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ALGUNS DE SEUS PENSAMENTOS

Estou finalizando a leitura de “Assim Falava Zaratustra”, de Nietzsche, um filósofo ateu, complexo e um ponto fora da curva do século XIX que, para começar, menospreza, deprecia os poetas e as mulheres. Para ele, só as mais velhas são mais sensíveis e maduras que merecem atenção. Quanto aos poetas – por ironia, sua linguagem é quase toda poética entre metáforas e parábolas – são mentirosos e enganadores fúteis.

Bom, vamos a alguns de seus pensamentos, os mais lúcidos e que nos servem de ensinamentos para a vida. No capítulo “DE PASSAGEM”, depois de atravessar muitos povos e cidades, Zaratustra retorna para sua montanha e sua caverna. De passagem, ele se depara com um louco na porta da cidade, que o povo o chamava de “macaco de Zaratustra” porque imitava o próprio em sua linguagem e pensar.

O louco abriu os braços e disse que ali Zaratustra nada tinha a procurar, mas tudo a perder. Ali era um lamaçal! “Isto é um inferno para os pensamentos dos solitários. Aqui se cozinham vivos os grandes pensamentos, aqui se reduzem a papa. Aqui apodrecem todos os grandes sentimentos…”

O “macaco” continuou a falar para Zaratustra: “Não percebes como aqui o espirito se tornou um jogo de palavras? Cospem repugnantes intrigas verbais! E dessas intrigas fazem, os de cá, ainda jornais (hoje poderia ser redes sociais).

“Provocam-se sem saber porquê. Entusiasmam-se e não sabem porquê. Sacodem suas latas, tilintam com seu ouro. Sentem frio e procuram calor na aguardente. Aquecem-se e procuram frescor nos espíritos gelados. Estão todos infectados e contaminados pela opinião pública”.

O “louco macaco” insistiu em lhe aconselhar, afirmando que “eu sirvo, tu serves, nós servimos. Assim rezam ao soberano todas as virtudes hábeis, para que a merecida estrela se prenda afinal ao peito esquálido. A lua, porém, ainda gira em torno de tudo o que é terrestre. Assim também o soberano gira em torno do que há de mais terrestre: O ouro dos lojistas. Aqui corre sangue pútrido, pobre e espumoso, por todas as veias. Cospe sobre a grande cidade, que é o grande depósito onde se acumulam todos os detritos”.

Como se percebe, o diálogo tem sua própria antítese, e Zaratustra manda o “louco” se calar exclamando que ele tem vivido muito tempo à beira do pântano ao ponto de teres convertido em sapo e rã. Por que não te retirastes para o bosque. “Desprezo teu desdém e já que me prevines, porque não te preveniste a ti mesmo?

Zaratustra ficou longo tempo calado e disse: “Também sinto repugnância por esta grande cidade e não só deste “louco”. Aqui e acolá, nada há que melhorar, nada há que piorar”.

“DO ESPÍRITO DO PESO”, na fala de Zaratustra, o Nietzsche ressalta que sua linguagem é do povo. Falo de modo rude e franco para os delicados. “Meu pé é casco de cavalo. Com ele troto e galopo por montes e vales, pelo comprido e de cá para lá, e em toda corrida rápido fico endiabrado de prazer”.

Mais adiante, assinala que aquele que ensinar os homens a voar, destruirá todas as barreiras. “O avestruz corre mais depressa que o mais veloz cavalo, mas também enterra a cabeça na pesada terra. Assim faz o homem que ainda não sabe voar”.

“A terra e a vida parecem-lhe pesadas e é isso o que quer o espírito do peso! Mas aquele que deseja ser leve como uma ave deve amar-se a si mesmo”.

“É preciso aprender a amar-se a si próprio com amor sadio, a fim de aprender a suportar a si mesmo e a não vaguear fora de si mesmo”

“Amor ao próximo”, assim se chama o fato de vaguear fora de si mesmo. É com esta expressão que se tem mantido e fingido mais, especialmente por parte daqueles a quem todo mundo dificilmente suporta”.

