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:: ‘De Olho nas Lentes’

LÁ SE FOI NOSSA HISTÓRIA

Muitos falam que não devemos olhar para o passado, mas construir o presente pensando no futuro. Na vida humana espiritual até se compreende, de certa forma, mas quando se trata da nossa história material, é como se a pessoas deixasse de ter sua identidade como referência. É o caso de Vitória da Conquista que destruiu, ao longo dos anos, praticamente todo seu patrimônio arquitetônico do centro, chamada de Rua Grande (Praça Tancredo Neves, Barão do Rio Branco e imediações, como a atual Praça Nove de Novembro). A 9 de Novembro (data que se celebra a emancipação de Conquista), por exemplo, no início do século XX era cercada de bares e lojas antigas. Além dos coronéis e jagunços que frequentavam a vida noturna, ali foi palco de muitos carnavais com seus blocos que deixaram saudades. Na Barão do Rio Branco existiam os casarões antigos e um barracão que servia de rancho para tropeiros (hoje é a primeira Igreja Batista). No centro da praça, um prédio com bares, lanchonetes, sorveteria e uma área de parada de ônibus. Tudo isso foi a nossa memória, simplesmente derrubada para dar lugar a edifícios modernos, como Banco do Brasil, do Nordeste, Caixa Econômica Federal, hotéis e empresas. Hoje é um amontoado de carros soltando gases tóxicos e poluição visual com um emaranhado de fios. Conquista é uma cidade de mais de 300 mil habitantes, a terceira maior da Bahia, que não tem entro histórico para mostrar ao visitante que chega.

O PASSARINHO

Na chegada do estacionamento do Centro Cultural Oscar Niemeyer, na arborizada Goiânia, quando lá estive em março, fui agraciado pela benção do cantarolar de um pássaro (não sei seu nome) e bateu em meu peito o desejo de ser um passarinho, talvez na inspiração do poeta.  Como ele não parava de cantar, resolvi abrir o diafragma da minha máquina e clicar o divino solitário num galho de árvore. “Atravancando meu caminho. Eles passarão… Eu passarinho”, de Mário Quintana, poeta gaúcho de Alegrete, no estado do Rio Grande do Sul, que vive hoje sua pior calamidade de inundações da sua história. Aqueles que atrapalham a vida do eu lírico serão passageiros. Me afastei e ele continuou com seu canto mágico, talvez a chamar sua companheira ou companheiro de voo. Nas grandes cidades, as pessoas andam tão atribuladas e preocupadas com seus problemas para resolver no dia a dia, que nem escutam o canto dos pássaros. Aqui em meu quintal ainda tenho o privilégio de suas companhias entre as árvores e plantas, como do beija-flor que está sempre a bater suas assas e com o bico alimentar o néctar das flores. Muitas vezes chegam a entrar em meu alpendre numa visita de cortesia.

“ENTENDEU”?

Continuo a insistir que os maiores focos dos mosquitos da dengue, em Vitória da Conquista, a cidade com maior índice da doença na Bahia, estão nas ruas de chão, nos esgotos a céu aberto, nos terrenos “abandonados” cheios de lixo e matagal, nas oficinas abandonadas que se transformaram em sucatas e outros pontos das periferias que ficam alagados quando chove. Parem de colocar a culpa somente nos moradores. Mande, senhora prefeita, fiscalizar e punir, conforme determina a lei, os donos de terrenos que não cercam e nem limpam suas propriedades; intime a Embasa a consertar e desentupir os esgotos; e os donos de oficinas a limpar suas áreas. Entendeu, senhora prefeita? A situação é grave com muita gente doente e hospitalizada, sem contar as mortes. Existe um motivo maior para Conquista ter esse alto índice epidêmico de dengue. Entendo que o poder executivo é o maior culpado. Entendeu, senhora prefeita? Fora do centro, é difícil não encontrar uma rua ou avenida que não tenha um matagal que serve de lixeira de sacos plásticos, garrafas, pneus e outros objetos que acumulam água e servem de criadouros das larvas dos mosquitos. Entendeu?

