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:: 3/maio/2024 . 23:20

“A MÁSCARA DA ÁFRICA” X

Em sua última viagem pela África, entre 2008/09, V.S. Naipaul, prêmio Nobel de Literatura, nascido em Trinidad, descreve a África do Sul como um outro continente não tropical, de uma outra civilização. Em seu livro-reportagem “A Máscara da África”, partindo de Uganda, ele passou pela Nigéria, Gabão, Congo, Gana e Costa do Marfim.

No capítulo “Monumentos Particulares, Terras Arrasadas Particulares”, Naipaul descreve que, “dois dias depois, no centro de Joanesburgo, vi o que tinha acontecido com uma área pós-apartheid da cidade. Os brancos apreensivos com o que o fim do apartheid (durou 36 anos) poderia causar, tinham ido embora, simples assim, e os africanos se mudaram para o lugar, mas não pessoas da região, e sim gente desimpedida dos países ao redor, Moçambique, Somália, Congo e Zimbábue”.

Naipaul cita o escritor Rian Malan, nascido em 1954, de que os brancos construíram uma base lunar para sua civilização; quando ela desmoronou, não havia nada ali para negros ou brancos. “Quarenta anos antes, em Ruanda, às margens do lago Kivu, eu tinha visto uma colônia de férias belga bem mais simples arrebatada pela floresta e pela gente da floresta”.

Os notáveis edifícios e rodovias foram reduzidos a favelas, difíceis de serem reconstruídas. “Havia descobertas adicionais a se fazer dentro daquela nova favela. Um velho e robusto armazém tinha sido ocupado por novas mercadorias, o que parecia uma paródia do que teria existido aqui. Era um mercado de artigos de curandeirice.

“Havia artigos que os curandeiros exigiam que seus clientes comprassem, para serem usados pelo curandeiro como ele bem entendesse, normalmente para fazer remédios que o infeliz enfeitiçado tinha de beber. Os mais inofensivos eram os maços de ervas utilizados para fumigar um cômodo ou uma casa tornar desagradável à vida de um espírito do mal”.

“E logo chegávamos ao reino dos horrores: Partes de corpos de animais expostas numa espécie de plataforma. O ambulante estava sentado num tamborete baixo ao lado de seus artigos, que eram armazenados no próprio mercado. Entre os produtos existiam cabeças de cavalos e cervos rachados ao meio por golpes afiados de facão”.

De acordo com Naipaul, o cheiro era abominável. Além das partes dos corpos dispostos horizontalmente na banca do ambulante, havia pedaços de estômago pendurados em cordões, como peças de pano, de modo que o especialista pudesse escolher ou examinar o que quisesse.

Os ambulantes vendiam porquinhos-da-índia, sacrificados de maneira ritual, com uma faca no coração, um modo muito doloroso. Seu sangue fresco era tomado sob indicação do curandeiro como parte do sacrifício.

“O povo da África do Sul havia travado uma grande batalha. Eu esperava que uma grande batalha tivesse dado origem a um povo maior, um povo cujas práticas mágicas pudessem apontar um caminho para a frente ou para algo mais profundo – observou Naipaul.

Segundo o escritor, “não havia aqui nada de beleza que eu encontrara na Nigéria entre os iorubas, com seu culto, como me pareceu do mundo natural; nada aqui parecia com a ideia gabonesa de energia, vinculada à ideia e ao assombro das florestas portentosas”. Ele fala ainda sobre a rua dos adivinhos, com espaços exíguos e balcões brancos para os clientes ocuparem.

Naipaul escreve também sobre o Museu do Apartheid e apresenta sua guia Fátima, muito discriminada por ser coloured, ou seja, uma pessoa mestiça. Pelo lado materno tinha um bisavô inglês e seu avô paterno era negro, mas a família falava africâner e odiava a pele negra. Sua bisavó era xhosa. As meninas xhosas na escola tinham uma identidade, mas ela não.





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