“A única coisa pesada, porém, para o homem levar é o próprio homem! É que carrega aos ombros demasiadas coisas estranhas. Como o camelo, ajoelha-se e deixa-se carregar bem”.  Diz que o interior do homem se parece muito com a ostra: Repelente, viscosa e difícil de apanhar.

“Também nos enganamos muito acerca do homem, por haver muita casca pobre e triste de excessiva grossura. Há muita força e bondade ocultas que jamais foram desvendadas…”

“O homem é difícil de descobrir, e ainda mais para si mesmo. A inteligência mente muitas vezes acerca do coração. Isso é o que faz o espírito do peso”.

“Na verdade, também não gosto daqueles para quem todas as coisas são boas e que chamam a este mundo o melhor dos mundos. Chamo-os de oni-satisfeitos”.

“A facilidade de gostar de tudo não é dos melhores gostos. Louvo as línguas delicadas e os estômagos escrupulosos que aprendem a dizer: “Eu” e “Sim” e “Não”.

“Mastigar e digerir tudo, porém, é fazer como os suínos. Dizer sempre sim, isso só os asnos e os de sua espécie aprendem. O que meu gosto deseja é o amarelo intenso e o roxo quente, mistura de sangue com todas as cores. Mas aquele que cai de branco revela ter uma alma caiada de branco”.

“Eu não quero estar ou morar onde toda gente escuta. Este é agora meu gosto: Prefiro viver entre perjuros e ladrões. Ninguém tem boca de ouro. O animal mais repugnante que tenho visto entre os homens chamei-o de parasita. Não queria amar e queria viver de amor”.

“Chamo desgraçados todos aqueles que só podem escolher entre duas coisas: Tornar-se animais ferozes ou ferozes domadores de animais. Não gostaria de erguer minha tenda ao lado deles”

VOCÊ ME EMPRESTA ESSE LIVRO?

(Chico Ribeiro Neto)

“Quando a gente gosta, a gente começa emprestando um livro, depois um casaco, um guarda-chuva, até que somos mais emprestados do que devolvidos. Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças” (Fabrício Carpinejar).

“Ela nunca me devolveu “O Pequeno Príncipe”. “O essencial é invisível para os olhos”.

A última vez em que vi o grande jornalista baiano Jorginho Ramos (que nos deixou em abril deste ano) foi na saída do Bom Preço do Chame-Chame. Ele, que era diretor da biblioteca do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, me convidou para ir lá. Falei que iria ao IGHB para conhecer os livros raros. Não deu tempo. Falamos também do saudoso historiador Cid Teixeira e Jorginho lembrou uma frase dele: “Burro não é quem empresta o livro; burro é quem devolve”.

– Você me empresta esse livro? Prometo lhe devolver em 15 dias, no máximo. (Já se vão 8 anos).

Um amigo tinha um recibo impresso (tipo de biblioteca) onde constavam nome do livro, de quem pegou emprestado e a data de devolução.

“Livro de empresta

Se vai não volta

Se volta não presta

Triste do livro que se empresta!” (Tarcísio Araújo).

“Quem empresta, nem para si presta” (ditado popular).

Tem gente que não pega o livro emprestado, rouba mesmo. Um colega do Colégio Central, na década de 60, roubava livros na antiga Civilização Brasileira, na Rua da Ajuda, em Salvador. Na hora em que a livraria estava com muito movimento, ele pegava um livro numa mesa que ficava pelo meio, entre as estantes, folheava-o com toda a calma, como quem lê o prefácio, assinava o nome rapidamente na primeira página e colocava o livro na mochila. Caso fosse apanhado no flagra ele reagiria: “O livro é meu, veja que já está assinado!” Nesse dia em que o acompanhei, deu tudo certo, mas fiquei apenas de olheiro. Acho que Deus deve perdoar quem rouba livros para ler.

