:: 18/nov/2024 . 22:49
REPÓRTER DE HOJE NÃO SABE MAIS COMO DESCOBRIR UMA BOA HISTÓRIA
Falei aqui semana passada sobre a crise em que vive o nosso jornalismo, não somente aqui em Vitória da Conquista onde os blogs substituíram os jornais impressos a partir dos anos 2000 e não houve evolução de conteúdo e qualidade em suas matérias publicadas, com raras exceções.
Por falar em matérias e reportagens nos veículos de comunicação, tenho observado que os repórteres de um modo geral parecem que desaprenderam extrair de um evento, fato ou acontecimento uma boa história para entregar ao seu leitor, ouvinte ou telespectador. O que vemos é aquele “feijão com arroz” de sempre, ou seja, o factual.
Vou colocar aqui como exemplo mais recente, as coberturas da Feira Literária de Conquista, a Fliconquista que se encerrou neste último domingo. As entrevistas foram sempre direcionadas à curadora do evento, com aquela mesmice da programação, e quase nada de importante como fato interessante dentro da feira.
Estive conversando com alguns escritores, livreiros e expositores e descobri uma boa história digna de registro. Trata-se do José da Boa Morte que veio lá de Salvador de “buzú”, mesmo sem ser convidado, vender seus livros “ARTPOESIA”, uns de sua autoria e outros comentados que ele reproduz de poetas e escritores famosos.
José da Boa Morte, cuja família vem lá de Santo Amaro, mas é soteropolitano, é um personagem interessante que poderia já ter recebido um troféu de “rei das feiras literárias” da Bahia e do Brasil. É uma pessoa simples, mas de muita sabedoria, esforçado e organizado com seus projetos de divulgação da nossa literatura brasileira.
Quando começa o ano ele já coloca em sua agenda o calendário de todas as feiras em que vai participar, principalmente na Bahia e no Nordeste. No maior sacrifício, ele faz suas andanças literárias de ônibus e, na maioria das vezes, paga seus custos e se vira para cobrir suas despesas. Seus itinerários são todos preestabelecidos.
Para a Fliconquista, por exemplo, ele desembarcou aqui no dia 13/11 com suas malas e, antes de vir à feira, deu uma rodada na cidade vendendo seus livros para, pelo menos, pagar seu hotel e o transporte. Depois conseguiu com a coordenação uma mesinha no foyer do Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima para expor seus trabalhos. Como se não bastasse, ele ainda foi à Flibelô, de Belo Campo, de sábado para domingo.
Este personagem vendedor de livros tem uma boa narrativa de vida cultural para contar a um repórter descobridor de boas histórias. Além do mais, ele deveria compor uma roda de conversa literária ou uma mesa de debates para passar suas experiências. É uma pessoa que se dedica de corpo e alma a participar das feiras literárias e vive disso, coisa rara neste setor.
Pois é gente, José da Boa Morte, na Fliconquista, é apenas um exemplo citado que merecia ter sido entrevistado por um repórter contador de boas histórias e notícias. O público gosta muito disso, de ler e ouvir coisas inusitadas extraídas de um evento ou fatos noticiosos. Numa reportagem, o bom repórter tem que investigar algo novo que chame a atenção das pessoas.
Na Fliconquista tinha também um escritor de Salvador que se dedica a escrever sobre o gênero de terror. Sua história também daria uma boa reportagem. Peguei o caso da Feira Literária de Conquista para mostrar que o repórter de hoje, quando sai para realizar uma cobertura jornalística, raramente traz uma boa história para sua redação. Não é apenas fazer o factual e copiar o boletim de ocorrência.
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