:: ‘De Olho nas Lentes’
COMO ENTENDER O SER HUMANO?
Está lá bem visível, conforme mostra a imagem da nossa lente, que a vaga está reservada para o idoso, mas três motoqueiros estacionam seus veículos no lugar, num claro desrespeito ao estabelecido por um conjunto de lojas localizadas na Avenida Juracy Magalhães nas proximidades do Hotel Ibis. A própria foto já diz tudo e vale por mil palavras, mas temos que insistir num comentário, infelizmente, inglório neste país das leis que são feitas para serem transgredidas. Como entender a cabeça do ser humano? Ele é acima de tudo egoísta, individualista e hipócrita porque em público numa entrevista e numa mesa de bar são esses mesmos imbecis das motos que, no maior cinismo, defendem o respeito aos outros. O acinte é bem escancarado e se você for lá falar com eles pode levar até porrada ou ser morto, não importando se a pessoa é idosa e merece consideração. Vivemos numa sociedade primitiva brucutu dos tempos das cavernas, mas com celular na mão para fofocar, odiar, xingar, passar fake news e depois arrotar de que é um civilizado, mesmo não respeitando os outros. É uma terra de ninguém onde impera a lei do mais forte, do mais safado, do sem ética e daquele que só pensa em levar vantagem em tudo. Assim caminha a humanidade, mas, os mais otimistas acham que estamos indo em direção à harmonia e ao bem-estar igualitário de todos. Acredite se quiser e quem viver verá.
VÍTIMA DE XENOFOBIA
Não é de agora que a região Nordeste vem sendo vítima de chacotas e xenofobia por parte, principalmente, de sulistas nazifascistas e racistas que se consideram raça superior. Essa carga de ódio e intolerância tem acontecido com maior intensidade em épocas de eleições porque os votos dos eleitores daqui não batem com suas ideologias, muitas das quais de direita e de extrema retrógrada medieval. Em alguns estados eles se referem aos nordestinos de baianos. Em outros de paraíbas e até de cabeças chatas e paus-de-arara, como já se pronunciou o capitão-presidente Bozó psicopata que fugiu do país. No caso recente do trabalho escravo em vinícolas de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, o vereador Sandro Fantinel, do partido Patriota de Caxias do Sul, extrapolou sua ignorância e burrice quando se referiu os operários baianos de gente lá de cima suja que só sabe pegar praia e bater tambor. Todos vereadores conquistenses repudiaram sua horrível fala na última sessão de quarta-feira (dia 01/03). Não sabe o dito parlamentar que o Sul foi colonizado por imigrantes europeus com dinheiro do governo central tirado do Nordeste, que sempre foi discriminado na distribuição dos recursos federais, daí a grande desigualdade regional gerando miséria e fome. Tenho orgulho de ser nordestino, especialmente pela sua rica cultura de grandes nomes da literatura, da música, do folclore, do pensamento filosófico, da jurisprudência e tantas outras linguagens artísticas. Esses sulistas retardados e doentes mentais acham que o nordestino é uma raça inferior que deveria ser exterminada em câmaras de gás como fez Hitler e seus seguidores contra judeus, ciganos e outras etnias. Esses indivíduos não se evoluíram como seres humanos. Nem podem ser considerados de animais irracionais. São estrumes e vermes.
NÃO DÁ PARA ENGANAR A NATUREZA
Você engana as pessoas, os amigos, parentes e até a si mesmo, mas existem coisas que não se enganam nunca, como exemplo a natureza, além do tempo e da morte. Poucos param para refletir sobre isso. As imagens mostram as sujeiras do Rio Pardo, na cidade de Canavieiras, que desemboca no mar. Todo mal é provocado pela ação do homem que, de tão burro e idiota, acha que ela (a natureza) não reage para dar o troco. Por causa da ação perversa do ser humano, rios desaparecem e morros deslizam em cidades, como agora no litoral paulista, matando dezenas e centenas de pessoas. As mudanças climáticas são bruscas no planeta como sinais do aquecimento global. Num lugar é seca, como no Rio Grande do Sul, e em outros são tempestades de ventos e chuvas que saem arrastando tudo pela frente, como casas, prédios, pontes, ruas e estradas. As habitações são feitas em locais impróprios e irregulares e o poder público é o maior culpado, embora nunca é punido pela justiça. Mesmo assim, o homem continua emporcalhando nosso meio ambiente, como exemplo do Rio Pardo, que nasce em Minas Gerais e despeja suas águas contaminadas no mar de Canavieiras. O castigo está chegando em todas as partes e, nesse ritmo acelerado, mais anos e nossa terra será destruída pelo próprio homem. São terremotos, tufões, vendavais, ciclones e outros fenômenos numa só cadeia acabando com o nosso planeta.
