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“A MÁSCARA DA ÁFRICA” V

“O REI DA FLORESTA” (PELO PAÍS DA COSTA DO MARFIM

No livro reportagem do Prêmio Nobel de Literatura, nascido em Trinidad, o escritor V. S. Naipaul, de “A Máscara da África” faz sua viagem entre os anos 2008/09 pela Costa do Marfim e outros países. Em sua jornada, entrevistou e conversou com seus guias, estudiosos, babalaôs e até chefes de santuários sagrados.

No capítulo “O Rei da Floresta” ele descreve sobre Houphouet-Boigny, o imperturbável presidente da Costa do Marfim, amado pelos franceses e adorado pelo seu povo. Um homem que poderia ser chamado de rei.

Richmond é uma espécie de guia com quem ele conversa sobre os mistérios desse país africano que também cultua os espíritos ancestrais que vivem nas florestas e montanhas. Richmond conta uma história fantástica que ouviu de sua tia sobre como Houphouet se preparou para uma vida de poder.

Esse que se tornou rei consultou um grande xamã ou curandeiro sobre como ter o poder eterno. Seguindo seu conselho, Houphouet se fez cortar em pequenos pedaços, que foram cozidos junto com algumas ervas mágicas num caldeirão.

Dentro do caldeirão, num momento crucial, os pedaços de Houphouet se juntaram e se transformaram numa poderosa serpente que teve que ser derrubada no chão por um auxiliar de confiança. Depois de domada, a serpente se tornou novamente em Houphouet. Essa história tinha como testemunha a auxiliar confiável do próprio Houphouet.

Essa auxiliar era a tia de Richmond, cozinheira de Nkrumah, o primeiro presidente de Gana independente e um dos grandes homens da África moderna. Essa história foi narrada para milhares de pessoas no país em diferentes versões. Foi graças a esses relatos sobrenaturais que o mito do presidente foi mantido vivo entre seu povo.

A receita do curandeiro tinha funcionado. Por toda África havia mudanças sangrentas e, mesmo assim, Houphouet governou por toda vida, sempre descartando seus desafiadores. Morreu aos oitenta e oito anos, mas parecia ter mais que isso. Na África, a vida privada de um governante sempre foi um mistério.

O pátio real, rodeado por um alto muro de 15 quilômetros de comprimento, ficava no meio da cidade de Yamoussoukro, construída em torno do sítio da aldeia onde Houphouet nasceu. Atrás do muro havia um jovem bosque.

“Deus sabe que rituais secretos, que sacrifícios, executados por sabe lá que sacerdotes secretos, eram maquinados para manter a salvo o rei e seu reino numa época em que nada na África parecia sólido” – destaca o escritor.

Segundo Naipaul, bem longe do pátio havia poderosos emblemas das fés importadas, como uma mesquita ao estilo norte-africano que cruzou o Saara até aquele lugar longínquo das florestas úmidas africanas. O outro emblema era uma basílica que prestava homenagem a São Pedro.

A religião era um ponto de honra para Houphouet, de acordo com o autor do livro. Foi o que manteve o rei forte. Agradava a ele honrar aquelas duas fés internacionais, apesar de se entregar às vibrações africanas que deviam ser encenadas em rituais privados, com seus crocodilos sagrados, destinados somente ao rei.

Naipaul afirma que há vinte e sete anos quando estivera na Costa do Marfim, alguém da universidade lhe dissera que, quando um grande líder morria, seus servos e escravos tinham de tratar de fugir, pois podiam ser enterrados com seu amo.

No entanto, havia servos de tão grande lealdade que queriam morrer com seu líder. De uma fonte estrangeira soube que centenas tinham sido mortos no funeral de Houphouet, isto é, pessoas apanhadas do lado de fora, como vagabundos ou pedintes.

 

 

A DELICIOSA SOBREMESA DE GOIÁS

Antes de pegarmos a estrada para Anápolis, já no final da tarde, (eu, meu filho Caio e Vandilza), por recomendação da minha nora e sobrinha Larissa (quase esquecíamos) fomos tomar o delicioso sorvete no coreto da praça de Goiás Velho, localizada ao lado do mercado popular e próxima da casa da poetisa Cora Coralina. Confesso que foi o melhor sorvete que já provei depois de um almoço caseiro da terra. É como se ir à Roma e não visitar o Vaticano e conhecer a Basílica de São Pedro, mesmo que não se veja o papa. Também recomendo que no final da visita a Goiás, antiga capital do estado, prove o saboroso sorvete do coreto. Só em lembrar dá água na boca diante da variedade de sabores deliciosos.

