:: 7/maio/2024 . 23:56
O SÃO JOÃO GORDO DAS ELEIÇÕES
Para conquistar votos da massa, vem aí o São João gordo das eleições, com contratações milionárias pelas prefeituras de cantores e cantoras de músicas lixo do axé music, dos arrochas, das sofrências, das timbaladas, dos pagodes, dos sertanejos e outros ritmos que nada têm a ver com o nosso forró arrasta-pé, patrimônio imaterial nacional.
Muitos prefeitos, como Santo Antônio de Jesus, Jequié e de outros municípios já estão anunciando suas “altas” atrações. Vai ser uma competição acirrada de quem tem mais “bala na agulha”, isto é, grana nos cofres, para destruir com nossas tradições culturais. O interessante é que nessas épocas os milhões aparecem como num passo de mágica.
Lá vêm Wesley Safadão, Luan Santana, Ivete Sangalo. Bel Marques, Leo Santana, “boiadeiros” e “boiadeiras”, DJs que vão levar os gordos cachês e deixar os autênticos forrozeiros, especialmente os artistas da terra a ”ver navios”, com as merrecas sobras pagas meses depois, com muita luta e cobranças.
Se em anos que não existem eleições as prefeituras já fazem uma farra e uma lambança com o dinheiro público, cujos executivos e executivas sempre alegam não terem recursos para atender as prioridades (saúde, educação, saneamento básico), imaginem agora na boca das eleições! É o período da caça aos votos da ignorância.
Do nada saem os milhões para remunerar esses cantores com polpudas verbas de 200, 300 e até 500 mil por noite de lambadas e muitas mulheres rebolando nos palcos. Parece uma mágica, mas não é! É mesmo o dinheiro do nosso povo que, incauto e sem instrução, deixa ser engabelado pelo papo desses prefeitos, de que estão trazendo mais rendas e visibilidade para seus municípios.
Um outro argumento é de que: É disso que o povo gosta, o que no fundo significa um menosprezo para com a nossa população, de que ela aprecia porcarias, e não de música boa que fala das raízes da terra, dos costumes e dos hábitos nordestinos. O nosso forrobodó está sendo assassinado a cada ano que passa, não somente na música, como também na gastronomia, nas vestimentas e nos trejeitos.
Existe uma lei, se não me engano, inclusive da Bahia, que determina que os ritmos e os artistas do nosso rico forró sejam priorizados nas festas juninas, mas eles (os prefeitos) não só desobedecem como dão um jeitinho brasileiro de misturar algumas bandas forrozeiras nos intervalos desses megas-shows milionários.
Outros têm o cinismo e a safadeza de colocarem apresentações de quadrilhas, atrações de culturas locais e alguma coisa do nosso folclore em horários esvaziados do dia, como na parte da manhã ou da tarde. Os “pesos pesados” das lixeiras musicais, de letras pobres, de sentidos duplos e até machistas jogam nos horários nobres das noites, geralmente nas vésperas do São João.
Como se não bastassem esses arrastões assassinos contra o nosso forró, tão prestigiado e divulgado por todo esse Brasil a fora pela sanfona do nosso rei do baião, Luiz Gonzaga, ainda existem os cachês superfaturados, colocando empresas laranjas intermediárias nas negociações escusas e corruptas.
Com raras intervenções no cumprimento da lei, o nosso Ministério Público, a Justiça e outros órgãos fiscalizadores, lamentavelmente, têm sido omissos. A nossa sociedade, os artistas em geral e as entidades que defendem as nossas tradições também têm suas parcelas de culpa por essa devassa que fazem contra nossa cultura genuinamente nordestina.
Muita gente pergunta o que é cultura? Eu diria que cultura nesse país é acabar com a nossa tradição, nosso patrimônio histórico, nossos monumentos, nossas expressões orais, nossa memória e nossa história. O que estão fazendo com o nosso São João, por exemplo, é uma anticultura.
O USO PERVERSO DA TRAGÉDIA
Carlos Albán González – jornalista
“El jarrón malo no se rompe” (vaso ruim não quebra), dizia meu avô Ricardo, imigrante espanhol da província de Pontevedra.. Pois bem, o ex-presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez procura tratamento médico-hospitalar, apresentando um edema na perna esquerda. Enquanto isso, seus seguidores se articulavam, utilizando a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, para divulgar notícias falsas, em prejuízo das ações de resgate da população.
