:: 11/fev/2025 . 22:20
IPHAN É O MAIOR RESPONSÁVEL PELA QUEDA DO TETO DO SÃO FRANCISCO
Um amigo meu compadre e ex-colega de seminário me ligou de Salvador lamentando a queda do teto da Igreja da Ordem Primeira de São Francisco onde me abriguei com sua ajuda por um certo período de forma clandestina. Foi um tempo de sofrer onde me refugiei para aliviar minhas dores.
Ele trabalhava na portaria e relembramos antigas histórias. Ficava praticamente escondido e isolado no quarto, mas conheci por dentro boa parte desse grandioso monumento secular. Uma das coisas que mais me chamava a atenção eram os painéis de azulejos, sem falar das pinturas e esculturas de artistas famosos.
Bem, essas lembranças são irrelevantes diante da tragédia anunciada (aliás, no Brasil quase todas são) que aconteceu recentemente com a queda do teto do convento que vitimou uma pessoa e feriu outras cinco. O pior de tudo é a impunidade.
Não temos dúvidas de que o maior responsável por esse desabamento foi o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por incompetência do seu presidente e desleixo com relação à nossa memória. Coisas dessa natureza sempre estão ocorrendo em Salvador e em todo Brasil, um dos países do mundo que menos preserva sua história.
Infelizmente, somos um povo sem memória. Aqui em Vitória da Conquista, por exemplo, nossos equipamentos culturais estão fechados e o tempo se encarregando de corroê-los. O poder executivo já deveria ter sido criminalizado pelo Justiça. O tempo passa e tudo continua no mesmo estado. Os artistas, os intelectuais e toda sociedade também têm sua parcela de culpa.
Quanto a Igreja do São Francisco, construída pelos portugueses entre os séculos XVII e XVIII, cujo teto veio abaixo, em minha opinião, o presidente do Iphan deveria ter sido demitido sumariamente pela ministra da Cultura Margaret Menezes, mas lhe falta pulso e também competência para dirigir nossa cultura.
Uma das funções do Iphan é justamente proteger nossos bens culturais. Sobre a situação precária do teto, o órgão foi avisado com antecedência e não deu a devida atenção de urgência. Depois o presidente fica com a cara de tacho diante da imprensa e saiu pela tangente querendo culpar os frades da ordem franciscana. Falou das obras de recuperação dos azulejos. O que tem a ver uma coisa com a outra?
Penso que o Iphan, criado em 1937, com seus técnicos – se é que existem – deveria por obrigação fazer uma vistoria quinzenalmente ou mensalmente em todos os equipamentos históricos sob sua responsabilidade, como forma de prevenção para evitar tais desastres. As agências e institutos no Brasil têm sido utilizados como cabide de empregos e, muitas vezes, colocam um diretor à frente que nada entende do riscado.
A Igreja do Ouro (tem 800 quilos) como é conhecida a do São Francisco é uma das maiores expressões do barroco no Brasil e está entre as sete maravilhas de origem portuguesa no mundo. Por essa grande importância e significado cultural, não era para acontecer essa tragédia que nos deixa envergonhados perante o mundo, como um país do improviso e sem planejamento. Não é um país sério.
No Brasil, as maiores maravilhas históricas patrimoniais são Ouro Preto, o Centro de Olinda, o Pelourinho, em Salvador – a igreja de São Francisco está em seu entorno – A Estação da Luz, em São Paulo, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro e o Teatro Amazonas.
Conheci muito bem o velho Pelourinho na época em que seus casarões e monumentos estavam caindo aos pedaços. Ainda bem que deram um socorro a tempo, mas ainda deixa muito a desejar em termos de proteção e segurança. Nas outras maravilhas, vez ou outra, acontecem desabamentos e até incêndios por falta de preservação.
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