Outro amigo costumava surrupiar livros da Biblioteca Pública do Estado, mas não sei qual era a tática. Por falar em biblioteca, o jornalista Alberto Oliveira resolveu recentemente doar cerca de mil livros, alguns raros. Diz ele: “Não vi destino melhor que uma biblioteca pública. Fui à Juracy Magalhães, no Rio Vermelho. Fizeram-me uma exigência: enviar, por email, uma lista de todos os livros, fotografando-os um a um, para que pudessem decidir se aceitam a doação. É evidente que não insistirei em levar livros a quem, aparentemente, deles não precisa”.

As pessoas também emprestam dinheiro, mais difícil de devolver do que o livro.

“Antes de emprestar dinheiro a alguém, verifique de qual dos dois você gosta mais” (ditado popular).

“Um banco é um lugar que te empresta dinheiro se conseguires provar que não necessitas dele” (Bob Hope).

Vamos emprestar mais beleza à nossa alma. Tomara que ela não devolva.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

ENTRE A BELEZA E O PERIGO

Nas cidades médias e grandes, as pessoas pouco observam as belezas da natureza. Mesmo saindo de casa ao amanhecer, praticamente ninguém admira o raiar do sol, a aurora, nem tampouco o entardecer do pôr-do-sol quando retorna para seu lar. Muito diferente do homem do campo que ainda eleva seu espírito para a criação e seus mistérios. Na beleza também, como na imagem dos pinheiros ao lado do Centro de Convenções Edivaldo Franco, na Avenida Rosa Cruz, como se fossem torres de catedrais, no alto também está o perigo da fiação entre os postes de energia. É preciso parar e olhar para o invisível visível. Como a imponência dos pinheiros que juntos parecem orar e bendizer, do outro lado, num quintal, está uma velha árvore, cuja copa pendeu-se toda para o passeio da rua. Quem passa sente rapidamente penetrar num túnel de galhos e folhas, mas lá também está o perigo dela tombar em alguém por falta de uma poda por parte da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal. O que faz uma cidade bonita não é a engenharia arquitetônica dos seus prédios e de seus casarões, mas a cobertura florestal. Vitória da Conquista, por exemplo, ainda deixa a desejar em termos de arborização, apesar do seu clima ameno. Precisamos de mais beleza como estas clicadas pelas nossas lentes, mas sem o perigo para seus moradores.

SERRA DOS BEM-TE-VIS

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Nasci menino nordestino,

Na Serra dos Bem-te-Vis,

Agreste de pinturas rupestres,

Parente do Neandertal,

Que navegou

Entre águas doce e de sal;

Fui laçado

Pelo existir do destino;

Enfrentei batalhas,

Em meu cavalo a galope,

Sobrevivi ao golpe;

Criei cicatrizes,

Nos fios das navalhas;

Mantive minhas raízes,

Da Serra dos Bem-te-Vis.

 

Cai e levantei;

Sei o quanto sofri

Nesse sistema brutal,

Quando rasgaram

Minha mente,

Nela colocaram um chips

De lavagem cerebral,

Mas nunca esqueci

Da Serra dos Bem-te-Vis.

 

No céu embaçado do inverno,

Cambaleando segui em frente;

Imaginei estar no inferno,

Na guerra dessa gente;

Revigorei minha alma,

No amanhecer do sol de verão,

Nos passos firmes

Do meu bastão,

Lá da Serra dos Bem-te-Vis.

 

Escalei montanhas;

Atravessei oceanos;

Conheci suas entranhas,

Solitário vivi, pedras removi,

Desde a Serra dos Bem-te-vis.

 

Lá na Serra dos Bem-te-Vis

Não apodrecem os sentimentos,

Nem existem intrigas verbais,

Que vão parar nas redes virtuais;

Não envelhecem

Os corações juvenis,

Lá na Serra dos Bem-te-Vis

 

 

 

OS MORCEGOS, INIMIGOS DA LUZ

– Hei, turma! Vamos embora que está vinda aí a nossa inimiga luz do amanhecer! – gritou o chefe do bando dos morcegos que estavam se alimentando de frutas, insetos, do néctar das flores e alguns do sangue de bois, cavalos e aves.

