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A RUA É UM LABORATÓRIO HUMANO

A grande maioria das pessoas não observa porque vive na correria e preocupada em resolver seus problemas, mas a rua é um laboratório humano onde você vê tipos interessantes, exóticos, diferentes e caricaturais que rendem boas crônicas.

Ontem mesmo (quinta-feira dia 30/04/25) fui às ruas de Vitória da Conquista e constatei cenas comportamentais hilariantes que me chamaram a atenção. Estive em algumas casas de materiais de construção na Patagônia apreçando umas portas e janelas e depois fui ao centro financeiro, na Praça Barão do Rio Branco.

Uma figura folclórica que ronda aquelas imediações diariamente é o ambulante conhecido como “Calango” que vende facas, canivetes, lanternas e outras bugigangas. Ele não pode me ver que atravessa a rua ou a praça e me cerca para me oferecer seus produtos paraguaios.

Por uma adaga ele me pede 100 reais e depois vai baixando o preço até 40 ou 30 reais. Por mais que eu negue sua oferta, ele não arreda o pé e me toma um tempo danado. O jeito é eu dar as costas e dizer: “Já fui banda mel”. É tão insistente que continua atrás de mim para me convencer a comprar.

Existem também os pedintes para atanazar sua vida e cenas de miséria que são a cara do nosso Brasil. Por volta das 11 horas, ao lado do Banco do Brasil, onde funcionava o Mercantil, pessoas esmolambadas, andarilhos ou moradores de rua dormiam na calçada. O triste quadro me fez lembrar uma cracolândia.

Na escadaria do BB sempre tem uma mulher postada, às vezes com um bebê, com a mão estendida de uma esmoler faminta. Lá dentro, os usuários da instituição nos transmitem a impressão de assustados com alguma coisa, uns nas filas, a maioria de idosos aposentados fraudados pelo INSS, e outros fixados nas telas dos caixas, desconfiados e decepcionados com seus saldos em conta no final de cada mês.

Às vezes, a máquina encrenca com seu cartão e o dinheiro não sai. Aconteceu isso com uma mulher e ela entrou em desespero e pânico, berrando de lá para o atendente do banco lhe socorrer.

– Calma, minha senhora, vamos solucionar seu problema. “Cadê meu dinheiro e meu cartão, o banco me roubou! ” – Reclamava a cliente. Não é para menos. Já imaginou a burocracia se o caixa registra um desconto em sua grana que ela não recebeu?

Coisa é quando você parte para resolver uma questão financeira, lá embaixo, com os caixas presenciais! Peguei minha senha de prioritário na entrada e quando passei por aquela porta rolante (antes tem que deixar todos materiais de metais, especialmente o celular) tomei um susto como se tivesse visto almas penadas no purgatório.

Bem, a essa altura todos já sabem no que vou falar. A sala estava superlotada que não havia nem mais lugar para sentar (muitos estavam em pé). Uma coisa de louco, meu amigo, quase todos de celular na mão. Tinha um cara que nem estava aí e falava alto no telefone como se estivesse no quintal da sua casa. Dava para se ouvir tudo, até seu chamego com uma amante ou sua mulher, sei lá. Está tão zonzo que nem parei para escutar tudo.

Passei as vistas no tapume que separa os caixas e só vi dois em atuação. Pensei logo que só iria sair dali no final da tarde. Uma pessoa andava agoniado de um lado para o outro. Advinha quem era?  Só não sai imediatamente porque estava com minha esposa Vandilza que aconselhou esperar, visto que já estávamos ali.

Ah, meu camarada, ficamos uma hora e nada de chamar minha senha prioritária. Comecei a resmungar e a questionar sobre a lei dos quinze minutos bancários que todo mundo esqueceu e não existe mais aquele sindicato para fiscalizar a medida.

Depois de uma hora de espera fomos embora, espumando de raiva, ainda mais por ter pago quase 10 reais de estacionamento porque aquela zona azul nunca tem vaga. Nem é assim tão rotativo como num cabaré ou num motel. Ufa, que sufoco viver em cidade grande! Era mais de 12 horas e até a fome tinha ido embora. Não aguentou também esperar. O destino era o caminho de casa, mas, como sou por demais um sertanejo catingueiro teimoso, decidimos passar na agência da Olívia Flores.

Logo na fila para pegar outra senha com uma funcionária distinta, me deparei com uma figura esquisita. Um “veiozinho” baixo, barbudo, com um “calçaozão” o” e uma camisa sujas folgados, feio como o “cão”, conversava como a “nega do leite”. “Véio” adora prosear em filas e salas de clínicas e hospitais para contar histórias da vida.

Ele estava com uma muda de árvore de mais de um metro de altura. Entrou conversando alto e sentou bem em frente de um vigilante. Ele não parava de falar e foi logo dizendo ter sido professor do governador Jerônimo. Depois emendou outros papos sobre coronéis de Conquista, citando a família dos “Gumões” como os antigos chefões brabos que mandavam na cidade.

O “véio” parecia mais uma matraca. A funcionária foi até ele e avisou sobre a muda que havia deixado lá fora e que alguém poderia levar. “Vixe, essa planta vale mil reais”! A senhora do banco foi até prestativa e solicitou ao guarda que a colocasse lá dentro. Ele estava mais interessado em contar suas histórias, muitas das quais desencontradas e sem fundamento, do que com a muda.

