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O FUTEBOL DE ONTEM NÃO É O DE HOJE

Carlos Gonzalez – jornalista

Vamos tentar analisar e comparar o futebol jogado na Europa Ocidental com o do Brasil: imaginemos que você tomou um gole de “Estrella Galicia” (cerveja fabricada na cidade espanhola de La Coruña), e, em seguida, prove uma das nossas “louras”. Seu paladar não vai  se iludir. É indiscutível a melhor qualidade do produto importado. Assim é o nosso futebol, desde 1982, quando a seleção verde-amarela deixou os gringos de boca aberta nos gramados espanhóis.

A partir daí, “cartolas” europeus, árabes e japoneses usaram suas valiosas moedas para levar nossos craques, deixando aqui um produto de segunda qualidade para consumo  interno. Adolescentes bons de bola passaram a ser observados pelos “espiões” dos grandes clubes do Velho Mundo. A Copinha, disputada nos meses de janeiro,  em São Paulo, por centenas de jovens, menores de 18 anos, é uma das vitrinas do futebol nacional.

Felizmente, essa “fuga” não chegou ao patamar do que ocorre com as nações africanas. Na França, por exemplo, não só o futebol, mas outros esportes, formaram suas equipes nacionais naturalizando jovens do continente  negro. Marcos Senna, Jorginho, Pepe, Tiago Alcântara e Diego Costa integram uma pequena lista de brasileiros que vestiram as camisas de seleções de nações europeias.

Um dos pioneiros desse êxodo de brasileiros para a Europa foi Evaristo de Macedo (atuou de 1957 a 1962 pelo Barcelona e de 1962 a1965 pelo Real Madrid). Técnico campeão brasileiro pelo Bahia em 1988, seu nome batiza o  centro de treinamento do Tricolor em Dias d’Ávila. Ídolo onde passou como profissional, Evaristo rompeu uma espécie de norma na época: primeiro atleta a vestir as camisas dos dois maiores rivais do futebol da Espanha.

Quem viveu e frequentou  os estádios – raramente uma competição esportiva era transmitida pela televisão, que dava seus primeiros passos  – pode afirmar hoje que 60, 70 e 80 foram os “Anos Dourados” do futebol brasileiro. Maracanã e Morumbi recebiam nos domingos mais de 100 mil espectadores. Até mesmo na saudosa Fonte Nova, 110 mil pagantes assistiram Bahia 2 x Fluminense 1, em 12 de fevereiro de 1989, pelo Campeonato Brasileiro. Tempos que não voltam mais porque os estádios “encolheram”.

Santos, Real Madrid, Benfica e Milan eram os clubes mais lisonjeados do mundo; Botafogo x Santos era o maior clássico do futebol brasileiro – assisti a um deles no Rio, ao lado de mais de 100 mil torcedores. Imaginem, de um lado, pelo time paulista, Pelé, Zito, Coutinho, Mengálvio, Gilmar  e Pepe;  pelos cariocas, Garrincha, Nílton Santos, Amarildo, Didi e Zagallo. Os dois clubes, no final da década e 50 e começo de 60 formavam a base da Seleção Brasileira, campeã mundial em 58 e 62.

Quero dizer que o torcedor não sentia empolgação apenas com os shows montados por santistas e alvinegros. Recordo dos espetáculos encenados pela Academia do Palmeiras, de Ademir da Guia; pelo Cruzeiro, de Tostão e Dirceu Lopes; pelo Expresso da Vitória, do Vasco da Gama; pelo Bahia heptacampeão baiano (142 vitórias, 75 empates e 11 derrotas), de Douglas, Fito e Baiaco; a Máquina Tricolor do Fluminense, de Rivelino;  o Rolo Compressor, do Internacional; e o Flamengo, de Zico e Júnior.

Vivíamos uma fase em que praticamente duas competições eram disputadas: os campeonatos Brasileiro e os estaduais. Os atletas tinham tempo para treinar, ter outra profissão e estudar. Atualmente, passam muitas horas nos aeroportos e a bordo de aviões, por causa dos torneios organizados pela Conmebol, CBF e federações estaduais. Atração o ano inteiro, os regionais duram somente três meses. Os jogadores dos clubes de divisões inferiores – a maioria – passam nove meses desempregados, viajam de ônibus, seus dirigentes reclamam da falta de ajuda do poder público municipal  e do empresariado.

