:: 22/abr/2024 . 23:06
A SABEDORIA POPULAR
A cultura oral, originária dos nossos ancestrais, é fascinante, pena que ela é pouco estudada e registrada nos compêndios acadêmicos. Com os tempos modernos, principalmente com os avanços das novas tecnologias da internet, ela vai sendo deixada para trás. Nossos jovens não mais guardam as tradições dos mais velhos, A música ainda resgata muitas coisas boas.
Uma dessa preciosidades da nossa oralidade, na grande maioria anônimas, são os ditos populares ou a também chamada de sabedoria popular. Junto a isso existem ainda os pensamentos de poetas, filósofos, intelectuais e até de políticos (os bons, sérios e éticos que são raridades) que nos fazem refletir e nos dão lição de vida. Alguns são contestáveis e até caíram no desuso.
Os caminhoneiros costumam colocar algumas frases nas traseiras de seus caminhões, algumas não mais politicamente corretas, especialmente quando se referem ao sexo feminino. Sempre apreciei esses ditos populares e vou aproveitar aqui para citar alguns, tais como, quem tem telhado de vidro, não joga pedra no do vizinho, roupa suja se lava em saca, pé que não anda não dá topada, o tolo que pouco fala passa por sábio, é melhor ficar calado do que dizer besteiras, antes prevenir que remediar, quem avisa amigo é, papagaio come o milho, periquito leva a fama, antes um cachorro amigo do que um amigo cachorro (essa é boa!), amor é uma flor que nasce no coração do trouxa e peru de fora come calado.
Tem tantas outras por aí que são incontáveis. Umas são sábias e outras nem tanto. Muitas não podem mais serem ditas porque os tempos mudaram e podem ser vistas como ofensas racistas, xenófobas, machistas e que ferem o brio das pessoas.
No entanto, a sabedoria popular que faz parte da nossa cultura, está também nas superstições, simpatias e outras crenças. A cauã quando canta numa baixada ou cacimba no final de uma tarde é mau agouro e tem mortes no meio, como aconteceu na Guerra do Tamanduá, no distrito de Campo Formoso, na época pertencente a Vitória da Conquista e hoje Belo Campo.
Alguns casos e causos dos tempos antigos se tornaram lendas na boca do povo, como de fantasmas, de homem que virava lobisomem em noite de lua cheia, a mula sem cabeça e o cavaleiro solitário.
Este causo eu ouvi contar quando menino na roça do meu pai. Gente que morava perto da estrada dizia que ele, em certas noites, saia de uma cancela de uma mata cavalgando em correria todo de preto. A cancela batia forte, mas dela não se via ninguém sair. Conta que uma vez um casal que morava à beira da estrada ouviu o tropel do animal e caiu dentro da capoeira e só voltou quando o dia amanheceu.
Tem a estória da Nega do Leite que passava na frente das casas nas roças lá pela madrugada e não parava de conversar. Daí o ditado popular de se dizer que tal pessoa conversa igual a Nega do Leite. Uma noite fiquei na varanda de casa esperando ela passar, mas cai no sono e não vi nada. Quando se falava de fantasmas, de almas penadas que saiam por aí fazendo assombrações, meu pai levava na gozação e afirmava que tinha mais medo dos vivos que dos mortos.
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