– Hum, pera aí que ainda estamos terminando nossas refeições para passarmos o dia abastecidos lá na nossa caverna mística! Somos apenas sensíveis à luz -responderam os mais famintos.

– Eh, mas nosso grupo aqui está vivendo em árvores, forros de casas, garagens e outros pontos escuros – falou de lá o morcegão, explicando que o grupo fica escondido e bem disfarçado por causa dos humanos medrosos.

Por fim, cada um foi para seus pontos prediletos e antes de começar a dormir deram início a um converseiro de morcego, cada um a contar suas histórias da noite. Sempre existem aqueles mais falastrões, revoltados e queixosos.

– Dizem que existimos há 50 milhões de anos e até que o nosso ancestral é o camelo. Loucura! Pode isso? Outros que somos vampiros chupadores de sangue. Nos discriminam como bichos horríveis, nojentos e feios. Todo mundo tem pavor da gente e nem sabem que também somos importantes para o meio ambiente e temos ecolocalização noturna – ressaltou um deles, dando o ar de líder sabichão.

– Êta que o companheiro aí agora falou bonito! – respondeu um amigo de lá que também compartilhava de seus protestos. É, até nos culparam do vírus da Covid-19, vindo lá dos nossos viventes chineses! Pode isso? São uns caluniadores e difamadores!

– Não conhece essa corja que somos símbolos de coragem e força e que inspiramos os humanos a enfrentar seus medos. Sabem que nos usam como lendas desde os tempos antigos? Podíamos nos unir para cobrar nossos direitos de imagem – falou o pensador e conhecedor das leis.

– Êpa, lá vem o revolucionário. Explica isso aí melhor, porque não entendi foi nada. Só sei que sou um morcego desprezível herbívora, mas tem o camarada aqui que é carnívoro e até come peixe. Temos é que brigar e nos livrar das corujas e dos gaviões, nossos maiores predadores. Se dermos bandeira nos levam em seus bicos.

– É que você é ignorante e não tem conhecimento que o tal do Drácula, lá pelos anos 1897, e o Batman norte-americano usam nossas imagens e ganham os tubos de dinheiro. Nós não levamos nada com isso, só preconceito – replicou.

– Um sai do seu assombroso castelo, lá na Pensilvânia, para apavorar e sugar o sangue dos humanos, e o outro da sua caverna com a onda propagandista de superioridade de combater o mal. Os dois estão bilionários usando nossas figuras em filmes – acrescentou em tom de raiva.

Pulou de lá o morcego hematófago brasileiro e foi logo afirmando que esse papo de reivindicação e desagravo não ia levar a nada. “No país somos cerca de 180 espécies, das quais somente três se alimentam de sangue, e sou em deles”.

– Pessoal! Vamos parar com essa conversa chata, prosa ruim, que eu estou é com sono danado depois de ter sugado um cavalo ali no pasto. O sangue estava viçoso – afirmou o morcego brasileiro, quase dormindo.

´- E bom parar com essa zoeira que a esta hora já deve estar tarde do dia, com o sol tinindo lá fora. Minha companheira aqui está grávida de cinco meses e dentro de dois deve dar luz ao nosso bebê – bradou do seu canto um sisudo morcego mal-encarado e valentão. Se continuar esse papo, vou botar todo mundo para fora.

– Ih, bicho, tu viste? Ele falou dessa tal coisa de luz! Tá doido, vamos todos é morrer tostados lá fora! Melhor é acabar com esse falatório – aconselhou do outro lado da ponta da caverna um gaiato. Foi aquela gargalhada!

Os morcegos são animais noturnos, e na Europa até existem lendas mitológicas de entes vampiros meio-humanas sobre eles, mas centenas das 1. 200 a 1, 400 espécies do mundo são polinizadoras, como o beija-flor. Muitas dessas lendas surgiram entre os séculos XVIII e XIX, e até hoje falam que todo morcego é um drácula.

