:: set/2024
ESTAMOS NA RETA FINAL
Um amigo me disse que eleição neste país é dinheiro. Em parte, concordo porque o nosso sistema eleitoral é arcaico e cruel, para não dizer que é bruto, mas não depende somente disso. Conta também a criatividade e ir para a rua arrastar chinelo no corpo a corpo, mesmo enfrentando obstáculos e “coices” de muitos que não acreditam mais na política e nos políticos que há anos vêm traindo o eleitor com suas promessas não cumpridas.
Nessas minhas andanças pela cidade de quase dois meses, não vi nenhum candidato à reeleição fazendo panfletagens nas ruas e mostrando a cara. Talvez tenha medo de ser abordado com duas pedras na mão. Estou dizendo isso porque já recebi muitos xingamentos me colocando no mesmo cesto. Não tiro a razão do eleitor e nem procuro contrariá-lo ou tentar convencê-lo que está errado, somente respondo que ainda existem os bem-intencionados.
Sei que muitos estão estourando dinheiro em carreatas, bandeiras, adesivos, usando a máquina de gabinete (candidatos à reeleição) e em fogos de artifícios. Outros com pouco, como é o meu caso, com apenas R$4.000,00 do Fundo Eleitoral pelo PSOL, estão na luta diária fazendo uma campanha limpa e com criatividade, conversando diretamente com o povo no “olho no olho”.
Tenho usado meu megafone para passar minha mensagem de seriedade, ética e honradez; falar das minhas propostas em defesa da cultura; criticar os políticos corruptos; denunciar as mentiras em propagandas enganosas; e conscientizar a população para a questão do voto consciente, justamente naqueles que estão preparados e capacitados para exercer o cargo.
Estamos chegando à reta final de uma maratona árdua, desigual e desleal, mas o que me deixa tranquilo é que estou cumprindo a minha missão e enfrentando mais um desafio na vida, de tantos outros que já encarrei e venci, mesmo cometendo alguns erros, pois ninguém é perfeito. Entendo que estou dando a minha contribuição passando o meu recado e condenando os malfeitos.
A eleição no Brasil ainda é um modelo coronelistas, só que num estilo mais moderno e sofisticado, mas sua essência permanece a mesma daqueles tempos do voto de cabresto, na base dos favores e do dinheiro. O eleitor que vende seu voto é pior do que aquele que compra, mas ele foi criado e formado nessa cultura maldita.
Quando decidi entrar nessa disputa já sabia como funcionava o sistema, mas resolvi enfrentá-lo e me coloco como se fosse um Dom Quixote nessa “batalha” contra os moinhos de vento. Um outro amigo me disse que eu iria sujar minhas mãos. Respondi que a esta altura da minha vida e, como minha trajetória de seriedade, não iria me contaminar.
Acredito na vitória, mas se ela não vier, saio de cabeça erguida da mesma forma que entrei, como já ocorreu em tantas outras funções que exerci em minha vida profissional e fora dela. Enquanto tiver vida estarei nessa trincheira da resistência em defesa da melhoria do nosso povo, principalmente através da educação e da cultura.
Em “Um Preito de Gratidão”, meu amigo e companheiro de jornalismo, Carlos Gonzalez, me deixou emocionado com suas belas palavras a meu respeito e, sobretudo, quando fala que a Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista ainda continua de baixo nível, necessitando de pessoas preparadas e capacitadas.
Suas palavras, meu amigo, me deram mais forças para chegar nessa reta final com a vitória na mão, e que será de todos. Não estou nesta empreitada à busca de status e vaidades, mas para deixar meu legado nesta cidade de 400 mil habitantes, que me acolheu e me concedeu o título de cidadão conquistense. Como disse o imperador Augusto César: A sorte está lançada.
UM PREITO DE GRATIDÃO!
Carlos González – jornalista
O povo de Vitória da Conquista terá a oportunidade, no próximo dia 6, de manifestar seu agradecimento a um filho adotivo desta cidade: o jornalista e escritor Jeremias Macário de Oliveira, dando-lhe uma cadeira, mais do que justa, na Câmara de Vereadores, que necessita, com urgência, passar por um processo de purificação espiritual. Vamos só lembrar o “saltar de muro” e a corrida até o gabinete do prefeito. Começava a adesão ao partido do prefeito de plantão, ocorrida em todas as eleições. Uma prática comum nos 5.570 municípios brasileiros
Senti-me na obrigação de lembrar aos conquistenses mais velhos, e contar aos mais jovens, o papel exercido por Jeré, como é chamado por amigos e colegas, entre aqueles que deram sua contribuição para que Conquista – na verdade, toda a região Sudoeste foi beneficiada – se tornasse, economicamente, no terceiro município do Estado.
