:: 18/abr/2024 . 23:57
UNIÃO APOSTA NA FOLIA
Carlos Albán González – jornalista
O diretório estadual do União Brasil acredita que manter o eleitor sacudindo os braços no meio de uma multidão, diante de um palco, ouvindo música de má qualidade, irá certamente favorecer seus candidatos a prefeitos e vereadores nas eleições municipais deste ano. Não importa se as necessidades básicas da comunidade, como saúde e educação – menciono apenas duas – sejam colocadas de lado.
Principal aliado do PL de Jair Bolsonaro, o União Brasil emplacou três ministros no governo Lula (Turismo – Celso Sabino; Comunicações – Juscelino Filho; e Integração e Desenvolvimento Regional – Waldez Góes). Enquanto o morador do Alvorada dorme, os bolsonaristas unidos trabalham dentro e fora do Congresso para minar o Executivo.
Afilhado de ACM Neto, Bruno Reis está praticamente eleito para mais quatro anos à frente da Prefeitura de Salvador. Com 40 pontos de vantagem sobre Geraldo Júnior (MDB), candidato lançado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), somente uma “zebra” desmentirá as pesquisas.
“Salvador é a capital da folia”, frase dita objetivamente como condenatória pelos brasileiros do Sul e Sudeste do País, que, no entanto, sonham em vir conhecer o modo de ser do baiano carnavalesco. Bruno, com sagacidade, soube muito bem se aproveitar dessa “falta do que fazer” de uma grande parcela da população para criar um calendário de festivais musicais, para deleite dos empresários e artistas da folia.
Aluna bastante interessada em aprender os truques da política nesses três anos em que governou Vitória da Conquista, Sheila Lemos trocou os métodos inflexíveis do bolsonarista e evangélico Herzem Gusmão, pela argúcia de ACM Neto, cujo objetivo este ano é eleger os prefeitos dos municípios com mais de 200 mil habitantes, mas já idealizando governar o Estado a partir de 1º de janeiro de 2027.
Sheila é uma das peças no tabuleiro de xadrez do Neto. A ordem veio de Salvador: dê circo a esse povo, que nos finais de semana não tem lazer, nem cultura e nem esportes; não tem um sítio com piscina, e nem dinheiro para viajar até as praias de Ilhéus e Porto Seguro.
Sexta-feira (19) e sábado (20), na área externa do Shopping Boulevard, 18 mil foliões vão participar da Miconquista. Os ingressos foram trocados por dois quilos de alimentos. As atrações anunciadas: Ivete Sangalo, Bell Marques, Jau, Timbalada e outras; Safadão e Kannalha devem aparecer. O aedes aegypti mandou fazer a fantasia. A Prefeitura só não explicou quem vai pagar o cachê, as passagens aéreas, hospedagem e alimentação da comitiva carnavalesca, que deve reunir uns 80 integrantes.
Desperta, oposição! Exiga transparência. Imprensa, investigue! No momento, Conquista está na liderança dos municípios da Bahia com maior número de óbitos e de pessoas contaminadas pelo mosquito da dengue. As unidades de Saúde estão superlotadas, principalmente de moradores da zona rural e distritos. Muitos deles, depois de uma longa espera, são mandados para casa.
O Sudoeste Digital denunciou que a Secretaria Municipal de Saúde está maquiando os números da doença, “informando uma suposta redução dos casos, quando a situação é inversa”. O descaso com a saúde da população mais pobre ficou evidente na recente visita da ministra da Saúde Nísia Trindade a Conquista. A prefeita não foi ao seu encontro, mesmo sabendo que a ministra veio trazer recursos e ambulâncias para o município. A descortesia se prende ao fato de a alcaide ter ojeriza ao presidente Lula e aos seus assessores.
Os festejos juninos estão chegando. Prefeitos baianos, em clima de eleições, começaram a utilizar recursos da saúde e educação em contratações milionárias com cantores de axé, funk, sertanejo. Resumindo: lixo musical. O Tribunal de Contas dos Municípios deve ficar atento para os gastos.
UM CONHAQUE PRA FALAR DE AMOR
(Chico Ribeiro Neto)
“Já beijou na boca? Tem gosto de quê?”, perguntava o Caderno de Confidências aos adolescentes da década de 60.
É igual a ver o céu. A primeira namorada é uma sucessão de risos, emoções, sustos e sobressaltos. O coração bate forte, as pernas tremem, será que é verdade? Peguei na mão dela, subiu um arrepio no corpo todo.
Na hora do primeiro beijo a gente treme todo. Tinha um negócio de fechar o olho que eu nunca entendi bem.
Tinha uma zorra de uma técnica de onde botar a língua. Uma vez eu engasguei e comecei a tossir. Uma amiga me contou que treinava o movimento da língua num copo com gelo.