No Brasil, as pesquisas falam de 138, 164 e até 180 espécies, das quais mais de 80 vivem em centros urbanos, parques, copas de árvores, porões e garagens. São exímios voadores com suas membranas, e os hematófagos são mais encontrados no Nordeste por se adaptarem bem ao clima mais tropical.

Na vida real temos milhões de humanos morcegos que preferem a escuridão do que a luz do dia, ou a virtude do bem, inclusive são destruidores do meio ambiente. Vivem em apartamentos e casas luxuosas.

Uma grande maioria se alimenta do sangue dos mais pobres com suas falcatruas e corrupções. São espécies dominadoras que usam o Estado para domesticar sua própria espécie. Esses morcegos são os verdadeiros inimigos da luz. Não têm nada de sensíveis.

MELHOR SER CACHORRO QUE HUMANO NESSA INVERSÃO DE VALORES DA VIDA

Uma agente da área de assistência social, por recomendação da Prefeitura Municipal, foi até a casa de um senhor que se encontrava doente com uma ferida na perna. Lá chegando ela se deparou com um cachorro em estado de abandono. Comovida, tirou várias fotos do animal e se esqueceu de relatar sobre a situação do homem.

Nada contra a cachorrada, meus amigos, muito pelo contrário, mas esta bicharada está levando a melhor no tratamento em relação aos humanos, principalmente quanto aos mais carentes de baixo poder aquisitivo, que vivem na pobreza e na miséria, sem educação, saúde e saneamento básico.

Nessa inversão de valores em que vivemos no cotidiano da vida, os cachorros das madamas, dos famosos e das celebridades estão tendo mais atenção, carinho e amor do que as próprias crianças que ficam lá nas mãos das babás ou nas creches.

Muitos pais quando chegam em casa do trabalho pouco se dedicam aos filhos e, para ficar livres deles, dão um celular para navegar. Nessa os cachorros estão levando a melhor e têm até planos de saúde com alíquota reduzida na reforma tributária, aniversários e funerais chiques, entre outros mimos.

Cachorros de rico não podem sofrer traumas e estresses senão são logo levados a um psicólogo, psiquiatra, nutricionista ou especialista da área, com direito a divãs e clínicas de luxo, coisa que milhões de humanos no Brasil não têm acesso, a não ser um precário SUS onde se leva de um até dois anos para se fazer uma consulta médica ou um exame de maior complexidade.

Quando uma celebridade adota um pet, ela passa a ser “mãe” e a linguagem da mídia chega a confundir até o telespectador ou o leitor de que a mulher pariu mesmo um filho de verdade. Na reportagem sobre a ginasta Rebeca, que vai às Olimpíadas de Paris, seus dois cachorros receberam mais tempo de imagem do que a própria atleta.

Como entre os seres humanos (moradores de rua), especialmente em países como o Brasil, existe também aquela classe de cachorros que vivem em estado deplorável, caso dos chamados cães de rua. Estes têm uma vida literalmente de cachorro. No entanto, os criados pelos mais endinheirados recebem tratamento especial.

Todos conhecem a música (1972) de Waldir Soriano, filho de Caetité, cuja letra dizia “eu não sou cachorro não, pra viver tão humilhado. Eu não sou cachorro não, para ser tão desprezado. Tu não sabes compreender quem te ama e quem te adora… Pelo nosso amor, pelo amor de Deus, eu não sou cachorro não…” e por aí vai. Talvez hoje poderia se inverter para: Eu não sou humano não…

De acordo com pesquisas, todos os cães descendem de uma espécie de lobos (canis lúpus familiares). Dizem que eles vieram da Eurásia (Europa e Ásia) há 15 mil anos e foram domesticados na região que hoje seria o Nepal e a Mongólia.

