abril 2024
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930  

:: 5/abr/2024 . 22:52

“A MÁSCARA DA ÁFRICA” VI

Em “Filhos da Antiga Floresta”, do livro “A Máscara da África, o autor V. S. Naipaul fala da sua visita ao Gabão (2008/09), a terra dos pigmeus, os mestres da floresta, e abre com a frase do advogado e acadêmico Guy Rossatanga-Rignault (ancestralidade mestiça) de que “as religiões novas, o islã e o cristianismo, ficam apenas na superfície. Dentro de nós está a floresta”.

O escritor destaca que os colonizadores franceses, que tomaram o território nos anos 1840, não foram ávidos. Trinta anos depois chegaram a enviar um navio para retirar seu pessoal. “Os missionários, no entanto, se recusaram a sair, e a colônia sobreviveu. O tráfego fluvial se desenvolveu”.

Com o estabelecimento da colônia, começou o corte, a derrubada da floresta primária. Licenças de trinta anos foram concedidas a chineses, malaios e japoneses. Eles são mais impiedosos e, ao cabo das licenças, “ haverá trechos de deserto no que antes foi floresta”.

Mesmo com as áreas desmatadas, segundo o escritor Naipaul, as florestas do Gabão ainda são uma das visões mais deslumbrantes do mundo. Ele conta a história de Rossatanga que nasceu na cidade e ainda criança sua mãe o levou para aprender os segredos da floresta. Para o filho, ainda jovem, a floresta era assustadora.

Na floresta, diz Naipaul, a noite cai muito depressa. A escuridão é densa. “Para entender a visão do povo do Gabão, é preciso entender a floresta”.

Rossatanga descreve que quando a escuridão chega à floresta, não existe som algum. Mas à noite há diferentes sons ou barulhos vindos dos animais caçando. “A noite e os barulhos configuram nossa mentalidade, porque as pessoas estão ligadas a tudo na floresta. O trovão não é só o trovão, como para vocês. É a voz de Deus: tente entender isso”…

Apesar de bons engenheiros, os franceses nunca construíram estradas no Gabão. A primeira ferrovia foi construída em 1981 pelo Gabão independente, mesmo contra as recomendações do Banco Mundial.

Em seu diálogo com Rossatanga sobre a floresta (para ele um muro), o escritor indaga sobre de que modo isso afetava sua crença. Rossatanga responde que “nós sentimos que tudo tem vida, inclusive as árvores. Existe uma árvore mística, uma árvore vermelha. Quando vamos à floresta, conversamos com ela e lhe contamos nossos problemas”.

Todos no Gabão acreditam na floresta e no princípio da energia que a floresta ilustra. Para Rossatanga, cada coisa viva é energia. Se alguém morre na família, sabermos que alguém pegou a energia dele”…

“Você mata é pega a energia. Também vamos ao curandeiro para tomar a energia de alguém. É por isso que, às vezes, as pessoas sentem que têm de fazer um sacrifício ritual. Somos uma sociedade matrilinear”  Nossa conversa sobre o Gabão prossegue no próximo capítulo.

 





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia