:: 8/abr/2024 . 22:20
A VELHA GERAÇÃO DE OURO E A NOVA DE PRATA, BRONZE OU ZINCO
La se foi o nosso grande Ziraldo, com 91 anos, jornalista, cartunista, escritor, poeta, compositor teatrólogo e muitas outras linguagens artísticas (multiartista), mais um dos representantes da velha geração de ouro das décadas de 50, 60 e 70, que fez florescer nossa cultura, transbordou conhecimento e saber, protestou, criticou e denunciou as arbitrariedades (ditadura civil-militar de 1964) em busca da liberdade e contra a opressão.
Ziraldo era mineiro de Caratinga, região leste de Minas Gerais, criador de “O Menino Maluquinho” e da revista em quadrinhos “A Turma do Pererê”. Era cartunista desde o início da década de 1950 e graduou-se em Direito na Universidade Federal de Minas Gerais, em 1957.
Seu livro “O Menino Maluquinho” virou série televisiva. Sua primeira obra literária foi “Flicts”, lançada em 1969, cujo personagem se sente isolado por não se encaixar nas cores do arco-íris. Ele chegou a ser tema de dois desfiles de escolas de samba, “Nenê da Matilde”, em 2003 (São Paulo) e “Tradição”, no Rio de Janeiro
Estamos agora numa geração da era tecnológica dos meios de comunicação, dos aparelhos e máquinas sofisticadas, das fakes News, da inteligência artificial, um tanto superficial que praticamente não ler (nem todos), que só pensa em ganhar dinheiro, desprovida de conteúdo.
Para esta eu a chamaria de prata ou bronze. Outra geração está vindo a reboque das vilirações dos besteiróis, que são as crianças, adolescentes e jovens que temo ser a de zinco e latão, pelo baixo nível educacional, refém do celular, das inúteis redes sociais dos seguidores e manipulada pelo alto consumismo.
Sobre a saudosa geração de ouro, que talvez nunca mais surja outra igual na história da humanidade, especialmente brasileira, muitos estão partindo para o além, deixando seu rico legado, mas também deixando um vácuo pelas suas profundas obras publicadas, pelo seu senso humanista, enfrentamento, muita leitura e sabedoria.
Pelos tempos atuais de superficialidade, principalmente nas artes e no vazio do conhecimento geral, arriscaria o palpite de afirmar que essa geração de ouro dos movimentos sociais e políticos (anos 60), das transformações, das quebras de paradigmas, da rebeldia cultural, é insubstituível.
Muitos estão dando adeus, mas se tornando eternos, gênios e atemporais. Outros ainda resistem e estão entre nós, como Gil, Caetano, Tom Zé, Zé Ramalho, Milton Nascimento, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Chico Buarque de Holanda e tantos mais que lidam na literatura, no teatro, nas artes plásticas, na área filosófica e do pensamento crítico.
Destacaria que essa geração construiu a efervescência cultural dos anos 50, 60 e 70, onde o ler estava acima do apenas estudar para ter um diploma e ganhar uma vaga no mercado capitalista. Não é questão de saudosismo, mas jorrava humanismo, militância política e marchava, não com armas na mão, mas com suas lições de vida. Como fala a canção de Vandré, sabia fazer a hora e não esperava o acontecer.
Era e ainda é uma geração onde filho respeitava pai e mãe, reverenciava o professor nas salas de aulas, considerava e ouvia os conselhos dos idosos e, acima de tudo, tinha uma formação de caráter, ética, honestidade, princípios, garra e visão humanista. Não esta nova que inverte e confunde os valores entre o certo e o errado, o normal e o anormal, onde não mais conta a meritocracia e a capacidade.
Se tivéssemos o espirito cultural e religioso das tribos africanas, fixaríamos para esta velha geração, que está atravessando o rio para a outra margem, através do barqueiro, o ritual da ancestralidade, para sempre estarmos escutando seus ensinamentos nos momentos mais difíceis das nossas vidas e da própria nação.
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