:: ‘De Olho nas Lentes’
A EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA
Quando só se fala agora em inteligência artificial (o homem está cada vez mais se desumanizando, ultrapassando a linha do perigo), a evolução tecnológica é perceptível em todos setores da vida e atinge mais ainda as artes, como a fotografia, o cinema, o audiovisual, as artes plásticas e outras diversas linguagens do nosso cotidiano. No Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima quase ninguém mais observa e reflete sobre aqueles projetores antigos pesados responsáveis por transmitirem as imagens cinematografadas pelos cineastas. Sem os velhos projetores, não tinha como passar os filmes para os telespectadores. Hoje são pequenos projetores menores, bem mais evoluídos e sensíveis encarregados de jogarem as imagens nas telas. Não existem mais aqueles grandes rolos de filmes. A evolução tecnológica está em tudo, mas as velhas profissões ainda resistem ao tempo, como do sapateiro, do alfaiate, do ferreiro, do amolador de facas, do relojoeiro, dentre outras. Na literatura, o livro de papel nunca vai se acabar, mesmo com a invenção da internet que criou o e-book.
A INVASÃO DA SERRA
Por muitos anos, principalmente a partir das décadas de 60 e 70, com a abertura da BR-116 (Rio-Bahia) e a implantação do polo cafeeiro, a Serra do Periperi, em Vitória da Conquista, foi sendo invadida por moradores de várias partes da região e do estado na busca de trabalho e melhorias de vida. Foi quando aconteceu o maior êxodo rural. Sem qualificação profissional e, consequentemente, de baixo nível de poder aquisitivo, essas pessoas pobres foram invadindo a serra, da encosta até o seu topo, provocando um grande impacto ao meio ambiente. Sem ocupação fora das colheitas do café e na falta de políticas públicas sociais, a maioria foi utilizada pelo setor imobiliário para explorar materiais da serra, como pedras, areias e cascalhos. Esse ciclo de exploração e degradação da serra somente foi estancado em meados dos anos 90 para início dos anos 2000 quando um decreto municipal tombou a Serra do Periperi. Acontece que o estrago já está feito e vários locais se tornaram irrecuperáveis, sem falar que a extensa área perdeu vários olhos d´água e minações que sustentavam a natureza. Por causa da depredação do homem (o maior culpado foi o poder público), quando chove forte, as ruas e avenidas de Conquista recebem uma grande quantidade de detritos que entopem bueiros e alagam o centro da cidade acarretando incalculáveis prejuízos e até acidentes graves.
LOJISTAS DE RUAS
No Brasil e em outros países também, cada um se vira como pode. Nas esquinas, nos semáforos, ruas e avenidas sempre nos deparamos com lojas de móveis, como cadeiras, mesas, sofás, objetos de decoração, estofados, banquinhos e até louças e pratarias, sem falar em artesanatos diversos. Muitos são viajantes ambulantes que rodam o Brasil em caminhões comercializando móveis por onde passam. A maioria desses comerciantes é do Nordeste que se aventura para sobreviver porque não tem condições de montar seu próprio estabelecimento fixo. Essas pessoas trabalham na informalidade para se livrar da burocracia do Estado que é pesada. Esses “lojistas de ruas”, apesar do desconforto que levam na vida, eles levam como vantagem vender seus produtos por preços mais em conta e ainda têm uma boa pechincha a oferecer. Não deixam de ser aventureiros. Como se diz no popular, é o jeitinho brasileiro de ganhar a vida. Nossas lentes flagraram um desses lojistas temporário instalado na Avenida Filipinas, no semáforo da Rua Ulisses Guimarães, próxima do Hospital de Base.
GALERIA VAZIA
Existem certos locais onde os negócios não conseguem funcionar por muito tempo. Um desses espaços em Vitória da Conquista é a Galeria Dom Climério onde, às vezes no ano, os boxes estão ocupados e logo voltam a ficar vazios. Atualmente só está funcionando uma loja da própria Arquidiocese e outra de informática, xerox e encadernações de apostilhas. Qual explicação para as empresas que ali se instalam demorarem pouco tempo de vida empresarial? Falta uma boa administração do prédio? E olha que a galeria por ser bem central tem uma boa movimentação de gente entre as ruas Zeferino Correia (próximo da Praça Tancredo Neves) e a rua coronel Gugé, na Câmara de Vereadores. Existe alguma coisa de errado. Nossas lentes flagraram muitas placas de “Aluga-se” e o corredor vazio.
