:: 15/nov/2024 . 23:51
DOS RIOS DO PARAÍSO À ESCRITA E O MOISÉS HEBREU NA VISÃO DE FREUD
Conversa vai e conversa vem, os egípcios, há 25 séculos, acreditavam ser os pioneiros da civilização humana, como defendia o faraó Psamético. Ele mandou pesquisar com seus métodos macabros e viu que não era bem assim.
Primeiro tomou duas crianças pobres (sempre sobra para os pobres) e entregou-as a um pastor (ele não podia falar nada para os bebês), com as instruções de que deveriam ser criadas longe dos outros seres humanos. Como a mulher tem a “língua solta”, ordenou aos seus soldados que cortassem as línguas das mulheres que viviam com o pastor.
Passados dois anos, ele notou que, ao entrar na cabana, os nenês falavam a palavra “becos”, “becos”. Os sábios do faraó estudaram e descobriram que na língua frígia, “becos” quer dizer pão. Pronto, a Frígia era mais antiga, mas também não era bem assim. Apenas foram os frígios os primeiros adoradores de Cibele, a Deusa-Mãe que rivalizou com o cristianismo. O imperador romano Juliano era um devoto de Cibele.
Essa narração está no livro “Uma História do Mundo”, do jornalista e escritor David Coimbra, ao afirmar que o homem foi domesticado pela mulher, provavelmente na Mesopotâmia, em grego mezo (meio) e tâmia (rios), entre os rios Tigre e Eufrates, próximos ao Ganges, na Índia, e ao Nilo, no Egito.
A Bíblia, através da sua lenda do Gênesis, informa que havia quatro rios no paraíso perdido de Adão e Eva. Está aí a charada. Os cientistas informam que o Big Bang ocorreu há 13 bilhões de anos e a terra se formou há 4,6 bilhões (na tradição judaica, Deus criou a terra há quatro mil anos a. C.).
O que mais importa é que as primeiras civilizações surgiram naquela região dos quatro rios. Ali fundaram a primeira civilização (em latim civitas – cidade), o oposto do caçador e coletor de Adão e Eva que convenceu seu companheiro a ser agricultor e criador de animais (pastor). Dos seus filhos, Abel era pastor e o Caim agricultor. Deus preferia o primeiro porque o segundo feria a terra, mas ele se tornou fundador de cidades depois de matar o irmão.
O autor da obra descreve que a Mesopotâmia é reconhecida pelos hebreus como sítios originais da humanidade civilizada (12 mil anos de sociedades formadas naquela faixa doTigre e Eufrates). Warka (mãe das cidades) é mencionada no Gênesis como Ereque, criada por Nemrod, filho de Cus que, por sua vez, era filho de Cam, um dos três filhos de Noé.
Para a ciência, houve outras antes, como Eridu. No entanto, a mais viva até hoje é Jericó, na Palestina, hoje arrasada pelos judeus perversos. Por volta de 1.300 a. C. esta cidade foi invadida pelos hebreus fugidos do Egito e comandados por Josué (Deus é salvação), um estrategista militar. Conta a lenda que eles derrubaram as muralhas de Jericó com suas trombetas. Na época, viviam lá os cananeus na chamada “Terra de Leite e Mel”.
“Os hebreus invadiram a cidade de Jericó seguindo as ordens de Jeová. Passaram o fio de espada tudo o que nela vivia, homens, mulheres, velhos e crianças, e até mesmos bois e jumentos” – ressalta David Coimbra. Pelo visto, Deus não gostava de Jericó, e os hebreus criaram o primeiro holocausto da história. Os únicos sobreviventes foram uma prostituta de nome Raab e sua família, espiões de Josué.
SOBRE A INVENÇÃO DA ESCRITA
Nos desculpem, mas somente agora vamos falar das palavras, da escrita e depois um pouco de Moisés. Para começar, nosso sistema de escrita é fonético, o que significa que cada letra representa um som. A escrita chinesa, por exemplo, é pictográfica. Os chineses precisam decorar cada desenho e existem mais de 40 mil caracteres.