Depois de toda essa labuta, de banco em banco, cortando ruas e travessas entre essa nossa gente conquistense, baiana e brasileira, chegamos em nosso lar mortos de cansados por volta de duas horas da tarde. A maior idiotice do dia foi ouvir o termo “Suiça Baiana” quando alguém se referiu a Conquista.

 

UM TERRENO FÉRTIL PARA GOLPISTAS QUE SÃO BLINDADOS PELA IMPUNIDADE

Nós temos no Brasil mais de 200 milhões de habitantes e acho que mais da metade são golpistas, de uma forma ou de outra pelo mal caráter. Posso até estar sendo exagerado e generalista. Os políticos (nem todos) que nos golpeiam desde as eleições, estão nesta categoria, mas não são classificados como bandidos de carteirinha, mas de colarinhos brancos. É até hilário e engraçado.

Nos velhos tempos (nem tanto assim), o golpe do bilhete premiado era o mais divulgado e quase todo mundo caia nele com a lábia do estelionatário falsário. Existiam outros, como o disfarce da corrente de ouro que era de latão, sair da pensão sem pagar com uma sacola de roupa dizendo que ia lavar fora e tantos outros, todos presenciais.

Os tempos mudaram, a tecnologia avançou com o advento da internet e das redes sociais, um terreno fértil e ainda terra de ninguém para os golpistas invisíveis com várias faces de monstros que se disseminaram como uma praga, uma epidemia. Eles são blindados pela impunidade e esse fator muito contribuiu para o aumento deles em todo país.

Em minhas viagens pela Europa sempre ouvia de brasileiros que não mais retornaria ao seu país devido a insegurança. Outra coisa interessante é que o turista brasileiro não é bem visto pelo seu próprio patrício, que procura evitar o contato. Meu filho que passou anos na França, certa vez me disse que brasileiros não ficam juntos numa mesma pensão ou hotel porque um não confia no outro.

Os golpistas não têm a mínima compaixão de suas vítimas que ficam do outro lado a chorar e a sofrer com suas perdas, na maioria das vezes, irreparáveis. Muito pelo contrário, esses golpistas virtuais ficam a rir da sua cara, se gloriam em ser desumanos, se consideram astutos e chamam os outros de otários. Nem estão aí para a desgraça alheia.

Com a tecnologia da informática e agora a inteligência artificial, eles sempre pegam a pessoa desprevenida. Surgem do outro lado desconhecido, muitas vezes de dentro das penitenciárias ou em grupos de quadrilhas bem treinados no computador e nos celulares. Existem várias espécies de golpistas, inclusive os influenciadores marginais, denominados de virtuais.

São tantos navegadores criminosos que acho que de dez brasileiros, oito ou mais já caíram num golpe. Eu mesmo já fui um otário deles que gozaram com minha cara. São bandidos e bandidas cruéis que são comparáveis aos assaltantes que lhe apontam uma arma em sua cabeça. O modus operandi é que é diferente.

Certa vez um indivíduo me ligou dizendo que era do partido do PSOL e queria atualizar minha ficha cadastral. Me pegou de surpresa. Pediu para que esperasse um pouco na linha e, enquanto, isso, emendou um papo político. Durante esse pequeno período ranquearam meu WhatsApp. Quando caiu minha ficha, já era tarde e ainda riram de mim. Cai em outras e não tenho vergonha de contar.

Na internet eles são comparados a piratas sagazes antigos do mar (homens e mulheres), com rostos horríveis cheios de cicatrizes, dentes sujos apodrecidos, roupas sebosas, de armas na mão que invadem seu barco ou navio, rendem os passageiros e tripulantes, matam e levam todos seus pertences.

Os golpistas não tiram férias nem feriados, sempre estão de plantão durante 24 horas, têm até advogados bem pagos e agem como se fossem trabalhadores informais sem carteira assinada. Vivem de recheadas comissões e exibem seus luxos. Poucos são presos pela polícia porque a terra é fértil e em plantando, tudo dá.

O curioso é que eles são bastantes criativos e ricos em imaginação, bons “empreendedores” e sempre estão inovando, até mais que os empresários legalizados que pagam impostos e suas obrigações para os governantes, um bando de incompetentes, muitos dos quais golpistas, corruptos e ladrões também.

Temos como exemplo mais recente a fraude do INSS, da qual também fui vítima. Fizeram descontos em meu extrato sem minha autorização. Estive na sede local da instituição que me mandou ligar para o 135. Do outro lado do balcão, uma mulher, ou senhor, me disse apenas que iria fazer o bloqueio, mas nada de reembolso.

Levei o caso à polícia civil e ao Procon. Na audiência uma representante da empresa golpista me ofereceu apenas 300 reais quando já havia me roubado cerca de mil reais. A questão ficou para o juizado de pequenas causas. Agora o governo federal está dizendo que vai restituir as cobranças indevidas. Quem está acreditando nisso?

Portanto, meu amigo, e todos nós brasileiros, estamos “num mato sem cachorro”, como se fala no popular. E a bandidagem só cresce e se alastra. Além dos virtuais, ainda temos que lidar com os presenciais tradicionais, como estelionatários, assaltantes de celulares, os que usam falsidade ideológica, se metem a fazer estética do físico e deformam seu corpo, prestadores de serviços safados e tantos outros.

