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:: 1/dez/2020 . 22:16

“HISTÓRIA DO POVO CIGANO” (Parte III)

A IGREJA CATÓLICA E O COMBATE À “PRAGA CIGANA” NA EUROPA, COM PENAS DE MORTE, ENVENENAMENTOS, SEPARAÇÕES E TODOS OS TIPOS DE ATROCIDADES. O CIGANO ERA ACUSADO ATÉ DE CANIBALISMO.

Dentro do nosso roteiro do livro “História do Povo Cigano”, do autor Angus Fraser, a Espanha também apertou o cerco desde 1550. A corte se referia aos ciganos como uma praga de vagabundos. Felipe II agudizou a situação. Em 1588 aplicou severas restrições aos direitos de os ciganos venderem suas mercadorias. Criou a proposta de separar os homens das mulheres para se casarem com camponeses e colocar os filhos em orfanatos. O projeto ficou na gaveta por um tempo, mas apareceu no século XVIII.

A Igreja Católica não ficou atrás com seus preconceitos odiosos, inclusive por parte de padres e teólogos, como o Sancho Moncado que afastou a possibilidade de ser mostrada a consideração pelas mulheres e crianças. Padres inventavam boatos de roubos, heresias e rapto de crianças contra os ciganos.

“QUEM ME ENCONTRAR, PODE ME MATAR”

Em defesa de Felipe III, Moncada preferia algo mais irreversível e cita as Escrituras, para justificar a condenação dos ciganos (Gitanos) à morte, usando a passagem em que Caim diz que “serei errante e vagabundo pela terra e quem me encontrar, pode matar-me”. Ele ainda dizia que “não há lei que nos obrigue a criar filhotes de lobos para garantido detrimento futuro do rebanho”. Em 1631, o juiz Juan de Quinones enforcou cinco ciganos. Para condená-los, baseou-se em histórias de imoralidades e canibalismo.

Os ciganos eram obrigados a viver “como bons cristãos”, e quem apanhasse um itinerante poderia fazer dele um escravo. O governo precisava manter tripulações para as galés, para fortalecer as esquadras do Mediterrâneo. Eles eram apanhados para os trabalhos forçados nos navios.

Em 1695, Carlos II, o último monarca da dinastia dos Habsburgos, apertou mais ainda o regime através de um decreto que estipulava uma lista completa de todos os ciganos e suas ocupações, armas e animais. Só podiam viver em lugares com mais de 200 habitantes, e eram proibidos de desempenhar qualquer ofício não ligado à lavoura. Não podiam usar cavalos, armas ou irem a feiras e mercados.

Com os Burbons, a política ficou mais dura, principalmente nos principados de Aragão, Catalunha e Valência. Com Felipe V, o fundador da dinastia, a sanção de 1717 restringiu ainda mais os locais para morada em 41 cidades, com penas que iam de seis a oito anos nos galés para os homens, mais banimento para as mulheres, para quem descumprisse as ordens.

Seu filho Fernando VI, em 1746, alargou o número de cidades para 34. Em seu reinado, o reverendo Gaspar Vázquez, bispo de Oviédo e governador do Conselho de Castela, decidiu que os ciganos deviam ser todos passeados pela Espanha durante uma jornada de uma noite, para serem postos em locais de trabalhos forçados, sendo seus bens vendidos.

Fernando VI aceitou o conselho do bispo, e cerca de 12 mil ciganos fizeram a maldita marcha para o inferno. As galés só foram abolidas em 1748, isto por causa do surgimento de novas tecnologias de navegação naval. No entanto, os ciganos foram levados para os estaleiros navais, arsenais e para as minas de mercúrio onde centenas e milhares foram mortos por envenenamento. Nos barracões, exércitos de homens dormiam sem cobertores em estrados de madeira, com os tornozelos acorrentados às paredes.