O JARDIM JAPONÊS
Ainda no Jardim Botânico, o portal da paz de espírito que separa a selva de pedras e a violência da Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro, conforme nos mostra a foto que brotou das minhas lentes. No final do passeio, tragado pela natureza, me deparei com o Jardim Japonês e duas crianças que pegavam a água com as mãos para encher as copas de uma planta, tendo ao lado uma verdadeira tenda daquele país de cultura oriental lá nos confins da Ásia. A cena dos meninos me fez lembrar a fábula do beija-flor que pegava água do mar com o bico para apagar um incêndio. Um animal ficou espantado com aquela atitude e disse que o pássaro jamais iria apagar o fogo com aquelas gotículas de água, se nem os bombeiros dariam conta do tamanho das labaredas que avançavam. Simplesmente o beija-flor respondeu que estava fazendo a sua parte. Bem, a moral da história todos sabem e pode ser aplicada em qualquer circunstância da vida, como na paz, na solidariedade para com o outro, no espírito da coletividade deixando de ser individualista e tantas outras formas de ajuda. Se cada um fizer a sua parte no bem, o planeta será outro bem melhor do que este em que vivemos, cheio de mentiras, calúnias, atrocidades, ódio, intolerância e egoísmo.
AS PALMEIRAS E O PAU-MULATO
É muito prazeroso curtir o Jardim Botânico, fundado por D. João VI, no Rio de Janeiro, como apreciar as palmeiras imperiais, cenário de muito filmes e novelas. Todo Jardim lhe traz uma paz de espírito, principalmente quando se sai da selva de pedras e se entra na selva da natureza. Você esquece todos os problemas da sua vida e do resto do mundo que lá fora “pega fogo”, muitas vezes literalmente nos países do Norte com até 50 graus, como vem ocorrendo agora. Ainda bem que ainda nos restam locais de preservação que lhe fazem refletir sobre a destruição que o homem desumanizado vem provocando na natureza. As palmeiras imperiais são imponentes como também o chafariz das marrecas, tendo ao lado a floresta do Pau-Mulato que confesso ser uma espécie para mim desconhecida. A natureza é pródiga, mas o ser humano é um predador. Nesses pontos e em outros, vale a pena dar uma parada e clicar sua máquina para registrar esses momentos mágicos do Jardim Botânico. Se você for à Cidade Maravilhosa, de Tom Jobim, nunca deixe de conhecer essas belas paisagens, mesmo que já tenha visitado. É um bálsamo para sua alma que fica mais leve.
DEMOLIRAM O PRINCIPAL
O Conselho Municipal de Cultura de Vitória da Conquista foi contestado pela divulgação de uma nota, neste final de semana, de repúdio pela derrubada do Instituto de Educação Euclides Dantas, mais conhecido como Escola Normal, localizado na Praça Guadalajara. Na verdade, não foi todo o colégio, mas demoliram sim a principal parte que são os arcos arquitetônicos que simbolizavam a marca da Escola Normal, idealizada pelo professor Anísio Teixeira.
Além dos arcos que se foram do nosso imaginário histórico que identificavam a instituição na cidade, destruíram o auditório onde eram realizados eventos escolares e atividades culturais, como shows musicais, peças teatrais e até mostras de cinema. Então, demoliram o mais importante de significativo que retratava o Instituto. Esta marca de Anísio Teixeira só existe agora a da Escola Parque, em Salvador.
Foi como se cortasse a cabeça de um ser humano, restando apenas o corpo, para depois se fazer uma reforma que irá totalmente descaracterizar o formato arquitetônico do prédio que já estava incorporado na paisagem do local, no caso a Praça Guadalajara. O Instituto de Educação, pertencente ao estado, foi inaugurado em 1952 no governo de Régis Pacheco.