Aí estava consolidado. Beijou na boca já é namorado. E a rua inteira começava a falar: “Sabe da última?”.
Tinha um negócio de falar pra namorar: “Sabe, a gente já é amigo, mas eu sinto falta de algo mais próximo, entende?”. Aí você ouve um “talvez” que tem todo o sabor de um “Não”. Ou então ouve o terrível “vou pensar”, que de certo modo também tem cara de “não”, mas é melhor do que o “talvez”.
Tenho um primo que paquerava uma moça que ficava na janela. Ela correspondia aos olhares, mas cadê coragem pra falar? Um dia ele tomou um conhaque, foi lá e pediu para ela descer até a porta. Quando ela chegou na porta, começou a chover. Ele deu graças a Deus e foi embora. No dia seguinte dois conhaques resolveram o problema.
Lembro Carlos Drummond de Andrade:
“Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.” (Última estrofe de Poema de Sete Faces).
Nada mais humilhante do que sentir uma dor de barriga, daquelas brabas, na casa da namorada. É coisa pra terminar o namoro tal a vergonha que a gente passa.
No meu tempo de adolescente, década de 60, uma boa forma de começar um namoro era chamar a pretendida para ir ao cinema. Apagou a luz, acendem-se os beijos. A mão escorregava lentamente pelos ombros dela e, quando chegava perto do peito, era imediatamente afastada. Nem sempre…
Tava na hora de trocar as fotos com ela. Foto minha nenhuma prestava. Eu estava de calça curta em todas. Lembro que minha primeira calça comprida demorou pra lavar, pois eu não tirava pra nada. Só lavou depois de muita insistência de minha mãe Cleonice.
“O primeiro amor não fala… quase que não olha: suspira e treme; mas nessa linguagem muda diz muito… diz tudo” (Joaquim Manuel de Macedo).
Primeiro amor, primeiro beijo. Sabor de chiclete, calor do cinema, a gente pegando fogo, e a vida seria outra a partir daquele dia.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
OS TERRENOS E A DENGUE
Não acredito muito nessa de que a maior parte do mosquito da dengue esteja alojada nas casas de Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia com maior índice da doença e de mortes. Não tenho dados científicos que comprovem, mas entendo que grande parte das pessoas é picada pelo mosquito nas ruas onde o bicho mais encontra moradia. A maior parte está nos terrenos abandonados, como este localizado na rua Veríssimo Ferraz de Melo (Rua “G”), no Bairro Felícia, com um matagal de capim de quase dois metros de altura. Só nesta rua, num espaço de 50 metros, existe mais outro na esquina da Avenida Felícia. Além dos terrenos abandonados que se tornaram lixeiras em toda cidade, existem ainda os esgotos abertos, o empoçamento de águas nas ruas de chão e locais de oficinas velhas que viraram sucatas de peças de veículos. É a partir desse quadro de sujeiras que afirmo que o maior culpado por essa epidemia em Conquista é o poder público que não fiscaliza e não faz cumprir a lei que exige que os proprietários de terrenos cuidem de seus imóveis, mantendo-os limpos, cercados ou murados. Essa imagem clicada pela nossa máquina é apenas um exemplo entre centenas e até milhares de terrenos nesse estado lamentável em nossa cidade, onde são criadouros de mosquitos de todas as espécies, insetos, ratos e cobras. Sem uma operação de limpeza geral desses terrenos, desentupimento e consertos dos esgotos em conjunto com a Embasa e pavimento das ruas esburacadas que viram lamaçais com as chuvas, não adianta carros fumacês. O poder público (município, estado e União) estão gastando milhões com a saúde, recursos que deveriam ser evitados se antes tivesse tomado essas providências. É uma vergonha Conquista ocupar o topo dessa epidemia na Bahia.
MESTRES DA FLORESTA
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Em nossa escolástica,
Lá no Gabão,
No ventre da mãe África,
Moram os espíritos ancestrais,
Dos curandeiros pigmeus,
Mestres da floresta,
Alma da flora e dos animais.
Eles são os mestres,
Dentro deles está a floresta,
Princípio da energia e magia,
Primitiva, alta e densa,
Com seus mitos e crença,
De diferentes sons e tons,
Sombras do dia,
Da noite, o breu,
Luz para o pigmeu.
Eles são os mestres,
Pigmeus da floresta,
Pais da raiz iboga,
No ritual da iniciação,
Da lenda odzaboga,
Na onírica viagem
Da filosófica alucinação.
Eles são os mestres,
Pigmeus da floresta,
Dos tambores musicais,
Artistas da pintura e da escultura,
Reis dos magos alados,
Das tribos fangs desprezados.
Eles são os mestres,
Pigmeus da floresta,
O pequeno povo coragem,
Que seus mortos, não enterra,
Para não poluir a terra,
Do banto fez a passagem,
Na fonte da cura espiritual,
Que arranca todo mal.
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