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Quem é este “Coronavid”? . Por Jeremias Macário

“ANDANÇAS” TAMBÉM É MÚSICA

Não são só causos, contos e histórias, numa mistura de ficção com realidade, o novo livro “Andanças”, do jornalista e escritor Jeremias Macário, também tem poemas, muitos dos quais começam a ser musicados por artistas locais e de outras paragens do Brasil, como de Fortaleza, no Ceará.

Do título “Na Espera da Graça”, que fala do homem nordestino que sempre vive a esperar por tempos melhores, o cantor, músico e compositor Walter Lajes extraiu de sua viola uma bela canção, numa parceria que fez com o autor, com apresentação em vários festivais.

O músico e compositor Papalo Monteiro se interessou por “Nas Ciladas da Lua Cheia”, uma letra forte que descreve os políticos na figura de bichos que, de quatro em quatro anos, aproveitam as eleições com promessas vãs para se elegerem.

Tem “O Balanço do Mar”, um xote que lembra passagens de nossas vidas, e “Lágrimas de Mariana”, um belo poema triste sobre a tragédia do rompimento da barragem da Samarco, lá em Mariana (MG), musicados e cantados pelo amigo parceiro Dorinho Chaves.

Lá de Fortaleza, Ceará, os companheiros Edilson Barros e Heriberto Silva realizaram uma parceria musical aproveitando a letra “A DOR DA FINITUDE”, que versa sobre um tema que pouca gente gosta de abordar, que é a morte, e filosofa que tudo passa, tudo muda e tudo se transforma. Outros poemas estão sendo trabalhados para entrarem no rol das letras musicadas, inclusive do novo livro “ANDANÇAS”.

Essa é uma parceria com o amigo poeta e músico, baiano de Alagoinhas, Antônio Dean, que há muitos anos reside em Campina Grande da Paraíba com sua família, fazendo sucessos e cantando com sua profunda voz, a cultura nordestina para todo o Brasil.

Conheça o Espaço Cultural “A Estrada”

Com 3.483 itens entre livros (1.099), vinis nacionais e internacionais (481), CDs (284), filmes em DVDs (209), peças artesanais (188) e 106 quadros fotográficos, dentre outros objetos, o “Espaço Cultural a Estrada” que está inserido no blog do mesmo nome tem história e um longo caminho que praticamente começou na década de 1970 quando iniciava minha carreira jornalística como repórter em Salvador.

espaco cultural a estrada (5)

Nos últimos anos o Espaço Cultural vem reunindo amigos artistas e outras personalidades do universo cultural de Vitória da Conquista em encontros colaborativos de saraus de cantorias, recitais poéticos e debates em diversas áreas do conhecimento. Nasceu eclético por iniciativa de um pequeno grupo que resolveu homenagear o vinil e saborear o vinho. Assim pintou o primeiro encontro do “Vinho Vinil” com o cantor e compositor Mano di Sousa, os fotógrafos José Carlos D`Almeida e José Silva entre outros convidados.

CLIQUE AQUI para saber mais sobre o espaço cultural de Jeremias Macário.

CONCLAVE, “CONCHAVOS” E O CONGRESSO

IMAGINE OS BRASILEIROS FECHAREM TODAS AS PORTAS DO CONGRESSO NACIONAL, DAS ASSEMBLEIAS ESTADUAIS E DAS CÂMARAS DE VEREADORES E DEIXAREM ESSES POLÍTICOS LÁ DENTRO TRANCADOS ATÉ QUE DECIDAM LEGISLAR EM BENEFÍCIO DO NOSSO POVO, SEM CORRUPÇÃO E MALFEITOS! SERIA UMA ESPÉCIE DE CONCLAVE POLÍTICO – SUGERIU UM AMIGO.

