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:: ‘De Olho nas Lentes’

FLOCOS DE ALGODÃO

Durante a primavera elas estão floridas de amarelo e outras cores, proporcionando um espetáculo exuberante de encher os olhos. Não sei dizer com precisão se são flamboyants, mas isso não importa tanto, visto que são belezas diferentes que a natureza nos proporciona através dessas árvores localizadas na Avenida Filipinas. Para essas flores ou capuchos brancos, resolvi denominá-los de flocos de algodão, captados pelas lentes da nossa máquina. Confesso que é a primeira vez que vejo esses flocos pendurados numa árvore como se fossem uma arte feita por um exímio artesão para uma noite de Natal, mas são perfeitos demais. Muitos passam apressados e nem percebem o encanto que a natureza nos proporciona e, aos poucos, elas vão se desprendendo dos galhos e formando um tapete branco no chão. Vi também uma árvore dessa ali na Avenida Rosa Cruz e imaginei que os flocos fossem algum material artificial, coisa montada pelo próprio homem, ou mesmo uma sujeira vinda do alto derivada da poluição.

 

 

 

 

ENTRE A BELEZA E O PERIGO

Nas cidades médias e grandes, as pessoas pouco observam as belezas da natureza. Mesmo saindo de casa ao amanhecer, praticamente ninguém admira o raiar do sol, a aurora, nem tampouco o entardecer do pôr-do-sol quando retorna para seu lar. Muito diferente do homem do campo que ainda eleva seu espírito para a criação e seus mistérios. Na beleza também, como na imagem dos pinheiros ao lado do Centro de Convenções Edivaldo Franco, na Avenida Rosa Cruz, como se fossem torres de catedrais, no alto também está o perigo da fiação entre os postes de energia. É preciso parar e olhar para o invisível visível. Como a imponência dos pinheiros que juntos parecem orar e bendizer, do outro lado, num quintal, está uma velha árvore, cuja copa pendeu-se toda para o passeio da rua. Quem passa sente rapidamente penetrar num túnel de galhos e folhas, mas lá também está o perigo dela tombar em alguém por falta de uma poda por parte da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal. O que faz uma cidade bonita não é a engenharia arquitetônica dos seus prédios e de seus casarões, mas a cobertura florestal. Vitória da Conquista, por exemplo, ainda deixa a desejar em termos de arborização, apesar do seu clima ameno. Precisamos de mais beleza como estas clicadas pelas nossas lentes, mas sem o perigo para seus moradores.

POLUIÇÃO DE FIOS

Vitória da Conquista não é nenhuma “Suíça Baiana” – termo que serve de piada e chacota – nem mais a cidade das flores, como era conhecida antigamente, mas hoje pode ser considerada como dos quebra-molas e da poluição de fios, como bem mostra a imagem clicada pelas nossas lentes. Além de ser um atraso e irresponsabilidade dos órgãos (poder público, Coelba e operadoras de telefones), o perigo à população é constante. Só vão tomar uma providência quando acontecer uma tragédia. Na Avenida Rosa Cruz, próximo ao Centro de Convenções Edivaldo Franco, flagramos um monte de fios caídos no chão. Temos ainda, além da fiação, a poluição sonora e a visual no centro da cidade. É um absurdo e não se resolve porque um fica empurrando a responsabilidade para o outro. Conquista pode até ser a cidade do frio (existem outras com temperaturas mais baixas, como Maracás, Piatã e Morro do Chapéu), mas está bem longe de ser a “Suíça Baiana”. Vamos ficar nos quebra-molas e na poluição de fios nos postes.

CONQUISTA NO RECORDE DA DENGUE

Será que os moradores de Vitória da Conquista são os maiores culpados pelo município aparecer no ranking de casos e mortes de dengue na Bahia? Não existe uma estatística ou pesquisa que identifique ou aponte o maior culpado, mas tudo indica ter sido o poder público que negligenciou o uso de ações preventivas contra a proliferação do mosquito. Tenho sempre comentado aqui que os terrenos de particulares abandonados foram os principais focos e criadouros de larvas dos mosquitos. Isto poderia ter sido evitado se a Prefeitura Municipal tivesse feito o seu papel de fiscalizador e aplicado a lei que obriga que proprietários mantenham limpos, cercados ou murados seus terrenos para que não se tornem áreas de entulhos e lixos. Outra questão foi o empoçamento, por muito tempo, de águas das chuvas em ruas de chão, sem falar nos esgotos quebrados, de responsabilidade da Embasa, mas também do executivo municipal que deixou de acionar a empresa para realizar os devidos consertos. É uma vergonha que Conquista, a terceira maior cidade da Bahia, tenha sido a campeã em óbitos e no número de casos de dengue na população. É também um demonstrativo do descaso nas áreas da saúde e da educação, colocando as festas como prioridade para ganhar votos do eleitor. A prefeita sepultou a nossa cultura e colocou a saúde na UTI.