Temos um exemplo aqui na nossa casa. O Conquista está há cinco anos fora da Primeira Divisão do futebol do estado. As últimas gestões municipais têm ignorado o que o esporte pode representar para sua cidade, haja vista que uma secretaria tem que cuidar da cultura, do lazer, do turismo e do esporte. Mesmo que o titular do cargo tenha boa vontade para trabalhar, ele não irá se transformar num super-homem.

O empresariado justifica a recusa em colaborar sob o argumento de que, se o time fica muito tempo sem atuar. a marca do seu negócio não é vista pelo público, como não é mostrada pela televisão. Beneficiada com isenção fiscal concedida pelo município, uma grande loja instalada no comércio conquistense poderia aplicar em publicidade parte dos seus lucros, inserindo sua marca no uniforme do Conquista, como vem fazendo em clubes do interior do país, como o vôlei feminino de Brusque, em Santa Catarina.

Um dos maiores “adversários” do futebol brasileiro, responsável pelo decréscimo técnico das nossas equipes, sem distinção, é o chamado “time das despesas”. O boletim  financeiro do jogo Jequié x Jacuipense, pela última rodada da fase de classificação do Campeonato Baiano, emitido pela FBF, mostra que 2.208 pessoas foram ao Estádio Waldomiro Borges, deixando  nas bilheterias R$ 12.340. O visitante voltou à sua cidade de mãos vazias e o mandante, depois de somadas as despesas, teve um prejuízo de R$ 12.340.

Diante desse cenário, qualquer tipo de espetáculo para o público, seja teatro, música ou futebol, a tendência é deixar o palco. Há necessidade de se buscar novas fontes de renda, como vender suas revelações antes do término do contrato, aceitar propostas, até desvantajosas, de bilionários europeus e xeques árabes, submetendo-se ao capitalismo internacional selvagem, transformar-se em sociedade anônima com direito somente a 10% das ações; receber e agradecer o dinheiro dos sócios, dos patrocinadores, das casas de apostas e de sites de encontros amorosos, e o pago pelas TVS a título de direito de imagem.

No Brasil, o torcedor padrão é o que recebe um salário mínimo, – o “0 geraldino” -, aquele que está deixando de ir aos estádios – um público de 40 mil pessoas é manchete dos jornais – , porque não tem recursos para adquirir um ingresso, cujo preço está fora do seu orçamento. O show não conta mais com bons artistas. Termina presenciando  agressões, sob a complacência dos árbitros, e, nas arquibancadas e imediações dos estádios, batalhas, até com uso de armas de fogo, de torcidas organizadas.

 

 

 

 

TEMOS MEDO DE MUDANÇAS

Elas nos assustam e nos deixam temerosos. Nos fazem suar frio, como se fosse duelo de vida e morte. Umas são desastrosas e outras vitoriosas, mas só os que enfrentam os desafios conseguem se amadurecer e seguir em frente. Dizem que pé que não anda não dá topada. Você é daqueles que prefere não andar para não sentir a dor, ou que se arrisca, mesmo sabendo que pode tropeçar?

Estou falando de mudanças na vida, seja ela no sentido material ou espiritual. Por ser inquieto e agitado, minha vida sempre foi pautada em mudanças e desafios, desde quando ainda era jovem e adolescente. Sai da roça e fui fazer o primário em Piritiba. Depois resolvi ser seminarista em Amargosa, num mundo que não era o meu. Digo sempre que sou um desgarrado da família.

De Amargosa parti para Salvador onde deixei a batina e fiz vestibular para jornalismo. Foram anos muito difíceis de sofrimento porque não estava preparado para aquela outra cena tão diferente e cruel daquela em que vivia. As mudanças não foram apenas de ordem física. Deixei de ser um religioso.

Outro grande desafio foi quando larguei tudo na capital e vim trabalhar em Vitória da Conquista para outra aprendizagem. Foram novas lições de sucessos e derrotas, mas me fizeram crescer. Parece até que as mudanças me atraem e vou entrando nelas de cabeça. Confesso que levei muitas topadas, mas não desisto, sou teimoso. Será um carma?