Essa ideia veio à tona enquanto conversava com um camarada amigo sobre a história do primeiro conclave papal (em latim, cum clavis, literalmente, com chaves), na cidade de Viterbo, na Itália, isto há mais de 700 anos, que levou 1006 dias (dois anos e nove meses) para eleger o Papa Gregório X, quando a população da cidade se irritou com a demora e resolveu trancar os cardeais para agilizar a decisão da escolha do pontificado.

Como eram os habitantes que pagavam (nós também custeamos os poderes) as despesas com alimentos e outros itens, as lideranças fecharam a porta principal do recinto e ficaram com as chaves. Passaram, então, de forma torturante, somente fornecer pão e vinho visando apressar a eleição que parecia não terminar por causa dos conchavos entre eles para indicar um nome.

Estava eu a contar essa passagem histórica quando o amigo espirituoso veio lá com sua ideia estapafúrdia e utópica de se fazer o mesmo com o Congresso Nacional até que os parlamentares tomassem vergonha na cara; reduzissem o número de seus membros; cortassem seus salários, mordomias e verbas de indenização pela metade; eliminassem as emendas; votassem somente projetos de interesse da população; acabassem com os conchavos do “toma lá, dá cá”; e elaborassem uma reforma eleitoral séria e limpa.

Ele sugeriu que os brasileiros, que também sustentam os políticos, fechassem as portas do Congresso, de suas assembleias estaduais e de suas câmaras de vereadores e só fornecessem pão e água (nada de vinho) até que eles atendessem as aspirações do povo. Depois do que aconteceu em Viterbo, o Gregório X aprendeu a lição e estabeleceu regras para o conclave no Concílio de Lyon, em 1274, e outros sucessores introduziram novas regras.

– Cara, em se tratando do Brasil, com um dos Congressos (513 deputados e 81 senadores) mais caros do mundo, onde um parlamentar recebe cerca de três milhões de reais por ano do nosso orçamento, esses cabras não largariam o osso. Eles iam preferir morrer tísicos de fome. A ganância deles não tem tamanho e não medem as consequências – respondi, depois de refletir um pouco sobre a questão.

Um outro sujeito ao lado da mesa do bar que acabara de ouvir o papo “maluco beleza” concordou e ainda acrescentou que eles arranjariam um jeitinho de fugir ou subornar brasileiros traidores para tirarem cópias das chaves e soltar a cambada toda. Pior é a vingança que viria depois – completou.

Raciocinei melhor e retruquei que nessa terra tupiniquim do Pau Brasil ou da Vera Cruz, de 525 anos invadida pelos portugueses degredados e malfeitores, essa proposta do amigo revolucionário não iria para frente e seria até ridículo.

– Ora, por que não, se deu resultado com os cardeais lá na cidade de Viterbo há mais de 700 anos? Acostumados com a fartura de mesas recheadas de produtos caros importados, eles não aguentariam passar fome com pão e água.

– Quando você tirou da sua cabeça essa sugestão esquisita de bêbado, não se tocou que a maioria desses parlamentares não frequenta as sessões. As votações agora são virtuais, lá de suas confortáveis mansões. Além do mais, outros nem vão lá, passam o tempo gazeteando e viajando, com atestados fajutos e comprados -argumentei.

– Outra coisa que você não parou para pensar é que os adeptos das bancadas ruralistas, evangélicas, da bala e até traficantes da pesada iriam para as portas desses legislativos com cartazes pedir o fim do conclave, ou com chaves. Essa coisa ia virar um fuzuê danado, sem falar na polícia que iria baixar a porrada. Enquanto isso, lá dentro era ladrão roubando ladrão, tramando seus conchavos.

– Bem, foi apenas uma ideia que passou pela minha cabeça como forma de acabar com essa ladroeira desse poder legislativo brasileiro que atravanca o desenvolvimento do Brasil, mas aqui a sociedade é toda dividida e uns passam o tempo odiando os outros, ao invés de se unirem.

– Esquece o que falei e vamos tomar nossas geladas, sem traumas, sem conclave, de portas abertas mesmo – finalizou o amigo, meio que sem graça.  Você que veio com esse tal de conclave de cardeais que elegeu um leão XIV.