 

UMA DISPUTA DE BASTIDORES

NA PRÓXIMA SEMANA COMEÇA A DISPUTA ELEITORAL PARA ESCOLHA DO NOVO PAPA E CHEFE DO ESTADO DO VATICANO, MAS AS CONVERSAS E AS NEGOCIAÇÕES DE BASTIDORES JÁ ESTÃO BEM ADIANTADAS E ENTRE ELES JÁ EXISTEM OS PROVÁVEIS.

Durante uma semana recebemos uma enxurrada de comentários, notícias e informações sobre a vida e os ensinamentos do Papa Francisco em vida, todos na direção para que sejamos mais humanos, de superação das adversidades; que tenhamos paz, amor e compaixão para com os pobres e refugiados; que cuidemos bem do meio ambiente; e que a Igreja é para todos e deve estar de portas abertas.

Francisco progressista gastou suas sandálias ou sapatos, comeu poeira entre o povo mais humilde e foi contra os poderosos que com suas ganâncias e armamentos massacram os mais fracos com suas guerras mortíferas e escravizam a humanidade com seu capitalismo selvagem predador. Como Cristo em suas andanças pela Palestina, disseminou seu evangelho que desagradou a muitos.

Nossa torcida é para que as pessoas absorvam e pratiquem pelo menos um quinto ou um décimo, quem sabe um centésimo do que ele mandou que fizéssemos para que o mundo seja bem melhor. Não queremos este mundo que aí está cheio de violências, ódios, preconceitos, intolerâncias, egoísmos e hipocrisias.

Uma emissora televisiva, em seus 60 anos (não fala que apoiou a ditadura civil-militar e de suas tendências políticas de poder), propaga que o futuro já chegou. Que futuro cara pálida? Este em que vivemos tão desigual de milhões de famintos? Lemos muitos textos de superação, que os chamam de lindos, mas escondem o outro lado das angústias humanas.

Bem, tenho o hábito de fazer uma volta ou preâmbulo para entrar no âmbito da questão propriamente dita que é a nova passagem do substituto do Papa Francisco. Como sempre, muitos fazem suas apostas nessas ocasiões, mas quase sempre erram porque é uma incógnita. Lá dentro, como se diz no popular, o “bicho pega”.

Depois dessa trilha de despedidas com milhões de adeuses saudosos onde Francisco conseguiu unir os sentimentos humanos de renovação e mudanças para o amor, vamos agora para uma etapa de disputa nos bastidores pelo poder. Será que lá dentro no conclave entre os cardeais, todos levam as palavras de Francisco em consideração? Ou prevalece a politicagem do mais sagaz como ocorre na seara profana? O senso religioso fica fora? Não acredito nessa de Espírito Santo ser o mentor.

Eu mesmo não estou certo que venha um papa progressista que dê prosseguimento ao trabalho de abertura dessa nova Igreja que Francisco tentou construir em vida, apesar da resistência dos conservadores, muitos dos quais o olhavam como esquerdista comunista revolucionário.

Não se enganem porque as opiniões contrárias são fortes e pode haver uma regressão, o que seria um desastre para a Igreja Católica que depois de 12 anos conseguiu ganhar terreno para os evangélicos; ser mais inclusiva; aumentar o número de fiéis e adeptos. Teve o mérito de aproximar aqueles que estavam fora.

Oxalá esteja errado e sendo pessimista, mas a tendência é que tenhamos uma bússola com o ponteiro indicando para o centro ou de volta ao conservadorismo. É uma eleição indireta que nos lembra o colegiado do Congresso Nacional que escolheu Tancredo Neves antes do pleito direto popular democrático. Não existe democracia nessa Igreja.

Não há dúvidas que Francisco fez muito para transformar as mentalidades fechadas, mas a Igreja Católica ainda permanece arcaica, conservadora e distante da realidade desse mundo moderno. Apesar de tanta gente ruim, indiferente à dor dos outros e desumana, o ser humano anseia por mudanças.

Cheios de mitras, báculos, solideis, cintas, batinas vermelhas e tronos de reis, o clero católico com seus rituais litúrgicos pomposos ainda passa uma impressão de distância e de coisa velha medieval. O mesmo se pode dizer dos ortodoxos e dos anglicanos, ainda mais linha dura.

Por que não uma eleição direta com candidatos estabelecidos onde diáconos, padres, monsenhores, bispos, arcebispos, cardeais de todos países e determinadas lideranças da Igreja pudessem dar seu voto? Não seria mais democrático, mas a Igreja, infelizmente, continua velha com seus dogmas e tradições medievais.

Como Estado, o Vaticano tem uma eleição indireta para escolher seu chefe. Além do mais, é um pleito sem transparência, às escondidas de portões fechados. Para os católicos sobra aquela ansiedade de ficar de olho na chaminé da Basílica. Se for branca, “habemos papa”. Seu perfil vai nos dizer se o papa vai ser conservador ou progressista.

 

“NA PIOR EM PARIS E LONDRES”

Quando comecei a ler o livro “Na Pior em Paris e Londres”, de George Orwell, bateram em mim as lembranças dos meus tempos em Salvador nos anos 1970/71 de dias difíceis para sobreviver, sem um teto onde morar, sem contar que a fome consumia meu cérebro.

