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ENTRE ENGAÇOS E BAGAÇOS (VI)

Pelo sertão rachado me embreei em direção a Palmeira dos Índios,

Perto de Quebrângulo onde nasceu um menino calado um Aladim,

Até avistar a escultura do mestre das palavras, “sejam bem-vindos”;

Bateu emoção entrevistar o prefeito-escritor Graciliano Ramos,

De “São Bernardo”, preso em “Cárceres” e viu as “Vidas Secas”,

Onde deixou dar uns pitacos no seu personagem andante Fabiano,

E no enredo coloquei seu encontro com um bando de cigano;

Ainda me convidou para em sua ceia comer cuscuz com aipim;

Mostrar o mapa da sequidão da peste bem ao lado da sua Baleia;

Contar suas histórias nordestinas de gente esquelética crucificada,

Tangida como boiada pela estrada pau-de-arara na rota escravista.

 

Do comunista ateu, bom e justo que dessa gente se compadeceu,

Detido por Getúlio porque tentou socializar nas escolas o ensino;

Anotei tudo como jornalista em meus anais na terra dos marechais;

Dei um nó na alparcata e toquei para a capital Maceió da Pajuçara,

Onde visitei o velho Teodoro da Fonseca, da República dantesca,

E mostrou sua espada que proclamou a coisa pública ser privada.

 

De Alagoas, fui de barco e Jeep pra abraçar meu Sergipe,

E ver a foz do irmão São Francisco reduzido a um cisco,

Engolido pelo voraz mar, empurrando sal que só faz secar;

Visitei ribeirinhos desolados com seus feixes de redes vazias,

Porque os peixes sumiram do rio nessa vastidão de areias,

E pelo agreste triste viajei pelas veias do litoral até Aracaju,

Pra conversar com o intelectual escritor Tobias Barreto,

Com Calazans Neto comi caranguejos na praia de Atalaia,

Onde tomei mais umas pingas com uma moqueca de arraia,

Para pegar estrada até a histórica cidade de São Cristóvão,

Que foi pedida para entrar de vez na minha querida Bahia,

E beber no cantil de Castro Alves, o maior poeta do Brasil,

Condoreiro das espumas que escreveu o “Navio Negreiros”;

Curti com ele a boemia, com mulheres do mal do século;

Aprendi ser romântico realista falando de deuses e escravos,

E vi Castro declamar pra tribos ao lado de reis e guerreiros.

 

Nos engaços bagaços galhos de aço entrei na mística Salvador,

A África brasileira que deu bravos heróis para libertar o Brasil

Do jugo português que dessas plagas toda riqueza nos roubou.

Com Ruy Barbosa, o Águia de Haia das palavras, o maior doutor,

Estive e me disse que de ver o homem prevaricar, viria o tempo,

Com seu vento da desonestidade zunindo virar uma brisa normal;

Do mal ser um bem num país sem decência, vergonhoso e imoral.

 

UM PLANO PARA NOSSA CULTURA ESTÁ NA PAUTA DO NOVO CONSELHO

Com propostas de interação com a sociedade e contemplar todas as linguagens artísticas, num movimento de resgate da nossa cultura, que tem sido desgastada nos últimos anos, a nova composição do Conselho Municipal de Cultura, eleita para o biênio 2021/2023, já tem como uma de suas principais metas de trabalho a criação de um Plano Cultural para Vitória da Conquista, que irá proporcionar suporte e direcionamento para as diversas atividades das políticas públicas do setor.

Nesse sentido, a ideia, de acordo com a presidente Hendey Graciele e da nova diretoria, é começar o planejamento das Conferências Municipais de Cultura que devem acontecer em 2022, das quais resulte num documento, que será apreciado, discutido e aprovado em sessões que contarão com a participação da comunidade e dos diversos segmentos culturais do município.

Com apoio da Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes e Lazer, isso demandará certo tempo para ser colocado em prática, mas as conselheiras e os conselheiros estão convictos de que o projeto representará um grande legado na definição de uma nova política cultural para a cidade, o que interessa não somente aos artistas, mas à sociedade em geral.

Além dessa visão de implantar políticas públicas e um Plano Municipal de Cultura para Conquista, com respeito à diversidade de expressões culturais, com ações estabelecidas para seus diversos eixos constituídos, como a literatura, a dança, o teatro, a música, as artes plásticas, o audiovisual, cinema, o patrimônio material e imaterial, o novo Conselho já está trabalhando na renovação do seu Regimento Interno e na melhoria da comunicação com a mídia em geral, com total transparência de suas atividades.

Para tanto, foi designada uma comissão para fazer as propostas de atualização do Regimento, que serão debatidas em plenárias e aprovadas nas próximas reuniões. Também já está instalada uma comissão responsável pelo processo de comunicação com a sociedade por intermédio da mídia local, com a qual esperamos contar com o apoio.

Em reuniões ordinárias nas cinco sessões realizadas com os novos membros, o novo Conselho já discutiu diversos assuntos de interesse da população, como o caso do Teatro Carlos Jehovah localizado no Mercado de Artesanato, procurando saber qual será o destino desse equipamento cultural, e se há algum planejamento para sua reforma e revitalização, principalmente agora com a liberação de eventos através das flexibilizações nesse período de queda da pandemia.

Nesse sentido, buscando esclarecimentos sobre o assunto, foi encaminhada uma minuta, ou ofício, à prefeita Sheila Lemos, requerendo uma posição mais concreta por parte do poder executivo. O Conselho está no aguardo para poder debater, dialogar com a sociedade e acompanhar as ações planejadas para o local, bem como se posicionar em reunião com os conselheiros.  A intenção do Conselho é sempre estar próximo das demandas das diversas categorias artísticas.

Nesse sentido, será realizada uma sessão extraordinária, no próximo dia 22 (segunda-feira), cuja pauta exclusiva versa sobre o Teatro Carlos Jehovah e o Mercado de Artesanato Raquel Flores.

Outra decisão prevista é agendar um encontro com o presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Luis Carlos Dudé e componentes da Mesa Diretora, para tratarmos de assuntos de interesse da cultura do município e, ao mesmo tempo, solicitar o apoio do legislativo para que possamos realizar um trabalho conjunto em prol da nossa cultura, num elo com o poder público, os artistas e a comunidade.

 

O REPENTE É PATRIMÔNIO NACIONAL

Quando era menino e frequentava as feiras em Piritiba e suas redondezas com meu pai, ficava encantado com os repentistas com suas violas e pandeiros nordestinos trocando versos num embate para ver quem se saia melhor em suas estórias e histórias, envolvendo personagens importantes, o cotidiano da vida, a seca, os retirantes, os causos de coronéis, os compadres e as comadres e até de pessoas ali presentes.

  Nem entendia aquela arte milenar cultural e popular da oralidade, típica do Nordeste, vinda da Península Ibérica (Portugal e Espanha), mas vibrava mesmo era com as improvisações e as rimas trocadas que fechavam os versos. Era uma admiração de menino que continua até os dias atuais da minha vida. Pena que pouco estudada pelos acadêmicos da cultura erudita, só que o repente também é erudito.

Só depois de séculos de história, principalmente pelo chão árido nordestino, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu, na semana passada, o repente como patrimônio cultural do Brasil. O repente é reconhecido também como cantoria e tem como fundamento versos, rimas e oração. Os cantadores se espelham pelas cidades do interior do nosso Nordeste e ainda em regiões onde receberam migrações nordestinas.

A votação foi feita pelos 22 membros do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão do Iphan. O pedido foi feito pela Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do Distrito Federal e Entorno. Pelo menos alguma coisa boa acontece nesse governo destruidor da nossa cultura e que procura impor aos nossos jovens uma ideologia do atraso, do retrocesso, do negacionismo e do preconceito.

No repente, a rima é a marca da espontaneidade poética do artista que faz uma espécie de repórter do sertão e historiador do cotidiano. Os repentistas empolgam e atraem anônimos que passam para apreciar as emboladas, um estilo que não deixa de ser repente, irmã do cordel. Eles são, acima de tudo, irreverentes e criativos, resultando em relatos carregados de figuras de humor.

Essa cultura vem dos poetas dos tempos gregos de Homero e Hesíodo, falando das intrigas dos deuses, dos heróis e mortais. Essa cultura da oralidade foi passando de geração em geração até a Europa antiga e chegando depois ao nosso Nordeste.

A Bahia desponta como um celeiro de repentistas (Alô Bule-Bule), grandes duelistas com suas violas, aboios e emboladas. Contam os historiadores que o berço do repente veio de lá da Serra do Teixeira, seguindo pelo Vale do Pajeú pernambucano até alcançar o Seridó, em terras potiguares. São mais de 50 modalidades, com acentuação tônica obrigatória, espalhadas por todos estados nordestinos, com suas belezas de prosas poéticas que engrandecem ainda mais a nossa rica cultura.

FARELOS DO MESMO SACO

Quando pessoas aparentemente sérias e honestas se juntam com outras permissivas e predadoras visando os mesmos interesses para manter suas posições no poder, ou defender seu quinhão, costumamos dizer que elas são farinha do mesmo saco. Com o tempo essa farinha virou farelo de validade vencida.

No entanto, farinha é hoje um alimento que está com preço alto nas feiras por causa da inflação. Essa gente nem é mais farinha. No caso específico do Congresso Nacional entre os partidos de esquerda (nem todos), direita, extrema-direita, o “centrão” e outras bancadas “ideológicas” do mal, podemos falar que eles, ou elas, são farelos de animais do mesmo saco.

A recente votação da PEC dos Precatórios na Câmara dos Deputados (um calote das dívidas do governo federal) para liberar o “Auxílio Eleitoral do Voto” é o fato mais recente desse ajuntamento de farelos do mesmo saco de partidos entre elementos da dita esquerda (PT, PSB e PDT, principalmente) com a laia de oportunistas do “centrão” facínora do capitão-presidente.

Esses farelos do mesmo saco da maldade não são bagaços escassos e isolados. Essa mistura intragável e indigesta, sem princípios e caráter, tem se repetido no Brasil há séculos, na base do toma lá, dá cá. Portanto, não é coisa nova esse negócio de conchavos esdrúxulos quando entram em cena as benesses e os ganhos, inclusive muita grana pública.

Quando se colocou o projeto de lei de enfraquecimento político e cortes na autonomia dos promotores e defensores públicos, deputados de esquerda se uniram com o que existe de pior no Congresso. O mesmo ocorreu quando se conluiaram para desmoronar a Operação Lava Jato e deixar a porta aberta para a corrupção; dificultaram as investigações dos crimes de improbidade administrativa; e colocaram leis subjetivas em relação ao julgamento de atos de abuso de autoridade.

A maior aberração de todas elas foi quando parlamentares de esquerda, de direita, extrema-direita e conservadores neoliberais do retrocesso votaram o aumento dos fundos partidário e eleitoral bem acima dos 100%, cortando verbas da educação, da saúde, do saneamento básico, da ciência e da pesquisa. A quem interessa o voto dos analfabetos e dos menores de 16 anos? Interessa a todos eles, os farelos do mesmo saco.

Nenhum partido apoia um projeto de reforma eleitoral de verdade que reduza o número de parlamentares da Câmara Federal, do Senado e nem das Câmaras de Vereadores. Ninguém do PT e de seus aliados concorda que se vote um plano de corte das verbas indenizatórias, dos penduricalhos, das mordomias, das emendas vergonhosas e, muito menos, de seus polpudos salários. Ninguém quer acabar com essa reeleição que o ex-presidente Fernando Henrique criou.

No momento de defender seus cabedais, seus loteamentos, seus latifúndios colonialistas, suas falcatruas, seus esquemas escusos contra a nação e malfeitos, todos se tornam farelos do mesmo saco. Nesses casos, apagam de suas memórias sujas as ideologias socialistas, os direitos humanos, a justiça para todos, os pobres e a luta pela igualdade social. Com seus jargões e bordões, eles falam de um país igualitário e justo, que estão ao lado do povo, contanto que seu poder político não seja ameaçado de perdas.