 

 

 

AS ANTIGAS IMPRESSORAS E UM MUSEU

Aos 14 anos de idade, seu Mário Macedo Soares já era um gráfico em Vitória da Conquista, isso nos anos 70, e até hoje ainda trabalha com algumas impressoras antigas, em contraste com os tempos atuais da evolução tecnológica onde tudo é produzido através de modernos equipamentos, mais ágeis e automatizados. No entanto, a eficiência das gráficas antigas é reconhecida até hoje. Ao longo dos anos, como acontece com o nosso patrimônio histórico arquitetônico, essas preciosas peças, muitas italianas, inglesas e alemãs, flagradas pelas lentes digitais, foram sendo vendidas como sucatas e depois derretidas como ferro velho para siderúrgicas. É como o desmatamento das nossas florestas. Uma pena que pouca coisa foi conservada e hoje é raro encontrar, por exemplo, uma máquina linotipo, que me faz lembrar dos anos 70 quando ingressei na profissão jornalística, primeiro como revisor e depois como repórter e editor. Com a evolução tecnológica, passamos da impressão chamada a quente (linotipos à base do chumbo) para técnica a frio.

MUSEU DA IMPRENSA

Várias vezes comentei com amigos companheiros de profissão e interessados no assunto de preservação da nossa memória, sobre a ideia de fundarmos aqui em Conquista um museu da imprensa, como forma de resgatarmos a história do jornal impresso. Lamentável que essa iniciativa não foi para frente e terminou ficando no imaginário, muito por conta da falta de recursos para adquirir esses maquinários e jornais impressos, bem como de um local adequado para instalação desse museu. Quanto mais o tempo passa, mais fica difícil concretizar esse projeto que, com certeza, seria de grande valia para a cidade, para toda região sudoeste e para a classe jornalística. Cada um de nós tem suas atividades, suas individualidades, seus interesses próprios e um projeto desse porte, que seria um legado para a posteridade, vai ficando de lado, como se não tivesse nenhuma importância. Nem o poder público se mostra interessado em apoiar a criação desse museu.

 

ELA NUNCA TE ESQUECE

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Quando você nasce,

Ela se torna tua companheira,

Você pode até esquecer dela,

Mas ela nunca te esquece,

É tirana traiçoeira,

Te pega até no parto,

Ou num fulminante infarto.

 

Ao levantar, não esquece,

Faz tua prece,

Chama pelo teu guia,

No alvorecer da manhã,

Mantenha tua mente sã,

Antes de seguir tua via,

Não procure desvendar

O sentido da vida,

Porque ela é um mistério,

Como tumba de cemitério,

Uns com curta caminhada,

Outros com longa jornada.

 

Quando ela bater em tua porta,

Abra só a fresta da janela,

E convença ela,

Que pela frente,

Ainda existe mais cancela.

 

Lembra que ela nunca te esquece.

É dona do tempo e do vento,

Conhece teu pensamento,

É como senhora agreste,

Com seus nervos de aço,

Sempre com a mesma veste,

Impiedosa, como o carrasco.

OS TRÊS MAIORES LÍDERES MUNDIAIS

Nem é preciso descrever aqui suas trajetórias de vidas porque eles já são conhecidos da grande maioria populacional, desde o mais analfabeto ao intelectual. Seus exemplos já se eternizaram e ficarão para a posteridade. Se cada um seguir um terço do que eles disseram e fizeram, o mundo será bem melhor e mais humano.

Papa Francisco, Pepe Mojica e Divaldo Franco, dois religiosos e um grande político nos “deixaram” neste mês de maio, vindos do século XX e que tiveram a felicidade de entrar no portal do século XXI, na era da revolução tecnológica, com as mentes abertas e tão evoluídos no saber e no conhecimento, apesar de suas idades avançadas entre os finais dos 80 e dos 90.