Não quero, no entanto, ficar aqui falando das minhas mudanças mesmo porque muitas delas não serão compreendidas e vão chamá-las de insensatas e loucas. Quando se faz uma mudança, cada pessoa aparece com seu ponto de vista, umas de apoio e outras de condenação.

Dizem os filósofos que tudo muda para ficar no mesmo lugar, mas não é bem assim. Cada mudança tem seu efeito e quem a faz tem suas razões, só que é julgado, muitas vezes até por quem se diz ser seu amigo. Alguma coisa me ensinou que é melhor você fazer sua mudança calado, na surdina, no silêncio, para que dê certo.

No mundo das mudanças, existe muita gente que prefere ficar acomodado em seu lugar, em sua zona de conforto. Em minha opinião, esse tipo de pessoa passa na vida sem viver. É como se fosse um morto vivo porque tem medo de espinhos e passa o tempo admirando as rosas até elas murcharem.

– Bem que eu falei: Foi sair do seu lugar e quebrou a cara. Essa é a fala que se ouve daquele que não tem a coragem de enfrentar uma mudança e ainda parte para as críticas injuriosas. Quando se alcança o sucesso, lá vem a inveja. São pessoas que devem ser excluídas do cardápio da vida.

 

 

A QUARESMEIRA E O ARCO-ÍRIS

Tarde de sereno e uma réstia de luz do sol beija a quaresmeira formando o poético arco-íris da natureza em plena cidade que começa a finalizar seus trabalhos em mais o corre-corre de um dia agitado. Cada um ainda tenta resolver seus últimos problemas, tudo pela sobrevivência. As lentes da minha máquina conseguem flagrar esse momento mágico e minha alma se eleva nesse cósmico misterioso como fino grão de areia que vaga à procura do sentido da vida. Depois retorno aos meus pensamentos, sem saber o que me aguarda no futuro próximo. O reflexo do arco-íris na quaresmeira é beleza que encanta e nos faz refletir sobre o que somos nesse universo e me convida a fazer o verso do silêncio. O tempo passa e lá se foi o arco-íris, sem dar um adeus, e não se sabe quando virá outro onde o sol penetra no sereno solene da tarde.

ESCUTE O SILÊNCIO

Por Regina Chaves dos Santos, do seu livro Suspiros Poéticos – a beleza da lira cor

Escute o silêncio- não mais silencioso!

O ar entra e sai pelas narinas,

O coração cadencioso,

O toque da brisa nos cabelos,

A pele em arrepios… – pulsão da vida!

 

Uma voz, um canto distante,

Olhos fechados

-Suspiro profundo!

 

-Silenciosamente:

Sinta, olhe, permita-se, admire,

– Acolhe!

 

Nada queira interpretar… escute o silêncio!

A sonoridade da mãe terra… não estás só,

 

Encha os pulmões de ar, – liberando-o vagarosamente!

…Visite o coração, volte para dentro de si… e no silêncio,

Signifique-o – sem o olhar de prévia censura!

 

Ainda que chegue o medo, deixe as lágrimas rolarem,

– ouça o coração, deseje o recomeço, se ame… e no

Silêncio – fique bem com a tua companhia!!!

VITÓRIA DA CONQUISTA NUNCA FOI E NUNCA SERÁ PORTAL DA CHAPADA

Que me perdoem os empresários do setor de turismo e alguns órgãos públicos municipais, mas não consigo ver e nem tentar vender Vitória da Conquista como Portal da Chapada Diamantina. É o mesmo que querer mudar sua imagem e sua história secular desde a fundação do seu arraial por volta de 1727/30.

Quando chegaram os primeiros bandeirantes à procura de ouro em meado do século XVIII, primeiro João da Silva Guimarães e depois José Gonçalves da Costa, a região foi batizada pelos pesquisadores de “Sertão da Ressaca” e depois de Planalto da Conquista e assim é conhecida até hoje sua localização na Bahia.

Bem, deixando de lado sua formação histórica quando se deu o encontro entre portugueses e indígenas, o ponto mais próximo do verdadeiro Portal da Chapada, que é a cidade de Ituaçu, dista cerca de 160 quilômetros de Conquista. Outro portal seria Livramento de Nossa Senhora, um pouco mais distante.