JARDIM BOTÂNICO MEDICINAL

Do mesmo porte de Vitória da Conquista, a cidade de Anápolis, em Goiás, nos causa inveja em termos de arborização, como o Jardim Botânico Medicinal, um extenso parque ao lado e outros locais de lazer para todas as idades. Sem comparar com o nosso Poço Escuro, escondido lá num canto do Bairro Guarani onde ainda se joga lixo na mata e pouco frequentado por falta de segurança, o Jardim Botânico Medicinal é limpo, cheio de trilhas, conta com uma boa estrutura de atendimento e é bastante visitado por moradores e turistas em qualquer hora do dia e nos finais de semana. Aqui, o acesso ao Poço Escuro é horrível e inseguro, tanto que poucos   conquistenses conhecem o local. Quando chega um turista amigo de outra cidade e estado, você fica até com receio de levar a pessoa para uma visitação. Visitei vários pontos de entretenimento e lazer, em Anápolis, e não tem como não lembrar de Conquista que ainda deixa muito a desejar nos itens de melhorias no quesito urbanização e infraestrutura para receber gente de fora. Pelo seu porte como terceira maior cidade da Bahia, o Cristo da Serra do Periperi, a Lagoa das Bateias (mesmo com as obras de limpeza) e o Poço Escuro carecem de mais serviços de melhoramentos que atraiam os turistas com segurança e sejam pontos de destaque e atração da cidade. Na verdade, em Conquista de hoje, só temos como cartão postal o Museu de Kard, que é particular, e deixa o turista encantado com tantas obras importantes do nosso amigo Alan Kardec. Conquista pode se orgulhar desse museu, que é o maior a céu aberto do Norte e Nordeste e não tem nenhum apoio do poder público.

OS TERRENOS E A DENGUE

Não acredito muito nessa de que a maior parte do mosquito da dengue esteja alojada nas casas de Vitória da Conquista, a terceira maior cidade da Bahia com maior índice da doença e de mortes. Não tenho dados científicos que comprovem, mas entendo que grande parte das pessoas é picada pelo mosquito nas ruas onde o bicho mais encontra moradia. A maior parte está nos terrenos abandonados, como este localizado na rua Veríssimo Ferraz de Melo (Rua “G”), no Bairro Felícia, com um matagal de capim de quase dois metros de altura. Só nesta rua, num espaço de 50 metros, existe mais outro na esquina da Avenida Felícia. Além dos terrenos abandonados que se tornaram lixeiras em toda cidade, existem ainda os esgotos abertos, o empoçamento de águas nas ruas de chão e locais de oficinas velhas que viraram sucatas de peças de veículos. É a partir desse quadro de sujeiras que afirmo que o maior culpado por essa epidemia em Conquista é o poder público que não fiscaliza e não faz cumprir a lei que exige que os proprietários de terrenos cuidem de seus imóveis, mantendo-os limpos, cercados ou murados. Essa imagem clicada pela nossa máquina é apenas um exemplo entre centenas e até milhares de terrenos nesse estado lamentável em nossa cidade, onde são criadouros de mosquitos de todas as espécies, insetos, ratos e cobras. Sem uma operação de limpeza geral desses terrenos, desentupimento e consertos dos esgotos em conjunto com a Embasa e pavimento das ruas esburacadas que viram lamaçais com as chuvas, não adianta carros fumacês. O poder público (município, estado e União) estão gastando milhões com a saúde, recursos que deveriam ser evitados se antes tivesse tomado essas providências. É uma vergonha Conquista ocupar o topo dessa epidemia na Bahia.

