Histerias, gritos, choros, pulos, exaltações, delírios e correrias nas ruas de Roma e na Praça do Vaticano, numa profusão de emoções, todos como súditos fiéis misturados em nacionalidades diferentes para verem o novo Papa Leão XIV, cujo nome simboliza rei e poder.

Os termos e as imagens televisivas nos dão a impressão de que entramos no túnel do tempo da idade média imperial dos reis que apareciam da sacada de seus palácios para saudar seus plebeus e por eles ser idolatrado como um enviado de Deus.

As pessoas ficam tão empolgadas, muitas por ignorância e outras por viverem numa época tão conturbada, desumana e sem esperanças, que acham que o novo papa vai acabar com as guerras, com a violência e os conflitos humanos.

Em muitas civilizações, todos faziam reverências e se ajoelhavam diante da sua majestade “divina”. Não foi o caso, mas só faltou esse gesto da multidão eufórica durante os três atos da fumaça branca, do habemus papam e da aparição do escolhido (Pai, Filho e Espirito Santo) pelo conclave (sem chaves) dos velhos cardeais.

Após ser indicado, o cardeal decano indaga “quo nomine vis vocari”? Robert Francis Prevost respondeu Leão XIV, em admiração ou vontade de ruptura com o seu predecessor Leão XIII, agostiniano que esteve à frente da Igreja Católica por 25 anos, entre 1878 a 1903.

O nome Leão, que em latim significa Leo e em italiano Leone, compreende rei, poder e aquele que governa sobre os outros. Na Bíblia, Leão de Judá seria o Messias Salvador que unificaria todas as nações. Leão I, o Grande, governou nos anos 440 a 461. Ele foi um defensor das doutrinas cristãs durante as invasões bárbaras e teve um encontro com Átila, o Huno, e convenceu o líder tirano a poupar Roma.

O Leão XIII, o italiano Vicenzo Giocchiino Rffaele Luig, para quem ainda não sabe, apoiou o fim da escravidão no Brasil e tinha um forte compromisso com os desafios do mundo moderno pós revolução industrial. Morreu com 93 anos e foi o segundo mais velho da história papal. Seu reinado foi o quarto mais longevo.

Conta que Leão XIII certa feita foi acometido de visões de espíritos demoníacos do satanás, reunidos sobre Roma que prometiam destruir a Igreja e levar o mundo ao inferno. Esses espíritos teriam desafiado Deus a recuar por 100 anos. Foi então que Leão XIII criou a oração de São Miguel Arcanjo para espantar os demônios. Dizem que essa oração defende as almas das forças malignas.

O nosso Leão XIV pertence à Ordem de Santo Agostinho, um grande filósofo e teólogo da Igreja que nasceu em Togasto, na Argélia, em 354 e morreu em 430. Santo Agostinho é padroeiro dos cervejeiros, impressores e teólogos. Foi doutor da Igreja pelo Papa Bonifácio VIII, em 1298. Durante sua vida monástica, escreveu “Confissões”, “A Cidade de Deus”, dentre outras obras doutrinárias. Seu dia é comemorado em 28 de agosto.

Essa Ordem foi criada em 1244 pelo Papa Inocêncio IV (1195-1254). Eram frades medicantes que fizeram votos de pobreza e sobreviviam de doações. A Ordem segue a linha de pensamento de Santo Agostinho e se dedica às orações e aos estudos. Ela está presente em 50 países e conta com cerca de dois mil religiosos.

Bem, o novo papa começou seu discurso, em sua primeira homilia, defendendo uma Igreja aberta para os pobres e trabalhadores, contra as injustiças sociais e rogando pela paz no mundo.  Nos tempos modernos de hoje, essas posições, além da defesa do meio ambiente, não mais bastam para caracterizá-lo como um progressista.

Com esses pontos de vista e pelo seu perfil, o Leão XIV deverá prosseguir na caminhada do Papa Francisco, mas, no sentido interno dos dogmas da Igreja, entendo que será um moderado, mais de viés conservador e até linha dura em determinadas questões no que se refere a mulher e aos grupos LGBTS.

Não devemos esperar muito do Papa Leão XIV quanto a uma maior abertura e diálogo da Igreja com esses gêneros nos quesitos casamento gay e até na elevação feminina ao sacerdócio, como vinha ensaiando o Papa Francisco, mesmo sofrendo resistência dos conservadores. Será um papa fechado nessas relações mais complexas onde a Igreja ainda permanece arcaica e distante das mudanças do mundo atual.