Diante de provas de boas condutas de ciganos casados, Fernando VI voltou atrás em suas ordens e autorizou que estes podiam regressar às suas casas. O seu meio-irmão e sucessor, Carlos III, decidiu, em 1763, que todos ciganos ainda mantidos na prisão por causa da jornada noturna deviam ser postos em liberdade. No entanto, os conselheiros do rei se opuseram e o decreto só entrou em vigor em 1765.

Mesmo assim, algumas de suas propostas, como na área da educação, tiveram teor autoritários. Comparadas com três séculos de regulamentos sanguinários de José II relativos à Hungria e à Transilvânia, suas medidas representaram certo progresso. Uma das normas era eliminar o nome de ciganos para castelhanos novos. Aqueles que estivessem dispostos a obedecer aos atos, seriam autorizados a trabalhar em qualquer ofício.

A SEDENTARIZAÇÃO FORÇADA E AS DEPORTAÇÕES PARA O BRASIL.

Os restantes dos países situados fora do Império Otomano, como Portugal, Itália, Suíça, sul da Flandres, Dinamarca, Suécia e a Rússia seguiram caminhos semelhantes de banimento e sedentarização forçada em diversos graus. Portugal foi o primeiro país a recorrer à deportação para as colônias ultramarinas (Brasil) como novo método de expulsão. As colônias precisavam de gente, e os colonos necessitavam de mulheres.

As primeiras deportações para as colônias da África ocorreram no tempo de D. João III, através do decreto de 1538. Em 1574 tivemos o primeiro registro de um cigano português (Johão Torres) mandado, com sua mulher e filhos, para a o Brasil, como comutação de uma sentença às galés, pois não tinha obedecido a ordem geral de expulsão.  D. João V se destacou como um dos mais carrascos e perseguidores da nação cigana, lá pelos meados do século XVIII.

As deportações para o Brasil começaram a ser organizadas em 1686, numa altura em que se dizia que as expulsões da Espanha estavam a provocar um enorme afluxo de ciganos para Portugal. Na realidade, em 1570, Felipe II proibiu os “Gitanos” de entrarem nas colônias da América, devido a informações de que eles estavam indo secretamente, e andavam a vigarizar os índios. A ordem era de que regressassem à Espanha.

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AS ESQUERDAS PRECISAM MUDAR SEU DISCURSO

SE O POVO QUER IR NUMA DIREÇÃO. NÃO ADIANTA TENTAR LEVAR PARA OUTRA

Comentei aqui ao final do primeiro turno que pelos meus cálculos e em decorrência à rejeição do PT, que pouco mudou o seu discurso e não aceitou, humildemente, reconhecer seus erros do passado, iria perder as eleições em Vitória da Conquista. Aliás, isso aconteceu em Feira de Santana e em todo país. Falei com algumas pessoas da esquerda, mas não concordaram com minha leitura.

O povo deu um não aos extremismos do capitão-presidente da República, vilão do meio ambiente, com seus rompantes ofensivos ultraconservadores, e também às esquerdas, principalmente o PT, que não quis fazer uma revisão dentro do seu próprio partido. O discurso de combate ao coronavírus, com flexibilizações em tempo certo, também foi importante na votação.

DEU O DISCURSO DO CENTRO

O eleitor optou por ficar no centro. Disse que quem colasse no PT, como aconteceu com o PSB, em Conquista, não iria se dar bem. Alguns se salvaram, talvez por motivos de representação pessoal e porque já tinham suas bases construídas, mas foram poucos e esses devem adotar o diálogo.

Se o PT quer renascer seu partido das cinzas, tem que fazer um trabalho de renovação em sua linguagem, abrir um canal de diálogo com outros partidos, não mais como grande e arrogante, e voltar às suas origens de ligação com as periferias, com o campo, com as bases e com os trabalhadores, em portas de fábricas. O DEM foi rejeitado e depois renasceu porque mudou.

Não importa se Lula é inocente ou não de suas acusações, ele foi fulminado pelas próprias direitas sujas da elite burguesa que ele mesmo se aliou, para se manter no poder. Na história do Brasil, a esquerda que se coligou à burguesia, se deu mal.