 

SOJA NA CIDADE

Poderia ser uma fazenda de feijão (o Brasil ainda importa mais da metade do seu consumo), que está sempre no cotidiano da mesa dos brasileiros, mas a foto que saiu das lentes da minha máquina é uma grande produção de soja nos limites de vários bairros de Anápolis, em Goiás, o que significa que o visitante ou turista da cidade não precisa ir muito longe para conhecer essa cultura, tão cultuada pelo grande agronegócio porque ela rende dólares no exterior e não reais. Todos sabem que o nosso país ainda é uma colônia, principalmente quando se apura o resultado da balança comercial, isto é, exportação versos importação. Este item é sempre superavitário a favor das exportações porque o maior peso está nas matérias primas, como grãos agrícolas, carnes, petróleo cru, ferro e outros metais. Como forma de dar dimensão a esse estado de coisa, dizem que o Brasil transporta um navio de soja para a China e volta com umas caixas de chips, vacinas ou outros remédios do ramo da química fina. Nossa capacidade industrial ainda é atrasada para o mundo atual. O mais feio é que nossos empresários do agronegócio, além de desmatar nossos cerrados e florestas, causando impacto ao meio ambiente, ainda abrem a boca para dizer que são eles que colocam o alimento na mesa dos brasileiros. Isso é uma mentira (fake news) porque quem nos alimenta é a agricultura familiar, pouco subsidiada pelo governo e pelos bancos. Por que um capitalista desse não planta feijão, arroz, trigo e milho para o consumo interno? Com essa política, vamos sempre ser exportador de produtos primários. Não acreditei quando vi, em Anápolis, quase que dentro da cidade, uma fazenda de soja. Ali naquela região, por onde você viaja o que mais se vê são plantações de soja, o ouro dos exploradores da bancada ruralista no Congresso Nacional, por sinal uma das mais retrógradas.

ENTULHOS NAS ESTRADAS

Quem viaja por aí está sempre se deparando com entulhos e lixos às margens das pistas próximas das cidades, como este flagrante que nossas lentes captaram na entrada de Brumado. É um retrato fiel de como o homem depreda e polui o meio ambiente, sem falar em sacos plásticos, cocos e garrafas pet que viajantes vão jogando nas pistas por onde passa. Se formos bem analisar, no fundo se resume a uma questão de falta de educação, por mais que se faça campanhas de preservação. Na saída da cidade de Ituaçu para Barra da Estiva, por exemplo, conhecida como portal da Chapada Diamantina, na região sudeste baiana, existe um lixão onde são depositados os restos produzidos por moradores. Outra visão triste dessa sujeira está na chegada de Itambé. Os poderes públicos são os maiores culpados por não cumprirem as leis de construção dos aterros do lixo e ainda não fiscalizar e proibir que particulares joguem seus entulhos à beira das estradas. Juntando tudo isso e mais os desmatamentos, os incêndios, a poluição dos rios e mares, dentre outras agressões à natureza, temos aí a autodestruição da própria humanidade através das mudanças climáticas que provocam catástrofes e tragédias. Como forma de enganarmos a nós mesmo, colocamos toda culpa no El Nino, que está indo para dar lugar a El Nina. O lixo só faz aumentar através do consumismo. Por essas e outras é que sempre digo que não temos mais retorno para reverter as altas temperaturas da terra.

 

“MUDANÇA”

A escultura ou performance do artista Fernando Madeira que dá o nome de “Mudança” em sua obra, instalada no Instituto Biapo (visitamos em nossa viagem ao estado), em Goiás Velho ou Velha, localizado em frente da casa da poetisa Cora Coralina, por si só já diz tudo. A palavra mudança provoca arrepios em muita gente que tem receios de sair da sua comodidade e partir para enfrentar desafios. Mudança para outros é ter coragem, é transformação de vida e coragem. Todo ser humano deve estar sempre em processo de mudança para ganhar mais saber e conhecimento, e quem não muda com intuito de melhorar, inclusive em seus conceitos, não merece viver.  A terra está sempre em mudança. Mudança também é renovação, evolução das ideias diante das novas tecnologias, do pensar de outra forma, de acordo com o tempo. O que ontem era antigo, hoje entra o moderno que devemos incorporá-lo. Tem ainda aquela mudança do tipo material, como sair do campo para a cidade, ou de uma cidade para outra. Mudar de emprego, de trabalho para melhorar de vida. Quem não faz mudanças morre sem saber. Existe a mudança para o pior. Cada um faz sua reflexão, mas mudar é essencial. É como no futebol quando o técnico faz mudanças em seu time para ganhar do adversário.