Outra “sobremesa”, essa não comível, é dar uma parada à beira da estrada, logo na saída da cidade, para conhecer as variedades de lojas de artesanato. Tem de tudo, para todos os gostos, feitos de madeira, minerais, cerâmica e outros objetos. Essa “sobremesa” é mais cultural, confeccionada por artistas locais e da região. Como sou um admirador dessa arte, se tivesse muita grana levaria uma carreta cheia dessas peças maravilhosas. É um encanto e, mesmo com pouco dinheiro (meu caso), dá para levar pelo menos uma lembrancinha.

A GOIÁS VELHA DOS FAMOSOS FOGARÉUS E DA POETISA CORA CORALINA

Partimos pela manhã rumo a Anápolis para conhecer a Goiás Velha ou Velho (distante mais de 100 quilômetros), à cidade dos fogaréus da quinta-feira da Semana Santa (279 anos de tradição) e terra da grande poetisa Cora Coralina. A minha ansiedade estava mais ligada à artista e ao casario histórico, tombado pela Unesco em 2001 como patrimônio mundial.

Antes de chegarmos paramos no mirante bem estruturado (não é este armengue que estão construindo no Cristo da Serra do Periperi de Vitória da Conquista), para apreciarmos as belas paisagens cheias de montanhas cobertas pelas florestas. De lá avistamos a cidadezinha encravada nos morros e aproveitamos para as fotos. É prazeroso viajar.

Uns contam (são estórias orais) que a vila foi criada por garimpeiros rebeldes vindos de Minas Gerais que ali se instalaram à procura de ouro. Para os guias de turismo, foram os bandeirantes paulistas que alcançaram aquelas serras dos papagaios e das aratacas. Era o auge do ouro.

Na verdade, a história narra que a cidade de Goiás, hoje conhecida como Goiás Velho (Velha) foi a primeira capital do estado até 1937 e surgiu da existência de um vilarejo chamado Arraial de Santana (lá está erguida até hoje a Igreja de Santana), fundado em 1727 por Bartolomeu Bueno, filho de Bartolomeu Bueno da Silva, o bandeirante Anhanguera, vindo de São Paulo.

 

Nascido no apogeu da mineração do século XVIII, o arraial foi elevado por D. Luiz de |Mascarenhas a Villa Boa de Goyaz, no ano de 1739, em homenagem ao bandeirante e aos índios goyazes ou guaiás, que quer dizer indivíduo igual ou semelhante. Dez anos depois, em 1749, a Villa foi elevada à capital da província de Goiás. A cidade se desenvolveu entre morros ao longo do Rio Vermelho.

Vamos deixar um pouco de história de lado e descrever as nossas impressões como visitantes forasteiros. De início, senti um povo um tanto fechado, embora educado, logo na primeira recepção na casa onde residiu a poetisa Cora Coralina. Era por volta das 12 horas e estava fechando para almoço (coisas do nosso Brasil). A atente não procurou muito papo e nem perguntou quem éramos.

No primeiro contato considerei um absurdo ser uma associação privada (a gestão deveria estar a cargo da prefeitura ou de uma instituição pública de ensino) que administra o patrimônio. De forma impositiva colocou taxa única de dez reais para visitação, desrespeitando a lei federal que obriga cobrar meia para pessoas idosos, deficientes ou estudantes.

Tentei argumentar ao defender meus direitos e explicar que não estava correto (a lei teria que ser cumprida e ninguém reclama), como também proibir fotografar seu ambiente sob o argumento de direito de imagem quando já se tornou público). Essa de taxa única é uma usurpação e confesso que foi a primeira vez que vi essa arbitrariedade sem uma interferência do Ministério Público ou de outros órgãos de defesa do consumidor. Culpa também do consumidor da arte.

