maio 2025
D S T Q Q S S
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031

:: 9/maio/2025 . 23:43

O LEÃO POBRE E O IMPERIAL REI

Histerias, gritos, choros, pulos, exaltações, delírios e correrias nas ruas de Roma e na Praça do Vaticano, numa profusão de emoções, todos como súditos fiéis misturados em nacionalidades diferentes para verem o novo Papa Leão XIV, cujo nome simboliza rei e poder.

Os termos e as imagens televisivas nos dão a impressão de que entramos no túnel do tempo da idade média imperial dos reis que apareciam da sacada de seus palácios para saudar seus plebeus e por eles ser idolatrado como um enviado de Deus.

As pessoas ficam tão empolgadas, muitas por ignorância e outras por viverem numa época tão conturbada, desumana e sem esperanças, que acham que o novo papa vai acabar com as guerras, com a violência e os conflitos humanos.

Em muitas civilizações, todos faziam reverências e se ajoelhavam diante da sua majestade “divina”. Não foi o caso, mas só faltou esse gesto da multidão eufórica durante os três atos da fumaça branca, do habemus papam e da aparição do escolhido (Pai, Filho e Espirito Santo) pelo conclave (sem chaves) dos velhos cardeais.

Após ser indicado, o cardeal decano indaga “quo nomine vis vocari”? Robert Francis Prevost respondeu Leão XIV, em admiração ou vontade de ruptura com o seu predecessor Leão XIII, agostiniano que esteve à frente da Igreja Católica por 25 anos, entre 1878 a 1903.

O nome Leão, que em latim significa Leo e em italiano Leone, compreende rei, poder e aquele que governa sobre os outros. Na Bíblia, Leão de Judá seria o Messias Salvador que unificaria todas as nações. Leão I, o Grande, governou nos anos 440 a 461. Ele foi um defensor das doutrinas cristãs durante as invasões bárbaras e teve um encontro com Átila, o Huno, e convenceu o líder tirano a poupar Roma.

O Leão XIII, o italiano Vicenzo Giocchiino Rffaele Luig, para quem ainda não sabe, apoiou o fim da escravidão no Brasil e tinha um forte compromisso com os desafios do mundo moderno pós revolução industrial. Morreu com 93 anos e foi o segundo mais velho da história papal. Seu reinado foi o quarto mais longevo.

Conta que Leão XIII certa feita foi acometido de visões de espíritos demoníacos do satanás, reunidos sobre Roma que prometiam destruir a Igreja e levar o mundo ao inferno. Esses espíritos teriam desafiado Deus a recuar por 100 anos. Foi então que Leão XIII criou a oração de São Miguel Arcanjo para espantar os demônios. Dizem que essa oração defende as almas das forças malignas.

O nosso Leão XIV pertence à Ordem de Santo Agostinho, um grande filósofo e teólogo da Igreja que nasceu em Togasto, na Argélia, em 354 e morreu em 430. Santo Agostinho é padroeiro dos cervejeiros, impressores e teólogos. Foi doutor da Igreja pelo Papa Bonifácio VIII, em 1298. Durante sua vida monástica, escreveu “Confissões”, “A Cidade de Deus”, dentre outras obras doutrinárias. Seu dia é comemorado em 28 de agosto.

Essa Ordem foi criada em 1244 pelo Papa Inocêncio IV (1195-1254). Eram frades medicantes que fizeram votos de pobreza e sobreviviam de doações. A Ordem segue a linha de pensamento de Santo Agostinho e se dedica às orações e aos estudos. Ela está presente em 50 países e conta com cerca de dois mil religiosos.

Bem, o novo papa começou seu discurso, em sua primeira homilia, defendendo uma Igreja aberta para os pobres e trabalhadores, contra as injustiças sociais e rogando pela paz no mundo.  Nos tempos modernos de hoje, essas posições, além da defesa do meio ambiente, não mais bastam para caracterizá-lo como um progressista.

Com esses pontos de vista e pelo seu perfil, o Leão XIV deverá prosseguir na caminhada do Papa Francisco, mas, no sentido interno dos dogmas da Igreja, entendo que será um moderado, mais de viés conservador e até linha dura em determinadas questões no que se refere a mulher e aos grupos LGBTS.

Não devemos esperar muito do Papa Leão XIV quanto a uma maior abertura e diálogo da Igreja com esses gêneros nos quesitos casamento gay e até na elevação feminina ao sacerdócio, como vinha ensaiando o Papa Francisco, mesmo sofrendo resistência dos conservadores. Será um papa fechado nessas relações mais complexas onde a Igreja ainda permanece arcaica e distante das mudanças do mundo atual.