Nosso país se assemelha à maioria dos territórios africanos onde saíram os colonizadores sanguinários e arbitrários sanguessugas e entraram governos ainda mais cruéis, ditadores, fascistas e nefastos que antes se posicionavam “nacionalistas e patriotas” a favor da renovação para dar ao seu povo o que sempre lhe foi de direito. Essas mazelas se arrastam desde os tempos ancestrais, reencarnados no presente. Os crimes continuam sendo perpetrados contra nossa população que por cima acredita neles.

Não se é contra colocar comida na mesa dos milhões de famintos miseráveis brasileiros, mas não dessa forma dando calote até no dinheiro que iria para o Fundo da Educação, nem tampouco enchendo as burras dos políticos com os orçamentos secretos das emendas dos balcões de compras de votos, elevando em bilhões o Fundo Eleitoral e Partidário, sem cortar as mordomias deles.

Ao orçamento de 2022, as comissões permanentes do Senado e do Congresso Nacional apresentaram 29,3 bilhões de reais em emendas. É o chamado orçamento secreto. As 14 comissões temáticas em funcionamento no Senado apresentaram um total de 24,7 bilhões de reais. No mesmo modus operandi do PT, esse auxílio de um ano visa comprar o voto de mais de 30 ou 40 milhões de pobres. A cena se repete e o Brasil só faz piorar.

Confesso que me dá náuseas, como ao se ver corpos em decomposição, quando aparecem esses “morotós” nojentos pegajosos na mídia falando da necessidade de matar a fome do pobre, de socorrer os mais necessitados e de se colocar o social acima de tudo, quando todos esses mais de 40 milhões estão sendo usados como meros objetos do voto que depois serão jogados fora como restos podres. Verdadeiramente, eles não são nada humanos. São espíritos malignos em peles de cordeiros.

UMA INTELECTUAL NIGERIANA FEMINISTA CONTADORA DE BOAS HISTÓRIAS

A nigeriana contadora de histórias, radicada nos Estados Unidos, Chimamanda Adichie, está no livro “Intelectuais das Áfricas” no capítulo escrito pela professora Izabel de Fátima Brandão, titular da Universidade Federal de Alagoas, que analisa a literatura de autoria feminista.

De acordo com Izabel, sua obra já foi traduzida para mais de trinta línguas, incluindo a portuguesa. No Brasil foram traduzidos seus romances Purple Hibiscus e Americanah. Adichie publicou ainda Half of a Yellow Sun, The Thing Around Your Neck entre outros, além de uma peça teatral.

A professora ressalta que seu pensamento feminista choca e atrai seu público leitor, com seu senso de humor e também pela forte identidade com suas origens africanas nigerianas, embora já esteja nos Estados Unidos desde 1996. Adichie fez mestrado em literatura africana na Universidade de Yale.

Com seus heróis e heroínas brancas, posição que a professora confessa que ainda lhe deixou atordoada, a nigeriana fala, entre outros assuntos, da relevância do cabelo para as mulheres negras. Na sua visão, trata-se de um tema de natureza política, conforme disse certa vez numa entrevista.

Adichie conta, segundo a professora Izabel, que quando se mudou para os Estados Unidos, sua colega de quarto, na Universidade da Filadélfia, não conhecia nada sobre a África, e o sentimento dela sobre a jovem nigeriana foi de “pena condescendente”, porque tudo o que se sabe sobre a África é que lá existe muita gente pobre.

Perguntada numa entrevista sobre a questão da mutilação genital das mulheres em certas etnias, e se elas têm como recusar (a sua é da Ibo e não tem esse procedimento), Adichie respondeu que a cultura muda; sua preservação não implica a exclusão das mulheres. “Essa consciência sobre a possibilidade de mudança cultural indica o seu engajamento político”- destaca a professora.

A escritora nigeriana se define como uma contadora de histórias, que ouve, absorve e reconta, à sua maneira. Diz ser acima de tudo, uma grande observadora. “Como sou escritora, sempre me senti a um passo atrás de tudo, observando”.

Em um de seus romances (Half of a Yellow) ela fala das gêmeas Olanna e Kainene, filhas da elite Ibo, onde trata dos três anos da Guerra do Biafra, na década de 60; dos massacres e violências cometidos, envolvendo forças muçulmanas do norte em conflito com os cristão ibos do sul.