Sentei diante do notebook, mesmo atravessando um processo de recuperação de um acidente doméstico, que me causou uma diplopia (visão dupla). Passou pela minha cabeça a ideia de dar uma pequena ajuda a um baiano sertanejo que, aos 77 anos, ainda pretende dar sua contribuição à cidade que o recebeu de braços abertos. Trocou o conforto do recém-inaugurado prédio de “A Tarde”, no bairro classe “A” do Caminho das Árvores, em Salvador, pelos contratempos que iria encontrar no pouco explorado Sudoeste Baiano.
Por iniciativa de um jovem gerente financeiro e administrativo, o visionário Arthur de Almeida Couto Filho, a direção de “A Tarde” decidiu levar a notícia ao interior baiano. Sucursais do jornal foram abertas em Vitória da Conquista, Juazeiro, Feira de Santana e Ilhéus. Os leitores – muitos deles se tornaram assinantes – aguardavam ansiosamente a chegada do jornal. Aos domingos, as bancas vendiam cerca de 100 exemplares. Atualmente, somente os assinantes recebem, nos finais das tardes, “o vetusto vespertino da Praça Castro Alves”.
Testemunhei, por mais de três décadas, os “anos dourados” de “A Tarde”. Jeremias era o companheiro de Redação e dos papos nas mesas dos bares após o fechamento do jornal. Seu “forte” era a economia, haja vista que chefiou as assessorias de comunicação da Federação das Indústrias, Secretaria da Indústria e Comércio, Sebrae e Promoexport. Convidado por Arthur Couto veio chefiar a Sucursal da empresa jornalística dos Simões, onde permaneceu por mais de 30 anos, deixando um legado de benefícios para toda a região.
Filho de Piritiba, no sertão norte-centro da Bahia, onde passou a infância, estudou e ajudou o pai como feirante, Jeremias logo se adaptou aos costumes de Vitória da Conquista. Além da área redacional, a Sucursal era responsável pela venda de assinaturas, a publicidade e a distribuição dos exemplares. Os repórteres não se limitavam a cobrir as pautas que vinham de Salvador. Frequentemente, percorriam estradas poeirentas e esburacadas, em busca de uma interessante notícia da região. Esse esforço deu à equipe vários prêmios em concursos jornalísticos promovidos pela Associação Baiana de Imprensa (ABI) e por entidades econômicas estaduais.
Aposentado, Jeremias continuou morando em Conquista, dedicando-se, de corpo e alma, à valorização da cultura local. Inicialmente, reservou uma dependência de sua casa, no bairro Felícia, onde criou o “Espaço Cultural “A Estrada”, com um acervo, atualmente, de mais de 5.000 itens, incluindo 1.500 livros, uma autêntica biblioteca, além de CDs, DVDs, discos de vinil, revistas e chapéus; um blog publica diariamente comentários sobre os mais variados temas. Há 14 anos, esse espaço, onde se respira cultura, promove mensalmente o “Sarau Colaborativo “A Estrada”, reunindo intelectuais, professores, jornalistas, artistas e pessoas interessadas em impedir a morte da cultura local.
O jornalista piritibano tem cinco livros publicados. Um minucioso trabalho de pesquisa, “Conquista Cassada, cerco e fuzil na cidade do frio” deve ser lido por todo conquistense e distribuído nas escolas públicas. Trata-se de um minucioso trabalho de pesquisa. Narra a invasão da cidade por soldados armados, em maio de 64, com o objetivo de destituir e prender o prefeito eleito José Pedral Sampaio e dezenas de pessoas.
O jornalista piritibano presidiu, de 2021 a 2023, o Conselho Municipal de Cultura. Acreditava ele, que, no cargo, tiraria a cultura da UTI. Basicamente, pediu à prefeita Sheila Lemos e aos vereadores da situação, um plano para o setor; uma secretaria exclusiva, desmembrada do esporte, lazer e turismo; e recuperação de prédios e monumentos históricos, como o Teatro Carlos Jehová, a Casa Glauber Rocha e o Cine-Teatro Madrigal. Só faltaram lhe responder que “cultura não dá voto”.
Jeremias é um lutador. Cidadão comum, ele batalhou décadas pelo que acreditava. Investido da função de membro do poder legislativo, apoiado pelo seu eleitor, ele deixará seu nome marcado na cultura e no esporte, independente do prefeito que for eleito no domingo.