Se formos avaliar e refletir, vamos concluir que estas três figuras tiveram a simplicidade, a humildade, a generosidade, a prática do bem-estar social aos outros e a capacidade de perdoar como pontos comuns, não importando a religiosidade. Suas filosofias de vida uniram os três numa única religião.

Seria até enfadonho falar aqui sobre estas três personalidades impares que nos deixaram como legado lições de paz, de tolerância, de respeito às diferenças ideológicas e não alimentar o ódio. Eles não deixaram apenas palavras, mas ações de lideranças que os políticos e governantes deveriam seguir.

O Papa Francisco tudo fez para abrir as portas da Igreja Católica para os desfavorecidos, os excluídos e, em seu pontificado, procurou renovar a instituição, apesar das reações dos conservadores. Ele tornou a Igreja menos arcaica, lutou pela paz, condenou o consumismo voraz, o capitalismo selvagem e denunciou as agressões contra o meio ambiente.

Em toda história minha vida, Pepe Mojica, presidente do Uruguai, com seu fusquinha, como se fosse um funcionário público comum, sem mordomias e com sua honestidade, foi o líder mundial que mais me marcou. Ele se reconheceu um exótico porque nenhum mandatário político agiu como deveria ser. Foi torturado pela ditadura do seu país, mas não guardou rancor. No lugar do ódio, praticou o bem.

Outro que durante sua longa jornada se dedicou a melhorar o ser humano foi Divaldo Franco com suas obras psicografadas (mais de 200) e acolheu crianças e jovens em situação de vulnerabilidade através do Caminho da Mansão num bairro pobre de Salvador.

Os três formaram uma só trindade humana, unidos por uma filosofia humanística, tão carente no mundo de hoje de tantas adversidades, guerras e conflitos. Tiveram a coragem de ser diferentes e mostrar que nem tudo está perdido. Foram as três maiores perdas que tivemos neste século XXI.

SE ENTRAR, NÃO COMA

Quem aqui já entrou num restaurante e pediu para visitar a cozinha antes de fazer sua refeição? É bom lembrar que o cliente, como consumidor, tem esse direito, mas ninguém exerce essa prerrogativa

– Aquele patrão da peste só faz nos explorar como escravo. Trabalho dez horas por dia numa cozinha apertada e suja, num calor horrível de pingar o suor. Faltam panelas, frigideiras e o fogão é acanhado e velho. Só tenho folga para almoçar.

O desabafo é da cozinheira Luzia com sua amiga Maria das Dores numa fila de ponto de ônibus que passou superlotado e nem parou. Elas moram no mesmo bairro, numa periferia e tem muitas coisas em comum, como trabalhar duro para criar os filhos que seus maridos são imprestáveis.

– Sei como é amiga, fui babá de um menino “capeta”, cheio dos gostos de uns grã-finos e comi o pão que o diabo amassou nas mãos deles. Agora estou sendo cuidadora de um idoso que sofre numa cadeira de rodas. Os filhos são ingratos e nem ligam para ele – disse “Das Dores”.

– Olha o nosso “buzú”, depois de uma hora de espera e lotado. Vamos penduradas nesse mesmo, no esfrega-esfrega dos tarados fazendo “terra” em nosso corpo, com caras de insolentes – falou Luzia para sua amiga.

Um ônibus que carrega gente é um laboratório de queixas e de pessoas esquisitas, uns até alegres e falantes que levam a vida numa boa, outros calados, roendo seus sofrimentos e mágoas. Os jovens modernos de hoje fingem que dormem e não dão mais assentos para os mais idosos.

É isso aí, mas nosso assunto mesmo é sobre as cozinhas de restaurantes e hotéis populares a médios, se bem que os mais sofisticados apresentam os mesmos problemas. Só têm fachadas de limpos. As cozinhas de hotéis ainda são piores e o trabalho é estafante.

A maioria deles é aquela sujeira e os cozinheiros (ras), lavadores de pratos (os plongeurs em francês), garçons e os que exercem outras funções auxiliares trabalham diariamente sobre pressão e vivem estressados para ganhar um salário mínimo ou pouco mais que isso, muitos até sem carteira assinada.