Procurei não me irritar para não estragar minha viagem de conhecimento cultural. Para não perder tempo, fomos até o prédio antigo, no mesmo estilo da nossa Rio de Contas, na Chapada Diamantina, onde funcionou a Câmara e a delegacia, que se transformou em Museu das Bandeiras. Alguns cartazes explicativos anunciavam “Pessoas Escravizadas. Prisão. Liberdade?”, “Cotidiano na Prisão”, “Sentenças  e a Força” e “Nasce um Museu das Ruínas da Cadeia”.

Além das cadeias separadas onde eram presos os homens e as mulheres que infringiam as leis da época (mulher que tentava estudar), com penas pesadas (chibatadas e torturas contra os escravos), inclusive com condenações de mortes por enforcamento, o edifício abriga também exposições de arte, como da Triz de Oliveira Paiva, intitulada “Minha Alma Sofre em Casa de Argila ou como Pensar a “Terra”.

Tivemos o privilégio de conhecer a obra de Triz (não conhecia), uma mostra para o Museu das Bandeiras. Ela materializa a um só tempo a maneira de cena de um crime e de uma espécie de sítio arqueológico. “Minha Alma Sofre em Casa de Argila” instaura ainda o que se poderia compreender como um entrelugar, em que se encenam negociações morfológico-matéricas. “Terra roubada. Terra usurpada. Terra da usura. Terra da morte e morte da terra” – segundo o apresentador da exposição, Marco Antônio Vieira.

Conhecemos a catedral que estava em reforma e a grande praça (lembrei da Rua Grande, em Conquista que foi destruída) com um chafariz antigo. Num formato de aldeia, em torno dela as casas coloniais ainda bem conservadas. Nas pequenas lojinhas de artesanato e lembranças, algumas com grandes bonecos mascarados do tradicional fogaréu da Semana Santa.

Finalmente fomos até a casa da poetisa que já estava aberta ao público. Mais uma vez questionei a taxa única imposta, e um funcionário reconheceu que eu estava certo. Lá dentro, os pertences de Cora Coralina, sua chácara, uma pequena mostra de arte e grandes fotografias sobre as enchentes que arrasaram a cidade em 2012.

Cora se chamava Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, um dos maiores nomes da literatura e se revelou para o Brasil com certa idade avançada. Naquela época era proibido as mulheres escrever ou publicar algum livro. Ela nasceu em 20 de agosto de 1889, ano da Proclamação da República, portanto há 135 anos, na cidade de Goiás. Era filha do desembargador Francisco de Paula Lins dos Guimarães, nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão.

A poetisa cursou apenas até a terceira série do curso primário, mas escreveu poemas e contos desde aos 14 anos. Nessa época, contrariando os costumes, publicou, em 1908, no jornal de poemas, “A Rosa” com algumas amigas. Em 1910 veio o conto “Tragédia na Roça”, lançado no “Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás”, usando o pseudônimo de Cora Coralina.

De acordo com “Artpoesia”, livreto do poeta baiano José da Boa Morte, o rei das feiras literárias baianas, que o apelidei de Zè da Travessia, em 1911, Cora fugiu com o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas, indo morar em Jaboticabal, no interior de São Paulo. Como dá para se notar, era uma mulher evoluída e determinada para seu tempo.

Em 1922 foi convidada para participar da Semana de Arte Moderna, mas foi impedida pelo marido. Depois da morte do esposo, em 1934, foi doceira para sustentar os quatro filhos. Embora continuasse escrevendo, viveu por muito tempo da sua produção caseira. Se dizia mais doceira que escritora. Em 1934 chegou a trabalhar também como vendedora de livros. Em 1936 muda-se para Andradina, onde começa a escrever para o jornal da cidade.

Em 1956 voltou para sua cidade natal onde, em 1959, aos 70 anos, decidiu aprender datilografia para preparar seus poemas e entrega-los aos editores. Em 1956, com 75 anos, Cora conseguiu realizar o seu sonho de publicar o primeiro livro “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”. Em 1970, tomou posse da cadeira número 5 da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás. O interesse do grande público pela poetisa se deveu aos elogios do poeta Carlos Drummond de Andrade, em 1980.

