:: jun/2025
A VIDA SEM O VIVER
Tem um certo ditado ou pensamento que diz que determinadas pessoas passam a vida em branco, o que significa que morrem sem deixar suas marcas, algum legado para a posteridade. Conheço gente assim, do tipo que mesmo viva já morreu sem saber.
A vida sem viver está justamente naqueles gananciosos que passam o tempo juntando dinheiro e não desfrutam do que tem, como se nunca fossem morrer, ou como se fossem levar tudo quando ela chega e bate em suas portas.
Fico a imaginar o que se passa pela cabeça dessas pessoas. Tenho por exemplo, uma colega que se encaixa muito bem nesse quadro. Durante sua vida, juntou dinheiro e bens e nunca fez uma viagem para conhecer outras culturas ou o outro lado do mundo.
Essa pessoa já se encontra em idade avançada, com mais de 80 anos, não tem filhos; possui um bom patrimônio e continua querendo mais e mais. Por essas e outras é que acho que viver é uma arte. Faça besteiras, mas também faça coisas boas. O apego material aniquila o espiritual.
Quando era menino, conheci um fazendeiro rico, tipo mão de vaca que guardava todo seu dinheiro na comieira da casa e debaixo do colchão. Vendi doces nas ruas de Piritiba. Certa vez, coçou o bolso e comprou uma cocada em minha mão. Quem estava por perto ficou fazendo piadas e admirado por colocar a mão no bolso.
Na hora de passar o troco, faltou um tostão. Não é que ele ficou atrás de mim pelos becos e só foi embora quando lhe dei o tostão! Essa cena serviu de chacotas, mas ele não se importava com isso.
Morreu rico e nada levou. Sua herança, como sempre ocorre, serviu de brigas entre os filhos. Os irmãos ficaram inimigos e por pouco não houve morte entre os herdeiros. O ser humano nasce sem nada, cresce, trabalha como um condenado escravo; constrói um patrimônio, morre e não leva nada.
Existem outras pessoas que se aposentam e entram em depressão ou passam o dia na rua num grupinho fazendo fofocas da vida dos outros. Tem aquele que leva o tempo jogando dominó na esquina, ao ponto de não almoçar, ou aquela que se enterra numa televisão, do amanhecer até a madrugada.
Não posso deixar de citar aqui o celular nessa nova era da tecnologia da internet. Todo esse comportamento é não dar um sentido para a vida. Essas pessoas envelhecem rápido porque não exercitam o físico e a mente. São os chamados vivos mortos.
O OUTRO LADO DOS JUDEUS NO MASSACRE CONTRA OS PALESTINOS
Por muitos anos ficou encoberto e obscuro aos olhos do mundo o outro lado ou a outra face dos sionistas judeus que sempre se fizeram de vítimas e usaram como marketing o holocausto para encurralar os palestinos e até atacar outras nações árabes, com apoio total dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e demais países europeus.
A Mídia Ocidental, principalmente, sempre colocou suas posições prol Israel em suas ações belicosas, estampando como pano de fundo o holocausto de Hitler na II Guerra Mundial que exterminou cerca de seis milhões de judeus em campos de concentração. Então, os judeus se sentiam blindados com farto espaço para agir e praticar suas atrocidades, seu terrorismo de Estado.
Agora, esta história está sendo revisada com provas e documentos comprobatórios sobre a relação amigável que os sionistas tiveram no início e meados dos anos 30 com o nazismo de Hitler, com o objetivo de criar um Estado e expulsar os palestinos de suas terras. Esse povo nada tinha a ver com o esquema deles, lá viviam sossegados sob a tutela dos ingleses.
Os acordos foram vários nesse sentido, só que Hitler, no início dos anos 40, foi mais astuto e consolidou seu plano de exterminar os judeus e outros povos excluídos. Ocorreu coisa parecida com a Rússia. Em 37/38, Hitler e Stalin fizeram uma aliança de um não atacar o outro e até dividiram a Polônia entre si. Em 41/42, a Alemanha invadiu o território dos russos. Até então, o comunismo russo apoiava o nazismo.
