:: 21/nov/2024 . 23:44
NO TIC-TAC DO CORAÇÃO
(Chico Ribeiro Neto)
Meu avô Chico tinha um relógio cuco. Com 5 anos, eu ficava esperando para ver o cuco sair da casinha. Era emocionante. Ali morava o tempo.
Vovô também tinha um relógio de bolso que, se não me engano, usava no bolso do colete. Ali morava a elegância.
O relógio sempre atraiu as crianças. Era bom encostar o ouvido para ouvir o tic-tac. A gente ganhava uns reloginhos de brinquedo, como se dá hoje celular de plástico às crianças.
Seu Zé, numa cidade do interior baiano, comprou um relojão de ouro, mas não sabia ver as horas. O povo descobriu isso porque toda vez que alguém lhe perguntava as horas, ele saía pela tangente: “Moço, não tô conseguindo olhar direito, porque minha vista tá meio anuviada”. A meninada logo descobriu isso e gritava pra ele no meio da rua: “Seu Zé, que horas são?” “Vai olhar embaixo da saia de tua mãe, seu moleque”.
Havia também essa brincadeira: “Que horas são?” “Falta um tiquinho pra daqui a pouco”.
Quando criança, eu ouvia dizer que o Big Ben era o maior relógio do mundo e que “não atrasa nunca”.
Adolescente, adorava dançar ao som de “El Reloj”, do mexicano Alberto Cantoral: “Reloj, no marques las horas/ Porque voy a enloquecer…”
Relógio de pulso tinha que ser à prova de choque e à prova d’água. E tinha que dar corda todo dia. O relógio estava atrasando, você levava no relojoeiro e ele voltava adiantando. Relógio muito barato e que quebrava sempre era chamado de “patacho”.
Além de matar o relógio de pulso, o celular matou também o despertador, além de muitas outras coisas. Em Salvador, na década de 70, a Telebahia tinha o Serviço Despertador. Você ligava do telefone fixo e dizia a que horas queria ser acordado. A telefonista ligava no horário solicitado e também 5 minutos depois, para confirmar se você acordou mesmo. Esse serviço era cobrado extra, à parte de sua assinatura. Lembro que tive um telefone fixo alugado. Comprar uma linha era caro e todo mês eu ia na Barra entregar o cheque do aluguel do telefone. Quem hoje ainda usa telefone fixo?
“O tic tic tic tac do meu coração
Marca o compasso do meu grande amor
Na alegria bate muito forte
E na tristeza bate fraco porque sente dor”
(Trecho da música “Tic Tac do Meu Coração”, de Carmen Miranda).
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
AS BELEZAS DA NATUREZA
Num final de tarde, mistura dos pingos leves da chuva com a luz solar, no sertão da cidade de Anagé, as lentes da minha máquina conseguiram flagrar este belo arco-íris quando vinha de uma viagem de Juazeiro-Ba para Vitória da Conquista. São os encantos e belezas da natureza que os antigos nativos dessa terra consideravam como sinais dos deuses, de castigo ou algum aviso bom ou ruim para suas tribos. Eles deviam se inclinar e fazer suas preces ou rituais de dança. Com a evolução do conhecimento, hoje sabemos que se trata de um fenômeno natural da física, ou reflexo da luz do sol que se explode em cores, as quais, de tanta beleza e alegria, se transformaram em símbolo do gênero LGBT e mais. Bem, não sou físico, mas sei que o arco-íris, como um lindo pôr-do-sol rajado no horizonte, seja no mar ou no sertão, é pura poesia e, quando acontece, todos saem de onde estão para admirá-lo e tirar uma foto, agora mais fácil com o invento da câmara de um celular. Há bem pouco tempo era um privilégio dos fotógrafos profissionais que exibiam e ainda exibem belas imagens dessa nossa natureza cheia de mistérios, infelizmente tão agredida e maltratada pela ação do ser humano. O índio costuma dizer que uma foto rouba a alma da pessoa. Então eu roubei a alma do arco-íris, e o melhor, em pleno agreste nordestino. O arco-íris é uma pintura, não feita pelos pinceis do artista humano, mas pelas mãos do criador universal.
LÁ VEM OS SUMÉRIOS
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário
Salve! Salve!
Lá vem os sumérios,
Há dez mil anos,
Brutos rebeldes, insanos,
Caçadores e coletores,
Voando como falcons,
Das montanhas do Cáucaso,
Outros do Balcãs;
Invadiram o paraíso
De Eva e Adão,
Do pecado veio a infâmia,
No vale da Mesopotâmia;
Criaram o Crescente Fértil,
Onde espreguiça,
O Tigre e o Eufrates;
Inventaram a agricultura,
Depois a roda e a irrigação,
Canais em toda região,
A escrita cuneiforme,
Da argila do barro,
A divisória uniforme;
Desvendaram os mistérios,
E de lá saiu Abraão,
Para fundar outra nação.
Salve! Salve!
Lá vem os sumérios,
Da Revolução Neolítica,
Que desenharam as palavras,
Fizeram a primeira escola,
Palácios, templos e santuários,
Ritos litúrgicos e política,
Com seus sacerdotes de estola,
E o rei Sargão,
Tirado do cesto das águas,
Enfrentou a maldição;
Fez seu primeiro império,
E assim nasceu a civilização.
Salve! Salve!
Lá vem os sumérios,
Das lendas, mitos e impérios,
Com seus reis sanguinários,
Como narram os fatos,
Dos deuses imaginários:
Tomaram a Síria e a Judéia,
Um deles expulso pelos ratos,
E a espada de Nabucodonosor,
Escravizou os judeus,
Na gloriosa Babilônia,
Dos suspensos jardins,
E Ciro, o persa pastor,
Vindo das glebas sem fins,
Tentou selar a paz e o amor.
Salve! Salve!
Lá vem os sumérios,
Senhores guerreiros da tirania,
Onde hoje é a islâmica terra:
Irã, Iraque e Turquia,
De poeira árida desértica,
Sangue, quizilas e guerra,
Até os cedros do Líbano,
Antigos navegadores fenícios,
Descobridores do além-mares,
Dobraram o Cabo da Esperança;
Juntaram línguas e sílabas,
Com traços, pontos e vírgulas,
Formaram seus lares,
As crianças sem vícios,
No labor de cada dia,
E assim me despeço,
Com meu verso poesia.
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