Como Conquista pode ser Portal da Chapada? Não é porque a cidade tem um entroncamento ligando o norte ao sul, o leste ao oeste que faz de Conquista ser Portal da Chapada, nem tampouco com a futura duplicação da BR-116.

O maior contingente de turistas que visita a Chapada parte de Salvador pelas BRs 324 e 242 e nem por isso a capital pode ser chamada de portal. A distância, claro, é bem maior, mas Salvador já é uma cidade eminentemente turística, muito diferente de Conquista.

Em Salvador o turista fica quatro e até uma semana visitando seus pontos atrativos, incluindo as praias e as ilhas. Querem transformar Conquista numa cidade turística, mas até o momento atual não é. Nosso forte é o setor de comércio e serviços. Cada qual com sua vocação.

Não são o Cristo da Serra do Periperi, a Lagoa das Bateias (ainda suja), os biscoitos e nem a gastronomia dos bares e restaurantes que irão fazer de Conquista uma cidade turística. Gostaria de saber por quanto tempo um agenciador de viagens consegue manter um turista em Conquista?

Quem sabe, no futuro com outra estrutura, com grandes museus, com o fortalecimento da cultura através de um calendário anual de eventos (festivais de música, artes plásticas, literatura, teatro, dança e outras linguagens), uma área de botecos, casas artísticas e outros elementos atrativos, Conquista possa vir a ser uma cidade turística.

Lamentavelmente, não temos um centro histórico (este foi destruído pelo progresso dos homens), não temos um museu municipal (o Regional e o Padre Palmeiras são administrados pela Uesb) e, para piorar mais ainda, os três principais equipamentos culturais estão fechados há anos, inclusive a Casa Glauber Rocha onde ele nasceu. Deveríamos era estar brigando pela abertura desses pontos artísticos.

Os empresários se comprometem a investir nessa infraestrutura cultural em parceria com o poder executivo, inclusive na construção de um bondinho ligando o centro da cidade ao Cristo da Serra? Vamos ficar aqui levando o turista todos os dias ao comércio e à noite a um barzinho? Temos alguma comida diferenciada, como uma sertaneja, por exemplo?

Confesso que não sou especialista na área, mas, mesmo tendo o aeroporto Glauber Rocha que recebe muita gente de outros estados da federação, não é fácil economicamente convencer o turista a conhecer as belezas da Chapada partindo de Conquista.

Não adianta apenas falar que na Chapada existem o Morro do Pai Inácio, a Cachoeira do Buracão, a Gruta da Mangabeira, o Capão, as Lagoas Encantadas e Azul, as grutas de Iraquara, Lençóis e Palmeiras, as inúmeras trilhas, todos pontos distantes mais de 160 quilômetros de Conquista (alguns até 400). Aqui é Planalto da Conquista e não Portal da Chapada.

AS ORAÇÕES E A MORTE

É muito comum e natural entre nós humanos mortais apelarmos para correntes de orações quando um ente querido se encontra no leito de morte em estado praticamente terminal, como se as preces tornassem a vida imortal.

É um sentimento que brota, como se as orações fossem eliminar a morte, quando, no máximo, essa energia pode apenas adiar a chegada final por alguns dias ou horas. No mundo científico, essa função é exercida pela medicina através de famosos médicos, isto para quem é rico, bem como medicamentos sofisticados e caros que combatem determinadas doenças.

Quando se tem dinheiro de sobra, o doente é levado para um hospital de primeira linha, com equipamentos de tecnologia de ponta, pagando diárias altíssimas. Muitos até conseguem se salvar e aí ouvimos aquela frase de que se fosse um pobre teria morrido. Não deixa de ser uma verdade, mas ninguém escapa dela.

Mesmo com o poder do capital, sempre existiu o embate entre a fé, a ciência e a morte, tendo como vencedor esta última. No caso do Papa Francisco, por exemplo, estamos acompanhando esta corrente de orações entre os cristãos católicos e até de não adeptos da religião para que o pontífice seja curado da sua pneumonia crônica.

