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:: ‘Encontro Com os Livros’

AS TRAPAÇAS E ASTÚCIAS DOS HEBREUS QUE EM CANAÃ FUNDARAM O JUDAÍSMO

Hebreus e árabes são meios-irmãos, mas brigam há milênios por propriedade e herança, conforme narram historiadores arqueólogos e a própria Bíblia através do livro do Gênesis. Tudo começou com Abraão quando saiu de Ur, da terra dos caldeus, na Mesopotâmia, e foi parar em Canaã (Retenu Superior), na Palestina, com seu clã.

O jornalista e escritor David Coimbra, em “Uma História do Mundo” faz um relato numa linguagem simples da trajetória desse patriarca, inspirador do judaísmo, e de seus descendentes de forma compreensível ao leitor e recheado de trapaças e astúcias. Na verdade, o cristianismo e o islamismo também têm Abraão, o seminômade, em suas escrituras religiosas.

Por volta de 2000 ou mais a.C. aconteceu uma seca braba em Canaã que causou muita fome e, como fazem os nordestinos, Abraão e sua bela Sara, ou Sarai, seu sobrinho Lot e demais formaram uma caravana até o Egito onde existia alimentos em fartura. Como os egípcios não podiam ver um rabo de saia, Abraão combinou com sua cobiçada Sara a dizer para o faraó que eles eram irmãos.

Uma versão conta que o patriarca temia ser morto pelo rei se ele contasse que Sara era sua mulher e outros dizem que Abraão fez uma negociação para ser bem recebido e adquirir o que queria. De qualquer forma, ele foi astuto e Sara serviu o faraó em seu harém. Por causo dela, Abraão foi bem tratado e recebeu ovelhas, bois, jumentos, servos e camelos. Se deu bem com seu esquema.

Ocorre que logo depois da chegada dos hebreus houve uma praga nas lavouras do Egito, fato que levou os egípcios a suspeitarem que a culpa estava em Sara que foi devolvida ao marido e seu povo expulso de suas terras. Cita a Bíblia que o Senhor ficou furioso e feriu o faraó e toda sua casa.

Abraão retornou com seus rebanhos para Canaã e Lot foi para Sodoma, a cidade do pecado que foi queimada por Jeová, juntamente com Gomorra. No entanto, Lot, sua esposa, que virou uma estátua de sal que, por curiosidade (coisa de mulher), ter olhado para trás, e suas duas filhas foram poupados. Ele foi para uma cidade chamada Segor e depois refugiou-se numa caverna com suas filhas, as quais embriagaram o pai e fizeram sexo com ele. Cada uma gerou um filho, Moab, o pai dos moabitas e Bem-Ami, pai dos amonitas.

O Antigo Testamento tem muita lenda, mas também verdade. A história descreve que Sara era estéril e Abraão, com o consentimento de Jeová, deitou-se com a escrava Agar com a qual  teve Ismael que fundou os ismaelitas e se tornou patriarca de todos os povos árabes depois de ter sido expulso de casa sem nada com sua mãe pelo próprio pai por insistência da ambiciosa Sara logo após gerar Isaac com noventa anos de idade. Ela temia que o mais velho se tornasse o verdadeiro herdeiro da família, como assim regia o costume antigo.

Como todos sabem, Isaac quase foi sacrificado pelo pai por ordem de Jeová para testar sua fé, mas depois tornou-se homem descendente de todos hebreus. Está escrito que Sara morreu com 127 anos e Abraão ainda teve seis filhos com Quetura e faleceu com 175 anos.

Issac casou-se Rebeca que levou vinte anos para engravidar e deu os gêmeos Esaú, o peludo, e Jacó que significa o suplantado. A mãe gostava mais do segundo filho, um dos patriarcas dos hebreus, pacífico que preferia morar na tenda, enquanto o primeiro, um hábil caçador, despojado de valores materiais e de caráter era o querido do pai.

Por ser mais sedentário, Jacó representava a civilização. Como era o primogênito, Esaú tinha direito a ser o chefe da família e a herdar os bens na morte do pai, mas cedeu esse lugar para o irmão em comum acordo ou por ter caído na lábia de Jacó. Mesmo assim, Jacó usou o irmão lá na frente para trapacear e chantagear.

De acordo com o autor da obra, o que temos nesse episódio são a civilização e a selvageria, e também o homem e a mulher, a fraqueza e o ardil, a imprevidência e a astúcia. No final de sua vida, muito doente e cego, Isaac sentiu ser a hora de dar a benção simbólica paterna que confirmaria a primogenitura.

Isaac resolveu, então, abençoar Esaú e mandou que ele preparasse um prato bem suculento da sua caça. Esaú partiu com sua arma para caçar um animal. Ao ouvir a conversa por detrás da porta, a gananciosa Rebeca chamou Jacó e preparou outro plano para trapacear Esaú e o marido.

– Faça o que digo: Vá ao rebanho e traga dois belos cabritos. Prepararei com eles um prato para teu pai, como ele gosta. Tu vais levar o prato a ele e Isaac comerá e vai te abençoar no lugar de Esaú.

– Mas, mãe, argumentou Jacó – meu irmão é peludo e eu tenho pele lisa. Se meu pai me tocar passarei por embusteiro e serei amaldiçoado. No entanto, Rebeca orientou Jacó a cobrir os braços e as pernas com as peles dos cabritos esfolados de forma que o pai, se o tocasse, iria pensar se tratar do cabeludo Esaú.

Isaac até que desconfiou, mas terminou dando a benção para Jacó. Quando Esaú chegou com sua caça para oferecer ao pai já era tarde demais. Esaú ficou amargurado e mesmo assim pediu a sua benção, mas não tinha como o velho voltar atrás. Apenas disse que ele foi trapaceado pelo irmão.

– Eis que a tua habitação será desprovida de gordura da terra e do orvalho que desce dos céus. Viverás da tua espada, servindo ao teu irmão, mas se te libertares, quebrarás o teu jugo de cima do teu pescoço. Com essa alternativa, Isaac deu permissão a Esaú para vingar-se de Jacó.

