:: 3/nov/2023 . 23:59
ESCRITORES BRASILEIROS E REGIONAIS
Tenho observado que os nossos escritores, intelectuais e professores em geral costumam citar pensamentos e obras de autores estrangeiros e pouco sobre os nossos brasileiros, principalmente os nordestinos, muitos dos quais chamados de regionais, sem falar dos locais, no caso específico dos nossos conquistenses.
Não sei se posso considerar esse tipo de comportamento como esnobismo de conhecimento, ou incluir naquela máxima de Nelson Rodrigues, de que temos o “complexo de vira-lata”, isto é, de inferioridade, por não valorizar o que é nosso, a prata da casa. É um tal de norte-americano, inglês, russo, francês, português, espanhol, polonês, argentino, uruguaio, colombiano e tantos outros.
Até parece mais chique citar um “gringo” do que um brasileiro, um regional ou local. Nosso país é rico em grandes escritores, como Jorge Amado, Câmara Cascudo, José de Alencar, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Lima Barreto, Machado de Assis, Aloísio Azevedo, Fernando Sabino, Paulo Coelho, Rubem Braga, João Ubaldo Ribeiro, Euclides Neto, Raul Pompéia, Guimarães Rosa, Afrânio Peixoto, Gilberto Freire, Luiz Gama, Oswaldo de Andrade, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, sem contar os grandes poetas que temos.
Vamos ser mais simples e abrir mais discussões literárias em torno dos nossos escritores que falam da nossa cultura com seus personagens que se identificam com a gente, embora os estrangeiros tenham grande importância e não devemos deixar eles de lado porque o saber tem que ser universal.
Mesmo entre nós brasileiros, temos a mania de desprezar o talento da terra e prestigiar o de fora, muitas vezes até de nível duvidoso. Vemos isso nas feiras literárias regionais onde os organizadores procuram sempre convidar os considerados “famosos” de outra região ou estado, em detrimento daqueles onde o evento está se realizando.
Na avaliação dos programadores, a feira só tem audiência e visibilidade maior se chamar um nome que esteja mais badalado na mídia e na propaganda das editoras, mesmo que não tenha lá esse conteúdo todo. Esse tipo de coisa não ocorre somente na literatura, mas também em festas culturais que abrangem outras linguagens artísticas, como a música, as artes plásticas e visuais.
Entendo que antes de tudo, uma feira literária, seja aonde for, só alcança seus objetivos de criação quando coloca em primeiro lugar os escritores locais que já sofrem com a falta de apoio dos poderes públicos. Muitos são independentes ou publicam suas obras através de pequenas editoras e lutam para vender suas obras e se tornarem conhecidos do leitor.
Claro que o intercâmbio e a troca de ideias não devem deixar de existir, mas vamos priorizar o escritor local e assim despertar e estimular o surgimento de novos talentos. Aqui mesmo em Vitória da Conquista temos grandes escritores e poetas que não vou citar nomes para não cometer certas injustiças.
Agora mesmo vamos ter a Feira Literária de Conquista, a Fliconquista, que já é um grande passo e elogiável iniciativa para prestigiar e valorizar esta linguagem artística, por tantos anos esquecida do nosso público.
No entanto, deixo aqui minha sugestão de que passada esta feira, seja realizado um encontro de escritores conquistenses, um foro de discussões, para dizermos quem somos, como atuamos e, principalmente, falarmos das nossas dificuldades em escrever e lançar um livro.
Precisamos montar estratégias de cooperação, deixando de lado as vaidades das fogueiras, para nos tornarmos mais conhecidos incluindo todas as faixas etárias, desde o mais jovem estudante ao mais idoso. Precisamos fazer chegar nossas obras até às mãos de novos leitores, a começar pelas escolas, bibliotecas e associações.
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