NOS JARDINS DA MINHA EXISTÊNCIA
(Chico Ribeiro Neto)
Havia dois leões de mármore, em tamanho natural, na entrada principal do Passeio Público de Salvador. Me botaram sentado num leão desses e tiraram uma foto. Eu devia ter uns 6 pra 7 anos. Mais tarde, um leão sumiu; depois o outro fugiu com o dono. Nunca mais vi aquela foto.
No Passeio Público havia uns bancos próprios para transar. Perto do Teatro Vila Velha havia uns caminhos em S feitos de fícus, altos, que terminavam em um banco. Um casal ali dentro, principalmente à noite,, ficava quase que completamente à vontade. Quando chegava outro casal, pegava o sinuoso caminho e logo voltava ao ver o banco ocupado. Eram uns quatro bancos desses, sempre bem escondidos pelas folhagens.
Ainda no Passeio Público tinha uma pracinha redonda, com chão de areia fofa, onde ficavam 3 ou quatro balanços, que depois se acabaram ficando somente as estruturas de ferro. Ali a gente jogava um “baba”. O ferro ajudava a driblar, mas também era uma porrada certeira na cabeça.
O Jardim Suspenso, defronte ao Passeio Público, também era bom pra namorar, acho que até hoje. Dali era um pulo para o Campo Grande, onde a gente ia logo jogando pedras no bambuzal – que existe até hoje, perto do antigo Hotel da Bahia – para ouvi-las ricochetear entre os bambus. PAM-PAM-PAM, a pedra batia umas 3 a 4 vezes.
O Campo Grande pegava fogo era na semana do 2 de Julho, data da Independência do Brasil na Bahia em 1823 (?). A banda tocando, a pipoca pulando e a paquera comendo solta. Lá em cima o Caboclo e a Cabocla davam um sorriso de felicidade e aprovação.
Uma vez, arranjei uma namorada que morava na Saúde. Fomos namorar à noite atrás da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato (?) que fica no Jardim de Nazaré. Quando a gente estava no bembom, vi uma forte luz sobre nós e outros casais. Era um PM, de dentro da viatura, com uma potente lanterna e mandando todo mundo sair. Um legítimo empata foda.
Não sei mais se vi ou me contaram, só sei que a história é muito boa. Havia um busto de Rui Barbosa na praça do mesmo nome (não lembro se em Ipiaú ou Jequié, na Bahia). A galera descobriu que a cabeça do “Águia de Haia”, saía facilmente do pescoço (?), era só desatarraxar (?). E a cabeça de Rui, feita de um material leve, não dava para chutar em gol, mas rolava durante a brincadeira de “bobinho”. Finda a quase peleja, a cabeça de Rui era devolvida ao seu pescoço, no pedestal.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
“SEJA LIVRE DE TI MESMO”
De Camila Cabral (poetisa selecionada) Volta Redonda – Rio de Janeiro, do livro “X Coletânea Viagem pela Escrita” – homenagem à poetisa Hilma Ranauro.
Permaneça mãos limpas,
Nada na memória d´alma atada,
Para quando,
Em última miséria
Nada tenhas a perder,
Nem a ti mesmo.
Que mais almejar
Poderia teu coração?
Que glória teu peito
Agora nu a alcançar?
Tempo desmedido em ti
Te levando rumo ao nada.
Esse destino fatídico
A colher tua liberdade afanada.
Que grande honra seria
A independência ora perdida?
Queimado de sol, senta-se
Respira e apenas sinta.
Que a vida te faz a corte
Quando és rei de ti mesmo.
A CULTURA PEDE SOCORRO
Numa reunião ontem à noite (dia 25/09) do coletivo de artistas conquistenses, organizado por Dayse Maria, os componentes deixaram claro que a cultura de Vitória da Conquista pede socorro porque nem existe uma política destinada ao setor, sem contar que todos equipamentos municipais estão fechados.
O encontro propõe formular um documento a ser entregue aos candidatos a prefeito, tendo em vista que o assunto nem é debatido em suas propagandas e entrevistas, muito menos incluso em seus programas de trabalho.
Para o artista e professor Dirley Bonfim, a situação, segundo ele, é melancólica, triste e angustiante. Citou a última conferência do ano passado, da qual nem o relatório das discussões foi divulgado até hoje. Ele apresentou vários ofícios enviados pelo Movimento Cultural ao poder público que simplesmente foram engavetados.
O Encontro com o Setor da Cultura, realizado na Apae, faz um apelo para juntos construirmos propostas para serem apresentadas aos candidatos. Dayse afirma que “não podemos deixar este espaço em branco. É necessário expor a realidade dos artistas das diferentes linguagens; apresentar nossas demandas e fortalecer o seguimento da cultura. Vamos alimentar nossas esperanças e mostrar a força da cultura”.
O jornalista e escritor Jeremias Macário, candidato a vereador pelo PSOL, que defende o resgate da nossa cultura, fez algumas pontuações que deverão inseridas no documento, como criação do Plano Municipal de Cultura, instalação da Casa dos Conselheiros, reforma e abertura do Teatro Carlos Jheovah, do Cine Madrigal e da Casa Glauber Rocha, reativação do núcleo de preservação do patrimônio histórico e criação da Secretaria de Cultura, desmembrando do turismo, esportes e lazer.
O advogado e ativista cultural, Alexandre Aguiar, falou que a cultura precisa de uma legislação, passando pela formulação de um plano, implantação da Fundação Cultural, uma empresa para o audiovisual, dentre outras medidas que ressuscitem a nossa cultura que pede socorro.
As críticas foram veladas, e os artistas, como Antônio Andrade Leal, Afonso, Luis Altério e outros presentes ao encontro mantiveram praticamente a mesma linha em suas falas e se mostraram angustiados com o atual quadro de abandono para com a nossa cultura, justamente numa cidade como Vitória da Conquista, de quase 400 mil habitantes e a segunda do interior da Bahia.
Todos se mostraram revoltados e se dispuseram a fazer firmes cobranças ao poder executivo a fim de que haja mudanças urgentes e a cultura volte a ter o seu lugar merecido na sociedade. O grupo se mostrou unido e determinado no sentido de que o novo prefeito priorize o setor com mais verbas e recursos para reativar a nossa cultura.
A MEDIDA PROTETIVA QUE NÃO PROTEGE
Em nosso Brasil existe um monte de leis do faz de conta que, na prática, não funcionam. Uma delas é a medida protetiva da Lei Maria da Penha que finge proteger a mulher contra o marido violento que espanca e ameaça a esposa ou namorada de morte.
O cara bate na mulher que vai à delegacia e esta decreta uma medida protetiva, inclusive estabelecendo uma distância máxima de aproximação da vítima. Quem vai vigiar o sujeito 24 horas ao dia para que ele não cometa o crime?
Os noticiários de feminicídios estão aí para comprovar que a medida protetiva não protege a mulher. Portanto, é mais um engodo, um faz de conta, como acontece na educação onde o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende.
Essa medida protetiva só funcionaria no Brasil se um policial fosse designado a ficar no pé do cara fiscalizando suas atividades cotidianas, o que é impossível. O criminoso tem o trânsito livre para acompanhar a mulher nas ruas ou em qualquer estabelecimento, inclusive na porta da sua casa.
Para ser realista, essa tal de medida protetiva não existe, a não ser no papel, e os assassinatos estão aí, inclusive em público e à luz do dia, ocorrendo diariamente para demonstrar que é mais uma lei inoperante e impossível de ser cumprida. Tudo não passa de uma farsa. O pior é o mais triste é que a mulher acredita e até baixa sua vigilância.
O mesmo acontece com a prisão domiciliar para os ricos e poderosos que cometem delitos e malfeitos, como corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, entre outros crimes contra a sociedade.
Por acaso um guarda vai ficar na porta da mansão do safado para impedir suas saídas e escapulidas? Existe prisão domiciliar para pobre? A prisão dele é na cadeia, na grande maioria das vezes de forma ilegal e sem ser julgado. Muitos são até inocentes.
Por falar nisso, justiça no Brasil é somente para o pobre. O rico é preso num dia e no outro já está livre, como o caso recente do Gustavo Lima e da influenciadora que já estão numa boa sob “medidas cautelares”, pura enganação. Infelizmente, aqui nessa terra da Vera Cruz, a injustiça está acima da justiça.
Outra coisa hilária é dizer que divulgar fake news, ou mentira no bom português, é crime. A recomendação é que a pessoa verifique e pesquise se a notícia é ou não verdadeira. Quantos fazem isso nos tempos atuais de tanta correria?
A grande maioria nem sabe fazer essa checagem e outras passam para frente, acreditam e ainda espalham o boato, como se fazia antigamente com as fofocas, quando nem se sonhava que um dia iria surgir a internet e as redes sociais, ou infernais.
Vivemos num país do faz de conta, e os brasileiros em geral se tornaram insensíveis diante dos bárbaros crimes porque o anormal se tornou normal, e o incorreto em correto. Um exemplo é que o Brasil está em chamas, e a sensação que temos é que ninguém se importa com isso. Por que tanta descrença com relação à política e aos políticos?
Para as pessoas, todos são maus, e não adianta tentar convencer que ainda existem os bons. Chegamos ao ponto de que todos foram contaminados com o vírus da maldade. Talvez seja por isso que os bons optaram por ficar em silêncio e não abrir a boca para declarar que são diferentes.
A FALTA DE CONFIANÇA DOS ELEITORES
Em minhas andanças como candidato a vereador por Vitória da Conquista, no próximo dia seis de outubro, tenho encontrado vários tipos de eleitores, com os quais procuro fazer minha apresentação e explicar que me sinto preparado para assumir uma cadeira no legislativo.
Nos tempos atuais, não é fácil colocar a “cara na tela”. Confesso que tenho recebido “patadas e coices” de gente revoltada contra os políticos, o que significa a falta de confiança na classe por ter sujado a imagem com falsas promessas, atos de corrupção e ausência deles depois de eleitos.
A gente comenta muito isso na teoria, o que é comprovado na prática. Talvez por esse motivo é que você pouco ver candidato à reeleição pedindo voto. Tudo indica que eles têm medo de fazer o “tete a tete” ou o “olho a olho” com o eleitor e coloca uma equipe para fazer panfletagem.
Tenho recebido muita gente educada e receptiva, ao ponto de bater um papo e até apresentar meu currículo e minhas propostas de defesa da nossa cultura e incentivo aos esportes. Outros fecham a cara e vão logo dizendo que os políticos são todos iguais, e não adianta você convencer que também não é assim. Que não se pode generalizar.
“Vocês só aparecem em épocas de eleições” – disse uma senhora quando me aproximei para entregar meu folheto e o tão conhecido “santinho”. Alguns não gostaram nada do partido de esquerda que escolhi e acharam que deveria estar do outro lado. Tento explicar que se trata de uma questão ideológica e devemos respeitar o pensamento do outro.
Teve um senhor idoso, no bairro Santa Cecília, que já me recebeu de cara feia por ser do PSOL e arrancou do bolso o celular e clicou num vídeo (poderia ser fake news) onde um candidato do partido, no Rio de Janeiro, fumava uma maconha e defendia a descriminalização da droga. Pregava a liberdade de não ser invadido em sua privacidade e ser preso.
“Isso está direito” – indagou com certa raiva o senhor. Apenas disse para ele que cada um tem seu direito de pensar e devemos respeitar a liberdade do outro, desde quando não seja agressivo. Senti, pela sua posição, que ele estava se sentido agredido pelo candidato do PSOL.
O candidato precisa ter a coragem de encarar, e não pode discutir e contrariar o eleitor, que tem a sua razão de não acreditar mais nos políticos porque foram os maus, ao longo desses anos, que criaram essa imagem ruim.
A esta altura, como você vai convencer o eleitor de que é diferente e não faz parte da corja que não presta? O tempo é curto para distribuir sua propaganda e, o mais certo, é você seguir em frente nessa dura caminhada de boas intenções. Por onde passo, procuro, dentro do possível, deixar a imagem de que nem todos são iguais.
Entre a Vila Serrana e a Urbis V, se não me engano, entrei num boteco e fui bem recebido, tanto que deu até tempo para prosear. Um disse ter gostado de mim por ser autêntico por me apresentar como pessoalmente como candidato.
O amigo ao lado levantou-se e disse que todo candidato a vereador deveria ter o curso de nível superior e comparou o processo como se exige nos concursos públicos onde a pessoa tem que ter um certo nível de escolaridade para se habilitar a um emprego.
O LIVRO CONTINUARÁ VIVO
Há mais de 20 anos quando surgiu a internet e o celular, aquele Motorola chamado de tijolo, muita gente metida a entender do assunto, os mais novos empolgados internautas, saiu espalhando por aí em suas palestras que o livro estava com sua data de morte, e muitos acreditaram nisso. Falavam até que iam para o lixo, ou as traças se encarregariam de destruí-los.
Nunca acreditei nesse papo furado. Aquele discurso me fazia lembrar do mesmo quando surgiu a televisão na década de 50 quando disseram que era o fim do rádio. Depois de todo esse tempo, com o e-book e tudo, o livro de papel, ou o impresso, continua e continuará mais do que vivo, e agora, para nossa felicidade, as crianças e jovens estão criando neles o hábito da leitura.
