro que tem um baixo nível de percepção intelectual e questionamento. Existe um monte de coisas em nosso Brasil onde as autoridades e os poderes constituídos passam o tempo todo nos iludindo, passando imagens como verdadeiras, quando são falsas e mentirosas.
Uma das maiores ilusões que o cidadão ou a cidadã aceita é a tal medida protetiva, criada pelo judiciário para “proteger” a mulher agredida e ameaçada de morte pelo marido ou namorado. O cara usa de violência contra a esposa e aí o delegado ou delegada impõe a ele a tal medida protetiva, isto é, ele não pode se aproximar da vítima.
O mais engraçado e ilusório é que as pessoas da sociedade e a própria mulher acreditam nessa estorinha da carochinha. Ora, se o indivíduo foi “punido” com a tal medida protetiva, gostaria de saber e indagar se algum agente público (soldado ou policial) vai acompanhar o cara 24 horas para evitar que ele cometa o crime?
A resposta é bem clara que não, pois não existe um contingente suficiente nas corporações militares para realizar esse trabalho de seguir o agressor o tempo todo. Então, meu amigo e amiga, essa medida é falsa e só funciona na teoria. Na prática ela sempre tem resultado em morte e assassinato.
Ainda recentemente a mídia anunciou que uma mulher foi morta pelo marido ou namorado que estava sob medida protetiva. O mais grave era que o elemento ainda carregava uma tornozeleira. Ele tirou o equipamento e, tranquilamente, foi lá e deu cabo da mulher. Como este, são dezenas e centenas de casos que acontecem nessa situação. Portanto, é uma medida enganosa. Acredite se quiser.
O mesmo ocorre nessas tais prisões domiciliares, sobretudo para os bandidos chamados de colarinho branco, os corruptos no popular. O juiz expede o alvará de soltura da cadeia para o sistema domiciliar com tornozeleira e estabelece diversas condições, como não sair de casa, não usar celular, não conversar com cúmplices, não receber visitar e outras exigências que não são cumpridas.
Como a tal medida protetiva, perguntaria se alguém do judiciário ou da polícia vai vigiar o sujeito para que ele não cometa delitos? Não me venham com essa que o cabra está sendo observado virtualmente. É mais uma mentira, uma fake news. A gente prefere ser enganado e acreditar.
Outro faz de conta é “vamos investigar e apurar os fatos” quando existe abuso de puder ou de autoridade por parte da polícia, negligência médica, crime de mando, erros judiciais ou acidentes dolosos. A imprensa noticia o fato e, como sempre, o episódio criminoso cai no esquecimento. A sociedade não cobra e outros absurdos ocorrem com a mesma intensidade, com a conversa fiada de que haverá punição “doa em quem doer”. Prevalece sempre a impunidade.
Outro papo furado é a pessoa, para consolar o outro que está em situação difícil e endividado financeiramente, dizer que dinheiro não traz felicidade. Pode até ser que em certas circunstâncias, como no caso de doença grave e terminal de um amigo ou parente, essa frase seja assertiva.
No entanto, no geral, o dinheiro traz sim felicidade para realizar seus desejos e sonhos, mesmo porque vivemos num sistema capitalista onde o danado cobiçado é o deus maior. Quando a pessoa está sem nenhuma grana e num beco sem saída, ela fica desesperada; entra em depressão; fica irritada, mal-humorada e até violenta. Em muitas ocasiões, a falta do money provoca até separação entre casais; desagrega famílias; e resulta em infelicidade.
Nos acostumamos a aceitar determinadas coisas sem questionar se estão corretas ou não, se são enganação ou não, porque somos comodistas e individualistas por natureza. Em algumas questões, por baixa capacidade cognitiva e intelectual e outras porque distanciamos muito do coletivo e escolhemos não darmos ao trabalho do refletir e pensar o que é certo e errado, bem como diferenciar o normal do anormal.
CÂMARA DE VEREADORES QUER NOVA SEDE
Quando os vereadores se reúnem com a prefeita com intuito de construir uma nova sede para a Câmara Municipal, isso me faz lembrar dos equipamentos culturais que estão fechados há anos por falta de reforma, mesmo diante de tantos pedidos dos artistas, com documentos e abaixo-assinados.
O argumento dos parlamentares, que já contaram com o apoio do poder executivo através da concessão de um terreno, é de que o prédio na rua Coronel Gugé com o antigo anexo da rua Zeferino Correia, erguido em 1910, não comporta mais o contingente de 23 vereadores (há 30 anos eram 11) e que a plenária tem espaço limitado para receber os participantes das sessões.