– Minha amiga, aquilo ali é um inferno e acontecem coisas horríveis, especialmente em termos de higiene. A geladeira é uma velha enferrujada, a fiação elétrica é solta e antiga, usam até alimentos enlatados vencidos.  Na parte de verduras, o dono, um careca gordo, pega os legumes numa xepa de feira livre – ia conversando Luzia com sua amiga de lutas para passar o tempo.

– O lavador de pratos é um bruto cavalo que xinga o dia todo e briga com todo mundo. Só sabe reclamar da vida. Às vezes chega bêbado e entorna o caldo. Fala palavrões e um dia até me chamou de gorda vagabunda.

Certa vez enxaguou o pano de prato numa sopa, para se vingar do patrão. Tem vez que deixa as louças gordurentas para lavar no outro dia. A gente convive com ratos e baratas. Ele consegue roubar comida dentro das calças e assim passa na revista.

“Das Dores” ia ouvindo tudo entre uma “arrumação de freio” e outra do motorista, também esgotado de tanto trabalhar e ouvir desaforos de passageiros, sem contar os assaltos sofridos com armas em sua cabeça.

Ela também contava suas lamentações e até se compadecia do sofrimento do velho, esquecido pelos filhos que só pensam em ganhar dinheiro, na ganância do ter e nem pensam na velhice do amanhã.

– Alguns aparecem lá no final de semana, mas demoram pouco tempo. O mundo hoje está virado, minha amiga! Antes os filhos zelavam de seus pais até o final da vida. Atualmente tratam como molambos. Coisa é quando têm bens para herdar, aí as brigas viram cenários de inferno e ocorre até mortes.

A grande maioria desses restaurantes da capital e cidades médias a grandes, como Vitória da Conquista, apresentam as mesmas cenas de horror, e a coisa engrossa em épocas de temporadas turísticas e festas de carnaval, caso de Salvador. O trabalhador (ora) é explorado, com jornadas estressantes e desumanas. Os clientes comem gato por lebre.

– Estou nessa amiga há mais de um ano porque não tem outro jeito. Sinto dores pelo corpo todo, falta de ar e pulmão poluído. Muitas vezes nem tenho vontade de comer quando vejo aquele piso nojento cheio de restos de alimentos – se queixava Luzia, enquanto chegava em casa morta de cansada e ainda com um monte de coisas para arrumar.

Alguém deve estar indagando sobre a fiscalização sanitária e trabalhista. Esquece isso no Brasil porque tudo não passa de um arremedo, do faz de conta que o sistema funciona. São poucos os fiscais e ainda existem muitos que aceitam aquele suborno e fazem vistas grossas.

Que se lasquem o trabalhador e o consumidor! Fim de papo, meu amigo e amiga. O restante da conversa é só você fazer suas deduções e tirar suas conclusões. O sistema é bruto e cruel. Quase ninguém se importa mesmo. Ninguém se interessa em ver como funciona uma cozinha. O negócio é comer e tomar umas, comemorar! O resto é papo furado.

 

ASSISTENCIALISMO “ENXUGA GELO”

Dia desse ouvi a entrevista de uma mulher rebatendo a crítica de que o assistencialismo praticado no Brasil através das doações de cestas básicas, bolsas famílias e outros programas semelhantes, não é uma ação de “enxuga gelo”, como muitos têm avaliado. Em sua concepção, dignifica e muda o ser humano.

Que me perdoem aqueles que concordam com a senhora, mas esse tipo de “caridade”, que já é secular no Brasil, sem priorizar acima de tudo a educação, só alimenta o comodismo, a alienação e não faz a pessoa mudar de nível econômico e social. Não basta somente matar a fome e encher a barriga se o beneficiário permanece na mesma pobreza e não progride.

