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:: 12/abr/2024 . 23:03

AS DESIGUALDADES NO FUTEBOL BRASILEIRO

Carlos González – jornalista

Pouco mais de 1.000 jogadores profissionais, vinculados a 27 clubes, comemoraram esta semana o título de campeões em seus estados. Uma conquista que, no passado, tinha um enorme valor, mas que ultimamente vem sendo esvaziada pela própria CBF, que impõe às federações filiadas um calendário anual prejudicial à maioria dos clubes, que permanecem sem atividades durante nove meses do ano. Distantes das festas e das gratificações, estão desempregados, a partir deste mês, cerca de 9.000 mil atletas. Alguns deles vão ser chamados para vestir a camisa dos 88 times que disputarão as séries “C” e “D” do Brasileirão. A maioria vai esperar janeiro chegar.

Vamos tomar como exemplo o futebol baiano. O Bahia está com a agenda cheia até o fim do ano, participando da Copa do Nordeste, da Copa do Brasil e do Brasileirão da série “A”; o Vitória se resume à disputa do grupo de elite do  Nacional; Juazeirense, Jacuipense e Itabuna iniciam este mês uma dura prova, a quarta divisão do Campeonato Brasileiro, utilizando a malha rodoviária para cruzar o país.

Com receio de um prejuízo financeiro, a direção do Itabuna pensou em abrir mão da vaga. O socorro virá através do governo do Estado, cedendo o Estádio de Pituaçu para os treinos e partidas. O Vitória garantiu o empréstimo de 16 jogadores da equipe sub-20. Assim, o Itabuna, que estava mandando seus jogos em Ilhéus, passará a residir temporariamente em Salvador.

Barcelona de Ilhéus, Jequié, Jacobina e Atlético de Alagoinhas (bicampeão estadual – 2021 e 2022) colocaram seus atletas na rua, com a promessa de voltarem a treinar em janeiro de 2025; Bahia de Feira de Santana, campeão baiano de 2011, caiu para a 2ª divisão e não tem previsão de quando tornará a pisar num gramado. Uma dura realidade que será compartilhada com o Santa Cruz, o mais popular clube pernambucano, cujo estádio, o Arrudão, deverá ir a leilão, por imposição dos credores.

Segundo o calendário da FBF (Federação Baiana de Futebol), o Campeonato Baiano da série “B” será jogado entre os dias 9 de junho e 11 de agosto. Até o momento não há um planejamento. Entre os dez clubes com vaga assegurada somente Vitória da Conquista, Galícia, Fluminense de Feira e Colo-Colo prometeram se inscrever.

O Estádio Lomanto Júnior está fechado para jogos entre equipes profissionais desde 9 de julho do ano passado, quando o Vitória da Conquista encerrou sua apática participação no Baianão, derrotando o Jequié, por 2 a 0. Pelo tempo sem uso, o gramado deve estar um tapete (fala aí, prefeita Sheila Lemos e secretário Eugênio Avelino).

Para voltar à elite do futebol baiano, o Vitória da Conquista promove no momento pela internet a venda do seu novo uniforme por R$125. O passo inicial é pagar a taxa de inscrição de R$ 8 mil, instituída pela FBF. A peregrinação habitual à prefeitura para pedir ajuda – em troca, os “cartolas” ouviam promessas – ainda não foi agendada. O momento é ideal para estender o chapéu. O ano é eleitoral e a Sheila está empenhadíssima em se manter no cargo. Procura o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. Antes de ser torcedor do Vitória, Nadinho é conquistense.

Nesses últimos meses de recesso, o presidente Ederlane Amorim cuidou das divisões de base do Vitória da Conquista. O time sub 20 participou nos últimos três anos da Copa São Paulo de Futebol Júnior, o mais importante torneio da categoria realizado no Brasil. O dirigente não esconde seu entusiasmo quando revela que o clube alviverde obteve o Certificado da Lei de Incentivo ao Esporte.

O programa do Ministério da Educação permite que doações feitas por pessoas físicas ou jurídicas a clubes que dão suporte às divisões de base sejam deduzidas do Imposto de Renda. Esses recursos são destinados exclusivamente à formação esportiva de jovens entre 13 e 20 anos.

Êxodo

“Vivemos uma terça-feira de fábula, deixando em êxtase os apaixonados pelo futebol”, escreveu o jornalista Juca Kfouri, após assistir esta semana ao jogo entre Real Madrid e Manchester City pela Champions. Futebol sem violência (apenas 18 faltas), sem simulações de faltas e sem a irritante “cera”. No feminino sucede o mesmo. Façam uma análise técnica da Seleção da Espanha, campeã do mundo, ou do Barcelona.

Quando as nossas equipes atingirão esse degrau? Se você não tiver bons atores não vai poder encenar um “Hamlet”, de William Shakespeare. Se você não dispõe de jogadores de excelente nível técnico não há condições de armar um time com as virtudes do Manchester City, carrasco do Fluminense na final do Mundial de Clubes.