Ao sentir o perigo, Rebeca mandou o filho para a casa do seu irmão Labão que morava na Mesopotâmia. Como para um esperto, outro mais esperto ainda, o tio deu uma boa enrolada nele ao ter se apaixonado pela bela prima Raquel.

Labão disse que seria uma honra tê-lo como genro, mas teria que serví-lo de graça por sete anos. Foi aí que Jacó caiu no esparro. Trabalhou por sete anos e no dia do casamento tomou aquele porre de deixar embriagado e terminou se deitando com Lia, a irmã baranga mais velha.

No outro dia tomou aquele susto e foi reclamar do tio que teria sido passado para trás. Labão astucioso explicou que havia mandado Lia para seu leito conjugal, em vez de Raquel, porque em sua terra o hábito era casar a irmã mais velha antes da mais moça.

Para consolar Jacó, afirmou que ele teria também a Raquel desde que trabalhasse mais sete anos como escravo para ele. Jacó, doido pela Raquel (homem é um bicho besta e romântico), topou a empreitada e terminou ganhando ainda as duas criadas Zilpa e Bila. Ficou com as quatro e passou mais seis anos como administrador de Labão, acumulando posses e filhos.

Depois de vinte anos possuía um tremendo rebanho, quatro mulheres, doze filhos e uma filha. Os doze terminaram sendo os fundadores das doze tribos de Israel, nome pelo qual Jacó passou a ser chamado.

Quando esse novo Israel decidiu retornar para Canaã, o tio não permitiu. Então ele tramou uma fuga com Raquel, que esperta levou as estatuetas ou terafins do pai. Esses terafins eram deuses que, além de servirem para adoração e idolatria, davam a quem as possuía o direito à herança familiar. Essas estatuetas eram uma prova de que alguns hebreus pioneiros também praticavam o politeísmo sem serem incomodados.

Na fuga houve outras trapaças entre Raquel e o pai, mas Jacó conseguiu se safar e chegar a Canaã onde fez boa fortuna ao ponto de ser o mais rico da Palestina. Entre seus filhos aparece o José, Judá (a tribo de Judá é a Judeia donde veio a designação “judeu”) que acabou sendo jogado num poço seco pelos irmãos, não por inveja por ser o mais querido do pai, mas porque era um tipo dedo duro, um X-9 das conversas dos irmãos.

Como todos conhecem bem a história, esse José, casado com uma cananeia de nome Sué (é um outro caso interessante) foi vendido pelos irmãos, sem o mais velho Rúben saber, a uma caravana de ismaelitas que levava resina, bálsamo e ládano (muito usados para embalsamar múmias) para o Egito. O José, Judá, terminou sendo escravo de Putifar, o chefe da guarda do faraó. Como era bonitão de corpo, a bela e gostosona da mulher de Putifar tentou seduzí-lo dando em cima dele na cara de pau.

José caiu na besteira de rejeitá-la e a mulher contou outra versão ao marido de que seu escravo havia flertado ela. José foi direto para o cárcere e lá começou a adivinhar os sonhos dos presos. Caiu nas graças dos guardas e de lá foi chamado para morar no palácio para desvendar os sonhos do faraó.

O resto da história já é conhecido de todos quando ele se encontrou com os irmãos famintos no Egito. Com uma seca em Canaã eles foram procurar abrigo na terra dos faraós que governaram o Egito por mais de três mil anos.

 

 

 

 

 

 

 

NAPOLEÃO E SEUS SÁBIOS NO EGITO

Quando Napoleão Bonaparte esteve no Egito com seus 34 mil homens do exército e seus sábios, por volta de 1799, um dos seus primeiros feitos foi criar o Instituto do Egito que elevou este antigo país ao conhecimento do Ocidente, principalmente a partir da Pedra de Roseta, decifrada pelo gênio Jean-François Champollion.

O autor da obra “Uma História do Mundo”, David Coimbra, jornalista e escritor, citou que o Instituto foi a reunião de 167 cientistas convocados por Napoleão para participar da campanha do Egito, com seu general Junot e seus soldados que descobriram o granito negro.

“Eram engenheiros, arqueólogos, botânicos, matemáticos, artistas, todo um time de sábios chamados de “savants de Napoleão”. O rei francês tinha a intenção de imitar seu maior ídolo conquistador do mundo, Alexandre, o Grande, que era também um militar-político. Ao chegar ao Egito, vindo da Macedônia, o primeiro lugar que Alexandre visitou foi o Templo do Deus Amon, por isso deram-lhe o nome de filho de Zeus.

Alexandre levou seus filósofos que registraram e refletiram sobre tudo o que viram. Napoleão quis fazer o mesmo e, por isso levou seus sábios porque a escrita hieróglifa egípcia era desconhecida. Um dia, seus soldados encontraram um granito negro, a famosa Pedra de Roseta que continham inscrições em hieróglifos, grego e copta.

Os cientistas tiraram cópias das inscrições, mas Napoleão perdeu para os ingleses na guerra e a Pedra de Roseta terminou sendo transferida para Londres onde ainda está no Museu Britânico, quando deveria ter sido devolvida para o Cairo. Por falar nisso, grande parte do nosso patrimônio foi levado ou roubado para o exterior, inclusive espécies de plantas e ervas medicinais da Amazônia.

Quem decifrou a Pedra de Roseta sem nunca tê-la visto foi Jean-François Champollion, o gênio da linguística. De acordo com o escritor David Coimbra, ele nasceu em Figeac, no ano de 1790. Dez anos depois sabia falar latim e grego, além de todas as línguas europeias. Por essa época começou os estudos de hebraico. Aos treze anos, lia e escrevia em árabe, siríaco e caldaico. Falava copta consigo mesmo para treinar a pronúncia. Antes dos 15 estudou a gramática chinesa. Em seguida aperfeiçoou-se no zenda, no pálavi e no farsi. Aos 17 escreveu um livro elogiado pela Academia de Grenoble: “O Egito sob os Faraós”. Quando completou 19 anos tornou-se professor universitário.