A MOÇA DA LOJA DE DISCOS

(Chico Ribeiro Neto)

Atendimento em Salvador é uma barra, seja em restaurante, bar, armarinho, shopping, barraca de praia, pizzaria ou açougue. “O pessoal pensa que tá fazendo favor em atender a gente” – comungo dessa opinião juntamente com milhares de pessoas que moram em Salvador, sejam baianos ou não.

Se é no supermercado, você já está cansado na fila e, quando chega a sua hora, a mulher do caixa para pra bater papo com a colega vizinha e você fica ainda mais aporrinhado porque vai ter que, você mesmo, empacotar suas compras nuns saquinhos que cada vez rasgam mais facilmente.

Se é no banco, dos 12 caixas existentes, somente quatro estão funcionando. Se é numa repartição onde você procura resolver um problema, tem quatro mulheres conversando e uma diz: “Aguarde aí por favor, viu, meu senhor, que o encarregado já vem”.

Saber vender é uma arte. Quantas vezes, quando você é bem atendido, entra numa loja pra comprar um sapato e acaba levando uma calça também, graças à boa vontade e ao interesse de servir do vendedor? Quem já conheceu outras capitais sabe que Salvador é um dos piores lugares do Brasil em matéria de atendimento.

Você chega numa lanchonete e pede um sanduíche de queijo. O sujeito diz que não tem queijo, você pede de presunto e ele diz que só sai pão com ovo. Aí você se conforma com o pão com ovo mesmo e pede um suco de laranja, que não tem. Abacaxi também não, nem mamão com leite. “Só sai de melão”, diz o vendedor cujo guarda-pó não tem mais um botão.

Foi por tudo isso que fiquei surpreso ao ver uma vendedora numa loja de discos do Shopping Iguatemi. Ela dançava o tempo todo enquanto atendia às pessoas. E cantava também. Demorei alguns minutos na loja mexendo nuns discos enquanto observava aquela morena magra cujo salário não deve ser lá grande coisa, mas o prazer no trabalho morava naquela moça. Era realmente encantador vê-la ali, colocando discos ou separando fitas, sem parar de dançar e também cantando, pois a feliz rotina já lhe ensinou todas as letras das músicas.

Ela me lembrou a história que um amigo do meu pai contava antigamente. Na Cidade Baixa, no Comércio, havia sempre muita gente pra lanchar por volta das 10 horas. Numa pequena lanchonete, quatro empregados trabalhavam espremidos, mas atendiam a todos com uma presteza incrível. Sobre o balcão ficava uma caixa de sapatos para quem quisesse colocar gorjeta. Os empregados estavam no liquidificador, cortando queijo ou pegando uma coxinha, mas sempre de olho na caixa; quando um deles via alguém depositando uma gorjeta gritava em cima: “Caixinha pingou”, e os outros três respondiam na ponta da língua: “Obrigado sinhô”. Tempos de um bom atendimento.

(Crônica publicada no jornal A Tarde em 29/7/1992)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A

CENAS DAS SECAS

Em minha carreira de cobertura jornalística, muitos fatos me marcaram, mas as cenas das secas por esse sertão sofrido do homem do campo foram as que mais me sensibilizaram. Vez ou outra costumo dar uma espiada em meu computador e lá estão as matérias e as fotografias que me fazem reavivar as lembranças dos tempos em que comia poeira por esse agreste ao lado do meu companheiro repórter fotográfico José Silva. Recordo dessa foto registrada pelas minhas lentes por aquelas bandas da região de Jânio Quadros em plena sequidão de um sol inclemente que castigava as plantações e deixava os tanques e barreiros sem água para o consumo humano e dos animais que lambiam o tacho de lama. Era triste e, ao mesmo tempo, agradável conversar com o sertanejo simples e forte que nunca perdia a fé e as esperanças. A nossa missão era retratar a realidade e mostrar aos governantes a situação de penúria do lavrador que passava um tempo plantando e colhendo e outro a olhar para os céus e rogar a Deus pelo socorro. Lembro muito tempo dos carros-pipas cortando as estradas poeirentas (ainda perduram) que eram e ainda são utilizados como política eleitoreira. Quase nada mudou depois de mais de 20 anos para cá. Apertava nas tintas para dar voz ao clamor do sertanejo quando batiam as estiagens que deixavam feridas abertas no chão.

A TARDE FRIA

Poema de Fernanda Quadros, extraído do livro “Vozes que Ecoam na Joia do Sertão Baiano”, coletânea organizada pelas poetisas Chirles Oliveira e Ybeane Moreira.

Tardes arrastadas de ausência

Horas que teimam em não passar

Apertando a saudade

No peito frio.

 

Respiro

Olho a janela

O movimento do tempo.

 

Correndo a desbotar as cores

A espera da noite

Escura,

Trazendo você.

 





WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia