Um misto de religiosidade e de protesto em defesa da natureza, num barroco que lembra as obras do “Aleijadinho”, Antônio Francisco Lisboa, que nasceu em Vila Rica, atual Ouro Preto (Minas Gerais), no século XVIII. Na verdade, o artista mineiro lhe serviu de inspiração e lhe deu régua e compasso em suas andanças pelas cidades históricas daquele estado onde “Aleijadinho” deixou suas marcas eternas, como legado para a posteridade.

Estou falando de Jota Vieira, um escultor baiano de Carinhanha, que está expondo seus trabalhos na Casa Memorial Regis Pacheco, com mais de 30 peças. Suas esculturas são impactantes (ele tem um olhar também para as questões sociais) que deixam o visitante deslumbrado ao ver sua sensibilidade expressa em seus traços nas fortes imagens da Santa Ceia, de Nossa Senhora da Conceição, do Sagrado Coração de Jesus, dentre outras esculturas de cunho religioso.

Como o uso da madeira (cedro e umburana, principalmente) e da argila, Jota Vieira apresenta personagens da nossa cultura, como do pescador, além de figuras afros, no caso do negro escravo acorrentado e sendo castigado pelo patrão. Com troncos de madeira reaproveitáveis, Jota Vieira chama a atenção quando utiliza as duas faces de suas peças com esculturas distintas. Numa delas, o artista faz seu protesto contra a ação agressiva do homem ao meio ambiente. Sua arte é religiosa e de denúncia quando mostra numa de suas esculturas a imagem de um Tuiuiú, ave símbolo do Pantanal, sapecado pelo fogo.

De família pobre, Viera começou a fazer suas esculturas desde menino com seus carrinhos de brinquedo. Ainda jovem foi gari e pedreiro, mas tinha um dom divino adormecido em sua alma, tanto que só veio mesmo a se profissionalizar a partir de 2006.  Sua exposição já percorreu várias cidades, inclusive Salvador, e é digna de uma apresentação internacional.

Como todo artista neste país, que luta sozinho para compartilhar seu talento com os outros e sobreviver, Jota Vieira precisa de apoio dos poderes públicos e dos empresários para divulgar suas obras pelo Brasil e pelo mundo a fora. Uma das iniciativas seria a impressão de um catálogo sobre suas esculturas, sua trajetória de vida e sua técnica diferenciada de esculpir, com tanta precisão e realismo. Não deixem de visitar e apreciar a exposição de Jota Vieira.