:: 13/nov/2023 . 22:41
ONDE ESTÁ A FELICIDADE?
Poetas, escritores e filósofos falam muito de felicidade, estar de bem com a vida, valorizar o existir de cada dia, amar e viver em paz. Quando ouço canções positivistas sobre manter sempre este estado de espírito de ser feliz, passa pela minha cabeça o quanto é difícil ter esta felicidade num Brasil tão desigual, de tanta pobreza, violações dos direitos humanos e injustiças.
Não quero ser pessimista e, ao mesmo tempo sendo, muita coisa disso é utópico. O estado de felicidade pode ser uma festa entre amigos quando todos estão ali juntos confraternizando num bar, em casa ou em outro lugar qualquer comemorando alguma coisa, como um aniversário, um casamento e até mesmo num sarau cultural.
Mesmo cada um com suas angústias e problemas, nesses momentos de prazer todos procuram transbordar felicidade, mas depois que tudo passa e se cai na realidade da vida, esse ser feliz, em muitas pessoas, não é mais o mesmo, e estamos falando de uma classe de gente com maior poder aquisitivo.
Muito se fala que o dinheiro não é tudo. Não deixa de ser uma verdade, mais vamos ser mais realistas. Nesse mundo capitalista e concentrador de rendas, a grana é uma peça chave para se alcançar a tão sonhada felicidade. Não vamos ser ingênuos e fazer de conta que não é assim. Me desculpem por estar aqui fazendo o papel de advogado do diabo.
Quando o ser humano está “liso”, modo de se dizer quando se está de bolso vazio e endividado, ele fica atordoado, desnorteado, sem rumo e sem a anima, do latim, a alma, o ânimo. Nesse ponto, lá se vai a felicidade e até o prazer de viver, em algumas ocasiões.
É difícil superar essa situação e se manter sorridente como se nada estivesse acontecendo. Podemos até disfarçar entre amigos, mas quando se está só, bate no peito o desânimo. Fico a imaginar, por certos momentos, que a nossa vida é feita de dívidas, principalmente para aqueles que têm integridade e caráter.
Para muitos, o consumo de bens, na maioria de supérfluos, num shopping, é uma felicidade, pelo menos momentânea. No entanto, como imaginar a felicidade no corpo de um encarcerado numa prisão, no pobre nos afogados das periferias e alagados, passando fome porque não tem o dinheiro para adquirir o alimento?
Como ter essa felicidade em meio a uma guerra de bombas por tosos os lados? E os refugiados que só saem com a roupa do corpo e ainda são enxotados em outro país? Como o pai ou uma mãe podem ser felizes quando ver seus filhos a chorar de fome? Como viver em felicidade sem ter educação e saúde decentes? E os doentes jogados nos corredores dos hospitais?
Por tudo isso e muito mais, é que entendo que cantar felicidade e pedir que todos a vivam, em grande parte não passa de uma utopia nessa distopia. Meu caro poeta/poesia que me perdoe o meu contraponto. Sei que não agrado com essa conversa, mas tenho que ser sincero, pelo menos para comigo.
Não sei viver nesse nível, nesse nirvana, talvez por não ter a capacidade de anular todos problemas individuais e coletivos e fazer de conta que tudo está bem. Bem que já tentei! Com tantas violências brutais e cruéis, matanças e massacres, sempre questiono esse tal sentido da vida. Sei que deveria pensar menos e viver mais, mas é que sou assim.
Onde está a felicidade? Dentro de cada um, ao seu modo, ou somente em poucos que são mais sonhadores e não se deixam afogar nos males da humanidade? As canções são bonitas e poéticas, mas essa felicidade é uma danada que anda por aí vagando perdida, que pousa em algum lugar como uma borboleta e depois voa para outras bandas. É como um perfume que se vai com o tempo.
Complicada essa felicidade sem liberdade e igualdade numa sociedade tão dividida pelo ódio e a intolerância racista, homofóbica, xenófoba e religiosa. Nessa vida passageira, além de outras lutas que temos pela frente, ainda precisamos conquistar essa felicidade, mesmo diante de tantas adversidades.
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