CENAS DAS SECAS
Em minha carreira de cobertura jornalística, muitos fatos me marcaram, mas as cenas das secas por esse sertão sofrido do homem do campo foram as que mais me sensibilizaram. Vez ou outra costumo dar uma espiada em meu computador e lá estão as matérias e as fotografias que me fazem reavivar as lembranças dos tempos em que comia poeira por esse agreste ao lado do meu companheiro repórter fotográfico José Silva. Recordo dessa foto registrada pelas minhas lentes por aquelas bandas da região de Jânio Quadros em plena sequidão de um sol inclemente que castigava as plantações e deixava os tanques e barreiros sem água para o consumo humano e dos animais que lambiam o tacho de lama. Era triste e, ao mesmo tempo, agradável conversar com o sertanejo simples e forte que nunca perdia a fé e as esperanças. A nossa missão era retratar a realidade e mostrar aos governantes a situação de penúria do lavrador que passava um tempo plantando e colhendo e outro a olhar para os céus e rogar a Deus pelo socorro. Lembro muito tempo dos carros-pipas cortando as estradas poeirentas (ainda perduram) que eram e ainda são utilizados como política eleitoreira. Quase nada mudou depois de mais de 20 anos para cá. Apertava nas tintas para dar voz ao clamor do sertanejo quando batiam as estiagens que deixavam feridas abertas no chão.