:: 5/set/2024 . 22:55
BUROCRACIA E DESIGUALDADES
Tem aqueles que seguem as normas, são corretos e éticos, mas terminam sendo penalizados porque o errado se tornou normal neste país. Tem aqueles que burlam as leis, usam de artifícios ilegais e acabam sendo premiados porque, infelizmente, a maioria do nosso povo é inculta e não sabe julgar os inescrupulosos trapaceiros.
Estou falando das eleições, ou poderia estar me referindo a um outro assunto qualquer neste nosso Brasil, onde predominam a burocracia e as desigualdades, não somente no âmbito econômico-social. A Justiça Eleitoral exige um monte de burocracia para o candidato se registrar, inclusive na prestação de contas, como se isso fosse criar um pleito igual para todos.
No entanto, sabemos muito bem que não é isso que ocorre quando o juiz fala em igualdade na corrida eleitoral. Quem tem mais recursos sai na frente com seus santinhos, praguinhas e outros materiais de propaganda, e aí é onde reside a desigualdade, sem falar em vereadores que estão no páreo à reeleição e usam seu pessoal de gabinete por debaixo do pano na caça ao voto.
Quem fiscaliza o uso dessas armas ilegais pelos astutos, que não faz parte do jogo? Igualdade na disputa, senhor juiz, só existe na teoria ou no faz de conta. Quem possui mais condições financeiras já está nas ruas com suas equipes de trabalho desde o início da campanha, se não me engano no meado de agosto.
Outros, com sua ética, seriedade e honradez, cumpridores das leis e preocupados em não deixar “rabo” na justiça fazem o que podem, dentro das suas possibilidades, para conquistar e mostrar para o eleitor que avalie com consciência um nome certo na hora de votar para ser seu representante na Câmara de Vereadores.
Lamentável, mas, em muitos casos, ainda vence o outro lado da moeda suja que frauda as leis burocráticas e não tem nenhuma ideologia e compromisso com o povo. Sempre dizemos que Vitória da Conquista merece um legislativo à altura da cidade, pelo seu tamanho e importância no cenário baiano.
Além da burocracia e das desigualdades, contamos ainda com as mentiras e engodos no horário eleitoral, como colocar a questão da segurança como se fosse coisa da alçada municipal, quando a proteção ao cidadão contra a violência é de responsabilidade dos governos estadual e federal, mas poucos eleitores sabem fazer essa distinção.
Essa é uma das maneiras de ludibriar a Justiça Eleitoral, sem ser punido, porque fica difícil detectar a safadeza do marqueteiro. Alguém já disse, não sei se o estadista inglês Churchill, ou até um filósofo, que numa guerra, a maior vítima é a verdade. O mesmo vale para um pleito eleitoral.
O FILHO DO PALHAÇO TÁ COM FEBRE
(Chico Ribeiro Neto)
Chegou o circo em Ipiaú, Bahia. De dia, a gente ia ver o movimento de armação da lona, o leão comendo, o elefante cagando e a bailarina se exercitando.
Mais tarde, um palhaço de perna de pau percorria a cidade jogando ingressos e bombons para a garotada.
Começa o espetáculo. As luzes são lindas, a pipoca é mais gostosa, a orquestra ataca e entram todos os artistas para a apresentação inicial.
“Todo mundo vai ao circo
Menos eu, menos eu
Como pagar ingresso
Se eu não tenho nada
Fico de fora escutando a gargalhada
A minha vida é um circo
Sou acrobata na raça
Só não posso é ser palhaço
Porque eu vivo sem graça”
(Música “O Circo”, de Batatinha).
O mágico faz um bocado de coisa sumir e aparecer. Todos aplaudem. “Rapaz, você viu?” “Como é que ele consegue fazer aquilo?”
E o Globo da Morte? “Rapaz, eram três motos. Teve uma hora que cheguei a fechar o olho com medo das motos bater”.
O furo na meia da trapezista, bem na batata da perna, não conseguia afetar a sua beleza. Na hora do salto mais perigoso a bateria tocava e nosso coração pulava. Aquele salto foi demais!
Vi um circo mambembe uma vez em Amoreiras, na ilha de Itaparica. Sem leão, sem elefante e sem trapezista, sua maior atração era a rumbeira: “Se preparem que agora vocês vão assistir a mais famosa rumbeira das Américas. Vinda diretamente de Cuba, vem aí a espetacular, a sensual, a eletrizante, aquela que faz o espectador pegar fogo. Com vocês, a sensacional A-ni-ta Do-min-guez”. Tan-tam-tam-tarantan-tam… Chovia muito, lona furada, goteira na cabeça e a rumbeira no palco. Podia pingar à vontade…
Menino, eu admirava os ciganos. Tinha uns 10 anos, fui com a turma ver um acampamento de ciganos que estava montado perto da Rua da Imperatriz, na Cidade Baixa, onde morei,. Lá, uma cigana me pediu para comprar um quilo de açúcar no armazém, fui e ganhei uma moeda na volta. Cheguei em casa e contei à minha mãe Cleonice, que logo esbravejou: “Pois é, quando eu peço pra ir no armazém você faz logo cara feia. Agora, foi só a cigana pedir que você foi bonitinho. Sendo assim, pode ir embora morar com a cigana.” Saí escabriado.
Voltando ao circo. O famoso ator Bemvindo Sequeira me contou que conviveu uns dias com os artistas de um circo mambembe no subúrbio de Salvador. Ele disse que numa noite, durante uma apresentação, um dos palhaços tinha um filho, ainda bebê, que estava com febre alta. Ele fazia as graças e piruetas e nos intervalos ia aferir a temperatura da criança, cujo berço estava atrás das cortinas. E voltava ao picadeiro para fazer novas graças. Bemvindo disse que nunca se esqueceria daquela cena.
Depois de uma tarde no circo, a gente volta mais feliz pro berço do mundo.
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
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