Dentro de três meses o atacante Endrick estará se apresentando ao Real Madrid. Vai se juntar a outros brasileiros, Rodrigo e Vini Jr, que já brilham no clube madrilenho. Segundo a CBF, quase dois mil jogadores brasileiros estão atuando no exterior. Alguns foram negociados por milhões de euros; outros se aventuraram, como o sergipano Diego Costa, que deixou Lagarto em 2006 para jogar na Espanha, onde adquiriu a cidadania espanhola e vestiu a camisa da “Fúria”.

Diego Costa regressou ao Brasil e hoje defende o Grêmio, recebendo um salário acima de R$1,5 mi. Com 35 anos está incluído entre os 20% de jogadores que ganham acima de R$ 200 mil. Ainda segundo a CBF, mais de 50% dos atletas cadastrados recebem um salário mínimo. Muitos contratos feitos com os clubes são temporários, vigendo de janeiro a abril, período de disputa dos campeonatos regionais.

Houve uma época em que um Bahia x Vitória no velho Estádio Octávio Mangabeira, com a presença de tricolores e rubro-negros, registrava um público de 90 mil pessoas. Domingo passado, na final do Campeonato Baiano, a Arena Fonte Nova recebeu 48,5 mil tricolores, que deixaram nas bilheterias a soma de R$ 1,7 mi. A média de público em 51 jogos foi de apenas 7.002, sexta posição entre os principais torneios regionais do Brasil.

 

 

“A MÁSCARA DA ÁFRICA” VII

Ainda em sua viagem ao Gabão, pelos idos de 2008/09, a terra dos mestres da floresta, os pigmeus, V. S. Naipaul observou que “qualquer que fosse a religião formal professada pela família (cristã, no caso) havia aqueles antigos costumes africanos que tinham de ser honrados e que eram talvez mais prementes do que a fé exterior formal”.

Ele conversou com seu amigo Rossatanga-Rignault que contou a história dos quatros macacos sentados num cemitério com faixas vermelhas nas testas. “ O vermelho é uma cor muito poderosa do Gabão. Estavam perdidos e, por fim, encontraram o caminho de volta para a aldeia.

Por falar em aldeia, Rossatanga diz que, levado pela sua mãe, quis fugir dela. Lembra que, quando chegaram lá, um homem lhes disse que não jogassem lixo, nem qualquer outro elemento poluente, no córrego que passava pela aldeia. Um espírito ou gênio vivia ali e não gostava que o córrego ficasse sujo. Um americano afirmou que aquilo era magia negra e, para provar sua tese, cuspiu no córrego.

Rossatanga narrou para Naipaul que dez minutos depois não havia mais água ali, e o povo gritou e protestou. A aldeia ficou em pé de guerra. “Tivemos que fazer um monte de coisas por meio do curandeiro local para aplacar o gênio do espírito”. Assinala que “gastamos muito dinheiro e, depois de várias cerimônias e rituais, a água voltou depressa”.

Rossatanga se tornara um crente na magia da floresta e, como outros crentes, tinha diversas histórias para provar sua tese. Ele descreve outra passagem sobre uma ponte que tinham que fazer no rio e que a comunidade alertou para que os engenheiros pedissem permissão ao gênio.

Os engenheiros holandeses apenas riram daquilo. “Todos os dias morria um operário na obra. As pessoas ficaram muito assustadas e até mesmo os engenheiros acharam que deviam suspender o trabalho. Disseram que iam trazer um exorcista junto com o curandeiro local para aplacar o gênio. Executaram diversos rituais e, finalmente, tiveram licença para construir a ponte”.

“Acredito que esses espíritos da floresta estão ligados à psique do nosso povo, mesmo das pessoas que vivem na cidade. Essa é uma razão pela qual as igrejas evangélicas americanas tiveram tanto sucesso aqui. Elas também invocam o espírito do Senhor para remover o mal. É parecido com o que fazemos quando vamos ao curandeiro para remover o mal. O princípio é o mesmo. O ponto comum é o espírito”- comentou Rossatanga.

Para ele, não se trata de uma religião, mas de uma crença. Em sua comparação, a crença da floresta, o mundo orgânico, o mundo que conta, é como uma pirâmide. “O primeiro nível são os minerais, o segundo nível são as árvores e a flora, o terceiro são os animais e o quarto são os seres humanos”.

Em falando dos idosos, em seu entendimento, são especiais porque têm o poder e estão próximos aos ancestrais. Somente os ancestrais podem anteceder junto a Deus. “Cada família tem um ancião que consegue falar com o ancestral. Em cada família existe um homem escolhido para a função. O modo de cultuar é através da iniciação, um rito e uma prática fundamental”.





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