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:: 1/maio/2025 . 23:49

AMOR, ABACATE E JORNAL

(Chico Ribeiro Neto)

Menina de uns 4 anos, braço esquerdo engessado, grita para a mãe: “Mamãe, eu te amo, você me ama?”

A mãe, dona de uma barraquinha em Stella Maris, está cortando cocos e colocando-os no gelo. A menina insiste: “Mamãe, você me ama?” E a mãe, completamente suada da tarefa, responde: “Amo, sim, mas só quando eu tenho tempo”.

XXX

O mundo era outro lá de cima do pé de abacate do quintal da casa da Rua 2 de Julho, 25, em Ipiaú, Bahia. As galinhas ficavam menores e os pintos a gente nem via. Da última galha dava pra ver, por cima do muro, um pedaço do Rio de Contas. “Ê vontade de dar um mergulho!” Dava pra ver o quintal todo de uma vez, e pra cima só tinha o céu. “Desce daí, menino!”

Dava pra ver o quintal do vizinho que todo sábado matava um porco pra vender na feira. Via também o triângulo desenhado no chão para se jogar gude. Tinha a gude “dedeira”, aquela que acertava todas.

Tem que ter um pé de abacate no céu.

XXX

NOTÍCIAS DA VIDA

(de 1985)

O convívio do jornalista com o factual torna-o mais habituado às tragédias, do mundo e dele mesmo. Lidando com o perecível – pois geralmente uma notícia de jornal dura apenas 24 horas – o jornalista costuma editar sua própria vida pautado no princípio de que tudo muda. E então, no meio do sofrimento da perda do amor de ontem é necessário preparar a edição de amanhã.

Também diante da morte este sentimento do perecível toma corpo. Tendo, diariamente, às mãos os mortos dos vietnãs, terremotos e enchentes, ele adquire uma maior aceitação da morte diante do rosto de um amigo morto. Até que sua vida se torne uma edição de ontem.

E o humor também nasce daquele perecível que é a notícia. Impossível imaginar uma Redação de jornal fria e carrancuda. Noticiar os homens e sua vida torna-nos risonhos. De dentro da Redação, este núcleo da notícia do mundo, pequeninos olhos brotam de dentro da máquina de escrever para espiar o que acontece lá fora. E o sorriso é inevitável.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

 

 

SEM ESSA DE “SUÍÇA BAIANA”

É até ridículo e motivo de chacota ficar chamando Vitoria da Conquista de “Suíça Baiana”, uma cidade nordestina sertaneja onde a maior parte do seu território é semiárido e está sempre sofrendo as intempéries da seca, sem falar na pobreza e os altos índices de desigualdade humana, como em todo Brasil. Pior ainda é quando essa denominação é endossada pela mídia local. Recentemente venho observando um aumento de mais pedintes e ambulantes no centro da cidade, sem falar em crianças vendendo balas e doces nos semáforos, o que significa mais pessoas desempregadas que vivem na informalidade. Em minha opinião, chamar Conquista de “Suíça Baiana” é até uma insanidade mental que serve de piada lá fora. Uma “Suíça Baiana” que não tem nem um voo direto para sua capital Salvador. Uma “Suíça Baiana” onde as unidades de saúde são precárias e sempre faltam médicos nos postos. Uma “Suíça Baiana” onde o fornecimento de água pode entrar em colapso se houver uma estiagem mais prolongada porque há quase 20 anos se promete construir uma barragem e o projeto está emperrado. É uma grande cidade, a terceira maior da Bahia com quase 400 mil habitantes, com um desenvolvimento avançado, mas está muito longe de ser uma “Suíça Baiana”, nem no quesito frio, cujas temperaturas mais baixas chegam a 5 ou 7 graus. Nem existe neve na Serra do Periperi. Me dá uma gastura por dentro quando ouço esse papo de “Suíça Baiana”. Trata-se de uma crítica construtiva e de preservação da nossa imagem.

CICATRIZES!

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Cada um tem suas cicatrizes,

Com o tempo que passa

Sorrateiro e matreiro,

Deixando suas marcas,

Umas estreitas e outras largas,

Até de passados ancestrais,

Visíveis de riscos faciais,

Por dentro espirituais,

Assim carregamos

Todos nossos sinais,

Feias e belas,

Vermelhas e amarelas.

 

Cicatrizes!

São como raízes

Germinadas da terra,

Que em vida crescem,

Com vários sabores:

Dão espinhos e flores

E mesmo depois da morte

As ruins apodrecem

E as boas permanecem.

 

Cicatrizes!

São como nossas varizes,

Muitas do corpo se tiram,

Mas, as da alma ficam;

Têm as guardadas do amor,

Aquelas adormecidas da dor:

Sombras dos medos,

E as dos eternos segredos.

 

Cicatrizes!

São como digitais,

Onde não existem iguais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





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