TROCARAM O GONZAGÃO PELO SAFADÃO

O Nando do Cordel, menos mal, mas é um grande músico da MPB e compositor para outras ocasiões, como festas natalinas. Pior foi colocar Amado Batista para se apresentar no São João de Vitória da Conquista e, em alguns lugares, trocaram o forró autêntico do Gonzagão pelo lixo do Safadão, com sofrências e outros ritmos misturados. Tudo porcaria. Agora mesmo, na festa do São Pedro, o “Ita/Pedro”, de Itabuna, a prefeitura está anunciando, descaradamente, para o público, shows de pagode e sertanejo. Nas redes sociais, acompanhei muitas mensagens e vídeos de protesto contra o que as prefeituras estão fazendo com o nosso tradicional São João nordestino, destruindo a nossa cultura, para ganhar audiência com esses cantores de massa alienada. Os promotores das nossas festas juninas dizem que é disso que o povo gosta e aí injetam mais veneno, ao invés de contribuir para estimular e manter nossa tradição do forrobodó. Ouvi um vídeo clamando que acabaram com o São João de Caruaru, Arco Verde (Pernambuco) e Sergipe. Ainda se salva o de Campina Grande, na Paraíba. É verdade que teve bandas de forró pé de serra, mas, a maioria da terra que tocou nos palcos pequenos nos intervalos dos artistas contratados a peso de ouro, sem falar nos superfaturamentos e nos subornos por debaixo do pano. O Ministério Público e outros órgãos que controlam esse setor precisam acabar com essa pouca vergonha, principalmente em anos de eleições quando os prefeitos que mais “choram” falta de recursos para educação e a saúde, gastam os “tubos”. Nessa época aparece a bufunda, a grana.

FLORES DO MEU QUINTAL

Um quintal sem flores é como uma alma sem cores. Nos momentos de mais introspecção ou quando se sente por dentro um vazio, elas lhe transportam para um outro lado do além, até mesmo para longe do conhecer e do saber que, na maioria das vezes, trazem sofrimento e dor. Elas podem não lhe dar uma resposta para seus enigmas e mistérios existenciais da vida, mas penetram em seu espírito e o faz aquietar-se, como se fossem calmantes naturais que fazem parar o tempo do passado, do presente e do futuro. Nas flores do meu quintal ainda tenho a me visitar o beija-flor e outros pássaros que cantam, encantam e espantam meus males. Elas são como almas vivas no meu caminho solitário do desconhecido. Dizem que também sou criador porque fui gerado da terra e a ela retornarei. Flores do meu quintal que não se cansam de sorrir para mim na alegria e na solidão do meu ser. São sábias as flores do meu quintal, como se fossem canções em noites de sarau. São poesias que não fazem distinção de crenças e fés. São curas para nossas doenças e dançam suavemente ao sabor do vento, tanto faz ser do norte ou do sul, do leste ou oeste. Elas são como rainhas e vinhas do nosso sertão Nordeste, tão agreste que abriga a flor do mandacaru.

 

 

 

 

 

 

 

 

CACHORRO TAMBÉM VAI À SESSÃO

Bem mais comportado do que os humanos barulhentos e mal-educados que ficam tagarelando alto uns com os outros, um cachorro apareceu na sessão especial “Matrizes do Forró”, realizada na última sexta-feira da semana passada pela Câmara de Vereadores (promoção da parlamentar Lúcia Rocha). Pouca gente viu, mas ele chegou sorrateiramente, passou pela plenária e visitou a Mesa Diretora e os vereadores. Assuntou as discussões; fez suas considerações como se não tivesse gostado do que ouviu; e deitou debaixo de uma das cadeiras reservadas à imprensa que não frequenta mais aquele recinto porque cola tudo do boletim virtual. Ficou lá quieto sem perturbar e parlamentar, mas, com certeza, deve ter ficado envergonhado de ver a plenária quase vazia numa sessão tão importante que debatia a história do nosso forró nordestino e sua descaracterização nos tempos atuais. Seu silêncio foi de protesto contra os ritmos de músicas sertanejas, arrochas, de carnavais e lambadas que passaram a dominar as nossas festas juninas. Foi ele quem saiu dizendo que trocaram o Gozagão pelo Safadão em nosso forró. Trocaram a sanfona, o zabumba e o triângulo pelos gritos das guitarras e dos rebolados nos palcos.