A nossa escrita é auditiva e a dos chineses visual. Um alfabeto com sons é mais prático e inteligente do que imitar imagens. É aí que entra um sumério que por volta de 4 mil anos a. C. inventou a irrigação e os canais para domar as enchentes dos rios Tigre e Eufrates. Os vizinhos imitaram a invenção e logo toda região foi rasgada por canais.
Em pouco tempo houve produção em abundância, e o excedente liberou alguns homens do campo, com mais horas livres para pensar e planejar. Eles inventaram instrumentos para medir os terrenos, o fluxo das águas, o aperfeiçoamento da matemática e a organização das comunidades, produzindo cada vez mais e trabalhando menos.
Nessa toada, criaram os impostos, o comércio e um modelo para registrar as compras e vendas. Como uma coisa puxa outra, chegaram até a escrita cuneiforme que tinha um desenho para cada produto, com objetivo de não perder dinheiro. A partir desse processo, avançaram para as sílabas e a escrita fonética. Isso se deu há uns 5,5 mil anos. Mais na frente, depois de 2 mil anos, vieram os fenícios e criaram o alfabeto.
A outra etapa foi o esforço de colocar os jovens para ler e escrever. Para isso, os sumérios também instituíram a primeira escola formal do mundo, chamada de “edubba”, ou casa de placas, porque eram feitas de argila.
Naquela época, diferente dos tempos atuais, os professores eram mantidos por elevadas taxas pagas pelos pais dos alunos, e o método de ensino era implacável, somente para meninos, que entravam na escola ainda crianças e só saiam depois de adultos.
MOISÉS, O EGÍPCIO?
Quanto a Moisés, o libertador dos hebreus e fundador do judaísmo (religião mosaica), de acordo com o escritor de “Uma História do Mundo”, Freud, que era judeu (escreveu “Moisés e o Judaísmo”) afirmava que ele era egípcio.
Na tradição judaica, Moisés significa em hebraico “porque das águas o tenho tirado”. Sua mãe hebreia, conforme o mito, o lançou num cesto nas águas do grande rio Nilo, para escapar à perseguição do faraó aos filhos do seu povo. O faraó queria um controle populacional dos escravos. O cesto teria sido descoberto por uma princesa egípcia que o criou como se fosse seu filho.
Foi essa princesa que deu o nome de Moisés a Moisés. Por que ela deu logo um nome hebreu? É aí que Freud explica que Moisés é um nome egípcio, que quer dizer “filho” ou criança. O autor da obra afirma que os egípcios tinham o hábito de colocar essa partícula no nome de seus filhos, como “Amon-mose”, significando “Amon-uma-criança, forma contraída de “O deus Amon deu uma criança”.
Moisés deveria se chamar Tutmoses ou Ahmoses, nomes comuns da época. No entanto, Freud não apenas se baseou no nome para chegar à conclusão que ele era egípcio. Citou também o caso de um homem que pode ter sido protagonista da história, um tal de Sargão I, o Grande, ou o Acádio, que fundou o primeiro império do planeta, na Mesopotâmia.
Como Moisés, segundo a lenda, ele também foi largada num cesto de vime nas águas do rio Eufrates, sendo depois recolhido por Akki. As histórias são parecidas, só que Sargão viveu mil anos antes de Moisés.
Freud ressalta que o mito do nascimento do herói é semelhante em várias culturas. Depois de Sargão, se reproduziu em Moisés, Ciro, Rômulo, Édipo, Páris, Hércules e tantos outros, mas o grande argumento de Freud é quando ele lança mão da história de Akhenaton, o faraó mais intrigante do Egito porque foi um revolucionário.
Com base no livro do prêmio Nobel de Literatura (1988), Naguib Mahfuz, sobre o rei rebelde, Freud acredita que Moisés era um sacerdote da religião de um único deus, a primeira monoteísta do mundo, fundada por Akhenaton.
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