Havia passado no vestibular para Jornalismo e, para segurar a barra pesada, vivia de uns bicos aqui e acolá para comprar um pão e uma garrafinha de mel da marca Kall, se não me engano, feito de milho. Eram minhas refeições diárias, isto quando conseguia uns cruzeiros. Meu desespero não foi maior, com consequências imprevisíveis, porque um amigo me ajudou naquilo que pode.

Bem, não quero retratar esse meu passado ingrato porque quem já atravessou por ele fica com trauma e medo de que um dia tudo venha se repetir. A vantagem é que você sai dele com mais forças e tudo faz para que não mais ocorra em sua vida. Você, no entanto, não tem mais certeza se suportaria encarar outra fase de pobreza e miséria.

Algumas coisas que o autor descreve aconteceram comigo, daí as tristes recordações. Certa vez meu pai enviou um dinheiro suado do seu trabalho para mim por um conhecido “amigo” e ele não me entregou a quantia com a desculpa que teria gastado por necessidade. Era um alento ao meu espírito. Nesse dia fiquei ainda mais arrasado e aniquilado.

O autor mostra o lado miserável de Paris lá pelo final da I Guerra Mundial anos 1917/18 e inicia pela Rua Du Coq d´Or, um local de mendigos, ambulantes, brigas, crianças perseguindo cascas de laranjas nas pedras do calçamento e o fedor azedo das carroças de lixo.

Todas as casas eram hotéis lotados até os ladrilhos com inquilinos, principalmente italianos, poloneses e árabes. O seu se chamava Hôtel des Trois Moineaux. “Era um labirinto escuro (me fez lembrar de uma pensão no Politeama, em Salvador) de cinco andares, separado por divisórias de madeira em quarenta quartos. Eram sujos. A Madame F. era a patronne (patroa). Lembra “O Cortiço”, de Aloísio Azevedo.

No início ele faz uma descrição das pessoas e dos locais de pobreza. Sem emprego, seus francos foram se acabando e aí ele recorre ao amigo russo de nome Boris. Os dois unem forças no Bairro Coq d´Or, na mesma situação de miséria, e quase tudo que eles planejam não dava certo. O Boris havia lutado na Rússia durante a guerra civil e se refugiou em Paris. Chegou a ser garçom, mas caiu em desgraça.

-Você descobre o que é sentir fome. Com pão e margarina na barriga, você sai e olha as vitrines. Outra passagem que me toca quando andava esmo de barriga vazia pela Avenida Sete de Setembro e via e ouvia o tilintar dos talheres nos restaurantes cheios, com farta comida. Aquilo era como se fosse um soco no estômago.

– Você descobre o tédio que é inseparável da pobreza; os momentos em que você não tem nada para fazer e, estando subnutrido, não pode se interessar por nada.  Passa metade do dia deitado na cama, sentindo-se como o jeune squelette (jovem esqueleto) do poema de Baudelaire.

Em um dos trechos da sua obra, Orwell desabafa afirmando que, quando você está se aproximando da pobreza, você faz uma descoberta que supera algumas das outras. Descobre o tédio, as complicações mesquinhas e os primórdios da fome, mas também descobre o grande traço redentor da pobreza: O fato de ela aniquilar o futuro.

O Boris, seu amigo, amaldiçoa o judeu com quem vivia no quarto apertado. Ele confessava ao inglês que era uma tortura para um russo de família estar à mercê de um judeu. Eu que era capitão, aqui estou, comendo o pão de um judeu.

O russo, então contou a história de um velho judeu que lhe levou uma moça de dezessete anos ao seu acampamento de guerra e lhe cobrou cinquenta francos, só que a menina era sua própria filha. O judeu! Levou meus dois francos, o cachorro, o ladrão! Ele me roubou enquanto eu dormia – disse Boris, espumando de raiva.

A parte mais forte e que me chocou é quando o escritor fala sobre a fome. “A fome reduz a pessoa a uma condição totalmente covarde e sem cérebro, mais parecida com os efeitos colaterais da gripe do que qualquer outra coisa. É como se alguém tivesse se transformado em água-viva, ou como se todo seu sangue tivesse sido bombeado para fora e substituído por água morna. A inércia completa é minha principal lembrança da fome; isso, e ser obrigado a cuspir com muita frequência, e a saliva sendo curiosamente branca e floculante, como uma secreção espumosa de inseto. Não sei a razão, mas todo mundo que passou fome há vários dias percebeu isso”.

A VISITA DE CRISTO NA TERRA

Depois de dois mil anos, o Cristo rebelde e revolucionário resolveu voltar à terra de carne e osso para experimentar sua aprovação, mas teve que pedir permissão ao Pai que se opôs à aventura arriscada, sabendo que a coisa aqui está braba e seu filho seria renegado e odiado pelos falsos profetas seguidores de araque.

Jesus insistiu, e Ele, para não ser rabugento e autoritário, decidiu satisfazer seu pedido, mas impôs certas condições, como não operar milagres, não multiplicar pães, não abrir a boca para afirmar que é seu filho (seria considerado herege), se virar para sobreviver e quando ficar na pior dos sofrimentos não rogar para afastar dele esse cálice.