A prova disso está nas visitações das bienais e nas feiras literárias, com novos lançamentos, e as editoras se reanimando. Todo esse quadro é um bom sinal para o futuro. Parece que a praga do celular está passando da fase da adolescência para uma juventude mais madura e consciente e daí para a idade adulta.
Todo este avanço tem mais a mão do setor privado, do surgimento de novos escritores, inclusive do gênero poético e do romance, e de ações empresariais, do que dos governos municipal, estadual e federal que, infelizmente, pouco têm ligado para a cultura, como é o caso particular de Vitória da Conquista.
De acordo com pesquisas do setor livreiro, cerca de 60% das escolas públicas ainda não têm bibliotecas, contrariando metas do poder público federal de que toda unidade escolar deveria ter seu acervo literário. É muito triste quando ouvimos candidatos pregarem que cultura não dá voto, mas isso vai mudar.
Para suprir essa lacuna, bibliotecas comunitárias de bairros urbanos e até na zona rural estão se espalhando por várias cidades do país, graças a iniciativas de pessoas abnegadas e ávidas pelo conhecimento e pelo saber. É uma constatação de que nem tudo está perdido. Podemos sim, recolocar o livro em seu pedestal dos anos 50 e 60 quando nossos estudantes andavam com um autor debaixo do braço.
Esse quadro pode até demorar mais algum tempo, mas a esperança está nas crianças que estão nos dando esses sinais de que o livro continuará imortal como sempre. É uma luz no fim do túnel depois de anos de escuridão. Esses meninos e meninas serão multiplicadores quando se tornarem pais.
Portanto, em meio a todo esse turbilhão das redes sociais, da tecnologia avançada e da inteligência artificial, o livro viverá. Com o crescimento da leitura, me arrisco a dizer que também os jornais e as revistas impressos também retomarão seus espaços nos meios de comunicação. Quem viver, verá.
INSTANTE DE PASSARINHO
(Chico Ribeiro Neto)
Acordei e vi que tinha um passarinho na estante. Pequeno e marronzinho, parecia um pardal. Me aproximei dele e, antes de tocá-lo, ele fugiu. Mas deixou uma lembrança: um cocozinho.
Antes de voar, despertou a atenção de quem estava na estante. Manuel Bandeira olhou embevecido para o passarinho, Pablo Neruda piscou o olho e Vinicius de Moraes fez um poema de amor.
No canto da estante Rubem Braga pensava em nova crônica, parecida com “O Conde e o Passarinho”, onde descreve o Conde Matarazzo passeando pelo parque e de repente aparece um passarinho que leva sua medalhinha de ouro que exibia na lapela: “Bicou a fitinha, puxou, saiu voando com a fitinha e com a medalha.”
Os serenos olhos de Cecília Meireles também viram o passarinho e lembraram o início do poema “Pássaro”:
“Aquilo que ontem cantava
Já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.”
De lá do alto da estante, sentado no seu livro “Cantigas para um passarinho à toa”, Manoel de Barros lembrou: “Achava que os passarinhos são pessoas mais importantes do que aviões. Porque os passarinhos vêm dos inícios do mundo. E os aviões são acessórios.”
Cansado de cagar lá de cima das árvores e dos fios, o que suja a cabeça de muita gente (alguns até acham que é sorte), o passarinho resolveu “se descarregar” na minha estante.
Ele não deixou nenhuma mensagem além do cocozinho. Olhei pela janela e sorri para o mundo. Acho que foi uma mensagem feliz.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
ASSIM…
Da poetisa Yna Beta – Rio de Janeiro, selecionada pela X coletânea Viagem pela Escrita – homenagem à poetisa Hilma Ranauro.
Da varanda aprecio as montanhas
Tão lindas e tão distantes
Mas, ao mesmo tempo, tão perto.
Assim… é você no meu coração!
A chuva que cai deixa
Um cheiro de terra molhada
Aroma de saudade de um tempo ido
Que não volta mais
Assim… passo meus dias
De pandemia que não tem fim,
E esperança num futuro incerto.
Cuidando dos meus amores
Numa alegria nostálgica
Assim… continuo com meus sussurros…
20/01/23
Hilma é professora de língua portuguesa, poetisa e contista. Publicou dois livros de poemas “Descompasso” (1985) que recebeu menção honrosa no Prêmio Guararapes, da União Brasileira de Escritores, e “Um murro no espelho baço” (1992).