Ainda criança Champollion entrou em contato com os ministérios do Egito e prometeu decifrar os hieróglifos da Pedra de Roseta através das cópias tiradas pelos sábios de Napoleão. Alguns historiadores suspeitam que os hieróglifos sejam mais antigos que a escrita cuneiforme dos sumérios. No entanto, Coimbra entende que antes de 3000 a. C. e de Menés, o primeiro faraó, os hieróglifos deviam ser somente ideogramas, como a escrita chinesa.

O REI REBELDE DO EGITO E O EDIFÍCIO MAIS ANTIGO DA HISTÓRIA HUMANA

O Egito foi uma civilização que surgiu depois dos sumérios e sua grandeza foi forjada ao longo do rio Nilo, conforme relata o jornalista e escritor David Coimbra em “Uma História do Mundo”. Como já citei aqui antes, Akhenaton foi o único rei egípcio que se rebelou contra um mundo antigo. Foi, por assim dizer, um revolucionário.

O grego Heródoto, que visitou a região, escreveu que o Egito foi uma dádiva do Nilo. O país está ali no Oriente Médio, no nordeste do chamado Continente Negro, ao lado de Israel, da Jordânia, do Líbano e da minúscula Faixa de Gaza, num ponto nevrálgico onde hoje o Benjamim Netanyahu, o “Bibi” carniceiro, já exterminou mais de 40 mil palestinos.

Para entrar na terra prometida por Deus, os hebreus que saíram fugidos dos faraós ficaram 40 anos circulando pelo deserto em círculos. Alguns historiadores dizem que foi uma determinação de Moisés enquanto Josué, o estrategista militar, conseguia uma brecha para invadir Jericó.

David Coimbra afirma que foi por causa do Javé ciumento, possessivo e vingativo dos hebreus. Deus pretendia purgar o povo dos seus vícios. No Egito eram escravos e depois homens livres e, para que a Terra Prometida fosse habitada por eles, Javé esperou a extinção de toda uma geração que tinha sido escravizada.

Outra questão controversa é quanto a construção das pirâmides, de que elas foram erguidas por escravos. O autor da obra contesta esta versão e ressalta que foram feitas por agricultores assalariados durante as enchentes anuais do Nilo.

Nesse período eles recuavam para lugares mais altos e iam trabalhar para os faraós. Contam que a primeira greve registrada pela história foi promovida por operários de pirâmides que estavam com os salários atrasados. Os egípcios tinham dificuldade de lidar com a terra e é aí que entram os sumérios com suas técnicas, isto há uns 5,5 mil anos a.C.

Outro fato diz respeito ao edifício mais antigo do mundo. Os arqueólogos continuam nos tempos atuais escavando ruínas. Nas pesquisas encontraram o Gobekli Tepe, uma estrutura de pilares e esculturas parecidas com a inglesa Stonehenge, situada na Turquia. Acreditam ser o mais antigo edifício da história humana.

Os cientistas estão intrigados porque o Gobekli não foi construído às margens do Nilo e nem do Tigre e do Eufrates, na Mesopotâmia, onde nasceu a civilização. Na concepção deles, houve uma mudança fundamental no espírito dos seres humanos que se estabeleceram na Mesopotâmia por volta de oito mil anos a. C. e que isso os empurrou para a civilização.

A história, por não ser uma ciência exata, tem seus pontos controversos. Como assinala Coimbra, na escola aprendemos que Bartolomeu Dias foi o primeiro a dobrar o Cabo da Boa Esperança com suas caravelas.

Historiadores destacam que está errado. Quem primeiro dobrou o Cabo da Boa Esperança foram os fenícios, vinte séculos antes dele, a mando dos egípcios. Por volta de 600 a.C., o faraó Necho II queria descobrir uma forma de navegar a África, na época chamada Líbia. A ideia era sair do Mar Vermelho em direção ao sul e chegar ao Delta do Nilo, no norte do Egito.

Os fenícios eram ótimos marinheiros. Saíram e se foram. Por meses continuaram descendo até que cruzaram o Trópico de Capricórnio. Eles se espantaram quando viram o sol ao norte e, foi por isso, que cruzaram o Cabo da Boa Esperança, no século VI a. C. Subiram pela costa da África e depois de três anos de viagem entraram pelas Colunas de Hércules (Gibraltar) de volta para casa.

 

DOS RIOS DO PARAÍSO À ESCRITA E O MOISÉS HEBREU NA VISÃO DE FREUD

Conversa vai e conversa vem, os egípcios, há 25 séculos, acreditavam ser os pioneiros da civilização humana, como defendia o faraó Psamético. Ele mandou pesquisar com seus métodos macabros e viu que não era bem assim.

Primeiro tomou duas crianças pobres (sempre sobra para os pobres) e entregou-as a um pastor (ele não podia falar nada para os bebês), com as instruções de que deveriam ser criadas longe dos outros seres humanos. Como a mulher tem a “língua solta”, ordenou aos seus soldados que cortassem as línguas das mulheres que viviam com o pastor.

Passados dois anos, ele notou que, ao entrar na cabana, os nenês falavam a palavra “becos”, “becos”. Os sábios do faraó estudaram e descobriram que na língua frígia, “becos” quer dizer pão. Pronto, a Frígia era mais antiga, mas também não era bem assim. Apenas foram os frígios os primeiros adoradores de Cibele, a Deusa-Mãe que rivalizou com o cristianismo. O imperador romano Juliano era um devoto de Cibele.

Essa narração está no livro “Uma História do Mundo”, do jornalista e escritor David Coimbra, ao afirmar que o homem foi domesticado pela mulher, provavelmente na Mesopotâmia, em grego mezo (meio) e tâmia (rios), entre os rios Tigre e Eufrates, próximos ao Ganges, na Índia, e ao Nilo, no Egito.

A Bíblia, através da sua lenda do Gênesis, informa que havia quatro rios no paraíso perdido de Adão e Eva. Está aí a charada. Os cientistas informam que o Big Bang ocorreu há 13 bilhões de anos e a terra se formou há 4,6 bilhões (na tradição judaica, Deus criou a terra há quatro mil anos a. C.).

O que mais importa é que as primeiras civilizações surgiram naquela região dos quatro rios. Ali fundaram a primeira civilização (em latim civitas – cidade), o oposto do caçador e coletor de Adão e Eva que convenceu seu companheiro a ser agricultor e criador de animais (pastor). Dos seus filhos, Abel era pastor e o Caim agricultor. Deus preferia o primeiro porque o segundo feria a terra, mas ele se tornou fundador de cidades depois de matar o irmão.

O autor da obra descreve que a Mesopotâmia é reconhecida pelos hebreus como sítios originais da humanidade civilizada (12 mil anos de sociedades formadas naquela faixa doTigre e Eufrates). Warka (mãe das cidades) é mencionada no Gênesis como Ereque, criada por Nemrod, filho de Cus que, por sua vez, era filho de Cam, um dos três filhos de Noé.

Para a ciência, houve outras antes, como Eridu. No entanto, a mais viva até hoje é Jericó, na Palestina, hoje arrasada pelos judeus perversos.  Por volta de 1.300 a. C. esta cidade foi invadida pelos hebreus fugidos do Egito e comandados por Josué (Deus é salvação), um estrategista militar. Conta a lenda que eles derrubaram as muralhas de Jericó com suas trombetas. Na época, viviam lá os cananeus na chamada “Terra de Leite e Mel”.

“Os hebreus invadiram a cidade de Jericó seguindo as ordens de Jeová. Passaram o fio de espada tudo o que nela vivia, homens, mulheres, velhos e crianças, e até mesmos bois e jumentos” – ressalta David Coimbra. Pelo visto, Deus não gostava de Jericó, e os hebreus criaram o primeiro holocausto da história. Os únicos sobreviventes foram uma prostituta de nome Raab e sua família, espiões de Josué.

SOBRE A INVENÇÃO DA ESCRITA

Nos desculpem, mas somente agora vamos falar das palavras, da escrita e depois um pouco de Moisés.  Para começar, nosso sistema de escrita é fonético, o que significa que cada letra representa um som. A escrita chinesa, por exemplo, é pictográfica. Os chineses precisam decorar cada desenho e existem mais de 40 mil caracteres.

A nossa escrita é auditiva e a dos chineses visual. Um alfabeto com sons é mais prático e inteligente do que imitar imagens. É aí que entra um sumério que por volta de 4 mil anos a. C. inventou a irrigação e os canais para domar as enchentes dos rios Tigre e Eufrates. Os vizinhos imitaram a invenção e logo toda região foi rasgada por canais.

Em pouco tempo houve produção em abundância, e o excedente liberou alguns homens do campo, com mais horas livres para pensar e planejar. Eles inventaram instrumentos para medir os terrenos, o fluxo das águas, o aperfeiçoamento da matemática e a organização das comunidades, produzindo cada vez mais e trabalhando menos.

Nessa toada, criaram os impostos, o comércio e um modelo para registrar as compras e vendas. Como uma coisa puxa outra, chegaram até a escrita cuneiforme que tinha um desenho para cada produto, com objetivo de não perder dinheiro. A partir desse processo, avançaram para as sílabas e a escrita fonética. Isso se deu há uns 5,5 mil anos. Mais na frente, depois de 2 mil anos, vieram os fenícios e criaram o alfabeto.

A outra etapa foi o esforço de colocar os jovens para ler e escrever. Para isso, os sumérios também instituíram a primeira escola formal do mundo, chamada de “edubba”, ou casa de placas, porque eram feitas de argila.

Naquela época, diferente dos tempos atuais, os professores eram mantidos por elevadas taxas pagas pelos pais dos alunos, e o método de ensino era implacável, somente para meninos, que entravam na escola ainda crianças e só saiam depois de adultos.

MOISÉS, O EGÍPCIO?

Quanto a Moisés, o libertador dos hebreus e fundador do judaísmo (religião mosaica), de acordo com o escritor de “Uma História do Mundo”, Freud, que era judeu (escreveu “Moisés e o Judaísmo”) afirmava que ele era egípcio.

Na tradição judaica, Moisés significa em hebraico “porque das águas o tenho tirado”. Sua mãe hebreia, conforme o mito, o lançou num cesto nas águas do grande rio Nilo, para escapar à perseguição do faraó aos filhos do seu povo. O faraó queria um controle populacional dos escravos. O cesto teria sido descoberto por uma princesa egípcia que o criou como se fosse seu filho.

Foi essa princesa que deu o nome de Moisés a Moisés. Por que ela deu logo um nome hebreu? É aí que Freud explica que Moisés é um nome egípcio, que quer dizer “filho” ou criança. O autor da obra afirma que os egípcios tinham o hábito de colocar essa partícula no nome de seus filhos, como “Amon-mose”, significando “Amon-uma-criança, forma contraída de “O deus Amon deu uma criança”.

Moisés deveria se chamar Tutmoses ou Ahmoses, nomes comuns da época. No entanto, Freud não apenas se baseou no nome para chegar à conclusão que ele era egípcio. Citou também o caso de um homem que pode ter sido protagonista da história, um tal de Sargão I, o Grande, ou o Acádio, que fundou o primeiro império do planeta, na Mesopotâmia.

Como Moisés, segundo a lenda, ele também foi largada num cesto de vime nas águas do rio Eufrates, sendo depois recolhido por Akki. As histórias são parecidas, só que Sargão viveu mil anos antes de Moisés.

Freud ressalta que o mito do nascimento do herói é semelhante em várias culturas. Depois de Sargão, se reproduziu em Moisés, Ciro, Rômulo, Édipo, Páris, Hércules e tantos outros, mas o grande argumento de Freud é quando ele lança mão da história de Akhenaton, o faraó mais intrigante do Egito porque foi um revolucionário.