Em Goiás Velha ainda visitamos o Instituto Biapo, um casarão que se tornou numa galeria de artes e uma espécie de museu sobre a história da cidade. O Instituto também foi vítima das enxurradas de 2012. Lá estava sendo exposta a obra do artista, galerista e arquiteto Fernando Madeira, cuja obra “Mudança” me fez refletir sobre vários pontos.

Como já era tarde e a fome bateu, fomos almoçar no pequeno mercado popular de Goiás, bem arrumado e aconchegante. Com uma comidinha bem caseira, tivemos o privilégio de receber as visitas das aratacas vindas das serras em torno da cidade. Achei que fossem papagaios, mas meu filho Caio, que morou um bom tempo no Amazonas, me corrigiu.

Claro que estava também acompanhado da minha esposa Vandilza Silva Gonçalves, sempre não perdendo um lance nas fotos do seu celular. Pegamos estrada de volta para Anápolis, numa viagem encantadora, na base do bate e volta, para não gastar muita grana, coisa escassa na nossa praça.

 

 

A MESA FICOU JIGA-JOGA

(Chico Ribeiro Neto)

Tem gente que tem traquejo e prazer em montar ou consertar coisas. Conta-se que Paulinho da Viola, além de excelente compositor, faz e conserta móveis e gosta de arrumar carros velhos.

Tenho um amigo que tem uns 40 rádios em casa, de tudo que é tamanho. Quando tá chateado, vai lá e desmonta um rádio só pra montar de novo. Se depender disso tô lenhado. Não monto nem quebra-cabeça infantil. Nem no cavalo eu acerto montar e desmontar. Já caí  de uma égua tão tranquila que se chamava “Mocinha”.

Não me dê nada para montar, sofá ou armário. Até o prego que bato na parede fica torto. Admiro meu amigo Noronha, um artista da carpintaria. Basta olhar uma vez para uma cama na loja que ele chega em casa e faz uma igualzinha.

No interior se dizia que uma mesa ou cômoda mal feita, armengada, quando ficava bamba, virou jiga-joga, tá sempre balançando prum lado.

Uma vez, na TV Itapoan, havia um comercial de sofá-cama. Ainda não tinha videoteipe e os comerciais eram ao vivo. Dizia a garota-propaganda: “Esse sofá abre-se com uma leve pressão dos dedos aqui”. Ela tentou e nada. Deu um sorriso amarelo e tentou de novo. Nada. Ela tentou umas 4 ou 5 vezes até que deu um safanão no sofá que virou uma cama. “Viram como é fácil, senhores telespectadores?”

Quando a gente se mudava tinha que levar os parafusos da cama num saquinho separado. Esses parafusos não podiam sumir de jeito nenhum. Problema também é quando a cama desaba no meio de um ato amoroso. Aí só resta sorrir.

Outro amigo comprou uma furadeira e resolveu  instalar um armário de cozinha. Cheio de arte, fez o primeiro furo e jorrou água na cara dele. Ele furou a coluna de água do prédio. Aposentou a furadeira.

A única coisa que sei montar são os sonhos, e alguns ainda acabam ficando jiga-joga.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

“MUDANÇA”

A escultura ou performance do artista Fernando Madeira que dá o nome de “Mudança” em sua obra, instalada no Instituto Biapo (visitamos em nossa viagem ao estado), em Goiás Velho ou Velha, localizado em frente da casa da poetisa Cora Coralina, por si só já diz tudo. A palavra mudança provoca arrepios em muita gente que tem receios de sair da sua comodidade e partir para enfrentar desafios. Mudança para outros é ter coragem, é transformação de vida e coragem. Todo ser humano deve estar sempre em processo de mudança para ganhar mais saber e conhecimento, e quem não muda com intuito de melhorar, inclusive em seus conceitos, não merece viver.  A terra está sempre em mudança. Mudança também é renovação, evolução das ideias diante das novas tecnologias, do pensar de outra forma, de acordo com o tempo. O que ontem era antigo, hoje entra o moderno que devemos incorporá-lo. Tem ainda aquela mudança do tipo material, como sair do campo para a cidade, ou de uma cidade para outra. Mudar de emprego, de trabalho para melhorar de vida. Quem não faz mudanças morre sem saber. Existe a mudança para o pior. Cada um faz sua reflexão, mas mudar é essencial. É como no futebol quando o técnico faz mudanças em seu time para ganhar do adversário.