Com 88 anos, ele já se encontra sem forças no hospital, apesar de todos cuidados médicos, e torço para que ele volte, mas precisamos ser realistas quanto a sentença final que todo ser humano e vivente na terra recebe quando nasce. Não há saída e escapatória. Na vida real procuramos evitar falar nela porque achamos ser pensamento macabro.

No caso específico do Papa, presenciamos estas cenas de orações e preces todas as vezes que um dele entra em estado crítico de saúde e passa um tempo ou dias sofrendo na cama. Com orações, ou não, todos eles se foram.

Na minha visão crítica, não seria mais lógico e sensato que as orações fossem no sentido de que ele partisse sem tantos sofrimentos? Isso serve parta qualquer um que já está com idade avançada, alguns até em coma, desenganados pelos médicos. Fala-se em milagres.

Os filhos e os parentes mais próximos (pode acontecer o contrário) se juntam para rezar no sentido de que aquela pessoa sobreviva. Trata-se de uma prática onde todos comungam da mesma corrente, sem questionar de que somos passageiros. Podemos até nos conformar com tudo na vida, menos com ela.

Pode até ocorrer que o doente levante da cama e volte para casa, e aí acreditamos que foram as orações, mas elas têm o prazo de validade a vencer quando a danada decide que ali é seu ponto final da caminhada, nem tão longa assim.

Todos carregamos conosco essa dor da finitude, uns menos e outros mais. Em algumas civilizações, no entanto, ela é até celebrada com festas, mas no geral entre as religiões, a morte causa choros, lágrimas, berros, tristezas e até histerias.

Existem casos onde o sentimento é tão forte que a pessoa adoece rápido e falece em pouco tempo. Dizem que um chamou o outro, ou o vivo quis seguí-lo porque o amor foi mais forte. Acontece isso entre casais que são muitos apegados um ao outro. A vida tem seu roteiro de início, meio e fim, como já dizia o poeta.

 

 

NÃO RESTAM DÚVIDAS DE QUE HOUVE UMA TENTATIVA DE GOLPE

Sem essa de direita ou de esquerda, muito mais de posições ideológicas diferentes. Vamos ser sensatos e lógicos, sem apelar para divisões de ódio e intolerância. Nem é preciso se basear nas delações do coronel Mauro Cid ou sair por aí gritando que o cara está sendo torturado para falar inverdades.

Mesmo sem a fala do Cid, está bem claro e não tenho dúvidas de que houve tentativa de um Golpe de Estado de Direito perpetrado pelo ex-presidente capitão Bolsonaro e seus seguidores, isso desde o meado do seu governo, a partir das suas bravatas, sem provas, de que havia fraude no sistema eleitoral brasileiro.

Ora, quando ele disputou e ganhou a eleição para o Fernando Hadad, não saiu por aí apontando fraude em sua vitória. Esse é o ponto do começo de uma trama para dar um golpe caso fosse derrotado, mas outros fatos de maior gravidade comprovam que houve tentativa.

Poderia enumerar aqui vários de seus pronunciamentos controversos e tendenciosos, bem como seus movimentos onde incitava seus seguidores extremistas a saírem às ruas e praças com cartazes pedindo uma intervenção militar e a permanência do seu “mito”, o que significaria a implantação de um regime ditatorial.

Caso isso tivesse ocorrido lá na frente, por volta de 2021/22, o Bolsonaro não continuaria no poder, mas entraria uma junta de generais parta governar. Ele seria excluído e, possivelmente, preso. É assim que ditadores militares sempre agiram.

Dizem que o brasileiro não tem memória e outros que tem pouca. Lembram daquela reunião ministerial desbocada e cheia de palavrões onde cada militar esboçava seus planos e conspirava abertamente no sentido de não entregar a presidência se o chefe perdesse?

Não estou aqui dando uma de advogado de Lula, mesmo porque não sou lulista e nem petista. Tenho minhas críticas. Poderia ser outro nome da esquerda e o enredo da história seria o mesmo. Não me influenciam discursos raivosos de certas pessoas onde saem espumas de suas bocas e soltam grunhidos irracionais ininteligíveis.