A CAATINGA E O MEIO-AMBIENTE

Cinco de junho foi comemorado o Dia do Meio-Ambiente e a nossa caatinga tem sido um dos biomas mais castigados pela ação predadora do ser humano. O Conselheiro disse que um dia o sertão iria virar mar. Contrariando sua profecia, diria o contrário, que o sertão está se tornando num deserto. Em algumas partes do nosso Nordeste, mais de 60% no semiárido, em algumas regiões a terra está se transformando em sal. Um vasto deserto já é visto em outras áreas. A seca tem sido um fenômeno que tem contribuído para isso, mas a mão do homem é mais pesada através da retirada da sua vegetação para as carvoarias, sem falar na ação predatória do solo. Muito tem se falado dos pampas, do pantanal, da Amazônia e do cerrado, e pouco da nossa caatinga, o único bioma existente na face da terra, esquecido pelos governantes. Com o aquecimento global, a caatinga cada ano fica mais quente, com temperaturas que chegam até 50 graus. As imagens clicadas da nossa máquina dizem tudo.

UM MACACO GORILA OU UM ÍNDIO?

Você já se deteve por algum tempo a olhar o movimento das nuvens? Se já fez isso deve ter visto imagens e figuras diferentes de animais, pessoas, montes, plantas, árvores, um avião, um carro e outros objetos estranhos. Tudo vai depender da sua imaginação. Cada um vê uma coisa diferente como se fosse uma pintura do artista num quadro. Tudo é poético e subjetivo. O mesmo acontece quando se mira um conjunto de pedras num morro ou montanha. Existem também inúmeras figuras semelhantes dentro das cavernas, moldadas pelas águas do mar ou pelo tempo há milhões de anos. Em Itambé, na fazenda de um amigo, no declínio do entardecer, minha máquina teve a sorte de clicar esta imagem enigmática no alto de uma pedra na forma de um gorila ou de um índio cacique deitado. Poderia muito bem ser chamada de pedra do índio ou do macaco. Outros poderiam dar outra denominação.  O azul para um pode ser um verde para o outro. Na vida real ocorre o mesmo: Cada pessoa tem o seu ponto de vista que precisa ser considerado. Fica aí a imagem fotográfica para sua imaginação: Um macaco gorila ou um índio?

O CASTRADOR E O BOI

Estive na fazenda de um amigo meu nesta semana, em Itambé, e tive a oportunidade de acompanhar, com as lentes da minha máquina, o castramento de vários bois numa idade variável de um ano. Pude observar que é um processo doloroso e estressante para o animal. Para o castrador, o pior é que em mais um ano ele será levado ao matadouro. A vida de um boi de corte é de pouco mais de dois anos. Como é tão curta! – Comentei – e o outro ajudante respondeu que ainda mais curta é a vida de um frango, em torno de dois meses. Existem abatedouros clandestinos onde os bichos passam por um grande sofrimento antes de serem sacrificados. Tudo isso para alimentar o ser humano, o maior predador e depredador da terra que agora vem sendo atingido pela natureza, há séculos maltratada, que agora está dando sua resposta, com intempéries, enchentes, secas, ciclones e terremotos.

O processo de castramento do boi exige o trabalho de duas a três pessoas e é por demais sofrido, desde quando ele começa a ser empurrado para o corredor estreito do curral até ser laçado e arrastado numa espécie de enforcamento. O castrador joga uma corda entre a barriga e suas duas pernas traseiras fazendo o animal perder suas forças até cair ao chão. Ele respira ofegante com dificuldade. O mais doido é o corte literalmente dos testículos, ou ovos (bagos) com a faca que faz jorrar o sangue. São retirados alguns nervos e, para não infeccionar, lava-se o local com água e passa um produto parecido com betume. Tem outros que colocam sal grosso para não pousar varejeiras e provocar outras doenças. Para terminar, dá-se uma injeção de antibiótico. Depois das cordas afrouxadas, o boi sai cambaleado e tonto e borrado de dor. Vendo aquilo tudo, os outros que ainda não caíram na faca resistem o possível para não serem capados. Olhando toda aquela cena de tortura e horror, lembrei dos eunucos dos sultões que eram castrados para cuidar dos haréns das mulheres. Como ainda somos estúpidos e primitivos!





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