abril 2024
D S T Q Q S S
 123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930  

:: 17/abr/2024 . 22:28

COMO ERAM AS PAQUERAS

Pelos idos dos anos 60 e 70, as paqueras rolavam mais descontraídas, se bem que tinham também seus limites para avançar. Não havia aquela preocupação de hoje em ser classificado no rol da importunação e do assédio sexual. Existia aquele negócio do psiu, oi beleza, bom dia, boa tarde e boa noite, coisa linda e até saia o “gostosa!”, com cantadas hoje considerados cafonas.

Me lembro bem dos anos 70, em Salvador, estudante sem dinheiro, lascado mesmo, que morava na Residência Universitária da Ufba. Era um tanto tímido, recém-saído do seminário e vindo do interior, sem traquejo e jeito para lidar com as “minas”. Havia até mulher que me dava bandeira e perdia com receio de chegar junto.

Nas tardes de domingo ia com um colega ao Campo Grande para paquerar as empregadas domésticas que, de forma politicamente incorreta e depreciativa, as chamavam de “graxeiras”. Coisa horrorosa! Outras vezes era na Barra ou Rio Vermelho. Para nós eram pontos estratégicos em finais de semana.

A gente fazia até umas “pegadinhas” com uns caras chatos, simulando uma ligação de que tinha uma garota lhe esperando em tal lugar, só que era uma armação. O sujeito virava o “bicho” e nos xingava. Sem grana no bolso, quase todo mundo vivia na “sequidão sexual”, como se falava no popular.

Até parece que elas nos esperavam, sozinhas ou acompanhadas nos bancos das praças. As intenções pareciam as mesmas: Dar uns agarros, umas namoradas e contar mentiras sobre o nome e onde morava. Elas eram bem arrumadinhas e simples, com aquelas colônias antigas e vestidos de bolinhas ou chitas. A grande maioria tinha origens interioranas.

– Você fica com aquela e eu fico com a outra. Tudo bem, sem brigas na divisão. Qualquer coisa servia. Bom dia ou boa tarde, o dia está lindo, qual seu nome e você é donde? Eram os primeiros papos para engatar uma conversa e, com muita demora, pegar na mão e ir escorregando para outras partes do corpo. – Não venha com sua mão boba – repelia a moça, mas depois deixava! Beijos quentes e grudados!

Tinham os mais atrevidos e extrovertidos que iam mais diretos. No meu caso sentia até medo de tomar um fora. Como disse antes, não levava jeito, mas dava para o gasto. Muitas vezes chegava aos beijos e apertos, com aquele fogo todo que o “danado” lá dentro ficava todo excitado. Não importava se era menina, coroa e nem ligava para a cor da pele. Aconteciam coisas hilárias. Dificilmente se pegava um gênero errado. Nada de papo difícil.

Outras vezes ia ali para o Gabinete Português de Leitura, na Piedade, com um amigo e ficava de butuca de olho numa mulher, fazendo de conta que estava lendo ou pesquisando alguma coisa. Tinham os horários e dias certos das paqueras.

Quando pintava uma boa, não dava para levar num bar e restaurante por causa da conta. Entrava o “jogo de cintura” para dar uma desculpa. No caso de duas juntas, às vezes você queria uma, mas era a outra que estava de olho no paquerador. Na base do bilhetinho escondido, dava para pegar as duas, num outro encontro.

Nos bares, quando conseguia botar um dinheirinho no bolso, ficávamos na espreita tomando umas cachaças para esquentar, mas, as mulheres pouco frequentavam esses lugares, principalmente sozinhas, no máximo acompanhadas. Não dava muito reague, como se dizia no popular.

Nas festinhas de radiolas (os assustados) ou nos eventos de ruas, tínhamos que tomar umas quentes para ter coragem e chegar até a “mina”. Muitas vezes era mais paquerado do que paquerador. Ainda valia o olhar, como sinal de que a mulher estava a fim de você.

Na maioria, arranjávamos uma namorada, mas não tinha muita opção de lugar para levar, a não ser aqueles com alguma grana na carteira. Geralmente os namoros de esfrega-esfrega eram nos cantos, becos e nos escondidos. Não existia tanta violência naquela época e, na hora do vamos ver, nem estava aí para ninguém. Vida de pobre era assim e a “caça” era escassa.

Naqueles tempos os jovens, mesmo com mais dificuldades para a sobrevivência e sem muitas alternativas, eram mais alegres, divertidos e com amizades sinceras, sem essas frescuras de traumas por causa de apelidos e gozações uns com os outros.

Hoje são mais estressados, fechados e reclusos com seus celulares grudados nas mãos. Dão poucas importâncias às famílias e passam mais o tempo trancados em seus quartos. São menos sociáveis e nem respeitam mais os idosos, quanto mais os pais.

Com esse pavor de tudo ser considerado como assédio sexual, não se “bole” mais com as “minas” nas ruas e lugares fechados, embora as mulheres sejam mais independentes e frequentem mais bares, restaurantes e festas sozinhas. As pessoas ficaram mais arredias e se sentem vigiadas pelas câmaras. É aquela coisa de cada um ficar na sua.

Bons tempos daquelas paqueras de antigamente com frases hoje tidas como cascas grossas, mas quando dava certo, os papos tinham mais conteúdos. Hoje só saem besteiróis. As conquistas eram mais “suadas” e, na maioria, as paqueras terminavam em casamentos duradouros.

Muitas coisas ocorriam também nos transportes públicos, nos ônibus, kombis, mas poucos tinham telefones para marcar os próximos encontros. Tudo tinha que ser resolvido na hora.

 

 





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia