:: 6/nov/2023 . 22:49
A MAIS EMOCIONANTE DAS “LIBERTADORES”
Carlos González – jornalista
Um time que tem um “presidente” que, humildemente, baixa a cabeça para ouvir e cumprir uma missão quase impossível, não podia deixar escapar a oportunidade de ganhar seu primeiro troféu como profissional. Recém-saído das divisões de base, John Kennedy jamais esquecerá aquele gol, aquela emocionante vitória, assim como milhões de torcedores do Fluminense, que comemoraram em todo o Brasil a primeira “Libertadores da América”.
As celebrações de campeonatos ganhos, aqui ou em qualquer lugar, por clubes de maior ou menor expressão no cenário internacional, diferem muito pouco. Observando com mais apuro os minutos finais do jogo de sábado e as cenas que se seguiram ao apito final do árbitro, o epílogo daquele espetáculo tendo o Maracanã como palco foi único.
Fugiu da minha mente naquele instante a ideia de que o jogador de hoje é um mercenário, sem amor a camisa que veste. Essa falta de sentimento talvez decorra do pouco tempo que ele passa no clube. Pois bem, vi no Fluminense manifestações comoventes e excessivamente esfuziantes.
Jogadores veteranos, com largo caminho percorrido no Brasil e na Europa, donos de troféus, medalhas e faixas, como o lateral Marcelo, que durante oito anos vestiu a camisa do Real Madrid, eleito pela FIFA como o melhor time do século XX; Fábio e Felipe Melo, bicampeões da “Libertadores” pelo Palmeiras; ao comedido Ganso, recuperado pelo técnico Fernando Diniz.
Entre os 11 jogadores do Time de Guerreiros que iniciaram a partida contra o Boca Junior seis têm mais de 35 anos – o mais velho é Fábio com 43 -, mostrando aos preconceituosos deste país que, mesmo numa atividade tão desgastante como o esporte, há espaço para os mais velhos.
A experiência desses “veteranos”, aliada ao trabalho de Fernando Diniz (uma revelação nos momentos mais alegres do espetáculo), foi transmitida aos mais jovens durante toda a campanha do campeonato (8 vitórias, 3 empates e 2 derrotas; 24 gols a favor e 12 contra. Cano, artilheiro do torneio, com 13 gols, merecia uma vaga na seleção da Argentina). O Tricolor colocou na sua conta bancária 27,15 milhões de dólares (cerca de R$ 136 milhões).
Infelizmente, o Fluminense, com o real desvalorizado, vai ter dificuldades para conter o assédio dos clubes europeus em seus jovens valores. O zagueiro Nino está com transferência encaminhada para o Nottingham Forest, da Inglaterra; os britânicos Arsenal, Liverpool e Fulham, disputam o médio André; o Zenit, da Rússia, oferece R$ 63 milhões pelo ponta colombiano Arias. A diretoria do clube espera pelo menos manter o time campeão para o Mundial, marcado para o período de 12 a 22 de dezembro, na Arábia Saudita.
Como em outras oportunidades, o Flu contou com a ajuda do Sobrenatural de Almeida, personagem do dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues, que deve estar festejando o título no “andar de cima”, ao lado de outros tricolores famosos, como Jô Soares, Telê Santana, Tom Jobim, Millor Fernandes, Cartola, Carlos Castilho e Paulo Gustavo.
A Academia Brasileira de Letras está tricolorida pelos seus “imortais” Gilberto Gil e Fernanda Montenegro. Somam-se aos dois intelectuais, Chico Buarque, Arthur Moreira Lima, Ivan Lins, Fred, entre outros.
Com relação a Gil, ocorreu no sábado, à noite, um episódio agradável para os tricolores e decepcionante para os rubro-negros cariocas, que estavam torcendo para os argentinos. Encerrado o jogo, a voz do compositor baiano soa de Lisboa, em tom zombeteiro: “Alô torcida do Flamengo, aquele abraço!”
Conhecendo Beto – era como seus amigos o tratavam – desde a mocidade no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, em Salvador, como torcedor do Bahia (um tricolor baiano jamais será um admirador do Flamengo), sempre achei que um dos versos da canção “Aquele Abraço” nada tinha a ver com o coração verde, branco e grená do nosso querido Gilberto Gil. Lamento,Urubuzada!
- 1