Em 1817, Charles Darwin, em sua teoria, propunha que o cachorro descendia de coiotes, lobos e chacais. Existem cerca de 400 tipos de raças. Estudos também indicam que o homem de Neandertal, muito tempo antes, já andava com um cachorro ao lado para lhe ajudar na caça e na defesa.

 

OS PIPOQUEIROS DO FUTEBOL BRASILEIRO

Oh, quantas saudades do futebol brasileiro quando os jogadores vira-latas, como classificou o cronista Nelson Rodrigues, se transformaram em os melhores e os mais temidos do mundo! Hoje em campo não passam de pipoqueiros e vergonha da nação, que empatam até contra a Costa Rica numa Copa América bagunçada e confusa.

Assistir uma Eurocopa é coisa de primeiro mundo e aí, quando vira o outro lado, é um terror como foi domingo (dia 14/07) na partida entre a Argentina e a Colômbia, com um atraso de quase uma hora e meia, coisa inédita na história do nosso futebol. Torcedores invadiram o campo e ainda colocaram um show da Chaquira num intervalo de 30 minutos.

Não quero aqui falar das outras seleções americanas dirigidas por organizações corruptas e totalmente desorganizadas, mas da nossa com uma CBF (Confederação Brasileira de Futebol) ainda pior onde o Brasil corre o risco de ficar fora da Copa do Mundo de 2026 pela primeira vez (hoje está no sexto lugar na classificação das eliminatórias da América do Sul).

Na desastrada Copa América, ficou no meio do caminho com o Uruguai (perdeu nos pênaltis) depois de um sofrido empate com a Colômbia e olha que ainda ficou de bom tamanho. O negócio está tão feio que até tem comentarista esportivo dizendo que a história poderia ser outra se o Brasil tivesse cruzado com o Panamá na semifinal. Ora, serviria só para adiar a decepção, que poderia ser maior.

A nossa amarelada seleção de pernas de paus e pipoqueiros não passa de vira-latas dentro e fora de campo, com nomes desconhecidos dos torcedores, trazidos de times do exterior (a maioria da Europa), muitos dos quais de segunda divisão. O técnico Dorival Júnior fica com uma cara de tacho, todo tristonho na beira do gramado, mas ele não é o culpado.

Diante dessa situação tão caótica, a começar pela CBF, o torcedor brasileiro parece ter jogado a toalha e prefere ficar com seu time daqui, mesmo com o futebol “porradeiro” e rasteiro, do que torcer pela seleção, sem craques e sem aquela ginga de antigamente que empolgava o mundo e era temida por todos quando entrava em campo. Essa seleção não mete mais medo a ninguém.

Saudades quando se fala em Garrinha, Pelé, Amarildo, Tostão, Rivelino, Didi, Pepe, Djalma Dias, Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Dirceu, Clodoaldo, Zagalo e tantos outros do mesmo naipe, além da última safra de Ronaldo, Bebeto, Romário, Ronaldinho, Cafu, Rivaldo, Falcão, Sócrates até chegar no Neymar baladeiro e moleque, o último dos moicanos.

Nos últimos 30 anos entramos numa fase de decadência total. Atualmente só temos jogadores medianos. Os melhorzinhos são logo comprados por clubes europeus e lá perdem o gingado da letra “s” de Brasil, pelo “z” de Brazil. De lá retornam como mercenários.

Por outro lado, muitos clubes daqui estão sendo vendidos a empresários e a empresas estrangeiras, perdendo suas identidades. Os jogadores são gringos da América do Sul. Não existe mais aquela referência da terra de cada estado. No Bahia, por exemplo, salvo engano, não tem um jogador baiano, como também nos outros times cariocas, paulistas, mineiros ou gaúchos.

Hoje, quem tem mais “bala na agulha”, mesmo com altas dívidas e sonegação de impostos, forma um bom plantel para ganhar um campeonato estressante e sem mais aquela motivação que existia no passado. No campo só se vê rasteiras, pernadas, cabeçadas de sair sangue e brigas, como se fosse um ringue ou uma arena de gladiadores, como no Coliseu de Roma.