O BEIJA-FLOR

Ele (deve ser) não canta, mas encanta com seu estalo para se acasalar. Está sempre na minha árvore florida do meu quintal (minha esposa a chama de trovão porque nunca para de crescer, mesmo sendo podada) com outros pássaros desde o amanhecer ao anoitecer, se alimentando do néctar da flor. Tem vezes até que tira a concentração das minhas leituras e dos pensamentos no alpendre, do meu rancho. Me faz esquecer até do tempo que nos devora aos poucos, lento para uns e rápido para outros. Dessa vez o beija-flor achou de pousar na palha do coqueiro. Com seu jeito de ave arisca (nem tanto assim) aquietou-se com suas assas como se pedisse para ser retratado pelas lentes da minha máquina. Tanto ele tinha certeza que esperou que eu fosse ao meu escritório e ligasse a máquina fotográfica no ponto de foco e da luz para criar a sua imagem. Me aproximei o bastante e ele posou poeticamente com seu longo bico e até olhou de soslaio. Depois deu um pequeno voo entre as folhas, continuou a estalar e a bicar as flores. Era quase final da tarde. Fui fazer meus exercícios costumeiros. O sol começou a se pôr no horizonte infinito fazendo chegar a sombra da noite. Nos despedimos do dia. O beija-flor deve ter ido para seu ninho ou para sua morada do sono, para retornar no outro alvorecer.

A DENGUE E O PODER PÚBLICO

Dizem (a mídia está sempre anunciando) que 70% ou 80% dos casos registrados de dengue estão dentro das casas e prédios residenciais, só que não se fala de como esses dados foram apurados. Houve uma pesquisa para constatar esse alarmante índice? O esquema é culpar os moradores como vilões e não se mostra o lado negligente do poder público que deixa ruas sem serviços de drenagem, esgotamento e calçamento (empoçamento das águas das chuvas), sem fiscalizar e punir, conforme determina a lei, os terrenos particulares abandonados cobertos de matos e lixo de todo tipo, oficinas que viraram sucatas de carros (o Disep de Conquista é um exemplo) e até os próprios imóveis da Prefeitura Municipal no mesmo estado. Estive tirando umas fotos da Praça Tancredo Neves e visitei o monumento em homenagem aos presos políticos que tombaram durante a ditadura civil-militar de 1964. Os vidros ou os materias plásticos que protegem as luminárias em torno da escultura, de autoria do grande artista plástico Romeu Ferreira, foram quebrados por vândalos. As partes abertas servem para empoçar água e têm muito lixo em seu interior. Ainda sobre a proliferação da dengue (já comentei essa questão aqui) acho um deboche quando um especialista recomenda ao cidadão procurar o médico logo nos primeiros sintomas. Fico a imaginar que sua linguagem está sendo direcionada aos ricos. Os pobres (grande maioria) são dependentes do SUS, cujos postos da família, hospitais e as UPAS estão superlotados. O paciente passa um dia para ser atendido sofrendo de dores em pé e nos bancos desconfortáveis, sendo que muitos retornam para suas casas sem o atendimento. Existem postos que nem têm médicos na cidade. Até parece que cada brasileiro tem um médico à sua disposição. Isso é um acinte, uma vergonha, falta de respeito e revoltante. É muita cara de pau. Quando o indivíduo consegue um pedido de exame, o resultado do teste num laboratório público só sai depois de 10 a 15 dias. Sem mais comentários.





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