O grande erro começou na eleição a presidente de 2018 quando o partido não aceitou Ciro Gomes na cabeça de chapa, e insistiu em Haddad para disputar com a extrema-direita homofóbica e racista de Bolsonaro. Aí entraram em cena o ódio e a intolerância, mas estes males vão desaparecer.

Em 2018 era o momento do PT sair de seu pedestal de arrogância e prepotência, e fazer uma aliança mais palatável, com a linguagem do povo. A extrema brotou de suas trevas e passou a propagar o PT como o satanás,

O diabo, que passou a mão nos cofres da Petrobrás e de outras estatais. Empregou o termo de comunistas a todos aqueles que estivessem ao seu lado.

Interessante que os partidos que estavam conluiados com o PT na roubalheira, como o PP e o MDB, principalmente, se deram bem nessas eleições porque pularam fora do barco e não foram alvos da extrema conservadora. O PT ficou como alvo no tiroteio cruzado, e o povo, de pouca memória, esqueceu que os outros também foram corruptos, tanto quanto.

Como não poderia deixar de ser, aqui em Conquista essa linha prevaleceu, ainda mais com o reforço dos evangélicos conservadores, dos comerciantes lojistas, empresários em geral e dos antipetistas raivosos que votaram no MDB, de Hérzem Gusmão, só para eliminar de vez o PT do cenário político da cidade.

Fosse puramente pela pessoa do professor José Raimundo, sem a colagem do PT, o resultado talvez tivesse sido diferente. Quem mais perdeu nesse pleito foi o governador Ruy Costa que “levou pau” em Salvador, Vitória da Conquista, Juazeiro (lá foi o PC do B seu coligado), Feira de Santana, Itabuna e Ilhéus, os maiores colégios eleitorais.

Aqui em Vitória da Conquista é chegada a hora do PSB, ou outro partido de esquerda moderada, fazer uma revisão de seus erros e começar a trabalhar firme com o povo para ganhar a prefeitura, em 2024, com candidatura própria, sem coligação. É hora de “arregaçar as mangas” e já trabalhar com um possível nome que tenha a aceitação popular, sem essa linguagem de bordões ultrapassados e carrancudos.

COLABORAÇÃO DO JORNALISTA CARLOS GONZALEZ

Por curiosidade fiz algumas projeções sobre as eleições em Conquista.

1º turno

Zé – 81.721 votos – 47,63%

Herzem – 78.732 votos – 45,89%

Demais candidatos – 11.132 votos – 6,49%

Votos válidos – 171.575 – 91,48%

Brancos – 4.095 – 2,18%

Nulos – 11.880 – 6,33%

Abstenções – 43.626 – 18,82%

2º turno

Herzem – 97.364 – 54%

Zé – 82.942 – 46%

Votos válidos – 180.306 – 95,31%

Brancos – 2.367 – 1,25%

Nulos – 6.509 – 3,44%

Abstenções – 41.994 – 18,17%

Como explicar que a diferença de 1,74% (cerca de 3 mil votos) em favor de Zé se transformou em 15 dias em 8% (quase 15 mil votos) em favor de Herzem?

Por que 8.371 eleitores que votaram em branco, anularam o voto e se abstiveram no 1º turno, compareceram maciçamente às urnas no domingo, com uma expressiva maioria contribuindo para a reeleição de Herzem.

Temos que admitir que a campanha de Zé na TV foi pífia. Já seu adversário foi mais incisivo, utilizando-se de fake news (associou o petista aos rituais do candomblé, provocando a repulsa dos evangélicos, bastante numerosos em Conquista). Como em todo o Brasil, o PT, vinculado pelos inimigos à corrupção, continua despertando um sentimento de ódio.

Os cientistas políticos não teriam uma resposta. É uma equação que poderia ser colocada diante de Einstein.

 





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