Carlos González – jornalista

Passados os quatro dias dessa trégua, em que foram libertados, num primeiro instante, 13 reféns (mulheres e crianças), em mãos do Hamas, e 39 palestinos (menores e mulheres), confinados em prisões de Israel, os bombardeios israelenses ao norte e sul de Gaza serão retomados “com força total”. A promessa é do ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallanti”.

Gallanti, que se refere aos palestinos como “animais humanos”, estava naquele momento repetindo as palavras do seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. A missão do seu exército nesse jogo, onde há apenas um time em campo, não é somente de eliminar o Hamas. Israel quer tornar realidade um sonho de quase 80 anos: estender suas fronteiras, ocupando inteiramente os territórios de Gaza e da Cisjordânia, ampliando as restrições impostas aos palestinos, como, por exemplo, a liberdade de ir e vir.

“Bibi” Netanyahu, que já ameaçou avançar sobre o Líbano, na perseguição ao grupo terrorista Hezbollah, não respeita as resoluções tomadas pela ONU e, muito menos, a Carta das Nações, da qual é um dos signatários. São frequentes suas violações aos direitos humanos, além de cometer crimes de guerra. Nas prisões israelenses há 7.200 palestinos, incluindo 88 mulheres e 250 menores, muitos deles sem culpa formada.

A participação da diplomacia do Catar foi decisiva para que as partes em conflito fechassem um acordo. Importante também foi a pressão dos Estados Unidos e dos familiares dos reféns ao governo do primeiro-ministro israelense, que se mostrava inflexível em negociar com o Hamas.

Nesse período de trégua, 200 caminhões entrarão por dia no norte da Faixa de Gaza, levando o que se convencionou chamar de ajuda humanitária para 2 milhões de pessoas que perderam tudo e não sabem para onde ir e o que lhes espera nos próximos dias.

Uma criança é morta a cada 10 minutos em Gaza. A informação é do diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Ninguém está a salvo em nenhum lugar”, revelou o dirigente ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Segundo ele, o sistema de saúde do território palestino está “de joelhos”.

Ghebreyesus relatou a situação desesperadora do sistema hospitalar local: “Os corredores dos hospitais estão lotados com feridos e pessoas desabrigadas; médicos operando sem anestesia; necrotérios abarrotados” O complexo hospitalar Al-Shifa, o maior da região, suspendeu as cirurgias por falta de combustível para os geradores de energia elétrica.

Munição pesada de artilharia do exército israelense atinge diariamente as proximidades dos hospitais, sob a justificativa de que suas instalações servem de base para o Hamas, e que sob o piso dos prédios há uma rede de túneis utilizados pelo grupo terrorista.

A Faixa de Gaza, com 6,020 km2 e uma população 4,9 milhões de habitantes, se transformou em 45 dias num cemitério a céu aberto em terra arrasada, onde já morreram mais de 13 mil palestinos, vítimas dos bombardeios diários do poderoso exército de Israel. Na Cisjordânia, soldados e colonos israelenses já expulsaram mais de mil palestinos de suas terras. Os que se recusam a sair são assassinados. Aqueles que se sentem ameaçados pedem ajuda de fora, inclusive ao Brasil.

O ataque impiedoso do Hamas a civis israelenses na noite de 7 de outubro foi providencial para “Bibi”, alvo de protestos do seu povo, que o acusava de corrupção e de enfraquecer o Judiciário. No dia seguinte, ele iniciou a invasão de Gaza, ação que contou com apoio dos Estados Unidos, Grã Bretanha e França, sob o pretexto da necessidade de defender o país.

A comunidade judaica está aterrorizada na Europa. Seus membros receiam sair às ruas, mandar seus filhos à escola ou ir às sinagogas; a suástica é pintada  nas fachadas das casas e cemitérios israelitas são violados. A França e Alemanha registraram mais de 1.200 ocorrências de antissemitismo nas últimas semanas, com a prisão de 486 acusados.

No Brasil, ao contrário, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) conseguiu na Justiça censurar o jornalista Breno Altman, fundador do site Opera Mundi, que tem combatido o que ele chama de “regime de apartheid construído pela liderança israelense”. O jornalista, que é judeu, afirma que “a Conib, ao buscar me censurar, volta-se contra a liberdade de expressão e de imprensa, revelando as entranhas do autoritarismo típico da doutrina que professa”.