A VIDA É COMO É

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Aleluia! Aleluia! Aleluia!

Nasci,

Sem pedir para vir,

Mas estou aqui

A respirar

Esse ar poluído,

Imundo,

Que construíram pra mim.

 

É a vida como é,

Ou “como ela é”,

De hipocrisias e sodomias,

Bela como aquarela,

Finita e infinita,

De dores e amores.

 

A vida é como é:

Pode estar,

No jogo do babalaô,

No oráculo do Ifá,

Na pregação do pastor,

Na Bíblia e no Alcorão,

Nas cenas de horror,

Culturas ou religiões,

Sentimentos ou razões,

No espírito ancestral,

Conflito existencial.

 

A vida é como é:

De acertos e desacertos,

De raivas,

Palavras amáveis,

Como viagem de trem,

De estação em estação,

Onde uns sobem,

Outros descem,

E ninguém é ninguém,

Com tantas gentes,

Diferentes,

Malditos e divinos,

Bom, mau ou feio,

Como criança no recreio,

Que nem sabe de onde veio.

 

A vida é como é:

Travessia

Do esfumaçado rio,

Onde o barqueiro,

Cobra uma moeda,

Para ser seu guia.

 

A vida é como é:

Alma da floresta,

Filho da montanha,

Perda e ganha,

Agonia e festa,

Templo do senhor,

Vingador,

Ilusão é fé.

UMA CAPITAL VERTICAL, PLANEJADA E ARBORIZADA NO CORAÇÃO DO BRASIL

Vamos viajar de Anápolis numa rodovia duplicada até Goiânia de Goiás, deixando um pouco para trás a velha Goiás, da poetisa Cora Coralina. Aqui neste estado nasceu a nova capital do Brasil no início dos anos 60 pelo visionário Juscelino Kubistchek. Até hoje existe a polêmica se foi um projeto acertado ou não a transferência do Rio de Janeiro para Brasília.

Bem, em Goiânia, começamos pelo Centro Cultural Oscar Niemeyer, como todos sabem, um arquiteto de nível internacional que não precisa de apresentações. No estacionamento e naquele cenário de concreto, numa árvore, um passarinho de papo amarelo (não sei bem se era um canário) nos recepciona com sua linda cantoria e até pousou para minhas lentes fotográficas. Um sinal de que o dia seria positivo como viajante.

Logo na entrada do imponente prédio aparece a figura de uma concha emborcada ou uma oca, um anfiteatro que nos remete ao Congresso Nacional. Ao lado, um amplo espaço onde todos os anos é erguida a árvore natalina com shows musicais e espetáculos referentes à data.

No edifício que faz parte do conjunto arquitetônico, no primeiro ou segundo andar, quem nos acolhe é uma biblioteca com mais de 20 mil volumes, com uma ala para a categoria infantil e outra para adultos. Tudo bem organizado como manda o figurino.

Duas simpáticas bibliotecárias nos atendem com largos sorrisos para explicar as salas de pesquisas visitadas por estudantes, professores e intelectuais interessados em realizar pesquisas e leituras de variados gêneros literários. Em harmonia, o virtual com o tradicional de papel se complementam com os computadores. Sou mais conservador e prefiro as obras impressas.

Talvez porque chegamos um pouco cedo, o espaço estava vazio, mas logo me chamou a atenção a presença de duas crianças acompanhadas de seus pais. Num país tão carente em termos de leitores, aquilo me deu a sensação de que nada está perdido e não podemos desanimar sobre um futuro melhor para nosso Brasil, se bem que minha idade não permite mais pensar nisso. Vamos levar muito tempo para reconquistar a efervescência do saber e do conhecimento.

Na capital dos sertanejos – estava ávido para conhecer as lojas de chapéus, cintos, camisas, botas e outros acessórios de peças alusivas ao estilo. O que mais me chamou a atenção foram as largas avenidas e ruas de altos prédios, mas todas arborizadas, sem falar nos bosques do Areão e o Parque da Vaca.