A INVASÃO DOS GAFANHOTOS
Vitória da Conquista, a capital do sudoeste baiano, segundo a última pesquisa do IBGE, tem cerca de 370 mil habitantes. Em termos de veículos em dias úteis da semana quando a cidade recebe gente de vários municípios da região, fala-se em 150 a 200 mil. Confesso que não sei o número de motos (o núcleo do Detran deve ter esses dados), mas houve uma invasão significativa desse meio de transporte nos últimos anos, os gafanhotos, com a consequente elevação de mortes e acidentes no trânsito, provocados, na maioria das vezes, pelos próprios condutores que não respeitam os sinais, principalmente os semáforos. Já vi muitas vezes, fora do centro, onde não existe o radar das câmaras, esses “gafanhotos motoqueiros” invadirem o sinal vermelho. No trânsito, eles cortam de todos os lados, costuram e aparecem repentinamente em seu retrovisor. É um tremendo susto! Na maioria das vezes, os motoqueiros culpam o motorista de quatro rodas e juntos pulam em seu cangote como se fossem “gafanhotos”, esbravejando e lhe xingando. Querem lhe bater. Nem sempre a culpa é do veículo grande. Certa vez um passou por mim na contramão e arrebentou o retrovisor do meu carro. Sumiu na poeira. Não estou aqui incentivando a intolerância no trânsito, mas os motoqueiros precisam ser mais prudentes e conscientes, e não somente colocar a culpa nos veículos maiores. Com o crescimento acelerado da cidade, está ficando cada vez mais difícil dirigir em Conquista. Imagine quando chegar a 500 mil habitantes. Tem que haver um melhoramento na infraestrutura urbana para acompanhar esse aumento populacional, com mais carros e motos rodando nas ruas. Como diz a ciência: Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço.
AS CANETAS E O SABER
Nos tempos primitivos, há milhões de anos, o homem rabiscava nas cavernas suas pinturas, usando tintas vegetais e até o sangue de animais, com os dedos ou “pinceis” da madeira e penas de aves, que expressavam suas linguagens sobre a vida na terra. Depois vieram as escritas em cerâmicas e pergaminhos que contam as origens da nossa história. Os tempos foram se evoluindo desde o homem sapiens até chegarmos às canetas, símbolos do saber. Os mais velhos se lembram das conhecidas penas e tinteiros nas salas de aula onde os jovens estudantes sempre saiam sujos com as camisas respingadas de tintas, sem falar nas provas borradas que os professores davam bronca. Vieram logo depois as benditas canetas (a famosa big) que foram se evoluindo com a sofisticação da indústria e hoje temos as mais diversas nas papelarias (até banhadas de ouro) e nunca vão deixar de existir mesmo com o advento da tecnologia virtual da internet. A assinatura tradicional ainda é a mais confiável, não importando o tipo de caneta, que já foi e ainda é instrumento de aplicar sentenças, atestar documentos, promissórias, tratados e convenções, bem como rascunhar um poema ou um pensamento enquanto viaja dentro de um ônibus e até numa mesa de bar quando brota a inspiração. Portanto, caneta também significa ter o saber porque o analfabeto (não quer dizer que ele não possua a sabedoria oral) simplesmente usa as digitais para provar sua identidade existencial. Quem é fascinado por canetas, e existem muitos colecionadores delas por aí, pode visar o nosso Museu Padre Palmeiras de Vitória da Conquista.
NOSSO SARAU TEM HISTÓRIA
Nas lentes das máquinas fotográficas e dos celulares, nos debates de diversos temas, no bate-papo fraternal e acalorado, nas contações de causos, nos casos de pessoas que aqui pernoitaram, nas pessoas que já partiram para o outro lado do além ou para a outra margem do rio, nas declamações de poemas, nas cantorias dos violeiros, nos amores encontrados e nas madrugadas comendo e bebericando, o nosso “Sarau A Estrada”, que já está completando 13 anos (ficou dois anos parado por causa da pandemia da Covid-19), tem muita história para se contar. Daria para se fazer até um documentário com seus personagens, uns polêmicos e outros até engraçados. Tudo começou em 2010 num encontro de amigos entre Jeremias Macário, Manno di Souza e José Carlos D´Almeida quando pintou a ideia de reunirmos um grupo somente para ouvir vinis e tomar vinho. Assim surgiu o “Vinho Vinil”, com o Pérgula e o Dom Bosco. Dessa turma de fundadores, outros amigos foram se incorporando e o formato foi se modificando e se ajustando para até chegar ao “Sarau A Estrada”, tendo como abertura dos trabalhos um temo escolhido democraticamente. O evento é realizado no Espaço Cultural A Estrada. Tem os frequentadores assíduos do tipo professor Itamar Aguiar até gente nova que sempre aparece em nossos encontros. A maioria é composta de artistas. Tem muito mais coisa para contar, mas o que fica de eterno são as trocas de ideias, de conhecimento e aprendizagem. Muitos já dizem que o sarau já é de fato de utilidade pública e que já poderia ter recebido homenagens, reconhecimento e moção de aplausos da Câmara de Vereadores e outras entidades pela sua persistência em continuar existindo. Ah, ia quase me esquecendo de dizer que o sarau é colaborativo onde cada um traz petiscos, comidas e bebidas. É uma muvuca organizada e sadia.