De um modo geral, os cidadãos que dependem da ajuda assistencialista dos governantes não são incentivados e estimulados a saírem daquela dependência, e essa política eleitoreira não oferece outros meios para a família viver por sua própria conta, o que seria sim, dar dignidade humana.

Por outro lado, a grande maioria, por ignorância e falta de educação, termina se anulando e acha que sua vida não tem mais perspectiva de crescimento. Outros se servem das doações como se fossem drogas por saberem que sempre terão suas dosagens certas, resolvendo viver assim.

Esses programas sociais do governo, inclusive de cotas, sempre foram vistos como de linha progressista de esquerda, e quem não concorda com isso, é duramente criticado como direitista. O maior paradoxo nisso tudo é que políticos de direita também passaram a adotar esse esquema em seus governos e, nem por isso, são considerados como esquerdistas.

Vou apenas citar um exemplo que ocorre em Vitória da Conquista onde a prefeita Sheila Lemos, filiada a um partido de direita, o União Brasil, tem o assistencialismo como uma de suas prioridades de governo, seguindo o caminho da sua mãe quando foi vereadora e vice-prefeita.

Existe em Conquista um abrigo com capacidade para 30 pessoas entre mulheres e homens, que acolhe moradores de rua e andarilhos de passagem pela cidade. Além da dormida, oferece café da manhã, jantar e lanche à noite. Existe uma regra onde a pessoa pode utilizar o local por 30 dias e mais outro período igual após 30 dias fora.

Uma boa parte desses abrigados recebe o dinheiro do Bolsa Família do governo federal e gasta todo em bebidas, jogos e até em festas. Tem gente (não são todos) que pega até empréstimo consignado para esses gastos, inclusive para comprar drogas.

Pelo acolhimento que têm, muitos chegam a dizer que o abrigo de Conquista é o melhor do Brasil. Além desse estabelecimento, existe outro que serve almoço e outros serviços ao desabrigado, sem contar a Casa do Andarilho que recebe recursos administrativos do poder público.

Nem chame uma pessoa dessa para trabalhar que ela não aceita. Esse tipo de política assistencialista – a não ser que tenha outro nome – dignifica e muda o ser humano? Esse pessoal que chega aqui roda o Brasil todo e muitos reaparecem tempos depois na mesma situação de pobreza e miséria.

Não dá para entender essa política (são gastos milhões e até bilhões de reais por ano) quando a educação e a saúde vivem com um cobertor curto e limitado para dar mais aprendizado e atendimento médico. Nem é preciso falar da situação precária das unidades de saúde e das escolas, não somente em Vitória da Conquista, porque todos conhecem muito bem.

 

O LEÃO POBRE E O IMPERIAL REI

Histerias, gritos, choros, pulos, exaltações, delírios e correrias nas ruas de Roma e na Praça do Vaticano, numa profusão de emoções, todos como súditos fiéis misturados em nacionalidades diferentes para verem o novo Papa Leão XIV, cujo nome simboliza rei e poder.

Os termos e as imagens televisivas nos dão a impressão de que entramos no túnel do tempo da idade média imperial dos reis que apareciam da sacada de seus palácios para saudar seus plebeus e por eles ser idolatrado como um enviado de Deus.

As pessoas ficam tão empolgadas, muitas por ignorância e outras por viverem numa época tão conturbada, desumana e sem esperanças, que acham que o novo papa vai acabar com as guerras, com a violência e os conflitos humanos.

Em muitas civilizações, todos faziam reverências e se ajoelhavam diante da sua majestade “divina”. Não foi o caso, mas só faltou esse gesto da multidão eufórica durante os três atos da fumaça branca, do habemus papam e da aparição do escolhido (Pai, Filho e Espirito Santo) pelo conclave (sem chaves) dos velhos cardeais.

Após ser indicado, o cardeal decano indaga “quo nomine vis vocari”? Robert Francis Prevost respondeu Leão XIV, em admiração ou vontade de ruptura com o seu predecessor Leão XIII, agostiniano que esteve à frente da Igreja Católica por 25 anos, entre 1878 a 1903.