Com base no livro do prêmio Nobel de Literatura (1988), Naguib Mahfuz, sobre o rei rebelde, Freud acredita que Moisés era um sacerdote da religião de um único deus, a primeira monoteísta do mundo, fundada por Akhenaton.

 

“UMA HISTÓRIA DO MUNDO”

COMO SE FORMOU A PRIMEIRA CIDADE

COMO NASCEU O PRIMEIRO DEUS ÚNICO

COMO FOI INVENTADA A CULPA

Numa linguagem pedagógica e num tom simples metafórico de gozação que prende o leitor, sem aquele academicismo pesado, o jornalista e escritor de vários romances, David Coimbra começa esta obra falando do homem de neandertal que durante cerca de dois milhões de anos (outros apontam seis) viveu feliz em suas selvas, caçando, pescando e colhendo, sem pensar no futuro. Seu esquema era viver o dia de cada vez.

Costumamos afirmar que a gente era feliz e não sabia quando nos referimos há 50 ou 60 anos ainda meninos com aquelas brincadeiras tradicionais do nosso tempo onde crianças e jovens respeitavam os mais velhos e a humanidade era mais humana, sensível e solidária. Pois é, mas Coimbra nos faz entender que a felicidade total estava mesmo no neandertal solteiro de um metro e 65 centímetros, forte e cheio de músculos.

Tudo era inocência que nem se sabia que o homem era um reprodutor. O sexo era grupal, sem culpa, e a mulher ficava na caverna esperando o caçador. Quando engravidava, achava que era da lua cheia ou de um mosquito qualquer que lhe picava no rio. Veio, então, o sapiens sapiens, há 120 ou 130 mil anos, e começou a bagunçar tudo. Nessa passagem, a mulher domesticou o homem e criou a civilização a partir da agricultura. Ensinou também o sapiens a domesticar e a criar animais para o abate.

Segundo Coimbra, alguns cientistas desconfiam que haja traços de neandertal em certas pessoas do século XXI. Pode ter havido relação amorosa entre um neandertal e uma sapiens sapiens. Em sua visão, os neandertais eram mais masculinos do que nós. Saia em bandos de machos para caçar, pescar e colher, arrastar uma fêmea pelos cabelos, pegá-la no colo, jogá-la no solo e fazer dela mulher. Não arava a terra, não acumulava e nem constituía família. Não meditava sobre a existência e não se angustiava ao ponto de cair em depressão.

As sapiens queriam era criar seus filhos e, para isso, teve que domesticar os machos. Inventaram a agricultura, tornando impossível o deslocamento por serras, praias e florestas. De nômades a sedentários, fundaram a civilização, a política, a economia, a ganância, a angústia e o psicanalista para curar seus tormentos.

Hoje, o homem solteiro que bebe com os amigos, não reclama da solidão e cativa outras mulheres, é o fracasso das mulheres. Foi por isso que elas inventaram o amor romântico, “que deve seu prestígio à Idade Média quando o cristianismo temperou o sexo com a culpa e elevou o espírito em detrimento da carne”. Esse cristianismo tornou vulgar o prazer e sublime o sentimento. O amor romântico transformou-se na forma de dar sentido à vida humana neste Vale de Lágrimas.

O neandertal não precisava procurar o sentido da vida, porque o sentido da vida era viver. O escritor, com leveza sarcástica, escreve que o ócio feminino matou o neandertal. “Quem inventou o trabalho não tinha o que fazer”. Durante dois milhões de anos de alegria e vadiagem, o homem não trabalhou.

Tanto um como o outro (neandertal e sapiens) viviam para comer e se reproduzir. Freud dizia que tudo na vida é casa, comida e sexo. Lá atrás, o homem nem sabia que fazia filhos. Tudo piorou quando se passou a pensar no futuro há mais de 70 ou 100 mil anos, tempo que o neandertal e o sapiens partilhavam o planeta, caçando e coletando. A agricultura deve ter surgido há 10 mil anos e dela vêm a propriedade e a herança.

A mulher, nas baladas loucas da caverna, ao transar com um chefe do clã, de acordo com Coimbra, foi quem descobriu a reprodução através do sexo. Antes ela viu um casal de filhotes de animais, caso do lobo, ancestral de todos os cães do mundo, copulando e depois parindo. Ficava na caverna cuidando dos filhos e começou a plantar as primeiras sementes extraídas dos frutos que o homem trazia.

Como foi dito antes, da agricultura vieram a propriedade e a herança, mas como o macho poderia ter certeza que o filho era dele para ter o direito de ficar com seus bens?  Só a mulher tinha porque o filho saia da sua barriga.

Naquela época não havia laboratório para fazer o teste de DNA. A forma segura foi obrigar a fêmea a fazer sexo só com ele. Lá vem a monogamia, subproduto da herança. Os homens podiam ter várias mulheres, mas, com o tempo, elas não se submeteram a essa nova ordem. Os problemas estavam só começando.

A MEMÓRIA DO MUNDO NA IMPRESSÃO DE GUTENBERG E A EVOLUÇÃO VIRTUAL

Como escreveu a autora do livro “Em Busca da Bíblia Perdida de Gutenberg”, Margaret Leslie Davis, “a palavra impressa mecanicamente criou a memória do mundo, como alguns estudiosos explicaram, ajudando a acender o Renascimento, a Reforma Protestante e séculos de revolução na ciência, na política e na indústria”.

Ainda de acordo com ela, Gutenberg e sua Bíblia representam a personificação dos primeiros momentos em que tantas possibilidades humanas puderam ser exploradas, multiplicadas e desenvolvidas. Para o historiador John Man, a invenção de Gutenberg preparou o terreno de onde emergiu a história moderna, a ciência, a literatura popular, o início do Estado-nação, muito de tudo aquilo com que definimos a modernidade.

No final do século XV, mais de 130 outras edições da Bíblia foram impressas e distribuídas por todo mundo. Cerca de 240 cidades europeias instalaram gráficas, que se estima que tenham imprimido cerca de 28 mil diferentes edições de inúmeras obras, produzindo um total de 10 milhões de livros.