Para ser mais objetivo e direto, dando um salto no tempo, esse massacre horroroso, genocida e criminoso de matança indiscriminada dos palestinos (crianças e idosos) na Faixa de Gaza por Israel, pelo menos está servindo para abrir este capítulo secreto da história sobre como se deu o semitismo e o antissemitismo.
A vitimização do holocausto para acabar de vez com os palestinos e outros grupos de resistência, como Hamas, Hezbollah, no Líbano, está sendo desmascarada. Agora Israel resolveu atacar o Irã sob o pretexto do país estar construindo uma bomba atômica, tudo com a ajuda dos norte-americanos. Esta ação tem mais o propósito de desviar as atenções contra os palestinos. Isto me faz lembrar o ataque dos Estados Unidos ao Iraque, no Governo Bush.
Durante a II Guerra, no início dos anos 40, somente grupos semitas de resistência da Polônia, da França e da Rússia, principalmente, foram para a linha de frente combater o antissemitismo e o nazismo, não os judeus ricos que já estavam ocupando a Palestina.
Pouco antes de 1947/48, grupos de judeus bem armados praticaram vários atentados terroristas contra alvos palestinos-árabes no sentido de forçar a Inglaterra e os Estados Unidos a consolidarem a formação definitiva do Estado de Israel. O holocausto foi o argumento chave para aprovação deste Estado como tipo de reparação.
Nesse imbróglio, os palestinos foram abandonados numa estreita faixa de terra e, a partir dali, sem nenhum apoio das nações internacionais, passaram a ser perseguidos pelos judeus como inimigos. A situação piorou mais ainda depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel se apossou das Colinas de Golan e outros territórios.
Nestas áreas ocupadas, construíram muralhas e colônias judaicas, intensificadas ainda mais pelo primeiro ministro Benjamin Netanyahu, o carrasco sanguinário “Bibi”, que agora está decidido a exterminar de vez os palestinos jogando bombas contra os civis indefesos, num discurso mentiroso de caça ao grupo dos Hamas, responsável pelo atentado de outubro de 2023.
A mídia sempre fala que Israel está em guerra contra os Hamas, mas que guerra é essa se a matança indiscriminada só ocorre de um lado? Uma guerra onde o outro lado, no caso os palestinos, as maiores vítimas, não possuem nem armas de fogo para combater o facínora!
O maluco do Trump, dos Estados Unidos, já falou que quer transformar a Faixa de Gaza num balneário turístico, como uma Cancun mexicana, enquanto as lideranças mundiais só lamentam o holocausto palestino. É a história de extermínio de um povo se repetindo novamente sob o silêncio das grandes potências.
REVOLTO INFINITO SERENO
De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, extraído do seu livro NA ESPERA DA GRAÇA
Um ser cativo tão pequeno,
A mirar o infinito revolto sereno,
De quentes correntes e ventos:
É o mar dos descobrimentos,
Mitológico labirinto,
Esse revolto infinito sereno.
Rios correm invisíveis ativos,
Nesse infinito sacrário;
Nos sentidos anti e horário,
Para outra banda continental,
De jangada, caravela e nau:
Navegaram polinésios nativos,
Bartolomeu, Vasco, Colombo e Cabral.
Nesse revolto infinito sereno,
Do Cabo fervente diabo Bojador,
Da Boa Esperança até a Índia:
Mar mistério, negreiro cemitério,
Infinito sereno de prazer e dor.
Revolto infinito sereno,
Do Pau Brasil que já sumiu;
Rota dos escravos Benin-Ajudá,
Me cure, Senhor, dessa saudade veneno!
Da minha aldeia do lado de lá!
DERRUBAM O IOF E APROVAM O AUMENTO DE MAIS PARLAMENTARES NA CÂMARA
Não atingindo a todos, mas, com certeza a grande maioria dos parlamentares do Congresso Nacional, o cancro do Brasil, não passa de cafajestes, cínicos e caras de paus. De elite para elite, eles legislam em causa própria, e o país que se lasque. Cada vez mais se superam no contraditório, no absurdo dos absurdos.
Os mais esclarecidos (infelizmente são poucos no Brasil) sabem muito bem que o IOF – Imposto sobre Operações Financeiras é pago por ricos ou pessoas com maior poder aquisitivo, como o próprio nome já diz. O pobre não entra nesse balaio de cobranças. É mais uma vez a burguesia reagindo contra a distribuição de renda.