Transferido para um centro médico mais adiantado em São Paulo, o ex-presidente, diagnosticado com um quadro de erisipela, luta contra uma bactéria do gênero estreptococo. Pelo menos, por alguns dias, na companhia dos antibióticos para combater a doença, ele deixa a cena política e não atrapalha o governo federal, que tem procurado minorar o sofrimento do povo gaúcho.
Sempre é bom lembrar que nos anos de governo do ex-capitão o Brasil sentiu os efeitos impiedosos de outro tipo de tragédia. O país perdeu cerca de 700 mil vidas para a Covid-19, e continua perdendo (são mais de 3 mil este ano). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 30% dessas mortes seriam evitadas se não houvesse um atraso por parte do governo federal na aquisição de vacinas.
Em Porto Alegre, Fernanda de Escóssia, diretora-executiva de Aos Fatos, plataforma de investigação contra a desinformação, revelou que as “fake news” estavam prejudicando o trabalho de alguns grupos de socorristas, como os barqueiros, que estão salvando as vidas das pessoas que moram nas ilhas do Rio Guaíba e da Lagoa dos Patos.
Os diplomados pelo Gabinete do Ódio, que funcionou no Palácio do Planalto no governo Bolsonaro, divulgaram que a Capitania dos Portos e o governo do Estado estavam multando os donos de barcos, muitos deles voluntários, que não possuíam habilitação.
O desmentido veio de imediato, assim como a informação de que o Planalto patrocinou o show de Madonna, no Rio de Janeiro. O ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, teve que procurar os jornais para informar que o megaevento na Praia de Copacabana foi bancado por uma cervejaria e por um banco.
“Isso é muito cansativo. A todo instante temos que parar nossa assistência às milhares de vítimas desse desastre ambiental para desfazer as declarações de pessoas que zombam da vida humana, tripudiando sobre os mortos”, demonstrou Escóssia sua revolta em entrevista ao jornal “A Folha de S. Paulo”. O efeito dessas “fakes” é muito perverso, gerando ondas de pânico entre as pessoas que estão perdendo tudo que construíram.
Escóssia aconselha as pessoas a não se tornarem “inocentes úteis”, repassando conteúdos suspeitos. Na oportunidade, denunciou o que chamou de “monetização da tragédia”, ou seja, influenciadores sociais estão ganhando dinheiro com a divulgação das mentiras criadas pelos bolsonaristas. Nesse movimento de profissionalização das “fake news” estão engajadas as redes sociais e os financiadores, aqueles mesmos que apostaram e perderam no golpe do 8 de janeiro.
O Nordeste venceu
Na tarde de domingo, Bolsonaro, torcedor do Flamengo e do Palmeiras, confortavelmente instalado num leito do hospital, ligou a TV para assistir Botafogo x Bahia pela série “A” do Brasileirão. Nem precisou dizer para quem iria torcer. Vestiu a camisa alvinegra do clube carioca, na certeza, muito provável, de que o time nordestino seria esmagado no gramado do Estádio Nílton Santos. No começo da noite o humor de Bozó já não era o mesmo. Motivo: o Nordeste venceu.
Daqui da terra fico a imaginar a revolta do jornalista e escritor João Saldanha, vendo a camisa do Glorioso no corpo de um declarado simpatizante da ditadura militar de 64 e dos atos desumanos da tortura. Na condição de técnico da Seleção Brasileira, João Sem Medo desafiou um dos generais da ditadura, Emílio Garrastazu Médici, que forçava a convocação do atacante Dadá Maravilha. O desfecho da história todos conhecem.
Como agiriam hoje figuras históricas que vestiram o sagrado manto da Estrela Solitária. Cito alguns deles: Manga, Nílton Santos, Garrincha, Didi, Zagallo e Amarildo. O melhor Botafogo de todos os tempos – de 1957 a 1964 – era o único time no Brasil que enfrentava o Santos de Pelé, de igual para igual, e base, juntamente com a equipe paulista, das seleções nacionais de 1958, 1962 e 1970, tricampeã do mundo.
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