AS BELEZAS DA CHAPADA
Uma vez perguntaram para um viajante do mundo qual o lugar mais lindo que ele havia visto. Sem titubear respondeu que foi sobrevoando a Chapada Diamantina, na Bahia. Completou que ficou encantado com as paisagens, as cachoeiras, as serras e morros. Em seu parapente ou coisa assim, que dá assas ao homem, ele desceu para conferir e ficou ainda mais convicto com o que viu ao visitar os locais, cada um mais deslumbrante, como mostram essas imagens do rio Paraguaçu, em Andaraí. Fica difícil fazer uma seleção das grutas, das quedas d´água, dos rios, dos pantanais, dos picos, das trilhas, das lagoas, dos povoados históricos (Igatu), das comunidades e das cidades, se Lençóis, Rio de Contas, Mucugê, Piatã, Iraquara, Palmeiras, Ibicoara, Seabra ou outra que fica nessa região feita e abençoada pela natureza. E a cultura do seu povo! É claro que cada um vai ter seus pontos preferidos, mas a Chapada tem suas magias e energias diferenciadas das outras. Toda vez que corto a Chapada, cerca de duas vezes por ano, para ir a Juazeiro, me sinto renovado. Não é bom morrer sem nunca ter ido apreciar as belezas da Chapada Diamantina, que cura os tormentos da alma e o cansaço do corpo. Quem nasceu e se criou em algum lugar da Chapada pode se sentir um ser privilegiado. Passei boa parte da minha infância no Piemonte da Chapada, em minha querida Piritiba e morei bom tempo em Rui Barbosa, mas gostaria de ter nascido bem no centro do seu coração.
A FLOR DO CACTO E A QUARESMEIRA
Coisas misteriosas e sábias da nossa natureza, muitas das quais invisíveis aos olhos do homem que é um predador nato e nunca aprendeu a ter uma visão mais apurada e poética. Alguém já viu uma flor roxeada de um cacto? Difícil de ser encontrada, mas tive o prazer de fotografá-la num caqueiro do meu quintal. Verdade que ela é pequena diante de uma quaresmeira toda frondosa e florida, bem mais vista, mas, mesmo assim, muitos passam apressados nas correrias da vida da cidade e não param para refletir sua beleza e agradecer a vida. O cacto e a quaresmeira. Um simples e modesto, mas rico por brotar uma flor inusitada que desperta em nós o sentido da grandeza, sem muito se aparecer. A quaresmeira, com toda sua eloquência e colorido, não é tanto admirada quanto a outra flor que chama mais a atenção quando apresentada. Num salão ou numa passarela, a flor do cacto, com certeza, seria mais aplaudida. Seja simples, mas nobre.
“JOÃO DE BARRO”
Dizem os mais sábios que a natureza é sábia, e um dos exemplos está na ave chamada “João de Barro” no construir da sua casa, conforme mostra a imagem das nossas lentes flagradas numa mangueira. A sua morada é perfeita porque até a sua entrada é feita de acordo com a direção do vento. Cada pássaro faz seu ninho que nenhum artesão consegue imitá-lo por mais semelhante que possa parecer. O “João de Barro” é um engenheiro e artista que não trabalha com números e equações, mas com sua sabedoria natural. Mesmo com as adversidades do tempo, com chuvas, temporais e ventos fortes, sua casa não desmorona, ao contrário dos seres humanos onde sempre um prédio está vindo abaixo. O “João de Barro” não precisa de escola, empreiteiro corrupto e arquiteto que faz cálculos errados. Ele trabalha pacientemente, ponto por ponto, e só usa para abrigar seus filhotes quando tudo está completo e seguro. São os mistérios da natureza que o homem perverso e predador só faz destruir.
CACHORROS DE CAMBÃO
Já vi jegue e vaca de cambão para impedir a invasão de cercas para terrenos de vizinhos por serem considerados arrombadores costumasses, mas cachorros de cambão é uma coisa rara que me chamou a atenção no sitio de um sobrinho lá no povoado de Jenipapo, em Jacobina. A curiosidade me levou à pergunta sobre o motivo e ele me respondeu que os animais estavam pegando os cabritinhos das fazendas próximas. Ele, então, improvisou um cambão feito de canos porque os cachorros estavam matando os cabritos da vizinhança. Foi o único meio para eles não saírem do sítio e o dono não mais receber reclamações e pagar os prejuízos. Andando pelo interior desse sertão nordestino sempre nos deparamos com coisas inusitadas e as lentes estão sempre preparadas para flagrar fatos que nem sempre vemos por aí. São pé duros, mas valentes quando algum estranho se aproxima. Pelo menos foi uma forma criativa encontrada para deixar os cabritinhos sossegados em seus pastos.