– Se quer ver de perto as injúrias, as injustiças e a miséria, que vá. Criei o livre arbítrio e a liberdade. Depois não me venha com mimimi. Cuidado com as malandragens e artimanhas dos humanos! Eles são selvagens e perigosos! Alertou o Pai.

A mãe chorosa e piedosa, como todas as mães, implorou em sua partida para que ele desistisse dessa empreitada maluca, mas Jesus não cedeu e só desejava ver como estavam as coisas por aqui. Bem, não foi por falta de aviso e conselho. Se você quer se meter nessa enrascada dos diabos, que arrume sua mochila e vá – respondeu o Pai, todo sisudo.

De lá do seu alto donde Ele estava cansado de ouvir tantas mentiras, pedidos de perdão pelos crimes que cometeram e até investidas de subornos das almas penadas para alcançar um lugar confortável, Cristo decolou e, por acaso, aterrissou no Brasil, caiando justamente de paraquedas numa favela barra pesada de traficantes, em meio a um cerrado tiroteio entre facções rivais e a polícia.

– Êta bagaceira do cão! Vim pousar logo aqui no inferno de um morro do Rio de Janeiro dominado por criminosos! A turbulência foi tanta que nem deu para ver sua imagem lá no Corcovado. Caiu num beco estreito e escuro num tiroteio cruzado, mas foi salvo por um paraíba que lhe deu guarita em sua casa.

– Sou o mensageiro da paz e do amor e agora estou em meio a uma guerra fraticida. Aonde estou mesmo, meu amigo irmão? Que terra é essa, meu camarada?

– Aqui é Brasil, morro carioca da Rocinha, cheio de nordestinos lascados saídos lá das secas em busca de sobrevivência. O que não temos aqui é paz, meu senhor! Cristo sacudiu a poluição do ar e se disfarçou de baiano perdido. Agradeceu a acolhida e pernoitou no barraco cheio de crianças famintas. Lembrou do Pai que havia lhe advertido. Ufa, foi minha primeira prova de fogo!

Até que se safou bem do sufoco. Coisa foi quando saiu cedo e ganhou o asfalto lá embaixo e ficou embasbacado ao ver aquele formigueiro de gente, uns em ônibus, metrôs e carros na corrida pelo dinheiro. Logo a fome bateu e ele teve que se tornar em mendigo de rua. Aprendeu ligeirinho a pedir uns trocados para comer.

Se enturmou com os moradores de rua e dormia em abrigos. Começou a condenar aqueles que passivamente viviam de esmolas, cestas básicas e bolsas famílias, aceitando a palavra de que aquilo transforma o ser humano, quando, na realidade, a miséria continua. Repudiou a lamúria dos fracos que passam o tempo todo se reduzindo a pó. De uma coisa Ele gostou, das mulheres brasileiras!

Trabalhou lavando pratos e de garçom em restaurantes. Em suas caminhadas, ficou espantado quando viu tantas igrejas, a maioria de mercenários cobrando dízimos, explorando os pobres, traindo seus ensinamentos e enganando os humildes com feijão, água e outros objetos “milagrosos”, sem falar nos truques de curas. Bando de cafajestes – esbravejou.

Com seus bicos, Cristo ganhou uns trocados e adquiriu um celular de segunda mão e entrou numa fria quando descobriu que o aparelho era roubado. Tentou ser um influenciador digital, mas sem sucesso diante de tantas besteiras e marginais com milhões de seguidores. – Essas redes só têm imbecilidades, golpistas e garotas nuas!

Mesmo assim, suas pregações despertaram a atenção de um punhado de admiradores e parte da mídia. Um homem que falava diferente e numa linguagem revolucionária de mudanças espirituais, ao ponto do Malafaia, Edir Macedo, Feliciano, pastores da mesma laia e a turma bandida do lema Deus, Pátria e Família terem lhe coberto de xingamentos de esquerdista comunista e vagabundo. Recebeu críticas até dos católicos.

– Que me lembre, quando andei nesta terra há dois mil anos não fundei nenhuma igreja e religião. Agora tem uma em cada esquina e o satanás é mais popular do que eu – pensou Jesus consigo mesmo, com um sentimento amargurado em seu coração.

– O humano ficou mais idiota, imbecil, sagaz, corrupto e finge amar o seu Pai sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Aqui só enxergo hipócritas e fariseus. Os poderosos massacram e os pobres ainda o seguem, submissos como escravos.

Em pouco tempo, Cristo ficou entediado do Brasil e foi correr mundo por aí, mas os estragos da decadência da humanidade estavam por todo lugar. – Estão destruindo a minha terra que tanto amei e me sacrifiquei pela sua salvação – imaginou consigo mesmo, cada vez mais depressivo, decepcionado e macambúzio.

Lá do alto, seu Pai e sua mãe acompanhavam seu sofrimento e tristeza, mas Ele havia insistido em descer aos infernos. Viu as guerras, os conflitos e uns matando cruelmente os outros, sem compaixão. – São todos uns bárbaros em fim de vida, ou imolando a própria vida.

Antes de retornar, Jesus sentiu que pregava num deserto, mas quis pisar em sua terra natal. Encontrou outro inferno maior de bombas ceifando crianças e idosos. Como judeu que foi, chorou lágrimas de sangue quando viu sua própria nação sendo comandada barbaramente por um tirano sanguinário ordenando exterminar os palestinos.