No entanto, com suas tramas ardilosas, eles se aproveitam da ignorância do povo para generalizar e dizer que o brasileiro não suporta mais aumento de imposto. São mesmos uns safados, algozes, aproveitadores da fraqueza alheia e sanguessugas da nação. Vivem mamando nas tetas da população desvalida.
Ninguém mais concorda com elevação de impostos porque encarecem nossos bolsos e vivemos num Estado máximo onde se recebe o mínimo, mas o IOF recai sobre aqueles que mais têm. Por falar em máximo, temos um dos Congressos mais caro do mundo, num país de profundas desigualdades sociais.
É certo também que o governo federal precisa cortar seus gastos e melhor planejar suas finanças, mas esses políticos trapaceiros não têm nenhuma moral de criticar o executivo no que se refere a redução de despesas. Eles aceitam cortar seus salários, suas verbas de indenização, seus penduricalhos, suas mordomias e acabar com essa máfia das emendas?
Um deputado federal, com salário e todos os benefícios juntos, custa ao Brasil mais de 300 mil reais por mês. Um senador, mais ainda. Um trabalhador recebe pouco mais de mil e quinhentos reais para sustentar uma família e dá um duro danado como escravo do patrão. Esses políticos têm de verba paletó a verba cueca. É a casta mais privilegiada do país.
Esse Congresso Nacional, as assembleis legislativas e as câmaras de vereadores são escórias do Brasil. Aquela Casa de malfeitores de Brasília ultrapassa o limite das aberrações, ao ponto de derrubar um decreto constitucional do IOF e, ao mesmo tempo, aprovar aumento do número de deputados, de 513 para 531. Os caras não têm o mínimo de pudor!
Em seus discursos da tribuna, vez ou outra, eles soltam aquela mentira deslavada, uma fake news, de que tudo é feito pelo bem do Brasil. Entretanto, aprovam um Fundo Eleitoral de mais de cinco bilhões de reais, um código ambiental em que abre brechas para os desmatamentos e grilagens de terras, legislam na base do toma lá, dá cá, querem mais grana das emendas, dentre outra extensa lista de males e estragos que só fazem quebrar o país.
Eles não têm o mínimo escrúpulo de escancarar suas bandidagens. Cobram redução de gastos do executivo e, do outro lado, aumenta os seus com a entrada de mais deputados, provocando um efeito cascata nas assembleias legislativas dos estados.
Com suas manobras políticas, nos enganam e nos roubam à luz do dia. Não passam de batedores de carteira das antigas e fazem isso sabendo que contam com o apoio dos mais excluídos, por incrível que pareça, hoje uma massa de direita, de extremistas e fanáticos. Não sei mais quem são os piores. Nem Freud explica tamanho fenômeno paradoxal!
Não estou aqui sendo advogado do governo federal, do qual tenho minhas críticas, mas temos um Congresso pegajoso, nojento, carnívoro, de meliantes de colarinho branco, cuja maioria deveria estar no banco dos réus ou presos em solitárias por nos tratar como otários, imbecis, burros e objetos de desprezo e manobra. É uma malta de saqueadores e salteadores da pobreza.
Com esse Congresso de bancadas das elites burguesas capitalistas, de ruralistas lagartas, de evangélicos conservadores fundamentalistas, da bala, de defensores do sistema financeiro ganancioso e selvagem, de gente da pior espécie, o nosso Brasil só tende a se afundar e nunca vai sair desse buraco, ou fundo do poço.
Brigam o executivo com o legislativo, brigam o judiciário com os outros dois poderes, brigam entre si para defender a continuidade de seus bacanais e orgias e sobra para o povo que só leva fumo. Eles são os dragões que nos consomem com suas labaredas de fogo.
O brasileiro, de lombo calejado de levar bordoadas e mente oca alienada se tornou masoquista de si mesmo. Não tenho orgulho, só vergonha de ser brasileiro. Os intelectuais e os bons se calam, se silenciam, enquanto os burros falam e expelem vômitos repugnantes de suas bocas.
Com esse Congresso brasileiro, a gente tem até saudades dos tempos dos coronéis malvados, dos senhores escravocratas, dos cangaceiros nordestinos dos bandos de Antônio Silvino e Lampião que invadiam os povoados e cidades com seus punhais e fuzis. Pelos menos, sabia-se de verdade quem eram eles, muitos até poupavam os mais pobres.
CAIU UMA ESTRELA NO QUINTAL
(Chico Ribeiro Neto)
Olhar o sol contra as bolas de gude me deu a primeira ideia de infinito, aquela luz lá bem longe.
O quintal é um tesouro. É só aprender a cavar. Veja as minhocas como saem junto com a terra. Parece que dançam! As formigas saem dos buracos. Sinal que vai chover.
A lagartixa tá quentando o sol. Quando vê a gente, se pica. Em Porto Alegre, quando faz um solzinho no inverno, o pessoal senta nos bancos dos jardins para tomar sol. O gaúcho diz que está “lagarteando”.
De manhã cedo tem muito passarinho no abacateiro. Titia manda eu sair de perto porque está com um ferro em brasa passando roupa.
A água da chuva escorre das bicas para o tanque de cimento que vôvô Chico mandou fazer perto do quintal. Era a água de gasto. A de beber vinha de uma fonte, trazida pelos burros em carotes de madeira.
Tem uma hora da tarde em que tudo fica parado, nem as moscas se mexem, as folhas não se mexem, as pessoas dormem.
Aqueles joelhos são da professora de Francês, a primeira mulher a ensinar no Ginásio São Bento, onde até então todos os professores eram homens. A capa de chuva, de nylon, tinha um buraco na frente e a vida sorria no ginásio.
Volto ao quintal. É de noite. Tem uma coisa brilhando lá no meio. Será o sapato da Primeira Comunhão, uma estrela que caiu ou um balão pegando fogo?
(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)
A MULHER “PORTA-CELULAR”
Detesto sair de casa para resolver “pepinos”, ou BOs, como muita gente prefere falar quando se refere a problemas. Acho que ninguém gosta, a não ser quando se vai a passeio para olhar vitrines e fazer compras para sentir aquela sensação de prazer consumista.
Na maioria são mulheres com uma penca de filhos arrastando sacolas num frenesi de entra e sai das lojas, principalmente em épocas festivas. Os pais também acompanham, mas bem menos.
Em meu caso, nem isso me agrada, nem mais para tomar umas num boteco, como nos velhos tempos. Cruzar com muitas pessoas e andar em multidão me deixa em pânico. Será que estou precisando de um analista?
Quando sou obrigado a ir, talvez como terapia, aproveito para observar o comportamento das pessoas, os mais diversos e que chamam a atenção pelas suas atitudes. Umas são engraçadas, a cara do Brasil, e outras são lamentáveis.
Uns se mantém calados cuidando de suas obrigações. Outros são escandalosos que falam alto e individualistas que não respeitam o direito do outro no ambiente público. Até parecem que estão em suas casas. Tem aqueles que tentam burlar a fila, trapacear e existem os mais conscientes e humanos. Tem para todo gosto do cliente.
Essas mercadorias você encontra mais em repartições públicas, bancos, clínicas, eventos diversos e nas ruas, praças e avenidas. Quanto maior a cidade, mais elementos que servem de matéria-prima para escritores, poetas e humoristas.
Na véspera de São João, segunda-feira, fui ao banco resolver um BO e lá estava uma mulher de muleta com o pé enfaixado de gazes (deve ter levado uma queda ou uma topada) que me chamou a atenção.
Como as coisas andam em termos de vigarices e golpes, poderia até ser uma simulação. Sabe do caso daquele indivíduo que foi fazer uma perícia médica no INSS de cadeira de rodas e depois saiu andando na maior cara de pau? Nunca se sabe!
Estava na fila prioritária, que não tem nada de prioridade, e ela girava mancando falando bem alto com o celular na mão o tempo todo. Mais parecia uma mulher porta-celular. Não desgrudava do aparelho e lá ia ela pulando de muleta de um lado para o outro. Não se apartava do bendito celular.
Teve um momento que ela saiu gritando quem podia trocar 50 reais. Às vezes ia lá fora e não parava de conversar no celular, de uma forma tão escandalosa que lá de dentro se escutava tudo quanto ela dizia. “Coloca um pix”! Sentava, levantava, rodava como peru, sempre com aquele celular na mão e pulando de muleta.
No momento, agoniado e impaciente na fila, lembrei da música “O Chato”, de Oswaldo Montenegro. Foi o talento da imaginação se cruzando com a realidade.
Era uma cena hilária e literária! A mulher era muito da chata. Um vídeo com ela nas redes sociais, para quem gosta de besteiras, daria milhares de visualizações e seguidores em poucos minutos.
Para completar o quadro, um senhor baixinho atrás de mim não parava de bulir no celular. Foco total que nem viu a cena! No Banco do Brasil, a gerência colocou duas filas, uma prioritária e outra convencional, só para pegar a senha, e o funcionário chama um de cada vez, de maneira intercalada. Ora, só queria saber mesmo o que tem de prioridade nisso!
– É pura enganação – reclamava uma idosa de lá que preferiu ficar na outra fila normal, ou convencional. O guarda até achou estranho, mas depois disse que ela estava no seu direito de escolha.
Coisa foi lá no segundo andar! Cada um sofredor e desrespeitado chega com sua senha na mão de olho no painel de chamada. Tome ansiedade na espera da sua vez! No entanto, a mulher porta-celular nem estava aí e continuou a exibir seu espetáculo.
Sentou com sua filha e outra amiga, falando alto. Das sacolas, sacou umas roupas íntimas que havia comprado. Nelas consegui ver uma meia fina de pernas, sei lá, sutiãs, e o mais inusitado, umas calçolas. Coisa de louco, meu irmão!
No outro assento, mais ao lado, aquele senhor do celular começou a ouvir vídeos na maior altura e dava suas risadas, como se estivesse só. Ele chegou a incomodar tanto os outros, que uma pessoa da vigilância da instituição teve que ir lá e mandar que ele desligasse os vídeos.
Não é brincadeira não, meu camarada, o ser humano é um bicho estranho, uma espécie imprevisível que não nasceu para viver em sociedade e pensar no coletivo! Desde os tempos da pedra lascada, do neandertal ao homo sapiens que é assim.
A NOSSA MÍDIA CAIU NO RIDÍCULO
Cena um, o repórter transmite o São João do Parque de Exposições de Salvador e informa da passagem do cantor Thierry com sua sofrência e anuncia a entrada de uma banda sertaneja. Cena dois, ele diz que a festa na capital é a melhor do Brasil. Cena três, lá de Caruaru, em Pernambuco, o outro colega faz seu estardalhaço com a presença de Zezé de Camargo e também enfatiza que a festa junina da cidade é a maior do país.
O forró ficou de fora, em seu canto solitário, ou foi posto na solitária como um condenado de alta periculosidade para as mentes humanas. “Tivemos pagode, arrocha, sofrência, sertanejo, axé e também forró”. Essa é a transmissão mais comum que se ouve dos jornalistas nessa época junina.
Durma com um barulho desse, meu camarada! Que me desculpem os colegas da nova geração, que a esta altura deve me apedrejar, mas a nossa mídia caiu no ridículo por perder o senso crítico.
Como profissionais formadores de opinião, a função deles é defender a preservação da nossa cultura popular, a tradição de séculos, muito bem representada por Luiz Gonzaga com seu baião e o forró de rachar o chão.
Agora, o que está em jogo é a competição entre boiadeiros sertanejos, sofrência, arrocha, axé carnavalesco, piseiros e outros ritmos de rebolados de mulheres mostrando as bundas.
Entraram a guitarra, a viola, a bateria, o baixo e saíram o sanfoneiro, a zabumba e o triângulo. Toda mídia celebra esse paganismo, essa profanação e, porque não dizer: Essa invasão dos bárbaros!
As vestimentas das quadrilhas mais parecem fantasias de carnaval. A coreografia da dança não é mais a mesma. Para enganar, maquiar e tapear a nossa gente, eles colocam uns enfeites de balõezinhos, umas casinhas de taipas típicas dos arraias que mais servem para tirar fotos de celular para serem colocadas nas redes sociais. Todo mundo fica empolgado e cai no conto do vigário, ou do prefeito.
Não vou mais falar de Vitória da Conquista porque a onda é geral em todo Nordeste. Alguém me falou nesta semana que não existe mais sanfoneiro no Piauí.
