AO RELENTO DA VIDA E DO VENTO
No banco da praça frienta, ele, ou ela, se protege com um fino lençol. Foi assim que minhas lentes fotográficas fizeram esse flagrante, tão recorrente nas grandes cidades brasileiras. É a triste cara realista das desigualdades sociais, tão profundas, criadas pela própria sociedade, por esse sistema cruel e canibal. Ao lado, as máquinas passam cortantes e velozes, cada um no seu destino das obrigações materiais pela sobrevivência. A praça é morna, o vento corre ligeiro entre as árvores a balançar suas folhagens e lá está aquele ser ao relento da vida.
Muitos não percebem sua presença. Não passa de mais um número entre os dos milhares de desvalidos. Essas cenas, essas constantes imagens não deveriam existir, nem nas linhas dos escritores e poetas. A imaginação me leva aos “Miseráveis”, do grande escritor revolto francês Victor Hugo. Não consigo entender como ainda tem gente que diz que bandido bom é bandido morto. Temos uma massa encefálica, amorfa, cega e inconsciente que não consegue reconhecer que foi esta sociedade hipócrita e perversa que criou o bandido e agora deseja excluí-lo, matá-lo, literalmente.
A pobreza, a miséria, a fome e todos esses que vivem ao relento da vida fomos nós mesmo os autores desse trágico cenário. Poucos se refastelam nas riquezas e muitos não passam de mortos vivos. Não temos consciência social e política. Achamos que uma simples doação de comida ou agasalho resolve tudo, quando a situação de miséria persiste e só cresce. Repetimos tudo outra vez, com aquele velho mote de solidariedade e caridade, mas deixamos de fazer o principal que é cobrar dos nossos governantes que nossos impostos sejam revertidos para acabar com essa pobreza e não dissolvidos nas corrupções e roubos.