(Chico Ribeiro Neto)

Chegou o circo em Ipiaú, Bahia. De dia, a gente ia ver o movimento de armação da lona, o leão comendo, o elefante cagando e a bailarina se exercitando.

Mais tarde, um palhaço de perna de pau percorria a cidade jogando ingressos e bombons para a garotada.

Começa o espetáculo. As luzes são lindas, a pipoca é mais gostosa, a orquestra ataca e entram todos os artistas para a apresentação inicial.

“Todo mundo vai ao circo

Menos eu, menos eu

Como pagar ingresso

Se eu não tenho nada

Fico de fora escutando a gargalhada

A minha vida é um circo

Sou acrobata na raça

Só não posso é ser palhaço

Porque eu vivo sem graça”

(Música “O Circo”, de Batatinha).

O mágico faz um bocado de coisa sumir e aparecer. Todos aplaudem. “Rapaz, você viu?” “Como é que ele consegue fazer aquilo?”

E o Globo da Morte? “Rapaz, eram três motos. Teve uma hora que cheguei a fechar o olho com medo das motos bater”.

O furo na meia da trapezista, bem na batata da perna, não conseguia afetar  a sua beleza. Na hora do salto mais perigoso a bateria tocava e nosso coração pulava. Aquele salto foi demais!

Vi um circo mambembe uma vez em Amoreiras, na ilha de Itaparica. Sem leão, sem elefante e sem trapezista, sua maior atração era a rumbeira: “Se preparem que agora vocês vão assistir a mais famosa rumbeira das Américas. Vinda diretamente de Cuba, vem aí a espetacular, a sensual, a eletrizante, aquela que faz o espectador pegar fogo. Com vocês, a sensacional A-ni-ta Do-min-guez”. Tan-tam-tam-tarantan-tam… Chovia muito, lona furada, goteira na cabeça e a rumbeira no palco. Podia pingar à vontade…

Menino, eu admirava os ciganos. Tinha uns 10 anos, fui com a turma ver um acampamento de ciganos que estava montado perto da Rua da Imperatriz, na Cidade Baixa, onde morei,. Lá, uma cigana me pediu para comprar um quilo de açúcar no armazém, fui e ganhei uma moeda na volta. Cheguei em casa e contei à minha mãe Cleonice, que logo esbravejou: “Pois é, quando eu peço pra ir no armazém você faz logo cara feia. Agora, foi só a cigana pedir que você foi bonitinho. Sendo assim, pode ir embora morar com a cigana.” Saí escabriado.

Voltando ao circo. O famoso ator Bemvindo Sequeira me contou que conviveu uns dias com os artistas de um circo mambembe no subúrbio de Salvador. Ele disse que numa noite, durante uma apresentação, um dos palhaços tinha um filho, ainda bebê, que estava com febre alta. Ele fazia as graças e piruetas e nos intervalos ia aferir a temperatura da criança, cujo berço estava atrás das cortinas. E voltava ao picadeiro para fazer novas graças. Bemvindo disse que nunca se esqueceria daquela cena.

Depois de uma tarde no circo, a gente volta mais feliz pro  berço do mundo.

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