Mesmo assim, os torcedores se matam como bárbaros, e a grande maioria fica sem comprar o leite das crianças, fazer a feira, pagar a escola dos filhos, o aluguel da casa e suas dívidas para ir a um estádio de futebol. É uma massa perdida sem cultura onde o cara abre a boca para dizer que o time é a sua vida e até tatua o corpo com o escudo do seu clube. Dia desses vi um do Corinthians que tinha tatuagem até na cabeça. Lá se foram os nossos craques! No lugar, só pipoqueiros.

 

“HÁ HOMENS QUE NADA SÃO…”

Em “Assim Falava Zaratustra”, de Nietzsche, no capítulo “Da Redenção”, ele conta que um dia Zaratustra passava por uma ponte onde estavam ”aleijados”, mendigos e um corcunda. Eles disseram que passaram a acreditar nos ensinamentos de Zaratustra.

No entanto, perguntaram se Zaratustra podia curar os cegos, fazer andar os paralíticos e aliviar um tanto o que leva às costas carne demais. Ele respondeu: “Quem tira da corcunda sua corcunda, tira-lhe ao mesmo tempo o espírito. Quem restitui a vista ao cego, este passa a ver na terra demasiadas coisas más. Passa a maldizer aquele que lhe curou”.

Em seguida, disse ter visto coisas bem piores, mas de uma não conseguia deixar de falar, dos homens a quem falta tudo. Foi aí que concluiu que “há homens que nada são, a não ser um grande olho, uma grande boca, ou um grande ventre… A esses chamo de “aleijados” às avessas”.

Quando saia de sua solidão ele atravessava pela primeira vez a ponte e não deu muito crédito para o que viu, mas não parou de olhar. Então, disse: “Isto é uma orelha do tamanho de um homem! Por trás dela movia-se algo tão pequeno, mesquinho e débil que dava dó”.

“Olhando através de uma lente ainda se podia reconhecer um semblante minúsculo e invejoso, uma alma vaidosa…” O povo dizia que a orelha era de um grande homem. “Eu, porém, nunca acreditei no povo quando falava de grandes homens e continuei a acreditar que se tratava sim de um “aleijado” às avessas que tinha pouco de tudo e uma coisa em demasia”.

Em sua narrativa sobre redenção, Zaratustra exclamou: “Meus amigos, ando entre os homens como entre fragmentos e pedaços de homens”. O mais espantoso, segundo ele, é vê-los destroçados e desconjuntados. São eles fragmentos, pedaços, mas não homens.

Para o filósofo, o presente e o passado são os mais insuportáveis. Há de vir uma ponte para o futuro. O povo perguntava quem era Zaratustra, e ele respondeu a pergunta com outras perguntas: “É um homem que promete? Ou que cumpre? Um conquistador? Ou um herdeiro? Um outono? Ou uma relha de arado? Um Médico? Ou um convalescente? É um poeta? Ou alguém que diz a verdade? Um libertador? Ou um dominador? Um bom? Ou mau?”

Ao invés de se dizer já era, que se diga assim quis – ensinava. “A isto eu chamaria de redenção”. “Vontade, assim se chama o libertador e o mensageiro da alegria. Esse foi meu ensinamento, meus amigos. A própria vontade é ainda escrava”.

Para Nietzsche, o querer liberta, mas como se chama aquele que aprisiona o próprio libertador? A vontade não pode querer para trás. Não pode aniquilar o tempo, e o desejo do tempo é sua mais solitária aflição”. Mais adiante, alerta que sua raiva acumulada é que o tempo não retrocede. O que foi já foi, assim se chama a pedra que a vontade não pode remover.

Remover pedra e vingar-se, para ele, é uma vontade libertadora que se torna maléfica e vinga-se de tudo o que é capaz de sofrer, por não poder voltar para trás. “É a vingança contra o que já foi, o ressentimento da vontade. Vive-se uma grande loucura em nossa vontade. E a maldição de todo humano é que essa loucura aprendeu a ter espírito”.