O nome Leão, que em latim significa Leo e em italiano Leone, compreende rei, poder e aquele que governa sobre os outros. Na Bíblia, Leão de Judá seria o Messias Salvador que unificaria todas as nações. Leão I, o Grande, governou nos anos 440 a 461. Ele foi um defensor das doutrinas cristãs durante as invasões bárbaras e teve um encontro com Átila, o Huno, e convenceu o líder tirano a poupar Roma.

O Leão XIII, o italiano Vicenzo Giocchiino Rffaele Luig, para quem ainda não sabe, apoiou o fim da escravidão no Brasil e tinha um forte compromisso com os desafios do mundo moderno pós revolução industrial. Morreu com 93 anos e foi o segundo mais velho da história papal. Seu reinado foi o quarto mais longevo.

Conta que Leão XIII certa feita foi acometido de visões de espíritos demoníacos do satanás, reunidos sobre Roma que prometiam destruir a Igreja e levar o mundo ao inferno. Esses espíritos teriam desafiado Deus a recuar por 100 anos. Foi então que Leão XIII criou a oração de São Miguel Arcanjo para espantar os demônios. Dizem que essa oração defende as almas das forças malignas.

O nosso Leão XIV pertence à Ordem de Santo Agostinho, um grande filósofo e teólogo da Igreja que nasceu em Togasto, na Argélia, em 354 e morreu em 430. Santo Agostinho é padroeiro dos cervejeiros, impressores e teólogos. Foi doutor da Igreja pelo Papa Bonifácio VIII, em 1298. Durante sua vida monástica, escreveu “Confissões”, “A Cidade de Deus”, dentre outras obras doutrinárias. Seu dia é comemorado em 28 de agosto.

Essa Ordem foi criada em 1244 pelo Papa Inocêncio IV (1195-1254). Eram frades medicantes que fizeram votos de pobreza e sobreviviam de doações. A Ordem segue a linha de pensamento de Santo Agostinho e se dedica às orações e aos estudos. Ela está presente em 50 países e conta com cerca de dois mil religiosos.

Bem, o novo papa começou seu discurso, em sua primeira homilia, defendendo uma Igreja aberta para os pobres e trabalhadores, contra as injustiças sociais e rogando pela paz no mundo.  Nos tempos modernos de hoje, essas posições, além da defesa do meio ambiente, não mais bastam para caracterizá-lo como um progressista.

Com esses pontos de vista e pelo seu perfil, o Leão XIV deverá prosseguir na caminhada do Papa Francisco, mas, no sentido interno dos dogmas da Igreja, entendo que será um moderado, mais de viés conservador e até linha dura em determinadas questões no que se refere a mulher e aos grupos LGBTS.

Não devemos esperar muito do Papa Leão XIV quanto a uma maior abertura e diálogo da Igreja com esses gêneros nos quesitos casamento gay e até na elevação feminina ao sacerdócio, como vinha ensaiando o Papa Francisco, mesmo sofrendo resistência dos conservadores. Será um papa fechado nessas relações mais complexas onde a Igreja ainda permanece arcaica e distante das mudanças do mundo atual.

A MOÇA DA LOJA DE DISCOS

(Chico Ribeiro Neto)

Atendimento em Salvador é uma barra, seja em restaurante, bar, armarinho, shopping, barraca de praia, pizzaria ou açougue. “O pessoal pensa que tá fazendo favor em atender a gente” – comungo dessa opinião juntamente com milhares de pessoas que moram em Salvador, sejam baianos ou não.

Se é no supermercado, você já está cansado na fila e, quando chega a sua hora, a mulher do caixa para pra bater papo com a colega vizinha e você fica ainda mais aporrinhado porque vai ter que, você mesmo, empacotar suas compras nuns saquinhos que cada vez rasgam mais facilmente.

