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:: 10/abr/2024 . 21:26

O NOSSO JORNALISMO PRECISA SER MAIS QUESTIONADOR E INVESTIGATIVO

O CONTEÚDO, A ÉTICA E A RESPONSABILIDADE COM A NOTÍCIA DEVEM ESTAR ACIMA DA TECNOLOGIA

Sou da velha geração dos anos 70 dos tempos da maldita ditadura de 1964 quando tudo era mais difícil sem a tecnologia da internet.  Do meado para o final dos anos 90 surgiu o computador ainda rombudo e lento. Tivemos que fazer as mudanças na raça, sem perder aquela pegada jornalística das entrevistas do olho no olho. A partir dos anos 2000 para cá, fomos sendo engolidos pelos avanços do e-mail e das redes sociais, tornando o fazer mais fácil onde o profissional passou a morar mais na redação que nas ruas.

Sou dos idos da era analógica dos rolos de filmes de 36 chapas, da máquina de datilografia, do teletipo, da impressão a quente, do revisor, do copidesque, do telefone fixo, das fontes em off, das redações barulhentas onde um jogava papel no outro e botava esporas nos sapatos dos amigos, dos telex vagarosos onde as fotos vinham pontilhadas e sem nitidez, do diagramador  de régua e compasso, do editor que criticava o repórter e mandava refazer a matéria, mas se tinha mais conteúdo, espírito investigativo e questionamentos, regidos pelo básico do por que, do quando, do onde no sentido do bem informar o público leitor ou ouvinte.

Com os avanços tecnológicos de hoje onde o clicar dos sites (Google, Yahoo, Wikipédia e outros tantos), e não mais dos livros, lhe dão respostas e informações rápidas (às vezes deturpadas e limitadas), o entrevistador e o entrevistado ficam em telas próximas de cada lado, mas distantes um do outro ou nem se veem nos zaps, faces e instagrams. O nosso jornalismo ficou mais insosso e morno, um tanto preguiçoso, cheio de boletins de ocorrências e menos empolgante.

Com raras exceções, não é mais aquele jornalismo provocador e investigativo como antigamente, mas do amém. Fico a refletir que as televisões estão sempre mudando seus cenários de apresentações (dizem mais bonitos e interativos nas dimensões 3d), os impressos transformando seus visuais gráficos, os rádios aumentando seus raios de alcance (agora estamos na onda do podcast – nada de diferente), mas pouco se comenta sobre o reforço do conteúdo, das matérias mais completas e comprometedoras com o povo. Infelizmente, hoje confundimos muito o papel do jornalista e do entrevistado.

Existe uma cumplicidade entre as partes, e o repórter, operário da notícia, parece ter esquecido de se colocar no lugar da população, o que ela quer saber, principalmente nas perguntas que deixam muito a desejar. Fico estarrecido quando o jornalista diz ser grátis um show ou espetáculo pago pelo poder público. Não sei se é de propósito ou falta de consciência política. Isso não é informar. É desinformar e enganar o povo. Quem paga é o contribuinte que vai ou não vai ao evento.

Não basta a tela, jornal ou revista serem interativos, dinâmicos e coloridos como uma arara. As pautas e as matérias da nossa mídia em geral são requentadas e repetidas. Faltam criatividade e imaginação por parte dos chefes de reportagem e pauteiros (nem sei se existem mais). Quase não se escuta e não se lê mais matérias especiais de peso para serem premiadas.

A pessoa do outro lado tem que sentir aquela sensação de estar sendo representada numa entrevista. É aquela coisa de se dizer que o jornalista fez a indagação atrevida que todos gostariam de fazer, e não ficar com medo diante de qualquer autoridade ou passar a impressão de viés tendencioso e parcial, por mais que existam interesses comerciais e capitalistas da empresa de comunicação.

Precisamos de perguntas mais incisivas, objetivas e diretas (não se envolver emocionalmente com o entrevistado). Antes de mais nada, o jornalista tem que ser um cético. O repórter que está ali na labuta do noticiário do dia a dia, não é para emitir opinião, ser ancora, mas para provocar, e quem está do outro lado que faça sua interpretação, isto é, depois de ouvir as várias versões dos fatos, sem deixar buracos e dúvidas para o leitor ou ouvinte. Comentarista é uma coisa e repórter é outra. Cada qual na sua função.

Por outro lado, em decorrência do baixo nível educacional e cultural (pouca leitura) do nosso povo brasileiro, existe uma acomodação e alienação. Não há uma cobrança e crítica quanto a qualidade do nosso jornalismo, que caiu muito nos últimos tempos. Cada comunidade deveria ter o seu Conselho de Comunicação Social, para analisar o nosso jornalismo e apontar os acertos e falhas.

Ao contrário, há elogios baratos que me fazem lembrar daquela frase do cancioneiro Raul Seixas, de que “o jornalista quer é bajulação”. A vaidade, o pedantismo e o ar de superioridade são grandes males dos nossos coleguinhas. Aprendi na faculdade que jornalista não é notícia, nem vedete e pop-estar, só quando comete crime de irresponsabilidade ou morre. A liberdade de expressão está sendo banalizada.

Repito sempre que o direito à liberdade de imprensa acaba quando não se tem ética e responsabilidade. A partir disso, o profissional está sujeito a ser processado na justiça comum como um criminoso da informação. Nunca ache que é o sabe tudo e nunca se coloque como se fosse um quarto poder para julgar e sentenciar. Basta dos três poderes que usam e abusam de seus poderes.

Vejo hoje uma mídia (a maior culpa é das empresas) interligada financeiramente com o consumismo, com a oligarquia, com as elites burguesas e que mistura o comercial com o que é jornalismo. Uma coisa tem que ser separada da outra. Vejo um jornalismo que manipula a informação e, ao invés de informar, desinforma. Será que o jornalismo ainda é o cão de guarda da nossa sociedade?





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