A TECNOLOGIA ULTRAPASSADA
Nem tanto antiga assim, mas com os avanços acelerados das pesquisas, ninguém mais se fala através de um telefone público. Numa viagem pelo sertão da Bahia até Juazeiro me deparei com essa peça que caiu em total desuso, mas ainda continua lá como relíquia de museu e nos faz lembrar daqueles tempos das moedas e dos cartões telefônicos. Havia até filas para alguém se comunicar com um amigo ou parente, muitas vezes distante, em outros estados. Podia ser para namorar, dar notícias da vida e a negócios urgentes. As lentes da minha máquina flagraram duas peças dessas, um no povoado de Jenipapo, em Jacobina, e outra na Tabela, um lugarejo rural pertencente a Piritiba onde me cresci moleque. Naquela época o fogão era a lenha e quase não se tinha energia elétrica, a não ser movida pelo motor a diesel. No interior, nem se falava em telefone, quanto mais o público. Na tecnologia atual, pouco se fala pelo telefone, mas através de mensagens, vídeos ou áudios nos celulares móveis que ninguém larga da mão por nada, até na hora de comer e tomar banho, inclusive de mar. Virou um vício para a grande maioria, para não dizer uma droga. Para uns, o antigo era os melhores tempos. Para outros as coisas mudaram para melhor, mesmo com a violência e os assaltos. É o avanço da tecnologia que vai deixando rapidamente as inovações para trás, sem uso e ultrapassadas.
MONUMENTO AOS PRESOS POLÍTICOS
Está na Praça Tancredo Neves. Muitos passam por lá, mas não sabem o que representa aquela escultura que, inclusive, serviu de ilustração para a capa da minha obra “Uma Conquista Cassada – cerco e fuzil na cidade do frio”. Trata-se de uma homenagem aos presos políticos baianos que tombaram durante a ditadura civil-militar de 1964. Na lista, a conquistense Dinaelza Coqueiro que lutou na Guerrilha do Araguaia. Nessa época, o monumento está todo iluminado, e a imagem é justamente de uma pessoa que se rende à brutalidade do regime dos generais que durou quase 30 anos no Brasil. Vitória da Conquista também esteve no roteiro das prisões em maio de 1964 quando o prefeito Pedral Sampaio, eleito democraticamente em 1962, foi cassado do seu cargo pelas tropas do exército. Perdeu seus direitos políticos por 20 anos. Toda essa história é contada no livro “Uma Conquista Cassada”, do escritor Jeremias Macário. O monumento é uma homenagem aos que lutaram pela democracia. Infelizmente, a nossa juventude pouco sabe sobre esse período. O pior é que muitos nem acreditam que aconteceu, principalmente nestes últimos quatro anos de um governo negacionista que tentou apagar nossa memória, mas isso nunca irá acontecer.
O “CALANGO” AMBULANTE
Ele é sempre visto na Praça Barão do Rio Branco e arredores, no centro da cidade, mas corre bares, restaurantes e outros pontos de movimento, como filas de bancos. Mais conhecido como “Calango”, ele é um vendedor ambulante daqueles que não larga o pé do cliente enquanto não compra alguma de suas bugigangas “importadas”, muitas das quais novidades que não se encontram nas lojas. São muitos anos de lida, cerca de 30 ou mais na batalha da vida que lhe deu sustento à família, inclusive para educar seus filhos. “Calango” ambulante é daquele empreendedor inventivo que está no sangue do brasileiro que se vira para sobreviver. Sua informalidade vem de anos, tanto que o desemprego não lhe atingiu. Nas datas comemorativas do comércio, como agora no Natal, “Calango” também tem seu faturamento aumentado com seus produtos inusitados que servem de presente. É cabra sabido porque pede um preço alto para depois lhe vender pela metade do pedido. Ali na praça ele é mais conhecido que farinha na feira e tem gente que corta por fora para não ser cercado e cair em sua lábia de vendedor. É uma figura que já se tornou patrimônio e folclore de Conquista.