“Tudo passa e tudo merece passar, e é a própria justiça, essa lei do tempo, que o obriga a devorar seus próprios filhos. As coisas são ordenadas moralmente segundo o direito e o castigo. Ai! Como nos livrarmos do fluxo das coisas e do castigo de existir? Onde está, pois, a redenção?

“Nenhum fato pode ser destruído. Como poderá ser desfeito pelo castigo? Eis o que há de eterno no castigo de existir: A existência não pode ser outra coisa senão uma eterna sequência de fato e culpabilidade. A não ser que a vontade acabe por se libertar a si mesma e que o querer se mude em não querer”

Ainda sobre a redenção, Zaratustra assim diz que é preciso que a vontade, que é vontade de poder, queira alguma coisa mais elevada que a reconciliação. Mas como pode ocorrer? Quem ensinará também a retroceder?  No final, alerta ser difícil viver entre os homens porque é muito difícil calar, sobretudo para um falador.

Depois de toda conversa, o corcunda indagou: Por que é que Zaratustra nos fala de uma maneira e de outra a seus discípulos? Ele respondeu: Que há de surpreendente nisso? “Com os corcundas pode-se muito bem falar uma linguagem corcunda!”

EITA GENTE PERGUNTADEIRA!

(Chico Ribeiro Neto)

Eu estava com uma camiseta de Bariloche que meu filho Mateus me deu e logo ela me interpelou:

– Ah,o senhor também esteve em Bariloche? Que lugar lindo! Por enquanto, só conheço de fotos e vídeos. Minha filha esteve lá esse ano e para o ano vai me levar. Ela só não gostou muito dos argentinos, achou um povo meio rude, o senhor também não achou?

– Eu não sei dizer, senhora. Eu não estive lá, foi meu filho.

Uma mulher com um cachorrinho me aborda no canteiro central da Avenida Centenário:

– Você tem cachorro?

– Não, senhora.

– E gato?

– Não, senhora.

– Mas nem um passarinho?

– Não, senhora.

– Mas o senhor não sabe como é bom ter um bichinho dentro de casa. O senhor não pretende ter nenhum?

– Não, senhora, já vou.

Peguei um perguntador na fila de idosos do supermercado:

– O senhor tem problema de pressão?

– Não, senhor.

– E o senhor faz o quê para não ter?

– Nada, não, vivo normal.

– Dizem que a gente tem de caminhar todo dia. O senhor faz caminhada?

– Um pouco.

– E come de tudo?

– Sim, senhor.

– E não sente nada?

– Não.

– E dorme direitinho?

– Durmo.

– Pois eu tenho uma insônia terrível, levanto, bebo água, fico zanzando pela casa, ligo a televisão, faço um…

– Senhor, o caixa tá livre.

– E por que o senhor escreveu essa crônica?

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

POLUIÇÃO DE FIOS

Vitória da Conquista não é nenhuma “Suíça Baiana” – termo que serve de piada e chacota – nem mais a cidade das flores, como era conhecida antigamente, mas hoje pode ser considerada como dos quebra-molas e da poluição de fios, como bem mostra a imagem clicada pelas nossas lentes. Além de ser um atraso e irresponsabilidade dos órgãos (poder público, Coelba e operadoras de telefones), o perigo à população é constante. Só vão tomar uma providência quando acontecer uma tragédia. Na Avenida Rosa Cruz, próximo ao Centro de Convenções Edivaldo Franco, flagramos um monte de fios caídos no chão. Temos ainda, além da fiação, a poluição sonora e a visual no centro da cidade. É um absurdo e não se resolve porque um fica empurrando a responsabilidade para o outro. Conquista pode até ser a cidade do frio (existem outras com temperaturas mais baixas, como Maracás, Piatã e Morro do Chapéu), mas está bem longe de ser a “Suíça Baiana”. Vamos ficar nos quebra-molas e na poluição de fios nos postes.





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