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:: ‘De Olho nas Lentes’

AS FLORES E AS FRUTAS

Nada mais aprazível do que você adentrar no jardim da Praça Tancredo Neves, em Vitória da Conquista, e se deparar com as flores que acalentam sua alma, como estas clicadas pelas minhas lentes. Elas são como bálsamos para suas feridas abertas pelos problemas e desafios do seu dia. Exalam perfumes da natureza fresca e têm o poder de contrastar com essa selva de pedra agitada do corre-corre. Ainda bem que temos plantas, árvores e flores nas cidades, mas muitos passam avexados em nem param um pouco para se desafogar e sentir o alívio que elas propiciam ao seu espírito. É bom ter momentos de reflexão e conversar com as flores.

Outro colorido que também faz bem à alma e ao corpo são as frutas, de preferência as espalhadas nas bancas e barracas das feiras, uma das tradições mais antigas da humanidade onde cada agricultor, depois da sua colheita, levava seus produtos para comerciar, não por dinheiro em espécie, mas na base do chamado escambo. Tanto as flores como as frutas são saudáveis à saúde do corpo e do espírito. O homem moderno dos grandes centros costuma consumir porcarias enlatadas industrializadas e pouca importância dá às frutas naturais, se bem que elas hoje estão tão caras que somente os de maior poder aquisitivo têm acesso. A maioria das nossas frutas são originárias da agricultura familiar que coloca o alimento na mesa do brasileiro, bem diferente dos plantadores de soja e pecuaristas que visam tão somente o mercado externo por causa dos lucros. Uma mesa deveria ser composta de flores e frutas.

“O OLHO DA RUA”

Bem em frente das flores, das palmeiras e das árvores da Praça Tancredo Neves, em Vitória da Conquista, na Casa Régis Pacheco, uma expografia conta as personagens, histórias, profissões e culturas da região e dos bairros da cidade. Trata-se de um trabalho de fotografias dos estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-Uesb, intitulado de “O Olho da Rua”, que foi aberto no último dia 30 de março e vai até 30 de abril, e pode ser visitado por fotógrafos, estudantes, professores e interessados em apreciar a boa arte.

Ainda bem que essa iniciativa está saindo do âmbito de uma universidade para se integrar à comunidade, e não fica fechada dentro da própria instituição, longe do alcance de centenas de pessoas, como, na maioria das vezes, acontecem com outras atividades acadêmicas. É como se estivesse saindo das quatro paredes para ganhar a rua.

A coordenação do programa é da professora Adriana Camargo que afirma que o projeto é um espaço que se coloca aberto à experimentação da imagem, do som e das artes integradas… Acima de tudo, a exposição mostra as diversidades dos bairros de Conquista e é uma viagem à realidade da vida onde os estudantes do curso colocaram suas imaginações para trabalhar. É um grande aprendizado teórico que sai das salas de aulas para o campo da prática. Isso é o que nós chamamos de fotojornalismo onde cada estudante desenvolve sua criatividade para mostrar o que aprendeu. “O Olho da Rua” é uma exposição que merece ser visitada por todos.

NO TÚNEL DA FLORESTA

Existem alguns locais em Vitória da Conquista que são poucos conhecidos, comentados e transitados que na entrada dão uma sensação de paz, nem que seja por alguns momentos. Minhas lentes flagraram e assim eu me sinto quando venho do Bairro Recreio ou do “Conquistinha” cortando pelo Horto Florestal para sair na Avenida Luis Eduardo Magalhães. Quando estou por aquelas bandas faço questão de passar por lá e fico encantado com as árvores e as flores quando penetro no túnel dessa floresta. É como se você, por uns instantes, deixasse para trás essa loucura do trânsito da cidade e penetrasse na alma da natureza. É uma passagem que pouca gente usa e outros até desconhecem o local. São árvores frondosas – algumas com um tapete de flores – que lhe cobrem como se fosse um manto protetor. Para mim é um dos locais mais prazerosos de Conquista e dá vontade de ficar ali pensando na vida e jogando os problemas para bem longe. Chamo de túnel florestal, mas pode ser túnel da paz espiritual, da tranquilidade, do sonho e até do amor. Sempre passo devagar por essa pequena selva florestal e peço para que ela não se acabe, mas logo entro na agitação da avenida ou do centro da selva de pedra. Melhor talvez seria passar andando para curtir melhor a sua poesia.

“TULIPAS RARAS”

Em conversas informais sobre como anda a cultura em nosso pobre rico país, com destaque para a literatura, ouvi de um dos presentes na Livraria Nobel, antes da apresentação da obra “Tulipas Raras”, da escritora e diretora da Casa da Cultura, Poliana Policarpo, que lançar livro no Brasil é somente para os “loucos”. Que seja no sentido figurado ou uma metáfora irônica, me considero um deles, mas um “louco” que faz parte dessa resistência e que deixa, pelo menos, seu traço e sua marca nessa vida tão passageira onde poucos dão sentido a ela. Quem nada faz para contribuir, seja no que for, simplesmente passa sem ser visto e nega sua própria existência. Dizem por aí que para você ser realizado é preciso ter um filho, plantar uma árvore e lançar um livro, mas é muito mais que isso. Tem que ter perseverança, persistência, consciência e, acima de tudo, cultivar aquilo que fez e faz.

Aqui não estou falando apenas de ter a coragem de escrever e lançar um livro, como fez Poliana na noite de ontem, dia 23 de março. “Tulipa Raras”, como diz a própria autora são histórias extraordinárias sobre coragem, força, fé, esperança e transformação. “A Capacidade feminina de converter a dor em superações”. Enfrentar essa rejeição pela cultura; viajar por esse mundo da literatura, que já foi tão enaltecida e nobre; imaginar, sonhar, contar suas vidas para uma só pessoa ou poucos, é coisa somente para “loucos”, Poliana, loucos por essa arte que nos faz crescer e nos amadurecer espiritualmente como ser humano. É um comentário que mostra como ainda estamos longe da civilização, embora digamos que somos civilizados porque sabemos manusear bem um celular, muitas vezes para odiar, xingar e soltar notícias falsas. Achamos que dominamos a tecnologia. Às vezes, somos espertos em ganhar dinheiro, mas incapazes de ler, apreciar e prestigiar uma obra literária.

   

TUDO COMEÇOU COM O “VINHO VINIL”

São mais de dez anos de história que nasceu do encontro de amigos que tiveram a ideia de criar o grupo do “Vinho Vinil”. Como a própria denominação já diz tudo, o objetivo era unir as duas coisas, mas com o propósito principal de valorizar o vinil. Não se podia ouvir músicas de outra mídia, tocar viola e nem tomar outra bebida que não fosse o vinho. Não demorou muito e outras pessoas foram chegando. Em pouco tempo, o “Vinho Vinil” se transformou num sarau, com cantorias variadas, declamação de poemas, contação de causos e a concessão de se tomar outras bebidas, mas o vinho permaneceu como carro-chefe. O “Vinho Vinil” tomou outras proporções e formatos se tornando em “Sarau a Estrada”, com um tema em sua abertura, como no último do dia 11 de março (sábado) que foi “Uma Nação em Correrias”, que discorreu sobre a vida e a história do povo cigano. Foi uma noite em que baixou o espírito cigano, com muita alegria e as mulheres todas fantasiadas, de acordo com a temática. Durante esses anos já falamos sobre diversos assuntos, mas existe um princípio que não pode ser quebrado: Não discutir política partidária para não ocorrer atritos. Dito tudo isso, a cereja do bolo é que esse sarau hoje tem sua própria personalidade, história e identidade. Nesses mais de dez anos aconteceram muitas coisas interessantes e curiosas que merecem uma crônica bem contada. A parte triste é que três participantes mais frequentadores já partiram para o além. A história desse sarau e mais detalhes, prometo registrar depois através de um artigo ou uma crônica com fatos interessantes. No mais, por enquanto, o nosso papo vai ficando por aqui.

COMO ENTENDER O SER HUMANO?

Está lá bem visível, conforme mostra a imagem da nossa lente, que a vaga está reservada para o idoso, mas três motoqueiros estacionam seus veículos no lugar, num claro desrespeito ao estabelecido por um conjunto de lojas localizadas na Avenida Juracy Magalhães nas proximidades do Hotel Ibis. A própria foto já diz tudo e vale por mil palavras, mas temos que insistir num comentário, infelizmente, inglório neste país das leis que são feitas para serem transgredidas. Como entender a cabeça do ser humano? Ele é acima de tudo egoísta, individualista e hipócrita porque em público numa entrevista e numa mesa de bar são esses mesmos imbecis das motos que, no maior cinismo, defendem o respeito aos outros. O acinte é bem escancarado e se você for lá falar com eles pode levar até porrada ou ser morto, não importando se a pessoa é idosa e merece consideração. Vivemos numa sociedade primitiva brucutu dos tempos das cavernas, mas com celular na mão para fofocar, odiar, xingar, passar fake news e depois arrotar de que é um civilizado, mesmo não respeitando os outros. É uma terra de ninguém onde impera a lei do mais forte, do mais safado, do sem ética e daquele que só pensa em levar vantagem em tudo. Assim caminha a humanidade, mas, os mais otimistas acham que estamos indo em direção à harmonia e ao bem-estar igualitário de todos. Acredite se quiser e quem viver verá.