Nosso povo tem pouca memória quando eles mesmo disseram que o aumento no número de edis não iria implicar em custos para os contribuintes. Trata-se de uma grande falácia para enganar a nossa gente que está sempre sendo manipulada e é, infelizmente, comprada na hora da votação.
O aumento de vereadores não tem como não gerar mais custos no orçamento municipal, com mais gabinetes, salários para o vereador e seus auxiliares, verbas de indenização e outros benefícios concedidos pelos cofres públicos, boa parte vinda do Fundo de Participação dos Municípios.
Outra enganação é que a plenária ou o auditório já está limitado para receber os conquistenses que frequentam as sessões. Ora, aquele auditório Carmem Lúcia só lota poucas vezes em sessões especiais em homenagem a uma determinada categoria ou em eventos mais solenes. Na maioria das reuniões ali está sempre vazio.
Portanto, considero mais um absurdo a prefeitura despender mais recursos para construir outra sede luxuosa quando não atende as reivindicações do setor cultural que vem lutando pela abertura do Teatro Carlo Jheovah, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha, na rua Dois de Julho, cujos espaços estão sendo destruídos pela ação do tempo. É por essas e outras que venho afirmando que a prefeita Sheila Lemos sepultou nossa cultura.
Pelos últimos números, existem no Brasil 60.311 vereadores. Até 2013 eram 51.748. O país gasta anualmente cerca de 24 bilhões de reais com os mais de 60 mil vereadores, dinheiro que poderia muito bem ser empregado nas áreas da educação e da saúde.
Até o período do regime militar, no início da década de 60, o vereador não era remunerado e as câmaras funcionavam bem melhor em termos de prestação de serviços à população.
Em Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia com cerca de 400 mil habitantes, só são realizadas duas sessões por semana, com pautas de poucos projetos e mais de indicações e moções de aplausos.
Além das câmaras de vereadores e assembleias legislativas, temos um Congresso Nacional (531 deputados e 81 senadores) mais caro do mundo, conservador e que legisla visando seus próprios interesses, num país com o mais profundo índice de desigualdade humana. Podemos dizer que é o maior cancro do Brasil.
A COLUNA PRESTES NO SARAU
Foi mais uma noite memorável cheia de programação cultural, tendo como tema principal “A Coluna Prestes e seus Desdobramento Políticos” na palestra do nosso companheiro Eduardo Morais. Estamos falando de mais uma edição do Sarau A Estrada, realizado no último sábado (dia 12/04/25), no Espaço Cultura do mesmo nome, com a participação de mais de 30 pessoas entre jovens, artistas, intelectuais, professores e interessados pela cultura.
Os trabalhos foram abertos pelo membro da comissão Dal Farias e logo depois o jornalista Jeremias Macário e sua esposa Vandilza Gonçalves fizeram o anúncio da mudança para outra casa, mas todos garantiram que o Sarau, que está completando 15 anos de existência, vai continuar com suas atividades artísticas.
Jeremias aproveitou a ocasião para prestar uma homenagem ao ativista cultural Massimo Ricardo de Benedictis, com um minuto de silêncio pelo seu falecimento na semana passada. Ricardo deixou seu legado na cultura de Vitória da Conquista, com seus projetos e promoção de eventos importantes.
Mais alguns informes da presidente da comissão, Cleu Flor sobre a prestação de contas da arrecadação do fundo, o processo do andamento do registro do Sarau em cartório e Eduardo fez um relato histórico e político da Coluna Prestes, que teve seu início com o movimento tenentista de São Paulo, em 1918.
A partir da cidade de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, a Coluna, dirigida por Luis Carlos Prestes, cortou todo Nordeste brasileiro percorrendo mais de 25 mil quilômetros e terminou por volta de 1927/28 no Sul do Mato Grosso quando seus membros se dispersaram e adentraram na Bolívia, por causa das perseguições do governo federal de Venceslau Brás.
O movimento, que buscava mudanças na política, reformas nas áreas social e educacional, principalmente, como bem pontuou Eduardo, foi inspirado nas ideias socialistas da Revolução Russa de 1917. Ele fez um relato sobre a passagem da Coluna pelo Nordeste que lutou no combate ao coronelismo da época e às injustiças sociais contra o sertanejo do interior urbano e do campo.