Como sou apaixonado por coisas do sertão, sendo um nordestino e catingueiro da gema, com muito orgulho, se fosse um endinheirado ou tivesse ganhado na Mega-Sena, confesso que contrataria uma carreta e levaria uma casa comercial só de itens sertanejos, vaqueiros e boiadeiros.

Senti o cheiro das boiadas e comitivas da antiga novela Pantanal, da Manchete.  Para não ficar de mãos vazias me contentei em comprar um chapéu para completar minha modesta coleção que enriquece nosso Espaço Cultural A Estrada.

Entre as capitais que já conheci e conheço nesse país continental de tantas diversidades culturais, incluindo a velha Salvador onde morei por mais de 20 anos, o que mais me impressionou foi a limpeza e o planejamento (não vi moradores de ruas e nem favelas nas periferias).

Nos bares, restaurantes e locais por onde passamos (Vandilza, meu Filho Caio, sua esposa Larissa e meu fofo neto Samuel de três anos), senti a hospitalidade e cordialidade das pessoas, não que não exista isso em outras cidades. Tirei uns dedos de prosa com um garçom baterista de uma banda.

Vamos seguir nossa trajetória “épica” no próximo “diário” descrevendo a cultura, o patrimônio histórico, as paisagens de morros, as aratacas da Velha Goiás, terra da famosa poetisa Cora Coralina e que sofreu fortes enchentes há pouco tempo, tornando-se notícia nacional. Temos muitas coisas e surpresas para contar. Nos aguarde.

 

 

TROUXE AS AMOSTRAS?

(Chico Ribeiro Neto)

Às 7 da manhã o motorista do táxi identifica logo o saquinho inconfundível que você segura com todo cuidado. Você vai para um laboratório de análises clínicas.

A primeira fase é a da coleta. Com o exame do número 1 é fácil (despreza o primeiro jato) e a gente enche logo o copinho. O problema é o número 2. Uma verdadeira labuta, aquela desarrumação pra arrumar. Finalmente os coletores estão prontos.

O velhinho numa cidade do interior da Bahia passa pelo médico que lhe dá uma bateria de exames pra fazer. A clínica funciona num casarão onde cada porta é um tipo de exame. Ele olha para as requisições e para as portas e diz: “Eles querem é que a gente passe nessas portas todas. Por mim, eu vou embora depois da segunda porta”.

Tenho uma amiga que trabalhou na recepção de amostras de um laboratório. Disse que uma vez chegou um cara com uma lata de cera cheia até a boca com o material do número 2.

Alguns dias depois da vasectomia o paciente precisa fazer um espermograma. O material tem que ser colhido na hora. Ele entrou na sala lotada, entregou a requisição e a moça pediu para aguardar. Meia hora depois ela grita: “Senhor J. do espermograma. É ali”, indicou ela, apontando para o minúsculo e abafado sanitário e dando-lhe um frasquinho. Fez das tripas coração para recolher a amostra.

Outro amigo, coroa, foi fazer a ficha num laboratório:

– Jejum de 12 horas?

– Sim.

– Consumiu bebida alcoólica nos últimos três dias?

– Não.

– O senhor teve relação sexual nas últimas 24 horas?

– Quem me dera …

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

DE CONQUISTA A GOIÁS

QUEM FOR A ESTE ESTADO BRASILEIRO, PRINCIPALMENTE COMO TURISTA, NÃO DEIXE DE VISITAR A VELHA PIRENÓPOLIS, FUNDADA POR GARIMPEIROS À PROCURA DE OURO NO SÉCULO XVIII. CONHEÇA SUAS LENDAS E MITOS.

Viajar sem compromissos de trabalho para conhecer a cultura e a história de outras aldeias é sempre saudável para a alma e para o corpo. Nem tanto assim quando se faz a negócio, mas pode-se conciliar o útil ao agradável.  Reserve um cantinho em sua agenda. Tem rico avarento que não sabe o que é isso e termina não curtindo a vida. É o que chamo de uma simples passagem sem notoriedade.

De um modo geral, as viagens são cheias de causos e casos que terminam virando livros (Diários de Viagens) e só se completam quando existem aventuras, contratempos e imprevistos para se contar. Ah, em minha trajetória tenho muitas para narrar em nível nacional e internacional. Muitos micos e mancadas! Quando encontro obstáculos, procuro seguir em frente e nunca retroceder e isso serve para o nosso cotidiano como aprendizagem.