O São João com seu forró pé de serra, seu forrobodó arrasta-pé está como mulher rendeira, coisa rara de encontrar. Seus registros vão ficar apenas na história para interesse de pesquisa acadêmica
Quando digo que a mídia caiu no ridículo é que ela não é mais a guardiã da nossa cultura; não questiona e não critica o assassinato do nosso São João praticado pelas prefeituras. É tudo um esquema político eleitoreiro armado porque os prefeitos e governadores sabem que o nosso povão é inculto e nem sabe o que é preservar a tradição.
Como em todos os lugares, não tenho o receio e o medo de dizer que a maioria da nossa mídia em Conquista, infelizmente, é chapa branca, como era nos tempos do jornal impresso. São escassos os veículos que combatem esse ato criminoso contra a nossa cultura porque desvirtuar uma tradição é crime.
O pior, ou o que já era esperado, é que nosso povo lota os espaços, aplaude, entra em êxtase e idolatra esses cantores de polpudos cachês pagos antes de se apresentarem, tipos Safadão, Leu Santana, João Gomes, Pablo, Thierry e os sertanejos em geral, como ocorreu em Conquista, onde teve até camarotes. Depois ainda sai dizendo que é tudo de graça. Que maldade!
Ouvi um vídeo nesta semana onde um analista diz que o problema é que os burros no Brasil resolveram falar, enquanto os inteligentes e os intelectuais decidiram se calar.
Num paralelo dessa fala, diria que os burros foram para a festa dos sertanejos, enquanto os intelectuais recuaram e só poucos apareceram para observar o nosso forró sendo enforcado pela inquisição dos prefeitos, como se fosse uma heresia.
Confesso que nesta idade me sinto profundamente triste, decepcionado, desiludido e sem expectativas de mudanças nesses tempos da anticultura, não somente com o assassinato do nosso sagrado São João.
Tenho minhas dúvidas se a nova geração, do modo que está sendo educada, vai reagir a tudo isso e resgatar a nossa tão amada cultura popular do São João, exclusiva do Nordeste.
Para mim, era a festa genuinamente nordestina mais linda do Brasil e a que eu mais participava, mas não é mais e me recuso, enquanto vida, a sair de casa para ver essa presepada.
Desde menino, quando terminava um São João já ficava pensando no próximo ano para curtir o sanfoneiro, o cantor forrozeiro, as fogueiras, as comidas e as bebidas típicas, bem como os rituais do culto sagrado.
PAPO DE FUTEBOL
– Viu como o nosso futebol brasileiro está bem representado no Mundial de Clubes da Fifa, deixando os europeus no chinelo? Eles não vão mais ficar aí fazendo chacotas do nosso futebol, o maior do mundo – comenta o torcedor para o seu outro seu rival, com apertos de mãos e tapinhas nas costas.
É o assunto do momento que até roubou a cena do nosso falso São João, mas estão surfando na onda da mídia esportiva que é a mais tendenciosa e omite muitas coisas. Diz ela que são jogadores de altíssimo nível, o que não é verdade.
– Você esqueceu, meu amigo, que os times brasileiros hoje, especialmente da série “A”, estão todos enxertados com mais de seis estrangeiros da América do Sul e até da Europa, muitos dos quais de seleções de seus países – falei para o torcedor empolgado com a camisa rival do meu tricolor Fluminense, sem querer ser espírito de porco.
O cara meio que titubeou, não deu o braço a torce e saiu com outro argumento que não convence muito. Como todo fanático, arrematou que o futebol brasileiro ainda é o melhor. Ainda garantiu que vai ser campeão desse torneio da Fifa, feito para ganhar dinheiro.
– Como no futebol, a gente se deixa levar em outras coisas por essa mídia de exaltação, que apenas se preocupa em vender seu peixe. Veja como está a classificação do Brasil entre as seleções da América do Sul nas eliminatórias para a Copa de 2026? Está no quarto lugar! Seria o último colocado se dessa vez não fossem seis os selecionados – tentei convencê-lo.
Nesse papo furado de futebol, de jogar conversa fora, citei até o nosso grande cronista Nelson Rodrigues, tricolor das Laranjeiras, quando disse que toda unanimidade é burra e ainda soltou a sua irreverência de que o brasileiro tem complexo de vira-lata. Parece que essa copa está aliviando o brasileiro dessa carga pesada do complexo.