Como em outras revoltas e rebeliões pelo Brasil em defesa da liberdade e da democracia, a Coluna representou um marco na história, segundo o palestrante. Para depreciar suas ações, os coronéis disseminavam que seus membros eram revoltosos, matavam crianças, idosos e estupravam mulheres. Diante desses boatos, as pessoas temiam quando eles chegavam nas cidades.
Logo no início da sua marcha, Eduardo destacou também a realização da Semana da Arte Moderna, em 1922, em São Paulo, movimento liderado por Mário Andrade, Oswaldo de Andrade, Tarcyla do Amaral, Anita Malfatti, dentre outros, chamado de antropofágico por valorizar as artes nacionais e em prol da democracia.
Na Bahia, a Coluna passou por Condeúba, Mucugê e outras cidades. Muitos foram mortos pelas tropas do governo e quando chegaram em Mato Grosso restavam poucos. Carlos Prestes foi para a Bolívia e de lá para a União Soviética como exilado.
A nossa companheira Viviane Gama fez uma homenagem às mulheres falando de seus enfrentamentos pela igualdade entre os homens. Reviveu os tempos passados onde as mulheres tinham um lugar inferiorizado como simples donas de casa, mas que ainda existe muitas coisas para serem conquistadas na sociedade moderna.
Após os debates, o músico, poeta e compositor Manno Di Souza abriu as cantorias, juntamente com Alisson Menezes, nosso visitante, Dorinho Chaves e Alex Baducha. Como não poderia deixar de acontecer no Sarau, abriu-se uma rodada de declamação de poemas autorais onde muitos tiveram a oportunidade de expressar suas obras.
Foi mais uma noite de confraternização, de comes e bebes, num clima de harmonia, troca de ideias e conhecimento, como tem sido o Sarau a Estrada nesses seus quinze anos de existência, um período ainda novo, mas que já se transformou num ambiente familiar e de respeito às diferenças ideológicas de cada um.
Houve várias postagens no grupo com referência ao Sarau, como a de Cleide que enalteceu a luz radiante da Lua Cheia e a alegria ímpar dos benfeitores da cultura. Vida longa ao Sarau. Humberto disse que o evento ocorreu como sempre, num clima de completa paz e harmonia.
Para Humberto, o tema escolhido ainda é pouco comentado no cotidiano, mas bastante atual em razão do momento vivido pela nossa nação, o qual foi comentado pelo companheiro Eduardo e demais colaboradores. As expressões artísticas e culturais foram momentos de destaque. Outro fato foi a presença de novos seguidores, num clima de afetos. Os componentes da comissão estão de parabéns.
Dal Farias comentou sobre a trajetória do Sarau, repleto de conhecimentos vividos durante esses 15 anos, ainda adolescente. Foram anos de grandiosos acontecimentos e emoções arraigadas. Numa troca de energias, Jeremias e Vandilza surpreendeu a todos com a notícia de ares de mudança para um novo ambiente, um momento comovente, mas compreensível. Novos momentos virão, com um tempo novo. Agradeceu a todos pelas participações, num lugar de aconchego e admirável pelas suas instalações, o acervo, os adereços artesanais e a coleção de chapéus.
“A GUERRA ME FEZ BEM E MAL”
Na segunda parte do oitavo capítulo do livro “Um Pouco de Ar, Por Favor”, o escritor George Orwell fala do seu personagem George Bowling que participou da I Guerra Mundial e afirmou que “a guerra me fez bem e mal”. Em sua concepção, o pior é o pós-guerra.
“Você se lembra daqueles hospitais de campanha em tempos de guerra? As longas filas de cabanas de madeira que pareciam galinheiros, presas bem no topo daquelas colinas geladas bestiais – a “Costa Sul”, as pessoas costumavam chamá-la assim, o que me faz imaginar como seria a “Costa Norte” – onde o vento parece soprar em você de todas direções ao mesmo tempo”.
Através da sua personagem, o autor da obra detalha em minúcias como era a vida nas trincheiras fedorentas onde os soldados se arrastavam na lama e “um cigarro a cada homem era exatamente como alimentar os macacos no zoológico”.
Relata que os homens nas trincheiras não eram patriotas, não odiavam o Kaiser, não ligavam a mínima para a pequena e galante Bélgica, e os alemães estuprando freiras nas mesas (era sempre “nas mesas”, como se isso tornasse tudo pior) nas ruas de Bruxelas.