Pois é, encarei as dificuldades com minha esposa e resolvemos sair de Conquista para Goiás até Anápolis em nosso “corsinha” ano 2008, que nunca nos deixou na mão, mas, como diz o ditado, sempre existe a primeira vez. Saímos de Vitória da Conquista logo cedo na última sexta-feira, dia 15/03, bem animados e ansiosos para abraçarmos as novidades. Pegar a estrada é sempre uma renovação!

Ia tudo bem e já planejando o local de pernoitar (em Rosário, divisa da Bahia com Goiás) para seguirmos até o nosso destino final. Acontece que entre Caetité e Igaporã, o motor do carro esquentou – ainda bem que, ao trancos e barrancos chegamos na cidade – e a primeira providência foi procurar uma oficina. Ainda era umas 11 horas da manhã. Ainda tinha muito chão para cortar.

Cheios de bagagens (dez no total) decidimos seguir em frente e pegamos um ônibus por volta das 18h30min da “Bahia Central” (Companhia da Novo Horizonte) até Brasília. Falei que nunca iria utilizar esta empresa por causa da sua folha corrida complicada em termos de acidentes. Queimei a língua!

Imaginem uma noite de sofrimento num carro desconfortável de poltronas duras e nos solavancos de lá e pra cá, sem conseguir dormir! Lembrei da viagem que fiz de trem da fronteira da França para Lisboa, em Portugal. Uma noite de estrangeirada onde um casal de jovens perturbava e ainda veio a polícia me acordar na madrugada para revistar meu passaporte.

Tive que controlar meu psicológico para no final chegar a Anápolis (meu filho foi me pegar em Brasília) no outro dia às 11 horas. Chegamos aos cacos, mas fui logo tomando uma gelada para esfriar a cuca. Com todos exageros possíveis, foi uma viagem hercúlea, mas valeu a pena.

Venci mares e terras, monstros e anjos. Foi como se tivéssemos vencido uma batalha. Agora é só comemorar a vitória, pensei com meus botões. À noite, tomamos um vinho e ainda tive que “amargar” a desclassificação do Fluminense para o urubu do Flamengo. Coisas da vida e do futebol.

No entanto, o melhor estava por vir quando no domingo, já mais descansado, fomos à velha cidade de Pirenópolis. Alguma coisa semelhante com uma cidade dos Pirineus, na Europa, de clima agradável (neste tempo muito calor e chuva), montanhas com matas exuberantes, antigos casarões, cachoeiras em abundância e um dedo de prosa de histórias interessantes com um velho repórter da Manchete, agora comerciante de um estabelecimento de cachaças.

Conversamos até sobre as loucuras do fotógrafo Gervásio, as tiradas e as arbitrariedades do coronel governador Antônio Carlos Magalhães, a ditadura civil militar de 1964 e como os jornalistas tinham que se virar para levar uma boa matéria para a redação de uma forma que não fosse preso. O pessoal (Vandilza, meu filho Caio, sua esposa Larrisa e o menino Samuel) me apressava, mas o papo não terminava entre uma conversa e uma cachacinha da boa.

Muita coincidência! Talvez fatos do destino para começar a enriquecer minha viagem, fazer esquecer o outro dia e renovar as energias para curtir a cultura e o patrimônio arquitetônico colonial da nossa Pirenópolis goiana, terra muito conhecida no Brasil pelos grandes nomes da música sertaneja.

Em seu destaque, como em toda cidade histórica, conhecemos a Igreja do Rosário, fundada por portugueses, e tive o prazer de papear com aquela gente cordial e hospitaleira que sabe receber bem o turista. Por si só, as fotos que cliquei da minha Nikon dizem tudo.

Pirenópolis foi um dos primeiros municípios de Goiás. Foi criado com o nome de Minas de Nossa Senhora do Rosário Meia Ponte pelo minerador português Manoel Rodrigues Tomar, ou Tomás, de acordo com alguns historiadores.