A questão religiosa é outro tema abordado pela escritora. No conto “A Historiadora Impetuosa”, ela escreve sobre choques e rupturas entre as tradições seculares do país e as imposições da educação católica fomentada pelos missionários estrangeiros aos filhos de famílias nigerianas.

Por meio da sua literatura, ela defende que se respeite a cultura de seu povo, sem julgá-la primitiva ou inferior. Seu único livro de contos (The Thing Around Your Neck – 2009) aborda o universo de mulheres africanas. Uma temática recorrente em sua obra é a opressão localizada em várias frentes, como na família, na profissão, na religião, raça, etnia e na política.

As histórias deste livro tratam de homens e mulheres, jovens e adultos, novos e velhos, em situações as mais diversas, mas que, fundamentalmente, abordam questões culturais e identitárias localizadas não apenas no contexto do ambiente africano, mas também relacionadas à diáspora africana, especialmente da Nigéria para os Estados Unidos.

UMA GRANDE PERDA PARA CONQUISTA E A BAHIA

O Conselho Municipal de Cultura, em nome da sua diretoria, expressa seus sentimentos de pesar, extensivo a toda sua família e amigos, pelo falecimento, nesta quinta-feira (11/11), da fotógrafa-jornalista e advogada, diretora regional do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) Edna Nolasco, 63, como dedicada profissional em defesa da categoria, bem como ser humano sensível com as questões sociais dos nossos tempos.

Edna representa uma grande perda para Vitória da Conquista e para a Bahia, não somente pelos seus serviços prestados à comunidade local, mas também como grande fotógrafa e dirigente sindical sempre atenta aos problemas da classe. Vítima da Covid-19, a morte de Edna, por ser muito querida em nossa sociedade, pegou a todos de surpresa, e o Conselho só tem a lamentar a sua partida do nosso convívio.

Como fotógrafa tinha uma enorme sensibilidade no manuseio da máquina, com aquele olhar clínico único dela atrás das lentes. Como ninguém, sabia extrair sentimento e alegria das pessoas por ela fotografadas. Da natureza, do campo, do cotidiano da vida urbana, das paisagens, construções e objetos, Edna sabia enxergar o invisível aos outros olhos, e sempre foi respeitada pela sua categoria profissional.

Teria muito mais para falar da nossa companheira zelosa com os colegas nesses tempos de pandemia, da qual foi vítima. Fica aqui nossa singela homenagem à nossa querida Edna, e temos certeza que sempre estará em nossos corações e em nossas lembranças como uma pessoa que soube deixar sua marca nessa passagem transitória da vida. É a dor da finitude, da qual todos nós somos dela candidatos. O mais importante é que ela deixou um legado de ética, seriedade e honestidade em sua vida, um exemplo que todos nós devemos seguir.

Hendye Gracielle (presidente), Jeremias Macário (vice-presidente) e Marley Vital (secretário-executivo)

CONQUISTA PERDE UMA GRANDE FOTÓGRAFA E UMA PESSOA HUMANA

Mesmo há dias intubada numa UTI de hospital, em decorrência da Concid-19, o falecimento da fotógrafa-jornalista e advogada Edna Nolasco, de 63 anos, nesta quinta-feira, dia 11/11, pegou toda a classe de surpresa, não somente pela profissional que era, mas também como pessoa humana, dócil e sensível com as questões sociais e sempre se posicionando contra as injustiças dos poderosos.

Um exemplo dessa sua característica como ser humano foi sua posição, em julho deste ano, em favor da família de ciganos que teve vários de seus membros mortos por uma ação intempestiva por parte da polícia militar em represália ao assassinato de dois soldados, no distrito de José Gonçalves. Ela contestou versões dadas pela corporação e criticou a violenta repressão.

Recebi a notícia com muito pesar porque era uma grande amiga que me acolheu quando aqui cheguei em 1991 para assumir a chefia da Sucursal “A Tarde” de Vitória da Conquista. Como dirigente por alguns anos do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), Edna esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis, dando apoio ao meu trabalho de moralização e proteção da categoria quando esta era atingida.

Ao longo da minha atividade profissional em Conquista, inclusive em matérias investigativas de denúncias de irregularidades de autoridades, recordo que Edna, com seu conhecimento e contatos no meio jurídico, me passou informações valiosas que tornaram minhas matérias mais fundamentadas e calcadas em fatos verídicos.

Como fotógrafa tinha uma enorme sensibilidade no manuseio da máquina, com aquele olhar clínico único dela atrás das lentes. Como ninguém, sabia extrair sentimento e alegria das pessoas por ela fotografadas. Da natureza, do campo, do cotidiano da vida urbana, das paisagens, construções e objetos, Edna sabia enxergar o invisível aos outros olhos, e sempre foi respeitada pela sua categoria profissional.

Teria muito mais para falar da nossa amiga zelosa com os colegas nesses tempos de pandemia, da qual foi vítima, mas tive a honra, como jornalista, de registrar sua última exposição sobre LGBT realizada da Casa dos Idosos. As fotos expressivas tinham o DNA da sua sensibilidade quando estava com sua máquina na mão e uma ideia na cabeça. Sabia captar e harmonizar a imagem com a luz no tempo certo.

Fica aqui a minha homenagem Edna, e tenho certeza que sempre estará em nossos corações e em nossas lembranças como uma pessoa que soube deixar sua marca nessa passagem transitória da vida. É a dor da finitude, da qual todos nós somos dela candidatos. O mais importante é que ela deixou um sentido e exemplo de ética, seriedade, honestidade e compromisso com a vida que todos nós devemos seguir. Você estará sempre em nossas lembranças como colega amada que nos conquistou com sua singular simplicidade e empatia com os outros.

O TOMATEIRO E A PRAÇA

Em plena praça, no centro da cidade de Vitória da Conquista, que no último dia 9 completou 181 anos, na Barão do Rio Branco, o tomateiro dá seus frutos em meio à poluição dos carros e à agitação do vai-vem das pessoas que passam sem perceber a presença da natureza nos brindando com essa cultura, tão apreciada na mesa dos brasileiros. É um sinal de que o meio ambiente ainda resiste, apesar da depredação do homem com as derrubadas e queimadas das florestas, provocando o aquecimento global. Soube que uma senhora até já colheu alguns tomates que, por sinal, são vítimas dos altos preços inflacionários devido, sobretudo, a escassez do produto no campo. Ele está ali meio que solitário, mas produzindo e já alimentou alguém que percebeu sua presença num pequeno espaço de terra na vastidão do concreto. Agora com as últimas chuvas que caíram em Conquista, ele está mais viçoso e pronto para gerar mais frutos. É uma dádiva da natureza que o ser humano não sabe reconhecer.

ENTRE ENGAÇOS E BAGAÇOS (V)

Versos em formato de cordel de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário sobre a cultura nordestina e seus personagens escritores, cordelistas, trovadores e gente importante que fizeram história em nossa nação.

Pra variar fui às feiras duelar com trovadores-repentistas,

Que vinham de longe e não ia ficar como besta de fora;

Tentei embolar no varejo e pedi pra não me fazer de bosta:

Não ser humilhado por esses medievais voadores artistas;

Decidi arrastar a minha poeirenta sandália e ir embora,

Quando me deram aquelas respostas virando suas costas,

E temi enfrentar aquela batalha de improvisos nortistas;

Sai de soslaio pra trocar um lero-lero com Celso Furtado,

Um dos maiores pensadores desse nosso Estado Brasileiro,

Que planejou golpear a ignorância com seu plano futuro;

Transformar essa nação num país progressista além do muro,

E não numa gerigonça, espeto de pau e casa de embusteiro.

 

Ainda tinha muito o que fazer naquela Paraíba mulher-macho,

Acender meu facho na voz de Zé Ramalho e do Geraldo Vandré,

E a eles pedi licença para pisar terra guerreira dos menestréis;

Viajar no dorso dos alados e no galope ligeiro de “Disparada”,

Sem ser boiada ferrada como me ensinou o Celso Furtado;

Ir com fé, sem jamais me curvar e manter alerta minha espada,

Pra escutar atento o Leandro Gomes de Barros, lá de Pombal,

A cadenciar o maior cordel de todo nosso Nordeste afamado,

Cabra de versos apurados, imbatível como estrela universal,

De fartas rimas, métricas e estrofes de encher todo um jornal,

Da história de Getúlio a João Pessoa, em Recife assassinado,

E assim fui a Tambaú mirar mar pôr-do-sol do “Tone” saxofone.