A guerra fez coisas extraordinárias com as pessoas – descreveu George Bowling. O extraordinário era a maneira como matava as pessoas e como deixava de matar. “Era como uma grande enchente que o empurrava para a morte e, de repente, atirava você em algum lugar isolado, onde você se pega fazendo coisas incríveis e inúteis e ganhando dinheiro extra por elas”.
George narra que “havia batalhões de trabalho fazendo estradas através do deserto que não davam a lugar nenhum, havia caras abandonados em ilhas oceânicas para cuidar de navios alemães que haviam sido afundados anos antes, havia mistérios disso e daquilo com exércitos de escriturários e datilógrafos que continuaram existindo anos após o fim de sua função, por uma espécie de inércia”.
Durante seu tempo na guerra, George revelou que lia todos os livros onde muitos ficaram esquecidos. “Engoli todos como uma baleia que se meteu em uma espicha de camarões. Apenas me deleitei com eles. Depois de um tempo, é claro, fiquei mais intelectual e comecei a distinguí-los entre imbecis e não imbecis”.
– Eu peguei Filhos e Amantes, de Lawrence, e meio que gostei, e me diverti muito com O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e As Nove Mil e Uma Noites, de Stevenson. Wells foi o autor que mais me impressionou.
Num dos trechos da sua narração, George destacou que, se fosse fazer a conta, admitiria que “a guerra me fez bem e mal”. De qualquer forma, aquele ano de leitura de romance foi a única educação real, no sentido de aprender com livros, que já tive. Isso fez certas coisas em minha mente”.
Ainda sobre a leitura, ressalta que lhe deu uma atitude questionadora, que provavelmente não teria se tivesse passado a vida de uma forma normal e sensata. Ele diz que não foram os livros que lhe deixaram impressionados, mas a horrível falta de sentido da vida que levava.
Em 1918, segundo ele, foi um ano sem sentido. “Aqui estava eu sentado ao lado do fogão em uma cabana do exército, lendo romances, e, a algumas centenas de quilômetros de distância, na França, os canhões rugiam, e bandos de crianças infelizes, molhando suas calças de medo, estavam sendo empurrados para a barreira de metralhadoras, do mesmo modo que você atiraria um pedaço de carvão em uma fornalha”.
– A coisa toda tinha tanto sentido quanto o sonho de um lunático. O efeito de tudo, mais os livros que estava lendo, foi me deixar com um sentimento de descrença em tudo. Eu não era o único. A guerra estava cheia de pontas soltas e cantos esquecidos…
“Seria um exagero dizer que a guerra transformou as pessoas em intelectuais, mas, naquele momento, os transformou em niilistas. … Se a guerra não matou você, certamente fez com que começasse a pensar. Depois daquela confusão idiota indescritível, não seria possível continuar considerando a sociedade como algo eterno e inquestionável, como uma pirâmide. Você sabia que era apenas uma confusão”.
ALGUNS VERSOS
(Chico Ribeiro Neto)
Hoje eu tô pra versos.
POEMA DA CARNE
Ela tem uma angústia
que é natural
e resolveu fazer
medicina natural
Ela tem um corpo
que não se joga
e resolveu tomar
aula de yoga
Ela não tinha uma certa paz
que lhe fazia um certo mal
e resolveu trocar a carne
pelo arroz integral
Quando se aborrecia
parava e dizia: “Eu penso”,
mas começou a sentir falta
do cheiro de incenso
Entre a mesa e a dança
ela descobriu num abraço
que entre o arroz e o passo
está faltando um pedaço
XXXX
O menino que já me ensinou muita coisa
continua do meu lado.
Tem olhos bem abertos e mãos sujas de terra.
Seu calção é leve e dança cores debaixo do sol.
Traz na boca um sorriso leve
e seus pés preparam um grande pulo
para dentro do coração do mundo.
XXXX
ARMARINHO
no fundo do poço
parecia chave
mas era um osso
XX
ninguém duvida
olhos verdes
alumiam a vida
XX
dá prazer
fazer gol
dentro de você
XX
creia, rapaz,
zerei sua dívida
pra você comprar mais
XX
para melhorar
um mergulho
no mar
XX
para piorar
o carro acaba
de quebrar
XX
creia, senhor,
dá samba
riso e dor
XX
algo quente no ombro
bala perdida?
cocô de pombo
XX
coisa boa é
tênis velho
conhece o pé
XX
cheio de moedinha
meu porquinho fugiu
com a porca da vizinha
XX
falta sempre uma coisa
pagar o boleto
consertar o dente
visitar um parente
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