A cidade foi fundada como um pequeno arraial, em 1727, por Manoel Rodrigues, chefe de um grupo de garimpeiros. Ela é hoje apelidada carinhosamente de “Piri” pelos turistas. Sobressaiu-se como o berço da imprensa em Goiás através do seu primeiro jornal denominado de Matutina Meiapontense.

Em Pirenópolis acontece todos os anos, 45 dias após a Páscoa, a popular festa do Divino Espírito Santo envolvendo cavalos montados (famosas cavalhadas). Sua economia é baseada no turismo, no artesanato e na extração de pedras que leva o seu nome. A cidade foi tombada como patrimônio nacional, em 1989.

 

 

DIA MUNICIPAL DA CULTURA

NOSSA CULTURA ANDA TÃO ABANDONADA (DIZEM QUE FOI SEPULTADA EM CONQUISTA) QUE NEM O PODER PÚBLICO E A NOSSA MÍDIA LOCAL (ESQUECEU DA SUA ALDEIA) AO MENOS CITARAM O SEU DIA. TRISTEZA! PASSOU E NINGUÉM VIU. A NOSSA CULTURA ESTÁ NUA!

Infelizmente, poucos têm conhecimento porque também não é lembrado pelas instituições e a mídia em geral, mas todo 14 de março do ano é o Dia Municipal da Cultura de Vitoria da Conquista, instituído pela lei número 1.367/2006, e assinada pelo então prefeito José Raimundo Fontes. Como está a nossa cultura, nada a comemorar.

A Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista, com base na lei, concede medalha de Mérito Glauber Rocha a homenageados indicados pelo Conselho Municipal de Cultura, em sessão solene marcada pela Mesa Diretora. Na ocasião, a data é comemorada pelos parlamentares, artistas e pela plenária. Pelo menos deveria.

Nas homenagens ao Dia Municipal da Cultura, é bom que se faça uma reflexão sobre o que é cultura, principalmente nesses tempos tão difíceis no âmbito municipal onde a nossa cultura não tem o lugar de destaque que merece pelo poder executivo. Estamos destruindo o que ainda resta. Outra indagação a ser feita é sobre como vai nossa cultura em Vitória da Conquista e o que se pode fazer para melhorar.

O que se tem feito ainda deixa muito a desejar, especialmente em relação a Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia com quase 400 mil habitantes, que já foi celeiro de grandes artistas e pensadores. Não é que atualmente não existam grandes talentos, mas as nossas expressões artísticas não têm recebido o apoio merecido dos poderes públicos.

Os recursos têm sido escassos, e os governantes, infelizmente, têm colocado a cultura apenas como um jarro de decoração em suas mesas. Talvez entendam que não rende voto e alocam poucas verbas para o setor. Os artistas em geral vivem a mendigar para realizar seus projetos.

Temos muita luta pela frente para que Conquista volte à sua efervescência cultural dos anos 50, 60 e 70. Gostaria de lembra aqui que o Conselho Municipal de Cultura anterior (2021/23) empreendeu uma grande luta no sentido de criar o Plano Municipal de Cultura e instituir a Fundação Cultural. Esse Plano iria ditar as diretrizes políticas para resgatar a nossa cultura. Mais uma vez, o projeto foi emperrado pelo poder executivo que não deu o suporte necessário para sua concretização.

Neste dia não temos muito a comemorar quando há anos três equipamentos culturais – o Teatro Carlos Jheovah, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha – continuam fechados e sem data para serem reabertos.  Com isso, os artistas conquistenses, abrangendo todas as linguagens, estão sem espaço para realizar seus ensaios e apresentações de seus trabalhos, prejudicando, principalmente, o teatro, a literatura, a dança e a música.

DIA DA POESIA

O dia 14 de março é comemorativo ao nascimento do cineasta Glauber Rocha e lembra também o nascimento de poeta Castro Alves, há 176 anos. Por isso também, o 14 de março é o Dia da Poesia, uma linguagem que é fonte de vida, mas desprezada, especialmente pelos nossos jovens em geral.

Como todos sabem, Castro Alves dedicou suas poesias às questões sociais e foi um grande defensor da libertação dos escravos. Um abolicionista que abriu portas para outros intelectuais lutarem pelo fim da escravidão no Brasil.

 





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