Tenho acompanhado essa copa (alô meu saudoso amigo tricolor Carlos Gonzalez que já partiu, grande especialista que foi no assunto) e observei que a maioria dos gols têm sido de cabeça. Não sei o porquê, mas acho o gol de cabeça feio, sempre naquela bola cruzada na base do empurra-empurra. Poderia ser proibido fazer gol de cabeça, mas isso é coisa maluca da minha cabeça.
Outra coisa é que não vi um craque novo, tipo revelação nessa copa – uns mais velhos, como Messi, Suarez, Crisma e outros, apagados em campo -, visto que no Brasil, há muitos anos que acabou essa safra. Tem mais pernas de paus que dão aqueles chutões de atravessar os estádios.
A mídia esportiva passa o tempo todo floreando, enchendo linguiça e jogando confetes em jogador quando acerta alguns lances dignos do futebol. Não estou vendo nada de exuberante para encher os olhos e mudar de opinião.
O atleta de hoje basta encostar que ele cai e pede falta. Por falar nisso, o mais ridículo é quando todos correm para cima do juiz. Isso já poderia ser terminantemente proibido na regra. Dá cartão para todo mundo, seu juiz, e acaba logo com esse baba!
Prefiro ser mais uma metamorfose ambulante, como diz o grande cantor, músico e compositor baiano, pai do rock rool, Raul Seixas, do que ter aquela opinião formada sobre tudo.
– Para ser sincero, meu companheiro, torcedor fica cego e faz aquela farra de elogios e de cachaça quando seu time ganha e xinga “pra burro” quando perde. Não temos mais craques como antigamente que infernizavam as defesas dos adversários.
– Tenho mesmo é saudades daqueles tempos de Garrinha, Djalma Santos, Didi, Pelé, Rivelino, Tostão, Dirceu, Clodoaldo, Jairzinho, Ronaldo, Romário, Ronaldinho, Sócrates, Zico e, por último, até do moleque Neymar, que só quer saber de baladas, Nisso até que o cara concordou.
A ÁRVORE E OS ENGAÇOS
O desmatamento de uma floresta deixa um vazio no espaço, só de engaços e bagaços. Depois vem a queimada e tudo vira cinzas. O que era vida se torna morte, como a árvore envenenada, cujo o verde se transforma em engaços, conforme flagrante das nossas lentes fotográficas. A seca inclemente muda a paisagem do nosso sertão, mas a chuva faz brotar o verde e tudo se arrebenta em cores. O colorido atrai aves, insetos, animais rastejantes e outras espécies que se alimentam dessa renovação. Os ciclos se repetem diante dos fenômenos naturais, mas quando entra a mão assassina do homem, a natureza simplesmente morre, fica sem alma.
SENHORA PARTEIRA
Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário, poema extraído do seu livro NA ESPERA DA GRAÇA
Pelas mãos com cheiro de chão,
Da dona senhora, nossa parteira!
Naquele rancho no pé da serra;
No aboio lamentoso do sertão;
Do ventre nasci de mãe roceira,
De um pai a lavrar a árida terra;
Filho dessa entranha nordestina;
Destino certo para a morte,
Que tem a vida, e sempre vem.
Minha mãe, Sinhá parteira!
Senhora mãe, nossa santeira!
Que já pegou mais de mil,
Sem usura desse metal vil.
Vixe mãe santa, Nossa Senhora!
Geme a mulher na cama de dor:
Vai homem chamar dona parteira,
Pra meu filho não morrer de sete dias,
Nem da fome que leva Zés e Marias.
Vai homem, buscar nossa parteira!
Que já viu cabra crescer trabalhador;
Artista repentista que tocou em feira;
Moço que estudou e virou doutor!
Salve nossa parteira desse solo cio!
Senhora das trilhas, rezadeira ligeira;
De dia nas poeiras, e na noite fagueira;
Boa de prosa, que ora rir, ora chora;
Chega na hora certa da mulher parir:
Abençoa a luz de um ser existir;
Reza aquela reza penosa,
Da Rosa na rasa cova que partiu.