:: 12/nov/2024 . 23:09
A CRISE DO NOSSO JORNALISMO
A realidade é que vivemos num mundo das crises, como a da política, sem mais líderes estadistas e humanistas, da humanidade em decadência, das mudanças climáticas com o aquecimento global, das ideias e do conhecimento, da meritocracia, do amor ao outro, da solidariedade, da confiança, da paz e tantas outras, inclusive do nosso jornalismo.
É dessa última crise que pretendo falar porque, com o avanço da tecnologia da internet e das redes sociais, se acomodou e deixou de ser questionador e investigativo em sua essência. As matérias que recebemos são requentadas e repetitivas, salvo raras exceções. É um jornalismo cada vez mais elitista, que diz só amém ao seu patrão.
Uma das principais funções do repórter é perguntar, mas se tornou numa espécie de âncora e atreve a emitir suas próprias opiniões, como se estivesse fazendo um jornalismo opinativo, coisa para colunistas setoriais. Acho que o repórter foi hipnotizado pela mosca azul da vaidade. “Ele só quer é bajulação”, como dizia nosso profeta Raul Seixas.
Vejo hoje entrevistas, seja em qualquer meio de comunicação, onde o jornalista se confunde com o entrevistado e acaba falando mais do que a fonte, como se fosse ele o especialista do assunto. No final, ainda faz suas recomendações e o que ele acha ser o certo e o errado. Isso termina confundindo a cabeça das pessoas e até desvirtua os fatos, com desvios de conduta e função.
Os blogs, em sua grande maioria, colam notícias dos outros, as rádios divulgam BOs (boletins de ocorrências), sem se aprofundar nos acontecimentos e os jornais impressos definharam e dão notícias atrasadas, publicadas pela internet, quando deveriam se aprofundar para trazer textos comentados para o leitor. A televisão virou um veículo chato e monótono que não se modernizou e avançou no conteúdo. As novelas são um saco, com os mesmos enredos.
No geral, o nosso jornalismo de hoje está mais preocupado em acompanhar as inovações tecnológicas do seu visual e do modelo da interatividade. Esqueceu do outro lado de elaborar matérias mais consistentes e convincentes. Ele foi arrebatado pela parcialidade escancarada, principalmente por parte da grande mídia que mantém seu monopólio comprometido com o capital.
Percebemos pouca criatividade e imaginação das pautas que saem das redações, bem como, a falta de um bom chefe de reportagem e de um editor para orientar melhor o repórter que sai de uma faculdade, em sua maioria deficitária na formação do aluno. Aliás, a deficiência no aprendizado já vem desde o início da sua educação.
Dentro do jornalismo, em particular, temos também a crise do diploma, inclusive não reconhecido profissionalmente e não obrigatório para atuar como profissional. A luta pelo diploma é de suma importância, mas isso não garante qualidade e mudança de comportamento. A impressão que temos é que a escola, mesmo com suas falhas, ensina uma coisa e a empresa manda fazer outra.
Pouco vemos atualmente matérias especiais de peso como as que existiam no passado mais recente, isto é, bem trabalhadas e investigativas, de forma a prender o interesse do público alvo. Sentimos falta de um produto de boa qualidade e estamos cheios do factual evasivo e vazio, com uma cara de propaganda indutora do consumismo, principalmente quando se trata do setor comercial.
Estamos carentes de um jornalismo mais informativo, mais cultural que faça o leitor, o ouvinte ou o expectador refletir sobre os fatos. Na realidade, essa crise do nosso jornalismo está associada à decadência do conhecer e do saber educacional da grande maioria da nossa gente. Mesmo assim, cabe ao nosso jornalismo também o papel de educar o povo e não nivelar seu trabalho por baixo.
O certo é que o nosso jornalismo caiu muito no seu conceito de qualificação de outrora. Mesmo com o baixo nível na educação, o jornalismo não pode abandonar a sua missão de ser um grande formador de opinião, defensor da liberdade de expressão e da justiça social na hora de expor os fatos como eles são, sem subterfúgios.
O que observamos hoje é um jornalismo mais dependente, menos crítico e contestador, sempre se posicionando ao lado do poder, como se fosse uma bancada da situação dos governantes em geral. Diante do exposto, os nossos jovens preferem ficar grudados no celular vendo memes, figuras e lendo fofocas e fake news. Por falar nisso, nossa mídia está construindo mais mentiras que verdades.
É claro que não existe um jornalismo totalmente independente e imparcial. Isso é uma utopia, mas que não seja tão chapa branca assim. Diria que o nosso jornalismo de hoje é uma vergonha, levando em consideração o seu posto de ser um dos principais personagens do poder entre os poderes constituídos. No entanto, o leigo no assunto, em decorrência do seu baixo saber cultural e senso crítico, ainda elogia esse jornalismo meia cara.
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