A cidade alemã de Mainz celebra o impressor como um revolucionário tecnológico ao organizar o evento “2000: o ano de Gutenberg, marcando o 600º aniversário de seu nascimento”, com exposições em museus, apresentações em multimídia, festivais e um catálogo de 227 páginas: Gutenberg Man of the Millennium: from a Secret Enterprise to the  First Media Revolution (Gutenberg, o homem do milênio: De uma empresa secreta à primeira revolução na mídia).

A revista Life nomeou Johannes Gutenberg impressor independente que reformulou o avanço humano, como Homem do Milênio, em 2000, e colocando a impressão de suas Bíblias  no topo de sua lista dos fatos mais importantes dos últimos mil anos. Gutenberg foi um misterioso gênio-herói oprimido.

Segundo a Life, ele idealizou o primeiro sistema de tipo móvel ocidental que funcionou e permaneceu inalterado nos 350 anos seguintes. Não recebeu nada de glória. Sua ideia o levou à falência no ano em que a Bíblia foi publicada, e um credor assumiu o negócio.

A verdade é que Gutenberg transformou a cultura humana. O alcance do que se seguiu é tão vasto que parece místico e precisa ter uma história de origem para servir de referência. A escritora   Margaret destaca que a ambição de anunciar uma nova tecnologia de impressão com uma obra de 1.200 páginas é de tirar o fôlego, uma abertura para uma avalanche de mudanças.

A mais cobiçada de todas as Bíblias foi a de Número 45 que por séculos viajou pelo ocidente e foi parar no Japão, adquirido pelo conglomerado Maruzen num leilão que custou U$5,4 milhões, isso por volta de 1987, tornando-se o livro mais caro do mundo.

Um jornal importante japonês aplaudiu a aquisição da obra de tipos móveis mais antigo da história, mas sem mencionar a impressão na Ásia antes de Gutenberg. Em 770, a imperatriz do Japão, Shôtoku marcou o fim de uma guerra civil com a impressão e a distribuição de um milhão de pequenos pergaminhos com preces budistas.

O tipo móvel foi uma invenção chinesa do século XI, aprimorada na Coréia, em 1230, antes de encontrar as condições que permitiriam sua evolução na Europa, durante a época de Gutenberg, por volta de 1450/56.

Em 1996, a empresa Maruzen transferiu o livro 45 para a Universidade de Keio, uma das instituições privadas mais bem conceituada da Ásia, fundada pelo modernista Yukichi Fukuzawa, o primeiro japonês a ter visto uma Bíblia de Gutenberg, na Biblioteca Imperial, em São Petersburgo, em 1862.

O professor da Kio, Toshiyuki Takamiya, maior autoridade em manuscritos medievais, foi o primeiro a estimular a passagem da impressão de Gutenberg para o mundo virtual no século XXI. Ele liderou o projeto HUMI (humanities Media Interface) para digitalizar o acervo da Universidade Keio.

O projeto selecionou o Número 45, com seu tema inaugural, a primeira Bíblia de Gutenberg que navegou pela internet. O trabalho meticuloso produziu uma revolução digital. O número 45 foi ao ar pela internet em janeiro de 1998 e, pela primeira vez, os expectadores puderam ver as páginas de uma Bíblia de Gutenberg em suas telas. Esse projeto foi revolucionário no final dos anos 1990.

Depois de concluído seu intento, o professor Takamiya fez seu pronunciamento de que livros raros digitalizados, incluindo a Bíblia de Gutenberg, nunca se tornarão relíquias esquecidas da sabedoria ancestral. Eles ganharão vida toda vez que alguém tiver acesso a eles.

Em janeiro de 2001, o especialista em impressões de Gutenberg Paul Needham e Blaise Aguera, um jovem matemático computacional, anunciaram uma nova teoria descritiva sobre como Gutenberg criou seu tipo. Diziam que o impressor havia usado um processo de montagem refinada, evoluindo um sistema de “matriz de punção”.

Explicaram que letras individuais teriam sido esculpidas em pontas de hastes de aço e perfuradas em folhas de cobre para criar moldes resistentes (matriz) que poderiam ser preenchidos com uma liga de chumbo para criar um tipo de peça. Uma punção pode ter sido usada para criar vários moldes, dos quais poderiam sair uma quantidade infinita de letras idênticas.

Um artesão habilidoso levaria um dia para esculpir uma letra em aço, então o processo seria mais econômico se uma pequena coleção de punções fosse usada de forma repetida. Os estudiosos perceberam tantas diferenças que estimaram haver 204 punções diferentes.

O especialista Needham observou que esse tipo de sistema complexo, denominado de tipografia cuneiforme, era conhecido por ser usado por artesões europeus no início do século XV, incluindo os ourives. Os moldes de metal atribuídos por Gutenberg podem ter sido inventados por outra pessoa, talvez duas décadas depois de Gutenberg começar a imprimir as Bíblias.

Aguera y Arcas, que mais tarde chefiou o grupo pioneiro de inteligência artificial no Google, afirmou que as descobertas mostram que o desenvolvimento da impressão avançou em várias pequenas etapas ao invés de grandes saltos.

 

 

OS LIVROS COMO ARTES DE VELOR

A invenção da impressão pelo alemão de Mainz, Johannes Gutenberg, em meados do século XV, com a publicação da Bíblia por volta de 1456, foi o prenuncio da evolução científica e da Revolução Industrial no final do século XVIII.

A partir daquele período vieram outras gráficas e um boom de publicações de raros manuscritos e obras valiosas, como dos mais notáveis filósofos gregos (Sócrates, Aristóteles e Platão), além de ícones da intelectualidade da Igreja Católica, com destaques para São Jerônimo e São Tomás de Aquino. Eram os chamados livros incunábulos, ou seja, aqueles editados até antes de 1501.

Atrás dessas raridades houve uma corrida dos afortunados ingleses que dominaram esse mercado de arte entre os séculos XVIII e XIX. Os petroleiros norte-americanos entraram com toda força no século XX até por volta de 1985/87 quando os asiáticos (japoneses) roubaram a cena através dos famosos leilões ocorridos em Nova Iorque, Los Angeles e Londres.

Nessa época, o livro mais famoso leiloado foi a Bíblia de Número 45 de Gutenberg, o mais procurado, que alcançou um valor superior a US$5 milhões, considerado o mais caro do mundo. Até outubro de 1987 essa obra pertencia ao Seminário São João, localizado ao Sul da Califórnia, a qual foi doada 25 anos atrás pela ricaça do petróleo Estelle Doheny junto com sua coleção de raridades.

A venda desse acervo precioso, de cerca de 30 milhões de dólares pela Igreja Católica, provocou uma onda de protestos e denúncias por parte da mídia dos Estados Unidos e de personalidades de intelectuais da sociedade, mas venceu o pensamento retrógrado do arcebispado da Califórnia. Esses livros de valores incalculáveis saíram das mãos dos norte-americanos para os asiáticos.

Além da Bíblia 45, outros itens impressionantes foram leiloados, como um largo fólio que pertenceu ao Papa Alexandre VI, no século XV, uma impressão única da Bula de Demarcação, que separou as terras do Novo Mundo entre Espanha e Portugal, A Queda dos Príncipes, de Giovanni Boccacio, de 1494 e uma cópia de obras de Aristóteles em grego, impressa por Aldus Manutius, A Rationale Divinorum Officiorum, de Guillaume Durand, de 1459, a Epistolare, de São Jerônimo, de 1470 e um exemplar do mesmo ano da Summa Theológica, de São Tomás de Aquino, bem como  outras bíblias raras.

Entre a Bíblia de Estelle, a de Número 45, constava do leilão um ensaio manuscrito de Mark Twain sobre Gutenberg, escrito em 1900, para comemorar a inauguração do Museu do inventor da impressão, em Mainz.

Em uma parte do texto ele dizia que a conquista de Gutenberg criou uma terra nova e maravilhosa, mas, ao mesmo tempo, também um novo inferno. Durante os últimos 500 anos, a invenção de Gutenberg forneceu à terra e ao inferno novas ocorrências, novas maravilhas e novas fases – assinalou.

Segundo Mark, a invenção criou verdade livre e deu-lhe asas, mas a inverdade também se espalhou, e a ela foi fornecido um duplo par de asas. O que o mundo é hoje, bom e mau, ele deve a Gutenberg. Destacou que o mal que sua colossal invenção trouxe é mil vezes ofuscado pelo bem que a humanidade recebeu.

 

O LIVRO CONTINUARÁ VIVO

Há mais de 20 anos quando surgiu a internet e o celular, aquele Motorola chamado de tijolo, muita gente metida a entender do assunto, os mais novos empolgados internautas, saiu espalhando por aí em suas palestras que o livro estava com sua data de morte, e muitos acreditaram nisso. Falavam até que iam para o lixo, ou as traças se encarregariam de destruí-los.

Nunca acreditei nesse papo furado. Aquele discurso me fazia lembrar do mesmo quando surgiu a televisão na década de 50 quando disseram que era o fim do rádio. Depois de todo esse tempo, com o e-book e tudo, o livro de papel, ou o impresso, continua e continuará mais do que vivo, e agora, para nossa felicidade, as crianças e jovens estão criando neles o hábito da leitura.

A prova disso está nas visitações das bienais e nas feiras literárias, com novos lançamentos, e as editoras se reanimando. Todo esse quadro é um bom sinal para o futuro. Parece que a praga do celular está passando da fase da adolescência para uma juventude mais madura e consciente e daí para a idade adulta.

Todo este avanço tem mais a mão do setor privado, do surgimento de novos escritores, inclusive do gênero poético e do romance, e de ações empresariais, do que dos governos municipal, estadual e federal que, infelizmente, pouco têm ligado para a cultura, como é o caso particular de Vitória da Conquista.

De acordo com pesquisas do setor livreiro, cerca de 60% das escolas públicas ainda não têm bibliotecas, contrariando metas do poder público federal de que toda unidade escolar deveria ter seu acervo literário. É muito triste quando ouvimos candidatos pregarem que cultura não dá voto, mas isso vai mudar.

Para suprir essa lacuna, bibliotecas comunitárias de bairros urbanos e até na zona rural estão se espalhando por várias cidades do país, graças a iniciativas de pessoas abnegadas e ávidas pelo conhecimento e pelo saber. É uma constatação de que nem tudo está perdido. Podemos sim, recolocar o livro em seu pedestal dos anos 50 e 60 quando nossos estudantes andavam com um autor debaixo do braço.

Esse quadro pode até demorar mais algum tempo, mas a esperança está nas crianças que estão nos dando esses sinais de que o livro continuará imortal como sempre. É uma luz no fim do túnel depois de anos de escuridão. Esses meninos e meninas serão multiplicadores quando se tornarem pais.

Portanto, em meio a todo esse turbilhão das redes sociais, da tecnologia avançada e da inteligência artificial, o livro viverá. Com o crescimento da leitura, me arrisco a dizer que também os jornais e as revistas impressos também retomarão seus espaços nos meios de comunicação. Quem viver, verá.

“A PODEROSA CAÇADORA DE LIVROS”

Entre os séculos XV ao XIX, os grandes caçadores de livros antigos e raros, a partir da Bíblia de Gutenberg, por volta de 1456, se concentraram entre os livreiros, leiloeiros e afortunados da Grã-Bretanha.

Somente no início do século XX, no pós I Grande Guerra, esse quadro mudou, e os norte-americanos assumiram essa posição de colecionadores, inclusive trazendo livros da Inglaterra, ao ponto do governo inglês impor restrições para que essas obras não saíssem do país, sob o argumento de que essas relíquias já eram do pertencimento do Estado.

Um dos primeiros a investir nesse ramo foi o casal Edward Doheny e a senhora Estelle, mais por iniciativa dela quando o marido, dono de empresas petrolíferas, já se encontrava em decadência e passado por momentos difíceis de idade e suspeito de subornos e corrupções, além de ter perdido seu único filho que foi assassinado.

No livro “Em Busca da Bíblia Perdida de Gutenberg”, da escritora Margaret Leslie Davis, ela descreve que “rastrear o paradeiro das Bíblias ao longo do tempo produz o mapa de valor de influencias em transformação, na medida em que os livros se movem dos confins da Igreja Católica para as bibliotecas dos aristocratas da Europa continental e, em seguida, fluem para os construtores do império da Grã-Bretanha, embelezando a reputação de cada um dos sucessivos proprietários”.

Com Dyson, criador do molho inglês e das ilustradas porcelanas, a classe mercantil mostrou sua ascensão, e agora o centro do poder passa para os Estados Unidos, onde magnatas-colecionadores, como J.P. Morgan e Henry Huntington, começaram a atuar no Novo Mundo, proporcionando um mercado pronto para as bibliotecas que são vendidas para financiar fugas e a recuperação das agruras da guerra.

Os novos reis querem as Bíblias de Gutenberg. Eles obtêm por força de suas personalidades e de seus fundos. Os preços disparam, bem como a comissão paga pelo livro, agora alardeado pelos megafones norte-americanos. O colecionador Lessing J. Rosenwald anuncia que planeja comprar 84 títulos do catálogo do poderoso Dyson e indicou a Bíblia de Gutenberg entre eles.

Nesse esquema também entra a senhora Estelle Doheny, a herdeira, empresária e colecionadora da elite norte-americana que, na hora do leilão, estará no meio de uma caçada, cuja única conclusão possível será a posse do livro.

“Seu desejo por uma Bíblia de Gutenberg, com a busca de décadas que isso lhe custaria, surgiu, pela primeira vez, em 1911, logo após o surto de compras de livros antigos de Dyson, talvez sem saber ter atingido o alvo”. Na verdade, ela só veio a obter a Bíblia de Gutenberg, Número 45, em 1950, após a II Guerra Mundial. De origem católica, seu marido era um imigrante irlandês.

Doheny passou anos como garimpeiro, viajando com mochila e uma mula antes de encontrar o petróleo. Ela era uma telefonista com pouca educação e se tornou numa poderoso caçadora de livros, dentro de uma comunidade que aceita suas contribuições, como a Igreja Católica.

UM DOS MAIORES COLECIONADORES DE LIVROS E ANTIGUIDADES EGÍPCIAS

O livro “Em Busca da Bíblia Perdida de Gutenberg”, da autora Margaret Leslie Davis, faz menção ao grande colecionador de livros raros, dentre eles a Bíblia de Gutenberg, número 45, em poder do Lorde William Tyssen Amherst, que guardava esse precioso volume em sua mansão Didlington Hall, na zona rural de Norfolk, num cofre secreto.

O número 45 coroou uma biblioteca cuidadosamente montada, que traça a história de livros impressos, incluindo ainda instrumentos de corda de Stradivárius, prata finas e porcelanas de Limoges, tapetes persas, capitéis de pedra de Alhambra, em Granada, e os sinos da velha Catedral de Worcester.

No ano em que o número 45 entra em Didlington, as portas da mansão estão ladeadas por sete altas estátuas de duas toneladas de Sekhmet, a deusa egípcia com cabeça de leão, as mesmas que estão hoje ao lado do Templo de Dendur, no Museu Metropolitano de Arte, em Nova Yorque.

Sempre com um livro na mão, ou enfiado no bolso do casaco, Amherst acredita que uma pessoa não pode ser bem-educada se não conhecer e amar os livros. Ele comprou o primeiro incunábulo (livros impressos antes de 1501) em Arles, através do livreiro Bernad Quaritch, durante sua grande turnê.

Com uma grande fortuna, ele e sua família se aventuram pelo Egito e Síria, em complexas caravanas, e retornam com frequência ao Oriente Médio, às vezes permanecendo por meses, adquirindo lembranças e antiguidades a cada visita.

Nas viagens, ele e seus colegas trazem para a mansão, na Grã- Bretanha, a Pedra de Roseta, os mármores de Lorde Elgin, objetos funerários, múmias e deusas dos antigos túmulos do Egito e alguns dos primeiros livros e manuscritos da Europa e do Ocidente, polindo seus troféus de erudição e inserindo-se no discurso.

Por dez mil libras chegou a obter uma coleção de raridades de primeira classe, apenas realizada pelas Bibliotecas do Conde Grawford, do Conde de Ashburnham e da Coleção Spencer.

Finalmente, durante suas investidas, Amherst compra seu Gutenberg, número 45 de Estelle, em 1884, mais de dez anos depois de ter deixado passar os dois primeiros volumes. Ele não compra em leilão, mas em uma transação particular e não divulgada, com o livreiro James Toovey, após o leilão de Gosford.

Durante séculos trabalhou para construir uma história vultosa de livros impressos que incorporam o conhecimento, as paixões e as hostilidades das pessoas que os criaram e usaram e, esse único volume, se encaixa nesse quadro, não apenas como a fonte da impressão moderna, mas também como ponto de origem para sua coleção de primeiras edições dos livros oriundos da Reforma.

Sobre a Bíblia, Amherst explica que as grandes folhas de papel eram umedecidas antes de serem impressas, para que pudessem absorver melhor a tinta, e, uma vez feito isso, cada uma era dobrada e perfurada em certos pontos próximos às extremidades com uma agulha ou um furador, fornecendo guias, para que a impressão ficasse exatamente no mesmo lugar na frente, e atrás de cada página.

As Bíblias tinham no geral 42 linhas, para distingui-las de outra Bíblia da época, que se pensa ter sido impressa por um contemporâneo de Gutenberg, que criou o livro com uma fonte semelhante com páginas de 36 linhas. No canto superior direito da capa interna estão escritas a lápis as palavras “Antes de 15 de agosto de 1456”.





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