Dizem que diante de fatos e imagens não há argumentos. Não vou aqui discutir ou questionar a competência ou não jurídica do Supremo Tribunal Federal de julgar os conspiradores da República ou contra ela, nem tampouco me importam as declarações do Mauro Cid, conforme já citei lá adiante.

Existe mais prova de que houve uma tentativa de golpe quando vândalos e arruaceiros, instigados pelo Bolsonaro e seus militares (alguns generais de pijama), invadiram os três poderes para criar um ambiente de desordem, no sentido de forçar a entrada das forças armadas?

Para quem não sabe, está na Constituição de 1988, e isso foi uma imposição dos generais que estavam saindo da ditadura, um inciso onde afirma que, em caso de desordem no país, as forças armadas podem agir, o que caracteriza um Golpe de Estado.

Acontece que o Bolsonaro, que fugiu para os Estados Unidos e não passou a faixa para seu substituto, como manda a democracia, e sua turma, não tiveram o apoio total dessas forças armadas. Esquecem que aqueles que não aderiram, chegaram a ser ameaçados e chamados de covardes? Essa parte é anulada.

Golpe só ocorre com armas, tanques, fuzis, bombas e metralhadoras. Foi assim desde a história antiga das civilizações. Foi assim na América Latina e nas republiquetas ditatoriais africanas. Quer dizer, então, que o Trump não tentou dar um golpe quando ordenou seus seguidores a invadirem o Capitólio?

Lá como aqui, as forças armadas não interviram. Simplesmente o tiro saiu pela culatra. Não me venham com essa que a ação do oito de janeiro de 2023 foi apenas coisa de arruaceiros. Por que eles ficaram durante tanto tempo acampados em frentes dos quarteis, sem serem incomodados? A história não é uma ciência exata, mas tem o dever de contar os fatos como eles ocorreram e quais foram suas intenções.

Portanto, à luz da verdade, houve sim uma tentativa de golpe. O resto é o restou, e nem vou aqui entrar na questão do plano macabro e maluco de mandar matar o presidente da República, seu vice e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O ponto é que houve mesmo uma tentativa de golpe que terminou sendo um tiro no pé.

 

CONQUISTA E A EDUCAÇÃO

Estava aqui imaginando quando cheguei em Vitória da Conquista, no início de 1991, vindo de Salvador para chefiar a Sucursal do jornal A Tarde, cuja sede funcionava próximo do Cemitério da Saudade. O Hotel Aliança, na Barão do Rio Branco, era minha moradia e todos os dias cortava o centro passando pela rua Laudicéia Gusmão. Lanchava na padaria São José e sempre apreciei a floricultura ao lado, na pracinha, até hoje em funcionamento. Com certeza, é uma das mais antigas de Conquista. Já era uma cidade em ebulição depois de consolidada a implantação do polo cafeeiro na década de 1970, mas ainda carente em termos de educação de nível superior. Existia apenas a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb, recém-criada na forma da lei pelo governo estadual. O reitor era Pedro Gusmão e o prefeito nosso saudoso tricolor das Laranjeiras, Murilo Mármore, com quem tive a honra de fazer várias matérias, muitas das quais com críticas jornalísticas à sua administração. Ele era um democrático e compreendia a minha função. Naquela época, os empresários e a sociedade começavam a se mobilizar para trazer novas instituições de ensino para a cidade. Muitos jovens, após findo o período escolar médio, tinham que ir para Salvador ou outras capitais do país para se graduarem numa especialidade. O comércio se expandia, mas só tínhamos três supermercados de destaque, o Jequié, o Superlar e Economia do Lar. Final dos anos 90 para início dos anos 2000, Conquista começou a experimentar um boom em seu desenvolvimento, graças à chegada das faculdades particulares e tempos depois de núcleos da Universidade Federal da Bahia. Era uma outra etapa na vida da capital do sudoeste ou sudeste. Como chefe da Sucursal, nossa equipe de repórteres focava suas críticas contra a depredação da Serra do Periperi, que começou desde os anos 40 e 50 com a abertura da BR-116. Foi um grande embate para combater os exploradores de areias, pedras, terras e até os caçadores de aves. Nosso trabalho era duro e sério ao ponto de sermos ameaçados. André Cairo, do Movimento Contra a Morte Prematura era uma das nossas principais fontes de informações na luta em defesa do meio ambiente e pela preservação da Serra.