Jesus não se conteve e descarregou toda sua fúria contra o neonazista do holocausto palestino. Foi o bastante para entrar na lista de terrorista perigoso por Israel e Estados Unidos, do Trump. Viu os foguetes rasgando os céus e deixando um rastro de escombros.

Não tardou e logo foi preso e torturado pelos seus próprios algozes que lhe levaram ao calvário da cruz. Aguentou firme sem recorrer ao Pai que afastasse de si aquele cálice. Mesmo com a mente debilitada, lembrou da sua condição para vir à terra.

Como pai é pai, e mãe é mãe, Eles se compadeceram do filho agonizante e enviou um batalhão de anjos antes que ele fosse morto pelas mãos dos carrascos do César judeu “Bibi”, que em seu tempo era Tibérius, o romano. Assim Ele foi salvo e aprendeu a lição, mas veio e viu que a coisa aqui anda de mal a pior. Os humanos que se virem e se matem!

 

 

 

 

PAIXÃO DE CRISTO NO PALCO

(Chico Ribeiro Neto)

Quem já saiu de anjo numa procissão, quando criança, lembra a grande labuta. Aquela roupa branca de manga comprida, um calor retado, e as asas do anjo, ah!, as asas!, sempre entortava uma, e não apontava mais pro céu.

Ninguém queria ser Judas na encenação da Paixão de Cristo no auditório do colégio.

Foi num colégio do Ceará ou de Pernambuco, não me lembro. Mas recordo bem a história que me contaram.

Combinaram fazer uma representação da Paixão de Cristo no colégio estadual da cidade. Durante a encenação, o aluno que fazia o papel de Cristo, sentindo a cruz balançar, virou-se para o bom ladrão e disse entredentes: “Essa zorra vai cair! Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem”. O bom ladrão aconselhou: “Guenta mais um pouco, falta pouco pra acabar”.

“Cristo” aguentou (afinal, já tinha aguentado tanta coisa na vida!) até que sentiu a cruz oscilar com maior intensidade e disse apreensivo ao bom ladrão: “Essa zorra vai cair!” “Guenta mais um pouco”. Não deu outra. PAM! A cruz de “Cristo” caiu pra frente e atingiu até a segunda fila do auditório, ferindo alunos, pais e professores. Com o nariz ensanguentado, “Cristo”, com os pulsos amarrados à cruz, gritava: “Me tirem daqui! Me tirem daqui!”

XXX

 

Li recentemente “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, de José Saramago, e reproduzo o belo parágrafo final do livro:

“Jesus morre, morre, e já o vai deixando a vida, quando de súbito o céu por cima da sua cabeça se abre de par em par e Deus aparece, vestido como estivera na barca, e a sua voz ressoa por toda a terra, dizendo, Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência. Então Jesus compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao sacrifício, que a sua vida fora traçada para morrer assim desde o princípio dos princípios, e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alagar toda a terra, clamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez. Depois, foi morrendo no meio de um sonho, estava em Nazaré e ouvia o pai dizer-lhe, encolhendo os ombros e sorrindo também, Nem eu posso fazer-te todas as perguntas, nem tu podes dar-me todas as respostas. Ainda havia nele um resto de vida quando sentiu que uma esponja embebida em água e vinagre lhe roçava os lábios, e então, olhando para baixo, deu por um homem que se afastava com um balde e uma cana ao ombro. Já não chegou a ver, posta no chão, a tigela negra para onde o seu sangue gotejava”.(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

UMA PARCERIA COM A IGREJA

Não restam dúvidas que a área do Cristo do artista Mário Cravo, na Serra do Periperi, está bem mais apresentável e atraente para os visitantes, mas o mérito não é somente da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista. Lembro que quando era presidente do Conselho Municipal de Cultura (2021/2023) e tivemos uma audiência com a prefeita Sheila Lemos, reivindicando melhorias para a cultura, como a abertura dos equipamentos culturais da cidade, ela anunciou que havia firmado uma parceria com a Arquidiocese e outras igrejas, se não me engano, para realização de obras naquele local histórico, como o mirante e outras benfeitorias. Estive lá no último domingo e observei uma placa onde só consta o nome da executiva, do secretário de Cultura e outras secretarias. Achei estranho não mencionar a dita parceria. É assim que é feita a política no Brasil, de uma maneira vergonhosa, sem transparência e sem escrúpulos. Fora isso, não gostei da sujeira de velas ao pé do Cristo, certamente pelos católicos da Semana Santa. Pensei comigo que se não houver uma proibição, o local pode se transformar numa romaria de fé e promessas. Outra questão é a demora na abertura dos quiosques construídos. O visitante ou turista de fora poderia demorar mais tempo ali se houvesse uma sorveteria, uma lanchonete, umas bancas de acarajé ou até mesmo um restaurante. Quanto ao resto, a vista lá do alto de Conquista é deslumbrante e ainda mais empolgante ao pôr-do-sol. Imagine um bonde ligando o Cristo ao centro da cidade? Ficaria perfeito e maravilhoso.

 

SARAU ENCANTADO

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Vou cortando estrada,

Nesse Sarau Encantado,

Pelo vento do saber,

Onde nasceu o Vinho Vinil

Nesta terra do frio.