 

Não podia deixar de trocar dedo de prosa com o senhor armorial,

Matuto simples de jeito pausado-cadenciado de Ariano Suassuna,

E roguei para me botar dentro do seu eterno “Auto da Compadecida”,

Só pra sacanear com a malandragem picaresca desse pícaro “Chicó”,

E quando ele falou não sei, só sei que foi assim, por trás meti o fifó;

Seu moço, o moleque pulou e correu gritando ter visto alma penada,

Numa cena pitoresca, foi parar na jagunçada do coronel “Ferroada”.

 

Era mês de fogueiras e em Campina Grande das festas juninas,

Caí na dança forrozeira com as coroas fogosas e belas meninas,

Até me empanturrar e embriagar nos arrastos poetas repentistas,

Populares repórteres e feitores de letras de raízes dos cordelistas,

De soladas violas e quadrilhas marcando encontros de amores,

E encantado fiquei com a Paraíba de tanta gente cheia de cores,

Que me injetou energia pra aprender a lição e fazer a canção,

Nessas carrocerias de andanças estradeiras, de barcos e canoas,

Entre coqueirais, dividindo varais até entrar na vizinha Alagoas.

 

DE VILA IMPERIAL DA VICTÓRIA AO MAIOR POLO DE DESENVOLVIMENTO (Final)

CONQUISTADOR E DIZIMADOR

Português da cidade de Chaves, João Gonçalves da Costa iniciou sua lida como bandeirante muito cedo, tendo logo conquistado matas baianas. Em 1744 integra-se ao grupo de João Guimarães, como capitão-mor que partiu do norte de Minas Gerais (Minas Novas). Logo o capitão se destacou pelos seus feitos de conquistador e dizimador de tribos indígenas. Na busca pelo ouro esgotado em Minas e Rio das Contas, se embrenhou pelo sertão e terminou se fixando na região de Conquista em fins do século XVIII, se tornando grande proprietário de terras e gado.

Por ter expulsado os índios às margens dos rios Pardo, das Contas, dos Ilhéus, principalmente os valentes Imborés, ou Botocudos, se tornou num dos principais desbravadores. Mas, não foi só isso, João Gonçalves abriu estradas, ligando Conquista ao litoral e tirando o sertão do isolamento.

POVOADO INDÍGENA

No final do século XVIII (1782), o desembargador de Ilhéus, Francisco Nunes da Costa determinou que João Gonçalves fundasse um povoado indígena no lugar chamado Funil, visando afastar os índios Pataxós ao sul da Capitania de Camamu, Maraú e Cairú, para facilitar a abertura das estradas que se tornaram passagem do gado que saía do “Sertão da Ressaca”.

Numa outra carta às autoridades da capitania, o desembargador mostrava a importância da expedição, discriminando o armamento entregue ao capitão-mor para explorar as cabeceiras do Rio das Contas. Durante dois meses de viagem, como conta em seus registros, o capitão percorreu matas e encontrou as aldeias dos mangoiós que assustavam moradores de Ilhéus e Porto Seguro. João Gonçalves sofreu uma doença grave e narrou a fuga dos índios e dos soldados da expedição. Dos 74, restaram apenas 34 soldados.

Nessa viagem, ele se deparou com cinco aldeias (cerca de duas mil almas) com as quais, depois de parlamentar com o chefe Capivara, conseguiu que aceitasse um tratado de paz, e ainda se comprometeu a ajudar as tribos contra os Imborés.

O nome de João Gonçalves é citado em outras correspondências enviadas pelo Intendente Geral do Ouro, João Ferreira Bittencourt ao Governo da Bahia, não poupando elogios pela sua bravura. Para o Intendente, o capitão era homem indicado para o processo de colonização da metrópole; para abrir a estrada Rio das Contas-Camamu; e povoar o “Sertão da Ressaca”, tudo feito com a devastação das aldeias indígenas em final do século XVIII.

Seu nome varou fronteiras e era sinônimo de valentia, audácia e fidelidade à Monarquia. “Não produz um século um homem do gênio deste capitão-mor” – assim escreveu o conde da Ponte em 1807. Apesar do seu ingresso no sertão com a missão de encontrar ouro, o capitão não é lembrado nos documentos como descobridor de minas auríferas.

Seu mérito foi ter desbravado o sertão com a abertura de estradas; descoberto rios; dizimado índios; e ter feito a ligação litoral-interior. Os índios tinham tanto medo da sua violência que pediram, em 1790, ao governador Fernando José de Portugal, que eles não ficassem subordinados ao capitão-mor.

O príncipe Maximiliano de Wied-Newied esteve no Brasil, em 1815, e no arraial da Conquista, em 1817. Na ocasião, conheceu o capitão com 86 anos e ficou impressionado com sua resistência. Provavelmente deve ter morrido com 88 anos, mas não se tem certeza.

INTEGRAVA O TERÇO DE HENRIQUE DIAS

Na época, conforme historiadores, a segurança da Colônia era feita pela Tropa de Linha (portugueses, comerciantes, proprietários, etc), Tropas Auxiliares chamadas de Terços (depois regimentos), Milícias e Corpos de Ordenanças (força local) onde os moradores faziam parte. Todas as vilas tinham um capitão-mor ou sargento-mor. As milícias estavam organizadas sob a forma de regimentos e funcionavam como força auxiliar da tropa de primeira linha. Os regimentos eram formados conforme a cor e a ocupação dos recrutados.

De acordo com Caio Prado Júnior, na Bahia, existiam quatro regimentos. O primeiro e o segundo eram constituídos por homens brancos. O terceiro e o quarto por homens de cor. Os pretos forros (libertos) pertenciam ao terceiro, conhecido por “Henrique Dias”. Os pardos e mulatos integravam o quarto.

Pouco se fala sobre os “Terços de Henrique Dias” só que eram formados por negros libertos, e a denominação era em sua homenagem por ter se destacado como comandante de umas das corporações que lutaram contra os holandeses em Pernambuco (chegou a perder uma das mãos na luta). Foi condecorado em 1639 com o título de Governador das Companhias dos Homens Negros e Mulatos. “Os Terços” foram extintos, em 1831, com a criação da Guarda Nacional.

O capitão João Gonçalves da Costa integrava o “Terço de Henrique Dias”, patente dada pela sua Majestade, com a incumbência de servir na conquista e descobrimento do mestre-de-campo João da Silva Guimarães. Ocupou um dos cargos mais cobiçados dentro da hierarquia militar e gozava de toda confiança do governo português.

Não se sabe se por puro preconceito, nos livros em geral de história e em apresentações de palestras no meio intelectual, mesmo em conversas em geral, João Gonçalves raramente é citado como negro pertencente ao “Terço de Henrique Dias”, conforme está registrado em sua carta de patente.

A DESCENDÊNCIA E O PODER DOS GONÇALVES

A criação e o comércio de gado foram fatores fundamentais para o povoamento e desenvolvimento do “Sertão da Ressaca”. A pecuária, então, foi primordial para a ocupação da terra. Depois das frustradas buscas pelo ouro, o capitão decidiu se fixar no Sertão, dedicando-se à criação de bovinos. No seu inventário dos bens do casal, quando da morte da mulher, o capitão declarou, entre outros bens, 700 cabeças de gado e 39 escravos, sem contar o plantio de algodão.

Entre final do século XVIII e início do século XIX, a Imperial Vila da Victoria era tão importante como qualquer vila do litoral. Além do algodão, era passagem das boiadas vindas do São Francisco para Nazaré-Cachoeira.

Na condição de proprietário do “Sertão da Ressaca”, o capitão deixou muitos herdeiros dos seus bens materiais e políticos na condução dos destinos da Vila da Vitória. Seu filho Antônio Dias de Miranda e o marido de sua neta, Luiz Fernandes de Oliveira ocuparam o cargo de Juiz de Paz do Arraial. Antônio Miranda e seu irmão Raymundo Gonçalves da Costa (filho natural) lutaram ao lado do pai no combate aos índios e na exploração do rio Pardo. Raymundo, inclusive, era tido como o terror dos índios pela sua bravura.

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