VÍTIMA DE XENOFOBIA

Não é de agora que a região Nordeste vem sendo vítima de chacotas e xenofobia por parte, principalmente, de sulistas nazifascistas e racistas que se consideram raça superior. Essa carga de ódio e intolerância tem acontecido com maior intensidade em épocas de eleições porque os votos dos eleitores daqui não batem com suas ideologias, muitas das quais de direita e de extrema retrógrada medieval. Em alguns estados eles se referem aos nordestinos de baianos. Em outros de paraíbas e até de cabeças chatas e paus-de-arara, como já se pronunciou o capitão-presidente Bozó psicopata que fugiu do país. No caso recente do trabalho escravo em vinícolas de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, o vereador Sandro Fantinel, do partido Patriota de Caxias do Sul, extrapolou sua ignorância e burrice quando se referiu os operários baianos de gente lá de cima suja que só sabe pegar praia e bater tambor. Todos vereadores conquistenses repudiaram sua horrível fala na última sessão de quarta-feira (dia 01/03). Não sabe o dito parlamentar que o Sul foi colonizado por imigrantes europeus com dinheiro do governo central tirado do Nordeste, que sempre foi discriminado na distribuição dos recursos federais, daí a grande desigualdade regional gerando miséria e fome. Tenho orgulho de ser nordestino, especialmente pela sua rica cultura de grandes nomes da literatura, da música, do folclore, do pensamento filosófico, da jurisprudência e tantas outras linguagens artísticas. Esses sulistas retardados e doentes mentais acham que o nordestino é uma raça inferior que deveria ser exterminada em câmaras de gás como fez Hitler e seus seguidores contra judeus, ciganos e outras etnias.  Esses indivíduos não se evoluíram como seres humanos. Nem podem ser considerados de animais irracionais. São estrumes e vermes.

NÃO DÁ PARA ENGANAR A NATUREZA

Você engana as pessoas, os amigos, parentes e até a si mesmo, mas existem coisas que não se enganam nunca, como exemplo a natureza, além do tempo e da morte. Poucos param para refletir sobre isso. As imagens mostram as sujeiras do Rio Pardo, na cidade de Canavieiras, que desemboca no mar. Todo mal é provocado pela ação do homem que, de tão burro e idiota, acha que ela (a natureza) não reage para dar o troco. Por causa da ação perversa do ser humano, rios desaparecem e morros deslizam em cidades, como agora no litoral paulista, matando dezenas e centenas de pessoas. As mudanças climáticas são bruscas no planeta como sinais do aquecimento global. Num lugar é seca, como no Rio Grande do Sul, e em outros são tempestades de ventos e chuvas que saem arrastando tudo pela frente, como casas, prédios, pontes, ruas e estradas. As habitações são feitas em locais impróprios e irregulares e o poder público é o maior culpado, embora nunca é punido pela justiça. Mesmo assim, o homem continua emporcalhando nosso meio ambiente, como exemplo do Rio Pardo, que nasce em Minas Gerais e despeja suas águas contaminadas no mar de Canavieiras. O castigo está chegando em todas as partes e, nesse ritmo acelerado, mais anos e nossa terra será destruída pelo próprio homem. São terremotos, tufões, vendavais, ciclones e outros fenômenos numa só cadeia acabando com o nosso planeta.

AS BELEZAS DA CHAPADA

Uma vez perguntaram para um viajante do mundo qual o lugar mais lindo que ele havia visto. Sem titubear respondeu que foi sobrevoando a Chapada Diamantina, na Bahia.  Completou que ficou encantado com as paisagens, as cachoeiras, as serras e morros. Em seu parapente ou coisa assim, que dá assas ao homem, ele desceu para conferir e ficou ainda mais convicto com o que viu ao visitar os locais, cada um mais deslumbrante, como mostram essas imagens do rio Paraguaçu, em Andaraí. Fica difícil fazer uma seleção das grutas, das quedas d´água, dos rios, dos pantanais, dos picos, das trilhas, das lagoas, dos povoados históricos (Igatu), das comunidades e das cidades, se Lençóis, Rio de Contas, Mucugê, Piatã, Iraquara, Palmeiras, Ibicoara, Seabra ou outra que fica nessa região feita e abençoada pela natureza. E a cultura do seu povo! É claro que cada um vai ter seus pontos preferidos, mas a Chapada tem suas magias e energias diferenciadas das outras. Toda vez que corto a Chapada, cerca de duas vezes por ano, para ir a Juazeiro, me sinto renovado. Não é bom morrer sem nunca ter ido apreciar as belezas da Chapada Diamantina, que cura os tormentos da alma e o cansaço do corpo. Quem nasceu e se criou em algum lugar da Chapada pode se sentir um ser privilegiado. Passei boa parte da minha infância no Piemonte da Chapada, em minha querida Piritiba e morei bom tempo em Rui Barbosa, mas gostaria de ter nascido bem no centro do seu coração.

 

 

A FLOR DO CACTO E A QUARESMEIRA

Coisas misteriosas e sábias da nossa natureza, muitas das quais invisíveis aos olhos do homem que é um predador nato e nunca aprendeu a ter uma visão mais apurada e poética. Alguém já viu uma flor roxeada de um cacto? Difícil de ser encontrada, mas tive o prazer de fotografá-la num caqueiro do meu quintal.  Verdade que ela é pequena diante de uma quaresmeira toda frondosa e florida, bem mais vista, mas, mesmo assim, muitos passam apressados nas correrias da vida da cidade e não param para refletir sua beleza e agradecer a vida. O cacto e a quaresmeira. Um simples e modesto, mas rico por brotar uma flor inusitada que desperta em nós o sentido da grandeza, sem muito se aparecer. A quaresmeira, com toda sua eloquência e colorido, não é tanto admirada quanto a outra flor que chama mais a atenção quando apresentada. Num salão ou numa passarela, a flor do cacto, com certeza, seria mais aplaudida. Seja simples, mas nobre.





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