 

Nesse Sarau Encantado,

De Vitória da Conquista,

Tem noites etílicas de debate,

Onde só se respira arte,

Causos e histórias,

Violeiros e cantorias,

E declamação de poesias.

 

São quinze anos de estrada,

Nesse Sarau Encantado,

De conquistas e vitórias,

Na troca de conhecimento,

Que até se esquece o tempo,

Quando se vara a madrugada,

De estradeiros na mesma toada.

 

Aqui vai minha louvação,

Para essa longa jornada,

Canto, canto minha canção,

Na paz, amor e harmonia

Na labuta pela cultura,

E pela nossa democracia.

 

Em nosso Sarau encantado,

Vou seguindo minha estrada,

De mãos e braços dados,

Com meus versos improvisados.

ANISTIA TEM O SENTIDO DE IMPUNIDADE

Carlos González – jornalista 

“Sem anistia!”. O pedido é feito pela multidão que acompanha a flagelação e crucificação de Cristo, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém. O cartum,  do desenhista Laerte, publicado na capa da “Folha de S. Paulo” na edição de Sexta-Feira da Paixão, é um apelo, totalmente justificável, que faz mais de 60% da população brasileira a um grupo de deputados que já mostrou,  em diversas ocasiões, que são movidos pelo ódio aos seus adversários políticos. A palavra “anistia”, nos dias atuais, soa como grosseira, obscena, como uma ação inconsequente de uma minoria que atenta contra o Estado Democrático de Direito.

A anistia deve ser “ampla, geral e irrestrita”, assim exige o ex-presidente Jair Bolsonaro, líder do movimento golpista, que visava a derrubada do governo legitimamente eleito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O plano do golpe previa a morte de Lula, do seu vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Uma explicação chinfrim à nação num discurso em cadeia de rádio e televisão, seguida do estabelecimento do estado de sítio, seriam os primeiros atos do novo período ditatorial.

Assistidas por milhões de brasileiros pela TV, as cenas de vandalismo contra as sedes dos três Poderes, na tarde de 8 de janeiro de 2023, significaram uma das etapas do plano traçado pelos líderes golpistas. O jogo teve que ser interrompido porque o time titular não entrou em campo – a tropa permaneceu nos quartéis, indiferente às prisões de centenas de “civis patriotas”, os autênticos “buchas de canhão”, expressão que usávamos no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR).

Antes dos atos terroristas, marcharam como idiotas na frente dos acampamentos, vestindo a camisa amarela desbotada da Seleção, usando, criminosamente, a Bandeira Brasileira como se fosse um pano de chão.

Às vésperas de se tornar um presidiário – nos anos 80 passou 15 dias detido numa unidade do Exército, por ter reclamado do soldo que recebia -, Bolsonaro foi chamado de “mau militar” pelo general Ernesto Geisel na entrevista  concedida aos historiadores  Maria Celina de D’Araújo e Celso Castro. Na ocasião, Geisel procurava com os líderes no Congresso Nacional uma fórmula para entrega do poder aos civis.

Inconformado com o fim das sessões de tortura, Bolsonaro planejou colocar bombas, que ele mesmo fabricaria, na Vila Militar, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e na represa do Guandu, sistema crucial para o abastecimento de água potável do Rio de Janeiro. A culpa pela tragédia, abortada em tempo, seria colocada sobre os adversários da ditadura, chamados de comunistas, atentados que, sem dúvida, estenderia o regime autoritário, por tempo indeterminado.

Dividir o pão com aqueles que têm fome; preservar a Amazônia; proteger o imigrante; abraçar a inclusão social; combater os preconceitos; condenar as guerras e o extermínio do povo palestino pelo exército de Israel, são atos e gestos que personificam aqueles que promovem uma sociedade mais justa e igualitária. Na cartilha dos bolsonaristas, os que agem ou pensam dessa forma são comunistas, ideologia atribuída até mesmo ao Papa Francisco, cujo falecimento foi comemorado por facções golpistas. Quanto aos neopentecostais, seus pastores e bispos adotam como padrão a Teologia da Prosperidade. São chamados de mercadores da fé. Pregam a ideia de que se deve buscar a riqueza,  o que eles conseguem, à custa das doações dos incultos e pobres seguidores.

Qual o interesse das igrejas neopentecostais em se aliar a um grupo político, de extrema direita, conservador e preconceituoso?  A resposta foi dada há 11 anos num artigo publicado pelo reverendo Carlos Eduardo Calvani, da Igreja Anglicana no Brasil. “Não nos iludamos. Os evangélicos têm um projeto de tomada do poder”, revelou Calvani, citando como orientadores Malafaia, Feliciano, Macedo e Soares. O sobrenome Messias deve ter influenciado na escolha do candidato ao Planalto. Membro de uma família católica italiana do interior paulista, Jair trocou, por conveniência, de religião, recebendo o batismo nas águas do rio Jordão, em Israel.

