No livro “a Máscara da África”, o autor V.S. Naipaul, prêmio Nobel de Literatura, indaga ao seu amigo Rossatanga sobre o processo de iniciação. Ele responde que tinha ouvido muito acerca da iniciação quando jovem. “Todos no Gabão falam disso, ou ao menos parece. Ela requer um mestre, uma cerimônia com danças e tambores que dura a noite toda, e comer a raiz amarga de uma planta alucinógena, a iboga”.

Naipaul quis saber se nesse ritual de honra ao ancestral também está contida a ideia de virtude. Segundo Rossatanga, “não. Os ancestrais estão lá somente para oferecer resposta para nossos problemas e nos dar o que queremos. Você não tem voz na aldeia nem nos problemas dela se não tiver sido iniciado”.

Quanto ao fruto da banana, ele afirma que é um símbolo sexual da virilidade do menino, que se alimenta dela e o resto das frutas é esfregado em seu corpo. Com respeito às mulheres, ressaltou que elas têm o poder real. “Uma mulher pode não exercer o poder, mas o transmite ao seu filho”.

“Somos uma sociedade matrilinear, e as mulheres dão a vida. Esse país não foi feito para homens. O corpo das mulheres é mais forte e, por isso, são feiticeiras”. Informou ainda que “existem diversos sacrifícios rituais em que os olhos são removidos e a língua arrancada de vítimas vivas. Todo dia há um sacrifício ritual”.

Naipaul também conversou com o professor Gassiti, que também era farmacêutico por conta própria, e quis saber dele sobre a planta milagrosa do Gabão, o iboga. Respondeu que desde tempos imemoriais, a iboga tem sido usada em rituais de iniciação, e esses rituais são exclusivos do Gabão. “Podem ser chamados de patrimônio gabonês. A primeira tribo a conhecer a iboga foram os pigmeus”.

Foram os pigmeus que passaram todo esse conhecimento para outras tribos. “Eram os verdadeiros mestres e agora um americano tem uma patente e ganha milhões com ela”. De acordo com Naipaul, os pigmeus, o pequeno povo, foram os primeiros habitantes da floresta e se tornaram mestres para outras tribos. Conheciam outras incontáveis plantas, suas propriedades curativas ou venenosas. Foram os primeiros a desvendar a iboga alucinógena. Sobre este pequeno povo, vamos falar na próxima postagem.