Se é no banco, dos 12 caixas existentes, somente quatro estão funcionando. Se é numa repartição onde você procura resolver um problema, tem quatro mulheres conversando e uma diz: “Aguarde aí por favor, viu, meu senhor, que o encarregado já vem”.

Saber vender é uma arte. Quantas vezes, quando você é bem atendido, entra numa loja pra comprar um sapato e acaba levando uma calça também, graças à boa vontade e ao interesse de servir do vendedor? Quem já conheceu outras capitais sabe que Salvador é um dos piores lugares do Brasil em matéria de atendimento.

Você chega numa lanchonete e pede um sanduíche de queijo. O sujeito diz que não tem queijo, você pede de presunto e ele diz que só sai pão com ovo. Aí você se conforma com o pão com ovo mesmo e pede um suco de laranja, que não tem. Abacaxi também não, nem mamão com leite. “Só sai de melão”, diz o vendedor cujo guarda-pó não tem mais um botão.

Foi por tudo isso que fiquei surpreso ao ver uma vendedora numa loja de discos do Shopping Iguatemi. Ela dançava o tempo todo enquanto atendia às pessoas. E cantava também. Demorei alguns minutos na loja mexendo nuns discos enquanto observava aquela morena magra cujo salário não deve ser lá grande coisa, mas o prazer no trabalho morava naquela moça. Era realmente encantador vê-la ali, colocando discos ou separando fitas, sem parar de dançar e também cantando, pois a feliz rotina já lhe ensinou todas as letras das músicas.

Ela me lembrou a história que um amigo do meu pai contava antigamente. Na Cidade Baixa, no Comércio, havia sempre muita gente pra lanchar por volta das 10 horas. Numa pequena lanchonete, quatro empregados trabalhavam espremidos, mas atendiam a todos com uma presteza incrível. Sobre o balcão ficava uma caixa de sapatos para quem quisesse colocar gorjeta. Os empregados estavam no liquidificador, cortando queijo ou pegando uma coxinha, mas sempre de olho na caixa; quando um deles via alguém depositando uma gorjeta gritava em cima: “Caixinha pingou”, e os outros três respondiam na ponta da língua: “Obrigado sinhô”. Tempos de um bom atendimento.

(Crônica publicada no jornal A Tarde em 29/7/1992)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A

CENAS DAS SECAS

Em minha carreira de cobertura jornalística, muitos fatos me marcaram, mas as cenas das secas por esse sertão sofrido do homem do campo foram as que mais me sensibilizaram. Vez ou outra costumo dar uma espiada em meu computador e lá estão as matérias e as fotografias que me fazem reavivar as lembranças dos tempos em que comia poeira por esse agreste ao lado do meu companheiro repórter fotográfico José Silva. Recordo dessa foto registrada pelas minhas lentes por aquelas bandas da região de Jânio Quadros em plena sequidão de um sol inclemente que castigava as plantações e deixava os tanques e barreiros sem água para o consumo humano e dos animais que lambiam o tacho de lama. Era triste e, ao mesmo tempo, agradável conversar com o sertanejo simples e forte que nunca perdia a fé e as esperanças. A nossa missão era retratar a realidade e mostrar aos governantes a situação de penúria do lavrador que passava um tempo plantando e colhendo e outro a olhar para os céus e rogar a Deus pelo socorro. Lembro muito tempo dos carros-pipas cortando as estradas poeirentas (ainda perduram) que eram e ainda são utilizados como política eleitoreira. Quase nada mudou depois de mais de 20 anos para cá. Apertava nas tintas para dar voz ao clamor do sertanejo quando batiam as estiagens que deixavam feridas abertas no chão.

A TARDE FRIA

Poema de Fernanda Quadros, extraído do livro “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano”, coletânea organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.

Tardes arrastadas de ausência

Horas que teimam em não passar

Apertando a saudade

No peito frio.

 

Respiro

Olho a janela

O movimento do tempo.

 

Correndo a desbotar as cores

A espera da noite

Escura,

Trazendo você.

 





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