Pastores em todo o país foram orientados a obter os votos necessários junto às suas “ovelhas”, que os levariam – desafio a quem achar um membro da Igreja Católica na política – a ocupar cadeiras nas casas legislativas. A tarefa foi fácil. Na lista dos deputados que pedem urgência na tramitação do projeto de anistia há pastores, generais, coronéis, além de um vampiro, do PL capixaba. Com um substancial currículo criminoso, o capitão expulso de Exército deve encabeçar a lista daqueles que pedem perdão. Não será surpresa se forem incluídos nessa relação os pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Miranda, condenados a 21 anos de prisão pelo estupro e assassinato do menor Lucas Terra, crime ocorrido em Salvador, em 21 de março de 2001. Os criminosos estão em liberdade aguardando novo julgamento, protegidos pela Igreja Universal (IURD).

Filiados aos partidos Liberal (PL), União Brasil, Progressistas (PP). Republicanos e Avante, 10 deputados baianos, com suas assinaturas na lista, apoiam a impunidade. São eles: Alex Santana, Capitão Alden, Márcio Marinho, Pastor Isidório, Roberta Roma, João Carlos Bacelar, José Rocha (há 47 anos no Congresso em defesa dos dirigentes da CBF), João Leão, Cláudio Cajado e Leur Lomanto Júnior.

A senilidade não permitiu ainda que Lula vislumbrasse qualquer ameaça no horizonte. Seus líderes no Senado e na Câmara dos Deputados não se dispuseram a frear o movimento que exige o perdão para os golpistas. Entre os 264 parlamentares que assinaram a lista, 146 fazem parte, de alguma forma, da base do governo, ocupando inclusive ministérios. O presidente aumentou para 39 o número de ministérios para poder abrigar todos os partidos, exceção ao PL, e os seus ambiciosos membros.

 

 

 

O LAUDÊMIO É UMA TAXA TIPO “JABUTI” IMORAL COBRADO PELA IGREJA

O professor Durval Menezes me induziu, ou melhor, me estimulou a falar um pouco sobre a cobrança da taxa chamada laudêmio pela Igreja Católica todas as vezes que você faz a compra de um imóvel em Vitória da Conquista, o que é um absurdo.

Fiz alusão a essa taxa “Jabuti” em meu comentário de ontem (dia 20/04/25) “Na Espera de um Novo Papa”, e o mestre me provocou. É uma polêmica que já perdura há cerca de 200 anos em Vitória da Conquista. Somos obrigados a engolir mais essa escorcha capitalista herdada dos tempos coloniais.

Laudêmio é uma taxa cobrada pela União em transações de compra e venda de imóveis localizados em áreas de aforamento, como terrenos da marinha que estão em regiões litorâneas. A taxa varia de 2,5 a 5% do valor do imóvel e surgiu quando o Brasil ainda era uma colônia de Portugal.

Como se vê, não é o caso de Vitória da Conquista, mas aqui nós temos o laudêmio da Igreja Católica, paga pelo comprador de um imóvel, que funciona como uma compensação financeira que permite a transferência do domínio útil do bem para um novo proprietário. Ela é legal, constitucional ou não passa de um abuso imoral?

Com a palavra os advogados e o poder judiciário, mas na minha modesta visão fico com o abuso de enriquecimento ilícito. Gostaria de saber para onde vai toda essa dinheirama arrecadada, que não é pouca coisa, pois todos os dias existem dezenas desse tipo de comercialização nos cartórios?

Durval nos auxilia sobre essa questão dizendo que a taxa não se refere apenas quando se compra uma casa ou apartamento, mas também na transação de terrenos em Conquista. Se a pessoa compra, paga o laudêmio e se depois vender, quem adquirir é obrigado a desembolsar novamente a taxa, cujo valor varia de acordo com o preço do imóvel – destacou o professor. Isso pode ser uma ou 100 vezes. É um tipo de imposto replicado que não se acaba nunca.

Em seu livro “Os Coronéis da Conquista”, Durval escreve um capítulo onde se reporta sobre essa taxa do laudêmio, com base no argumento levantado pelo advogado Evandro Gomes que questionou esse abuso na justiça. De acordo com Evandro, a Igreja Católica jamais poderia ter direito a essas terras do “Sertão da Ressaca”. Elas não foram doadas à Igreja Católica pelo rei de Portugal porque pertenciam aos índios, os legítimos donos.

Na verdade, a doação foi feita pelo fundador da cidade João Gonçalves da Costa a uma Casa de Oração, sem a autorização do rei. Portanto, se a doação foi irregular, pela lógica o mesmo ocorre com a taxa que permanece até hoje, consentida pela justiça e os órgãos públicos que devem abocanhar uma parte desse bolo.

Essa doação à Casa de Oração, segundo pesquisa realizada por Evandro Gomes, foi feita por volta de 1814/15 num tabelionato e não tinha nenhuma validade e representação jurídica, mesmo porque João Gonçalves não era o verdadeiro dono.

Para Evandro Gomes, a cobrança do laudêmio é totalmente irregular. Lembro que quando atuava na Sucursal do Jornal A Tarde, levantamos uma matéria sobre este assunto onde se criou uma grande polêmica entre a população e os defensores da Igreja Católica.

Acontece que o tempo passou e não se tratou mais do assunto. O protesto e a revolta contidos só aparecem quando alguém adquire um imóvel e, entre os impostos pagos à Prefeitura Municipal, lá aparece o “jabuti” do laudêmio. O corretor de imóvel apenas afirma que se a taxa não for paga, não sai o documento de escritura do imóvel.





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