MEU CANTO

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Meu canto não é de amor,

Não tem rosa e flor.

É mais de pranto e dor.

Ele pede passagem,

Para contar sua viagem,

Através do tempo,

Que o vento levou,

Na tempestade da saudade,

Da angústia existencial,

Do nascer e viver,

Até a finitude do morrer.

 

Meu canto é agreste,

Vem lá do meu Nordeste,

Retirante explorado,

No estalo da chibata,

Do chão seco estorricado,

Terra forte ferida,

Da poeira castigado,

Do poluído ar,

Roupa a quarar,

Filho da enxada,

Da foice e do machado.

 

Meu canto,

Em me resiste,

De que a felicidade

É alma passageira,

Da vida que nos passa,

Aquela rasteira,

E nos deixa a ilusão,

De que ela é toda bela,

Como pintura de aquarela,

Mas tem ácido de limão.

O ÚLTIMO FOLIÃO

(Chico Ribeiro Neto)

“Se aqueta, menino. Nada de pular Carnaval esse ano. Você só tem 13 anos! Para o ano, quem sabe!”

“Vai pra casa, meu tio! Você não tem mais idade pra tá aqui!”

O último folião pegou o trio de Luiz Caldas saindo da Vitória, em 1985, cantando “Nega do Cabelo Duro”, o maior sucesso do Carnaval. O bicho pegou e tinha uma grávida em nosso grupo, já com uns 7 a 8 meses. A multidão imprensou ela  no portão de um prédio, implorei ao porteiro para abrir o portão e  ele se negou. A grávida foi no embalo.

Paramos numa barraca do Campo Grande onde comemos um delicioso ensopado de carneiro com farinha e pimenta. Depois daí a grávida foi embora.

Desço a Ladeira de São Bento no bloco Camaleão. O povo vende saquinhos de água e cerveja pelas laterais do bloco, que ainda não tinha estrutura de bar nem sanitários.

Nas décadas de 70/80 (não sou bom em datas) não havia catador de latinhas. A Avenida Sete de Setembro ficava repleta de latas de cerveja que o povo ia chutando pros cantos e que só eram recolhidas pela Limpurb na manhã seguinte.

Não passava nenhum trio elétrico na Praça Castro Alves há mais de uma hora. Começamos a batucar com latinhas na mão e em pouco tempo se formou uma imensa roda. Baiano sabe como se alegrar.

Vou atrás da “Caetanave”, com Caetano Veloso cantando “Chuva, Suor e Cerveja”, onde arranjei uma namorada que tinha uma namorada. “Não se perca de mim…”

Dou uns quatro beijos numa linda morena no pastel chinês da Rua Carlos Gomes, mas ela escapole e vai embora com o trio. Vizinho ao pastel chinês havia uma loja de armas, a “Winchester”.

Tinha um cara que morava em Brasília e pedia aos amigos de Salvador que lhe enviassem a mortalha depois do Carnaval. Não rasgar nem fazer pano de chão, mandar pra ele, que deve ter feito uma boa coleção.

O Clube de Engenharia, na Rua Carlos Gomes, ponto de encontro da turma de esquerda.

Meu amigo Biúca, que mandou fazer uma batina legítima de franciscano, com capuz e tudo, e saiu pela rua distribuindo bênçãos e ganhando beijos.

O cara que saía todo fantasiado de latinhas de cerveja.

O cara que desfilava pela Avenida Sete segurando uma gaiola vazia e com um cartaz pendurado no peito: “Minha rolinha fugiu. Quem viu minha rola?”

O último folião dá uma “prise” na lança-perfume Metálico Rodouro e beija a última foliã. Ela está descalça, a maquiagem borrada, a mortalha cai de um ombro. Depois, ele sobe na estátua do poeta, na Praça Castro Alves, abre os braços para a Baía de Todos os Santos e canta: “Se a canoa não virar/ Olê, olê, olá/ Eu chego lá…” (“Marcha do Remador”, de Antônio Almeida e Oldemar Magalhães).

Em casa, um confete verde me espreita, espremido entre os tacos da sala.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 





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